quinta-feira, 21 de maio de 2009

A LUTA CONTINUA


A LUTA CONTINUA

Começamos com uma frase de Nelson Mandela: “A luta e a minha vida não serão levadas em vão”. O mês de maio é um mês de luta da classe trabalhadora. O dia 1° de maio é conhecido mundialmente como o dia do trabalhador. Apesar da elite insistir em dizer que é o dia do trabalho e promover a festividade nessa data, os trabalhadores do mundo inteiro se reúnem e saem as ruas para reivindicar seus direitos. Em decorrência da atual crise do capitalismo mundial não aceitam que o povo pobre tenha que pagar por ela e não aceitam retroceder na luta pela conquista de seus direitos. O mês de maio é também um mês de luta por parte do Movimento Negro de todo o Brasil. No dia 13 de maio de 1888 aconteceu a falsa abolição da escravatura.
Nessa edição do Fanzine saiba como foi o 1° de maio em Foz do Iguaçu e o que aconteceu na 1° Batalha Regional de Break que rolou no Teatro Barracão. Os colunistas Danilo George e Eliseu Pirocelli viajaram para o Rio de Janeiro onde ficarão por 3 meses participando do Curso de Formação de Agentes Culturais Populares que está acontecendo na UFF (Universidade Federal Fluminense). Durante esse tempo serão nossos correspondentes no Rio. Nessa edição eles trazem duas matérias, uma sobre o curso da UFF, outra sobre o 1° de maio no Morro do Estado.
A equipe do Cartel do Rap parabeniza a equipe do site Megafone que completou 2 anos de vida em abril. O Megafone é um veículo de comunicação cidadã e funciona como um amplificador de idéias divulgando os escritores de nossa terrinha. Vida longa à democratização da informação!!!

APOIARAM ESSA EDIÇÃO DO FANZINE:


Só No Blog

O Circo Imundo de Horrores por José Arbex Jr.:

Bombas de fósforo branco israelenses queimam palestinos em Gaza; balas perdidas executam crianças no Rio; guerras civis assassinam dezenas de milhares de seres humanos em Darfur. Em todo o planeta, desigualdades sociais produzem o inimaginável: 1 bilhão de seres humanos vive abaixo do nível de miséria, vítima da fome, da subnutrição e das epidemias que se alastram sem encontrar resistência nos corpos ressecados e combalidos.Mais de 30 mil crianças morrem por dia, em todo o mundo, como resultado de doenças associadas à subnutrição, segundo estatísticas divulgadas pela ONU. Isso equivale, diariamente, a dez vezes o número total de vítimas do atentado contra o World Trade Center, considerado pela mídia "o maior atentado terrorista da história". Cerca de 38 milhões de refugiados de guerra abarrotam os campos miseráveis da ONU, à espera diária de uma dose mínima de alimentos e remédios, mas destituídos de esperança no futuro. Vegetam, apenas. O novo dado sinistro: os refugiados agora são também produzidos por crescentes desastres ambientais, que ameaçam expulsar milhões de seus locais de origem.Enquanto isso, um único banqueiro espertalhão dá um golpe de 50 bilhões de dólares em Nova York; restaurantes em São Paulo cobram milhares de reais por uma garrafa de vinho; as diárias de hotéis em Dubai, novo paraíso dos "ricos e famosos", superam os 20 mil dólares; um jovem jogador de futebol que, até ontem, brincava com os amigos nas praias de Santos paga agora, só de multa, a soma de 1 milhão de dólares, valor considerado normal no circuito bilionário do futebol europeu. Ah, sim, e os astros de Hollywood ganham 20 milhões de dólares para participar da dose cotidiana da indústria da hipnose que torna a vida mais suportável. E nunca se gastou tanto em armas, drogas e entretenimento - das megaproduções cinematográficas às copas e olimpíadas mundiais.(Por vezes, o delírio dos atores de Hollywood atinge tal proporção que eles passam a assumir na "vida real" o papel que lhes é reservado na tela. Logo após o ataque dos Estados Unidos ao Iraque, em 2003, o brutalhão Bruce Willys, especializado em interpretar héroi de filmes de guerra, chegou a oferecer 1 milhão de dólares a quem oferecesse pistas sobre o paradeiro de Saddam Hussein. Pobre idiota!)A opulência do mundo espetacular é a contrapartida necessária à miséria do mundo "normal", das pessoas comuns e anônimas que jamais alcançarão seus quinze minutos de fama. É necessário circo, muito circo, mesmo quando não há pão. É o circo que embrutece, hipnotiza, atiça o desejo, mobiliza a libido, prepara o animal para a guerra, naturaliza o absurdo. É normal que a herdeira Paris Hilton gaste milhões em festas, viagens e orgias na companhia de amigas como Britney Spears, tanto quanto é desejável participar desse mundo frenético de brilhos e festas. É razoável que modelos ganhem milhões para exibir o corpo em passarelas. E, por que não, é justo que um piloto ganhe fábulas para cometer a proeza de andar cada vez mais rapidamente para chegar ao mesmo lugar de onde saiu. Resta ao comum dos mortais consumir as fofocas divulgadas por programas e revistas especializadas, projetando em seus ídolos os desejos que não pode realizar aqui fora, no monótono e ridículo mundinho real.No mundo do circo, o palco colorido e devidamente iluminado - não importa se é o estúdio televisivo ou a página impecavelmente diagramada de um jornal -, com tudo arrumado e colocado em seus devidos lugares, eliminados o caos e a desordem do mundo real, é possível ao apresentador , ao artista, à personalidade, ao especialista proclamar aproximadamente qualquer absurdo, que tudo passa no ritmo frenético do videoclipe: das "armas cirúrgicas que não matam seres humanos" ao "vale tudo por dinheiro", dos "terroristas palestinos" cujo crime é lutar em defesa de sua própria terra ao "tapinha que não dói", das festas suntuosas às favelas miseráveis tudo é mostrado em seqüências planas, "naturais", como se a vida fosse isso mesmo: um amontoado sucessivo de cenas cujo sentido é dado pelos ícones midiáticos que tudo explicam e nos acalmam.Os ícones do novo mundo circense midiático ocupam os lugares que antigamente eram propriedade dos deuses do Olimpo. São eles que explicam o mundo, iluminam o que merece aparecer, jogam à obscuridade o dejeto, o lixo, o resto. A cantora Madonna tinha consciência disso quando, ao declarar publicamente o seu desejo pelo então relativamente desconhecido ator espanhol Antônio Banderas, afirmou que, apenas com essa declaração, havia dado a ele um presente que valia milhões de dólares. De fato, ungido pelo olhar da multimilionária máquina Madonna, Banderas foi rapidamente "capturado" pelo Olimpo Hollywood e hoje faz parte da engrenagem. Atrás do sonho, um garoto de 14 anos sai clandestinamente de seu país, na África, passa três dias sem comer nem beber nos porões de um navio animado pelo sonho de chegar ao Brasil e virar estrela de futebol.Barack Obama é o mais novo pop star. Seu sorriso, a ginga de seu corpo e a sua história de vida enchem de confiança os miseráveis dos Estados Unidos, dos vários continentes e até alguns palestinos em Gaza. Mas há um limite para tudo isso. As engrenagens da barbárie continuam em ação, e o mundo se encaminha para um esgotamento. O circo pode adiar a explosão, mas não resolve a crise. É impossível saber quando se dará o ponto de basta, isto é, o momento em que o processo de desagregação da humanidade atingirá o seu ponto de ruptura. Mas ele acontecerá, inevitavelmente. Não é infinita a quantidade de horror que a humanidade pode suportar.José Arbex Jr. é jornalista.

Fonte: Revista Caros Amigos n° 144, março de 2009.

As muitas faces de Foz do Iguaçu (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli)

Aluízio Palmar e a sua trajetória de luta



Aluízio Ferreira Palmar nasceu em 1943, em São Fidélis, região norte do Estado do Rio de Janeiro. Em sua juventude estudou jornalismo na Universidade Federal Fluminense e, devido à sua militância revolucionária, foi preso e banido do país. Dissidente do PCB fluminense liderou a primeira tentativa de luta armada contra o regime no final dos anos 1960. Em suas palavras ele expõe o que viveu naquele período. “Na época eu era quase dirigente do Partido Comunista Brasileiro e nós abrimos uma dissidência... nacional contra o partido, por que eles tinham adotado uma linha pacífica, conciliadora, e nós decidimos pegar em armas contra a ditadura, devido a uma série de situações, fizemos uma análise do momento político até uma análise da realidade nacional das contradições de classe do País, ou seja não foi uma decisão temperamental, foi uma decisão pensada, foram meses, noites de estudos e reuniões, debates, foi assim que chegamos a decisão de fazer a luta armada”. “Devido a nossa prática a gente adotava práticas de resistência como manifestações públicas, passeatas, pichações, panfletagens, mas já estava ficando mais difícil fazer isso de forma desarmada, então começamos a fazer a propaganda contra a ditadura, armada, por que nós tínhamos que resistir diante da atrocidade que havia.

Sobre a prisão ele explica: “Em 1969 fui preso, na região e em 1971 depois de passar por varias prisões, vários quartéis desde aqui no Paraná até o Rio de Janeiro, saí da Ilha Grande algemado fui para um batalhão colocado em um Boeing da Varig e mandado pro Chile, de 1971 até a anistia tive uma vida assim esquisita, meio complicada, uma vida clandestina. Foram 8 anos de clandestinidade, eu só emergi da clandestinidade em 1979, por que já estava muito difícil a minha situação, aí voltei pro Rio, fiquei em Cabo Frio, em maio de 1979, cheguei ali, poderia ser preso a qualquer momento, mas o País já estava passando por um período de transição para a democracia, o projeto da anistia já estava sendo discutido na câmara dos deputados, e em setembro foi prorrogada a anistia.

Nesse processo ele ficou com uma vida dúbia entre Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu como ele explica: “Eu tinha que ficar lá no Rio de Janeiro, eu precisava ficar lá, as coisas aconteciam no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Ali as coisas aconteciam, o País estava emergindo de uma ditadura, passamos por um momento de transição e as coisas tinham que acontecer naquele momento, o surgimento dos partidos a legalidade, táticas de luta, ou a gente ia por uma transição lenta ou uma mais radical, eu estava ali no meio daquela confusão, e minha família em Foz do Iguaçu. Eu casei com uma mulher daqui e ela ficou aqui, eu queria ficar lá, que lá as coisas estavam acontecendo, mas a minha mulher me pôs contra a parede “ou a revolução ou eu”, aí eu fiquei naquele dilema do cacete, vou pra Foz do Iguaçu, e vou fazer minha revolução lá”.

Com a anistia voltou ao Brasil e se radicou em Foz do Iguaçu. Sobre a historia da cidade ele faz um desabafo contra os arquivos que estão presos na sede da polícia federal da cidade: “A história não de Foz do Iguaçu, mas do Oeste do Paraná, tudo que a gente sempre quis saber dessas cidades, estão ali, no arquivo você tem todos os documentos da ditadura, por que todo mundo foi investigado pelo estado policial. Esses documentos gerados pelas investigações eram difundidos pro exército, marinha, os documentos do serviço da inteligência da ITAIPU era difundido pra polícia federal. Havia entre esses serviços uma troca de documentos e de fusão nacional, então ali tava tudo. Muitos documentos, muita coisa, documentos que você não tem acesso no Rio, São Paulo, estão aqui, por que queimaram. A ITAIPU, por exemplo, queimou tudo, não sobrou nada. O Neísmo, que vêm de Ney Braga, quando entregou a ITAIPU em 1985, queimou tudo. Esse arquivo é muito especifico, não só a questão política, mas também o social, ali você encontra documentos de investigação, sobre possíveis células nazistas aqui em Foz do Iguaçu, na década de 1940, um rastreamento feito do Mengele mostrando que ele passou em Foz, documentos de tráfico de armas, drogas, então são documentos históricos que você começa a garimpar. Tem documentos de presos árabes, coreanos, e outras nacionalidades de pessoas que entraram aqui de forma clandestina ou semi-clandestina, isso gerou uma série de inquéritos, a história complexa de Foz do Iguaçu, a investigação de políticos, corrupção, que a PF investigava ta tudo aqui dentro”. Sobre o exílio e a profissão de jornalista ele argumenta: “Eu quando voltei da anistia, fui trabalhar na imprensa, no jornal hoje que era um jornal muito bom que funcionava ali na Vila Yolanda, eu já recebia do exílio esse jornal, um jornal comercial, mas bom, posteriormente esse jornal foi vendido a um grupo que pertencia ao antigo regime, aí eu e o Juvêncio Mazarollo fomos mandados embora”.

Aluízio é conhecido por sua linha editorial rebelde e alternativa. Atuou ainda em outros meios de comunicação do estado do Paraná. Ele fala um pouco desse processo: “Eu e o Juvêncio fomos montar um novo jornal, e eu tinha uma tarefa que era procurar os desaparecidos políticos, aí eu fui procurar aqui os desaparecidos do meu universo, meu mundo que era Foz do Iguaçu, aí desde aquela época eu vinha pesquisando, analisando e revirando o grupo de Seis pessoas que desapareceram aqui nessa região, o grupo da VPR”. Dessa pesquisa lançou seu primeiro livro Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Aonde retrata sua obsessão que perdurou por 26 anos de busca de companheiros da VPR, que foram mortos no parque nacional.


Aluízio exerceu os cargos de secretário de Comunicação Social e de Meio Ambiente na Prefeitura de Foz do Iguaçu. Atualmente ocupa o cargo de chefe de Gabinete da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.

(Continua na próxima edição)

O boi zebu e as formigas_Patativa do Assaré

Cenário de Patativa do Assaré.


Muita gente ainda confunde poesia matuta com Literatura de Cordel. Em 2009, ano do Centenário de nascimento do poeta Patativa do Assaré, considerado o maior expoente do gênero, os admiradores do poeta precisam fazer essa distinção. Patativa, ao longo de sua vida, escreveu e publicou cerca de vinte folhetos de cordel. Dentre os quais destacam-se: "Abílio e seu cachorro Jupi", "A morte de Arthur Pereira envenenado por sua filha Francisca Amélia", "Aladim e a lâmpada maravilhosa", "O Padre Henrique e o dragão da maldade", dentre outros, todos em linguagem correta, como é prática comum nesse gênero desde os tempos de Leandro Gomes de Barros. O grosso de sua produção, contudo, são poemas matutos, onde a linguagem procura reproduzir o modo de falar dos sertanejos de outrora, como se pode ver nesta obra a seguir:

(Fonte: http://culturanordestina.blogspot.com/)

O Boi Zebu e as Formigas

Um boi zebu certa vez
Moiadinho de suó,
Querem saber o que ele fez
Temendo o calor do só
Entendeu de demorá
E uns minuto cuchilá
Na sombra de um juazêro
Que havia dentro da mata
E firmou as quatro pata
Em riba de um formiguêro.

Já se sabe que a formiga
Cumpre a sua obrigação,
Uma com outra não briga
Veve em perfeita união
Paciente trabaiando
Suas foia carregando
Um grande inzempro revela
Naquele seu vai e vem
E não mexe com mais ninguém
Se ninguém mexe com ela.

Por isso com a chegada
Daquele grande animá
Todas ficaro zangada,
Começou a se açanhá
E foro se reunindo
Nas pernas do boi subindo,
Constantemente a subi,
Mas tão devagá andava
Que no começo não dava
Pra de nada senti.

Mas porém como a formiga
Em todo canto se soca,
Dos casco até a barriga
Começou a frivioca
E no corpo se espaiado
O zebu foi se zangando
E os cascos no chão batia
Ma porém não miorava,
Quanto mais coice ele dava
Mais formiga aparecia.

Com essa formigaria
Tudo picando sem dó,
O lombo do boi ardia
Mais do que na luz do só
E ele zangado as patada,
Mais força incorporava,
O zebu não tava bem,
Quando ele matava cem,
Chegava mais de quinhenta.

Com a feição de guerrêra
Uma formiga animada
Gritou para as companhêra:
Vamo minhas camarada
Acaba com os capricho
Deste ignorante bicho
Com a nossa força comum
Defendendo o formiguêro
Nos somos muitos miêro
E este zebu é só um.

Tanta formiga chegou
Que a terra ali ficou cheia
Formiga de toda cô
Preta, amarela e vermêa
No boi zebu se espaiando
Cutucando e pinicando
Aqui e ali tinha um moio
E ele com grande fadiga
Pruquê já tinha formiga
Até por dentro dos óio.

Com o lombo todo ardendo
Daquele grande aperreio
zebu saiu correndo
Fungando e berrando feio
E as formiga inocente
Mostraro pra toda gente
Esta lição de morá
Contra a farta de respeito
Cada um tem seu direito
Até nas leis da natura.

As formiga a defendê
Sua casa, o formiguêro,
Botando o boi pra corrê
Da sombra do juazêro,
Mostraro nessa lição
Quanto pode a união;
Neste meu poema novo
O boi zebu qué dizê
Que é os mandão do podê,
E as formiga é o povo.

“Proletários de todo mundo, uni-vos!” (Por: Carol)

“Mas o que via o operário
O patrão nunca veria
O operário via casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca da sua mão.”


Podem tentar todo ano mudar o dia 1º de Maio para dia do trabalho, que sempre haverá alguém para dizer que dia do trabalho não existe, que o dia é do trabalhador. Sindicalistas pelegos podem tentar vender esse discurso, podem apoiar o discurso burguês do presidente de que “Os trabalhadores não devem reivindicar reajustes salariais durante a crise” (fonte: Opinião Socialista) que ainda existirão lideranças populares para dar um chega pra lá nestes oportunistas.

Pensando nisso, militantes de Foz do Iguaçu, organizaram um ato público que propunha um resgate histórico do dia. O ato público foi um poço de reivindicações e críticas a postura de sindicatos como a CUT e a Força Sindical. Não deixando escapar questionamentos sobre a postura do “pelego-mor”, Luis Inácio da Silva, sobre os efeitos da crise e as medidas tomadas a favor da burguesia.

Então, no dia 1º de Maio, as 9h da manha, que militantes da APP Sindicato-NS Foz, Casa do Teatro, Conlutas, Intersindical, MST e Sindicato dos Jornalistas-Foz organizaram esse evento de milhões de graus. Além de críticas, os operários reunidos reivindicaram a reforma agrária já, a soberania dos recursos naturais e clamaram pela garantia de estabilidade de emprego. Militantes levantaram suas bandeiras contra o pagamento das dívidas internas e externas, contra a redução de direitos trabalhistas, contra as péssimas condições de trabalho, contra o financiamento do FMI e contra a criminalização do movimento sindical, popular e estudantil.

Durante o ato ainda pudemos experimentar uma exposição fotográfica e um “bucadinho” delicioso de poesia. O encerramento do evento contou com a participação do Grupo de Teatro Arte em Si, com a encenação da poesia “Operário em Construção” do poeta Vinicius de Moraes. E foi nesse ritmo de militância que os presentes puderam dar seu brado em nome de mudanças.

“E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por aqueles que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.”

Leituras: Luta Classista, ano 02, número 02. Opinião Socialista, ano XIII, ed.374. O Operário em Construção, Vinicius de Moraes.

(Carol é estudante de letras em Foz).

Grupo Teatral Arte em Si


O INIMIGO N° 1 DA ELITE CURITIBANA

No ano passado, quando o Shopping Palladium começou a proibir os manos de entrar no estabelecimento, lideranças do Hip-Hop curitibano se mobilizaram. Com a organização do Mano Will, centenas de jovens fizeram um protesto em frente ao Shopping contra a segregação social. A diretoria do Shopping entrou com um processo para proibir o mano de chegar próximo do prédio. O advogado buscou a entrevista do Mano Will na edição 38 do Fanzine do Cartel do Rap e usou-a como ferramenta, chamando o mano de vagabundo, marginal e bandido. Disse ainda que Will é chefe de uma quadrilha chamada FRF. O juiz acatou e se o mano chegar a 10 metros do Shopping terá que pagar uma multa de um milhão de reais. A FRF (Frente Revolucionária das Favelas) é uma organização de ocupação urbana e faz na cidade o que o MST faz no campo. Está se articulando e buscando diálogo junto aos outros movimentos de luta pela moradia. “Então, vamos fazer um evento da FRF numa das maiores favelas aqui de Curitiba”, disse Will por MSN.
No ano passado Will se candidatou a vereador pelo PCdoB em Curitiba e quase se elegeu. Ele também é presidente da Associação Quatro Elementos e aprovou um Ponto de Cultura, junto ao Ministério da Cultura. Será criada a Casa do Hip-Hop de Curitiba que estará realizando diversas atividades como a gravação de vídeos clips e o intercâmbio com outras cidades do Paraná. “Ainda não chegou o material, mas quando tiver na mão pretendemos socializar pra todos”, disse Will em conversa pela internet. Will esteve em Foz do Iguaçu no ano passado organizando junto a lideranças locais a 1° Conferência Livre do Movimento Hip-Hop. Dentro da Casa do Hip-Hop em Curitiba ele pretende criar uma espécie de Centro de Inteligência do Movimento Hip-Hop, com vários departamentos. É por essas e por outras que a elite curitibana o odeia.

Prato feito e tirado a limpo (Por: Régis Cardoso)

Então chega o dia do trabalhador. No boteco se discute política. No jornal a gripe suína. Em casa bebemos. Até em Londrina apareceu uma super bactéria. As coisas vão ao extremo em poucos segundos, é o poder da informação. Aparece um prato feito e você manda ver, está com fome não é? Às vezes não sabemos quem está ao nosso lado a se deliciar, lamber o prato. Parece que o desconhecido está com máscara. O prato está ali e uma solitária pede pra comer. Nenhum trabalho pra deixá-lo lambido. Acho que é melhor se deliciar com os últimos pratos feitos das nossas vidas. Logo seremos apenas seres contaminados que precisam ficar longe um do outro. Com aquelas máscaras que tapam a boca e o nariz. E o dia do trabalhador está aí. Perto das bactérias e vírus gripais. Pode crer que são os trabalhadores os primeiros nas filas dos prontos socorros e dos hospitais que atendem pelo SUS. Pode ser que a gripe suína apareça por aqui, já tem foco no Peru. “Gripe suína no Peru!”. Só mais uma manchete de jornal. Será que o mundo vai resistir a tanta diversidade bacteriológica. O certo é a indústria farmacêutica com muita grana em cima. Pode ler em qualquer matéria sobre gripe, vai ter o nome do remédio indicado. Acho isso bom, mas também deixa uma pulga atrás da orelha. “Será que já fizeram o problema com o remedinho pronto?”. A informação é cada dia mais vaga. Ela vem e nos atinge, mas na seqüência vem outra e atinge também, um bombardeio. Quando percebo já não sei de nada. Falam de gripe, falam de futebol, de tudo... Porém não entendo muito das leis trabalhistas. Alguém entende?

Um nobre amigo meu, que intitulo “Olho de Gato”, detetive renomado e que está por aí, de vez em quando me escreve cartas, me disse certa vez. “Numa revolta, a pior das hipóteses pra quem está no núcleo central da bagunça, é se a primeira porrada for mais forte e vier do lado oposto”. Achei uma merda esse ditado, ele disse como se fosse um sábio chinês, mas é só um lunático. Mas sabe que às vezes faz sentido isso tudo pra mim. Por mais insano que “Olho de Gato” fosse, acho que ainda é – faz tempo que não me escreve – esse ditado lembra um pouco a minha revolta do momento. É dia do trabalhador não? Parece que a porrada mais forte está vindo do lado oposto. Vão deixar pra amanhã comemorar a crise capitalista norte americana que afetou o mundo? Com as estruturas já formadas as porradas são mais fortes, porém vem sem que percebamos. Se o dia do trabalhador fosse algo sério por quem detém milhares de trabalhadores nas mãos, haveria uma espécie de aula sobre as leis trabalhistas, um manual prático pra saber dos direitos do trabalhador entregue pelo próprio patrão!

Hahaha... Aí sim seria o dia do trabalhador não? Ou ainda... na semana do trabalhador o patrão vira peão e o peão vira patrão. Vai dizer que nunca ouviu Bezerra da Silva cantar: “se deus desse asa a cobra / o mundo não estava perdido / a carroça andava na frente / e o burro ia atrás escondido” (acho que é mais ou menos isso...rs).
Pois é... O patrão teria seu tempo pra valorizar o trabalho também, num dia verdadeiramente do trabalhador. “Eu penduraria vários patrões em praça pública”, me disse um camarada de boteco. A diversão, no caso, estaria garantida pra quem odeia
seu patrão. Mesmo tendo quem ame os big mother fucker boss.

E então! Os trabalhadores permanecem por aí. Vejo que cada dia que passa é mais difícil ter certeza de um crescimento financeiro, ou mesmo de uma estabilidade monetária. Não há aumento de salário, mas sim uma pandemia de gripe suína. É essa a realidade. É como está escrito por aí: “vivemos num tempo em que o fim do mundo não assusta tanto quanto o fim do mês”. Então vamos comemorar o dia do trabalhador com medo. Os olhos em chamas ao saber que nesse feriado alguns puderam viajar pra qualquer lugar. Uns iriam pra Cancun, mas a gripe suína serviu pra cortar esse barato pelo menos. Olha só que conclusão inesperada. A gripe suína ao mesmo tempo em que ganha com a indústria farmacêutica, tira uma onda da cara de quem queria ir pra Cancun, no feriado do dia do trabalhador. Teria pratos e mais pratos a disposição da diversão oriunda de uma pandemia da estagnação trabalhista inevitável.

(Régis Cardoso é jornalista e colaborador do Megafone).

Fonte: www.megafone.inf.br

2° MINI MEGA EVENTO

Cultura é bom e o povo gosta!!!

O bairro Cidade Nova foi o palco do 2° Mini Mega Evento, um final de semana inteiro de atividades, que proporcionou arte, cultura e diversão para esse bairro tão desassistido pelo poder público. Em setembro de 2007, nesse mesmo bairro, ocorreu o 1° Mini Mega Evento, que contou com batalhas de Break e de Rima, grafite, DJs e shows com 15 grupos de Rap. Nessa nova edição a idéia foi ampliar com outros seguimentos culturais como cinema, teatro e artes circenses. O evento começou na sexta feira com cinema, sessão infantil e adulto e apresentações teatrais.

O Cidade Nova, bairro localizado na região norte de Foz, nas proximidades da UNIOESTE, foi construído no ano de 1996 num processo de desfavelização da cidade onde as ocupações consideradas “áreas de risco” foram removidas. A população dessa comunidade nem sempre tem condições de levar os filhos ao cinema no shopping Cataratas JL e Boulevard, então surgiu a idéia de levar cinema pro bairro. O Cartel do Rap já havia organizado – juntamente com a Casa do Teatro – uma sessão de cinema no Cidade Nova. Foi no ano de 2007 e o filme exibido foi “O ano que meus pais saíram de férias”. No Mini Mega Evento desse ano o filme infantil foi “Madagascar 2”, e o filme adulto “Visões”. A pipoca foi grátis nas duas sessões. No intervalo aconteceu contação de história com a Edinéia e Interferência Teatral com alunos da Casa do Teatro. O grupo Teatral Arte em Si também apresentou-se nessa noite cantando sons da Jovem Guarda dos anos 60 e 70. O público curtiu, dançou, cantou e se divertiu estampando um sorriso no rosto e um brilho no olhar.
Sabadão foi a noite do Hip-Hop. O evento começou com a Dança de Rua e as crews CIA de Rua e Cartel do Break mostraram pra galera a arte da dança de rua nos passos do break. Na seqüência os grupos locais apresentaram seu rap e um Freestyle improvisado na hora, interagindo com o público. Os grupos que colaram foram: Eloqüentes, DNA do Rap, Gangsta Crime e Mano Zeu.

O domingo foi das crianças que se amontoaram para assistir a apresentação circense da Troupe Luz da Lua. A Troupe fez um grande show com palhaço, malabares, acrobacias, fita, cubo e truques de mágica. As crianças se divertiram muito a cada técnica nova desenvolvidas pelos artistas João Malabares, Régis e Valdirene. Nesse domingão ainda teve pintura no rosto das crianças com a Carol e o Mano Santiago. Para fechar o evento a Cris – em nome do Casulo Rock Bar – distribuiu ovos da páscoa para a criançada. Foi o resultado do Festival de Páscoa que ela realizou no Casulo Rock Bar, onde a galera que colou levou uma barra e chocolate para a confecção dos ovos.

O 2° Mini Mega Evento foi sucesso total e já está em discussão com os manos do Hip-Hop a possibilidade de se expandir para outros bairros de Foz. Fica aqui a nossa idéia para a Câmara de vereadores e Fundação Cultural que reconheçam a importância de eventos como esse, apóiem e incentivem atividades culturais voltadas à população local e não somente voltadas ao comércio e turismo.

2° Mini Mega Evento - CN

(Elemento Break, Cartel do Break)...


(Mano Danilo - nosso Cinegrafista amador)



(Mano Zeu)...


(A Rapa)

Mini Mega Evento - Cidade Nova

(As crianças participaram)


(DNA do Rap)

(Gangsta Crime)

(Salve nossas Crianças)



(Elemento Break - CIA de Rua)

HARDCORE FOZ DO IGUAÇU.

- Digam: HC!!!

No dia 04 de abril aconteceu no Otroplano Bar, na Vila A, mais um show onde o Hardcore e o Hip-Hop compartilharam o mesmo palco. Organizado por Foz do Iguaçu Hardcore Crew, o evento bombou madrugada à fora. O Hip-Hop ficou por conta da Crew Cartel do Break e o grupo mano Zeu e a Banca. O HC foi representado pelas bandas Artilleria Pesada e Socialmente Incorreto. Esse foi o primeiro de uma série de eventos que serão realizados em comemoração aos vinte anos de Hardcore em Foz do Iguaçu. Quem colou no show pode ver a união e o diálogo do HC com o Hip-Hop, essas duas culturas que tem afinidade, e que são umas das poucas músicas de protesto ainda em atividade do Brasil.

- Vida longa ao Movimento Underground de Foz!!!

UMA ARTE (Por: Eduardo Marinho).


CRISE (Por: Ferrez)

Ele desce na Califórnia, passa pelo grande vale do Silício, que antes movia tudo a sua volta. Lembra dos números, faz uma rápida contabilidade em sua tumultuada mente, pensa em todos os lucros que obteve e não sabe por que está daquela maneira. Alguém oferece sopa e ele recusa, afinal ainda lhe resta algo. Orgulho. Mas não pode negar que a barriga dói, que a mente dói, que tudo a sua volta agora é dor. Será assim que o terceiro mundo se sente? Será isso que eles passam? Será por isso que esse povinho reclama tanto? Não! Não daquela maneira, não com ele, não com eles. O velho continua a caminhar, recolhe agora latas e garrafas, faz favor pra alguém que lhe dá algo para comer. Vare calçadas, limpa banheiros, faz qualquer coisa por uns trocados, antes destinados aos latinos, brasileiros, bolivianos. O príncipe do capital agora é uma figura amarga, com vestes rasgadas, sem qualificação necessária para ganhar o pão de cada dia. Ninguém diria que ele criou tanta desavença, que estimulou tantas mortes, que usou símbolos infantis como os desenhos animados e filmes, para promover a guerra e o genocídio. Quem em sã consciência diria que aquele homem, maltrapilho, que dorme hoje protegido por latas de lixo, chegou a remover presidentes, incentivar golpes, promover ditaduras? A construção da sua casa, apelidada pelos filhos de estado norte-americano, está manchada de sangue de 1 milhão de indígenas de diferentes tribos, todas consideradas 'inferiores', que foram expulsos de suas terras e simplesmente exterminados.

A história de sua família é muito bem escrita, por eles, os vencedores de tantas batalhas: seus avós adquiriram e anexaram o Alasca, invadiram as Ilhas Midway, ocuparam Pearl Harbor, anexaram o Havaí. Seus pais ocuparam militarmente Cuba, Porto Rico e Guam, invadiram as Filipinas (onde morreram 100 mil filipinos), ocuparam o arquipélago de Samoa e anexaram as Ilhas Virgens, fomentaram o separatismo na província do Panamá, interviram na República Dominicana. Mas, ele diz que não chegou a tanto, só entrou na Guatemala para apoiar governos fantoches, e chegou a financiar guerrilheiros anti-sandinistas após a morte de mais de 30 mil nicaragüenses. Numa manhã quente demais, acordou de mal humor e decidiu invadiu El Salvador, promovendo alguns dos mais violentos massacres da América Latina, não poupando velhos nem crianças. Por causa de um carro, discutiu com sua esposa e com tanto ódio, foi à Venezuela e financiou a ditadura. Não se entendia mais com ela e no outro dia resolveu apoiar a ascensão de uma ditadura no Suriname e na mesma tacada invadir a ilha de Granada. Voltou às pazes com sua amada e não por sua escolha, mas influenciado pelas ondas do mercado, realizou outra intervenção militar no México e agora por questões políticas tem apoiado um. violento governo formado por militares que já deixou mais de 100 mil mortos.

Sua mulher inglesa não compreendia que ele não pode passear com sua filha no parque temático, porque estava financiando um grupo guerrilheiro em Angola, mergulhando o país numa violenta guerra civil que prossegue até hoje e transformando Angola num dos países com o maior número de minas terrestres ainda ativas no mundo. Sua mulher cansou de reclamar e talvez por isso ele esteja sozinho, pois em vez de ir ao almoço de família que ela realizou, ele preferiu bombardear a Líbia, invadir a Somália e resolveu ficar de vez na Arábia Saudita e Kuwait. Numa última tentativa foi viajar com a família, todos então foram tirar férias em Moçambique, e ele aproveitou para financiar um grupo guerrilheiro que foi treinado e armado para lutar contra grupos socialistas em Guiné-Bissau, Marrocos, Argélia, Ruanda, Etiópia, Sudão, Somália. Quem olha para aquele homem hoje, com sua grande barba branca, vestido com restos de um tecido que já foi azul, branco e vermelho, não imagina que ele foi ao Chile para matar Allende, que foi ele em pessoa que trouxe Pinochet, que chegou na Argentina e apoiou a ditadura que resultou em mais de 35 mil mortos. Quem nota aquele velhinho jogado na viela, com a mão estendida, pedindo alguns trocados, não diria que ele foi até o Brasil e organizou um golpe militar em 1964, também com participação e supervisão da CIA, que chegou a enviar um porta-aviões, um porta-helicópteros, 6 destróieres, esquadrilhas de caças, petroleiros de 100 toneladas de armas leves para apoiar o golpe e que caso a população brasileira resistisse ao golpe, as suas tropas estadunidenses desembarcariam no país, coisa que não aconteceu, não foi necessário, ninguém reagiria ali mesmo, nem ontem, nem hoje.

Uma senhora passa, ela tem traços indígenas, ou africanos, ele não sabe ao certo, afinal nunca ligou para a cultura dos outros, ela carrega um filho quase morto no colo, olha para aquele senhor, com sua imensa cartola, ela retira uma coisa de sua pequena bolsa, entrega para ele, é um papel com uma frase, então ele abre rapidamente, mas não está escrito em inglês, e por isso não consegue ler, vira-se para ela e pergunta o que está escrito.

Ela diz:

Bem-vindo ao meu mundo, Tio Sam.

(Ferréz é escritor e hoje vive com esposa e uma filha num país chamado periferia).

Fonte: Revista Caros Amigos n° 145 de Abril de 2009.

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George)

Chacarita é a única e imensa favela de Assunção, capital do Paraguai, sua unicidade a diferencia de boa parte da noção pré-estabelecida de periferia, pois a Chacarita se localiza no centro, encostada no palácio dos Lopez, referente à casa do presidente no Brasil. Partindo dessa concepção o centro de Assunção é visto como um lugar perigoso, sendo apontado pela população local como um espaço de concentração de “rateiros” ladrões que visam dinheiro e telefones celulares. A imensa favela de Chacarita abriga cerca de 150 mil moradores, sua extensão “invade” ainda o centro antigo da cidade, lugar freqüentado por turistas e jovens que buscam diversão nos bares da calle palma. A Chacarita além de uma trajetória marcada pela fama de violência, incêndio, pobreza, ocupação, que transcorre as periferias de forma geral, que é alimentada pelos holofotes da grande mídia direitista, sucumbida a propostas de higienização estadista. De forma geral a Chacarita é alvo de olhares curiosos de quem circula pela parte “conhecida” de Assunção e se depara com aquela imensa favela. Dessa forma esse local produziu muitas histórias, constituiu suas próprias memórias e criou seu herói. Sobe esse herói que abordaremos posteriormente.

O herói de Chacarita é tão contraditório quanto o lugar. Um velho de 61 anos que sofre há 30 anos de alcoolismo, seu Nestor é esse sujeito que vivia caído pelas ruas embarradas da Chacarita ou pelas praças do centro. Acordava cotidianamente com a cara rabiscada pelos meninos que engraxavam sapatos na praça, o rabisco preferido dos meninos em seu rosto era a palavra “borracho” que significa Bêbado em Espanhol. A família de Nestor que era composta por uma mulher e um filho viviam constrangidos com a sua situação, que há três décadas se renderia ao Álcool. Os 61 anos de vida de Nestor marcavam o tempo de embriaguez que seu país viveu na mão do mandato continuo do partido colorado, de tendência conservadora e nacionalista. Seu Nestor não fora um importante empresário, nenhum grande latifundiário foi mais um que sofreu com a extrema desigualdade do seu país, mas um cidadão Paraguaio que sonhava em ter uma terra que está detida nas mãos dos poderosos fazendeiros brasileiros. Boa parte da sua vida, quando ainda trabalhava, Nestor vendia sua força de trabalho para as Olarias da região de Tobati, o trabalho árduo e mal remunerado o fez buscar uma vida melhor na capital Assunção, a melhora não veio, ele chegou a Chacarita quando essa era apenas uma pequena Vila denominada Ricardo Brugada, que cresceu no ritmo da corrupção do governo colorado.

Como de costume, para aliviar o stress, bebia toda noite a “Caña Fortin” uma pinga forte e popular vendida exageradamente na região do Chacarita. O exagero de Nestor o leva a séria dependência, de lá pra cá sempre se envolvera em confusões, em uma de suas confusões levou uma surra do dono de um boteco que já não agüentava mais a perturbação de Nestor. Revoltado o bêbado voltou na calada da noite ao boteco e ateou fogo naquele estabelecimento, como de praxe o boteco ficava num grande aglomerado de casas, o fogo se alastrou rapidamente e queimou as casas de compensado. Quando os bombeiros chegaram pouco puderam fazer, mas seu Nestor ao invés de vilão virou herói, pois era época eleitoral no Paraguai e o partido colorado aproveitou a oportunidade para conquistar mais votos, removendo aquela parcela da população para outra área e dando lhe casas novas. Assim Nestor virou herói de Chacarita, ainda permanece bêbado caído pelas ruas, mas alguns moradores agora financiam sua bebedeira para que ele logo possa fazer outra proeza.

“Danilo George – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.

óIA sÓ (Por: Lizal)

ETANOL MOLOTOV

(Protesto contra a visita de bush ao Brasil em 2007. A galera se ligou que o Bush Zói de Banha tava de olho nas nossas terras para plantar cana de açúcar para a produção de etanol e mandou essa: “Temos álcool para dar e vender. Ethanol Molotov For Yankee”).

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(Hugo Chávez foi além e chamou Bush de Cadáver Político. “Bush es ya un cadáver político”).

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Marilene Felinto:

“Os Estados Unidos não são referencia moral nem política para ninguém”

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Pergunta de Georges Bourdoukan:

“É possível mudar o sistema sem mudar o homem?”.

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Gilberto Felizberto Vasconcelos:

“(...) A luta de classes dá lugar à luta de almas. A função da cultura dominante é inocentar a classe dominante, embora o governo petista não tenha cara-de-pau de declarar que a culpa pela pobreza é do povo. Purificar a classe dominante submeter culturalmente os pobres com programas de Tevê e jogos de futebol. Afinal, o homem não passa de um animal corintiano”.

(Eu sou Inter. Internacional Socialista).

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Fausto Wolff:

“Outro dia quase bati as botas. Fechado o expediente, fiquei bebendo uísque enquanto olhava o mar. Á medida que bebia, mais o mar se agitava, me agitando também. Tive uma idéia genial e voltei ao computador, mas – vejam só – não conseguia escrever as frases direito. Era sempre aprotaledo pelas pavrolas”.

(Esse bebe)

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Uma gambé mexicana examinou os documentos de André Midani no aeroporto e se assustou: “Uma pessoa nascida na Síria, com passaporte brasileiro, que mora em Nova York, que vem de Medellín e passa pelo México, que diz trabalhar com música e que fala espanhol com sotaque francês... não pode ser uma pessoa confiável”.

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O Juiz doidão.

O juiz federal Mário Azevedo Jambo, indignado com as condições dos presídios brasileiros adotou uma postura “um tanto estranha” para seus amigos de profissão. Quando o acusado comete crimes “leves” ele aplica penas alternativas. Pra chefe do tráfico é cadeia, sem massagem, mas para um jovem traficante de primeira viagem – dependendo da quantidade de droga que leva – aplica uma pena mais suave. Sabendo da realidade desses jovens vindos de famílias desestruturadas e abandonando os estudos ele sugeria que voltassem para a escola. O juiz inovou a linguagem adotada nas sentenças penais. No estilo Garcia Marques em O Amor no Tempo do Cólera seu texto dizia: “Aqui a sentença penal não é ato de vingança, mas ato de amor, de um amor equilibrado, que pune quando necessário”. Tudo começou em abril de 2008 quando 4 jovens hackers foram presos por roubo de senhas bancárias. Vendo que um dos rapazes chorava muito durante a audiência Jambo concedeu liberdade provisória para os quatro acusados desde que lessem os livros: Vidas Secas de Graciliano Ramos e A Hora e Vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa. Ele não escolheu os livros a esmo, durante a audiência os jovens disseram que tinham se envolvido naquele esquema por falta de dinheiro. O juiz pediu para que lessem Vidas Secas para ver o que é passar dificuldade na vida. E o livro de Guimarães Rosa ele indicou para mostrar que é possível o ser humano se recuperar. A cada três meses os rapazes deverão entregar textos sobre o que leram, (os textos têm que ser escritos à mão para evitar o recorta e cola da internet). No fim de sua pena o juiz aplicará uma prova sobre as leituras que fizeram e sobre o impacto que elas causaram na vida deles. Para um caso de tráfico internacional cometido por uma portuguesa Jambo aplicou a pena: ler poemas de Fernando Pessoa.

(Esse doido é revolucionário).

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Música de Gilberto Gil:

“O povo sabe o que quer,
mas o povo também quer o que não sabe”.

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ASFIXIA:

Depois que o povo se revoltou contra o assassinato de um morador, por parte da polícia em Paraisópolis, os gambés promoveram a operação “Asfixia, ou Saturação”. 400 pé-de-porco estão tocando o terror na quebrada, invadindo barracos sem mandado, batendo em jovens e infernizando os moradores.

(A revista Caros Amigos publicou matéria com o título “Infernópolis” que traduziu bem o clima da quebrada com a invasão policial).

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Escrito na Viatura da PM no Rio de Janeiro:
“Polícia Militar, com você o tempo todo”.

(Que me diga o truta Cavera. O piá vai pro Guiness Book, três enquadros por minuto).

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Outdoor em Foz do Iguaçu:

“Passando por cima da crise”

Na foto aparece o pneu de um carro financiado em 1000 e tantas prestações.

(É o capitalismo respirando por aparelho).

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Os lokos advertem:
É proibido estacionar!!!

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O DJ é meu pastor

O DJ é meu pastor
Ou como Jefté virou o cabeça depois de pegar o beco. (Por: Emiliano Urbim)

"Quem disse que Jesus só ama quem usa terno e gravata?" A resposta ocorre todo domingo, a partir das 18h, na comunidade evangélica Crescendo na Graça, no extremo leste paulistano. Ao seu lema - "aqui se louva a Deus com black music e hip-hop" - pode se acrescentar "e com boné, bermudão, tênis, regata, barriga de fora, tatuagens à mostra e jeans do mais justo ao mais folgado". O jovem negro autor da pergunta, o evangelista Roberto Soul, tem um brinco de brilhante em cada orelha, visual e gestos de rapper. Mas quem comanda o "culto da família black" é um branco de terno e gravata que atende por DJ Pastor. Trata-se do apelido do pastor Anderson Dias Barbosa, 33 anos. Da alquimia entre o sonho infantil de ser líder religioso e a paixão adolescente pela música negra e a cultura de rua, ele criou uma igreja que, além do dress code flexível, tem soul, funk e disco com letras evangélicas, graffiti dentro e fora, projeto itinerante de rap (Hip-Hop Ambulante), oficina de basquete (Garrafão Gospel) e até equipe de jiu-jítsu (Tatame Gospel). Localizado num bairro de casas altas e prédios baixos, o galpão de teto côncavo coberto com Brasilit tem decoração simples: nas paredes, algumas figuras grafitadas e pintura salmão; no palco, nuvens iluminadas por um pôr-do-sol imaginário e degraus que levam a um palco de carpete bordô. São 144 cadeiras beges de plástico divididas em três grupos de 48, ocupadas em noite de culto por jovens com bíblias na mão e "glória a Deus" na ponta da língua.

As crianças também são pajeadas: vigiadas por uma recreadora de macacão vermelho. Divertem-se com aula de desenho, mesa de sinuca, pebolim, tabela de basquete e, em breve, promete o pastor, um fliperama. Uma igreja feita sob medida para a juventude periférica paulistana é versículo de um capítulo maior do que vem sendo chamado de "evangélicas customizadas". A precursora da segmentação, ainda nos anos 80, foi a Renascer, dos bispos e réus Estevam e Sônia Hernandes. Hoje há cultos para surfistas, roqueiros e até para os policiais do Bope, a elite da PM do Rio. Abrem-se pequenas concessões que permitem cativar se pequenas concessões que permitem cativar almas não conquistadas por cultos tradicionais. "Tudo o que você vê aqui, todos esses projetos, tem um propósito, tem cunho evangelístico. São iscas para grandes peixes", compara o pastor. Nessa pescaria espiritual, a maior atração é o noneto de black music Projeto Crescer, que inclui Anderson na bateria e sua esposa, a pastora Francine, como backing vocal. A banda gravou seu primeiro CD em 28 de setembro, ao vivo, no templo-sede do Itaim Paulista - existem duas filiais, também na região.

O ingresso para o show (R$ 10 mais um quilo de alimento) dava direito ao futuro álbum. No culto de três semanas antes, Francine defendeu o ministério musical. "Precisamos que os adoradores aprendam as letras das músicas para a gravação ficar legal." E enfatizou: "Pessoas serão libertadas com esse CD!", para depois comandar uma benção coletiva a todos os envolvidos. Roberto, vocalista da banda, engrossa o coro da missão musical divina. "Deus olha pra você e pergunta, 'o que você sabe fazer?'. Você responde: 'Sei fazer rima! Sei cantar com atitude!' 'Então vai lá e faz, filho.'" Essa síntese de sagrado e cotidiano ressurge nos sermões em que DJ Pastor "traduz" passagens bíblicas para a gíria. A história de Jefté, por exemplo, obrigado pelos meio-irmãos a se exilar e depois convocado para salvar Israel, fica mais ou menos assim: "Os irmãos chegaram chamando o cara de bastardo, de filho de prostituta, dizendo pra ele tomar seu rumo, pra ele pegar o beco. Ele, que era valente e valoroso, foi de boa. Deu um tempo, a chapa esquentou e os traíras precisaram do Jefté pra vencer uma guerra. 'Jefté, Deus te indicou pra fazer os filhos de Amon nos deixar quieto. Bora?' Mas ser humilde é uma coisa, ser trouxa é outra! Jefté, que agüentou no osso sem maldizer o Senhor, mandou na lata: 'Eu vou. Mas quero ser o cabeça!'. É que nem aquele filme do Van Damme: retroceder nunca, render-se jamais." Para completar, a filha de Jefté - que pode ter sido sacrificada ou poupada, dependendo do teólogo -, recebe o pai vitorioso na batalha com uma canção. É o hino do Corinthians ("salve Jefté / o campeão dos campeões"). E deliram os manos e minas fiéis da Fiel.

(Extraído do site: www.revistapiaui.com.br)

UMA QUESTÃO DE CIDADANIA (Por: Luiz Henrique)

Semana retrasada comentaram que eu só reclamo em tudo que escrevo ultimamente. Concordo. Mas talvez isto seja fruto de um excesso de observação e, penso eu, quando não fechamos os olhos a realidade não some e, sendo a realidade ligeiramente errada, reclamamos. Afinal, não somos pedras ou cogumelos. Sendo assim, vou reclamar mais um pouco. O brasileiro deixa tudo para a última hora. O iguaçuense, brasileiro que é, cumpre seu papel. A maioria dos proprietários de imóveis na área central da cidade está aderindo ao projeto calçadas depois das notificações da Foztrans e do medo da multa, que toma conta daqueles que ainda desobedecem a lei de adaptação das vias para pedestres.

O que vemos é um verdadeiro canteiro de obras por todo centro e, aos poucos, nossa cidade vai ficando mais acessível, mais organizada e limpa. Os idosos, crianças, portadores de necessidades especiais começam a circular pelo centro sem a obrigação de constantes desvios, degraus, raízes de árvores e muretas. O avanço é evidente. Só acho que os órgãos competentes devem agora lançar uma cartilha intitulada “para que servem as calçadas adaptadas – lições para se respeitar o direito de locomoção”, pois ainda tem gente que age desconhecendo o motivo de haver, por exemplo, uma pista tátil na calçada.

Já descrevi neste espaço o caso do Jardim Curitibano em que o proprietário do imóvel construiu uma calçada e não deixou a conexão da pista tátil para o vizinho, ao contrário, no final da testada de seu terreno fez um balão com a pista (dos dois lados), que ficou conhecido como “circuito para cegos”, pois quem depender daquela calçada pra se guiar irá ficar indo e voltando eternamente. Na foto que tirei no sábado pela manhã, o proprietário de um comércio colocou a placa de venda de recarga para celular ocupando o “espaço aéreo da faixa amarela”, neste caso, o deficiente visual bateria a canela na placa.



Há diversos casos na cidade, os mais comuns trazem a faixa tátil não conectada ou a interrupção da faixa devido a um bueiro ou, acreditem, com a faixa passando por baixo de um telefone público onde um deficiente visual acabaria se machucando. Já descrevi aqui, também, os bares que colocam mesas sobre a faixa e a banca de cachorro quente perto de casa, armada sobre a calçada, obrigando o pedestre (em ambos os casos) a circular pela rua. Devemos pensar na cidade de forma cidadã e responsável, só assim construiremos um verdadeiro lar para nós e para nossos filhos. Caso contrário continuaremos como estamos: no buraco.

LUIZ HENRIQUE DIAS DA SILVA é escritor, estudante de arquitetura e urbanismo
e comunista (convicto). Ele gosta de passear por aí pelas novas calçadas do centro,
só que, de vez em quando, tropeça em algum desnível ou tem que passar pela rua. O Luiz acha que rua é lugar de carros, mas, em Foz, esta lógica não funciona muito. Uma prova disso é que, perto da casa dele, os carros estacionam sobre a faixa tátil da calçada. “Então, se for assim” – diz o Luiz – “ trocamos de vez. Os carros ficam na calçada e nós ficamos na rua”. Achamos que o Luiz é um alienado. Onde já se viu?

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

BATALHA REGIONAL DE BREAK (Por: Carol).

batalha s.f.1.Combate, peleja entre exércitos. 2. (p.ext.) qualquer combate ou luta. 3. (fig.) esforço; trabalho; empenho.


Talvez esta seja a melhor definição para a batalha que ocorreu no dia 25 de abril. A peleja começou as 14:00h com a discotecagem de alguns DJ´s da Banca CDR. E ás 14:30h foi a hora dos inscritos na batalha começarem a se aquecer. Por que uma hora depois seria dado inicio a 1ª Batalha regional de Break.

A luta foi narrada pelo MC Fernando e julgada pelos B.Boys Michael(Cia. De Rua) e Mano Edo (Cartel do Break). Foram nove os guerrilheiros inscritos que lutaram a tarde inteira pelo 1º lugar. Não só o primeiro lugar da batalha, mas o 1º lugar de esforço, dedicação e criatividade. Os guerrilheiros foram os manos Adão, Fabiano, Gugu, Guilherme, Luiz, Panda, Miguel Style, Rafael Becker e Sérgio Sena.

A batalha teve inicio as 15:30 e terminou as 19:30 na santa paz. O final da disputa ficou entre os manos Fabiano (3º lugar), Luis (2º lugar) e Adão (1º lugar). O vitorioso levou pra casa um troféu e, como prometido, os R$90,00 das inscrições. O dia foi massa, foi zuera até umas horas, teve uns que se exaltaram e “chutaram a garrafa”, teve outros que desacreditaram do resultado e desafiaram o truta pra batalha mais uma vez...

A galera participou, aplaudiu e riu bastante dos movimentos “Matilde” que não deixaram de faltar no evento. O que não deixou de faltar também foi a ROTAM vigiando o local por toda tarde. Pena que mais uma vez eles se frustraram por que o evento foi super tranqüilo. Quer dizer, nesse dia eles se frustraram duas vezes...

E como era de se esperar... epois do evento, o pessoal da Banca resolveu dar um tempo na Praça da Bíblia quando os homens da lei resolveram trabalhar e deram mais um enquadro nos meninos. O mais legal é que os caras são super educados... Já chegaram com arma em punho loucos pra levarem alguém. Mas aí, mais uma vez a galera do rap decepcionou os “homi”...

Como diria o Mano Sabota “o rap é compromisso” e foi nessa onda que os manos levaram o evento até o final. Ah, não posso deixar de mandar um salve aqui pra todos os que participaram e colaboraram com a realização do acontecimento.

(B. Boy Adão, campeão da batalha).

Batalha Regional de Break - Foz do iguaçu...







QUANTO VALE A VIDA?! (Por: Antonio Ozaí da Silva).


No filme Live! (Ao vivo!)*, do diretor Bill Guttentag, a vida vale 5 milhões de dólares. O filme relata a história de Katy Coubert (interpretada por Eva Mendes), diretora de um programa da TV cujo objetivo é conquistar recorde de audiência. A idéia é produzir um programa baseado no jogo da roleta russa, algo capaz de superar os reality shows e impactar a sociedade. O jogo é conhecido: um revólver, seis concorrentes, uma bala, um morto. Eles sabem que um não sobreviverá. Os que saírem ilesos receberão o prêmio e transformarão suas vidas. Aos familiares do morto restarão apenas as lamentações e a dor, mas nenhuma recompensa financeira. Os de espírito mórbido poderão se deleitar com o espetáculo da morte. Na verdade, é o tipo de tensão que muitos precisam e encontram no rol dos programas oferecidos pela TV. A tese de Katy Coubert é que o público busca algo assim e ela apenas atende aos anseios deste, mas de uma forma que justifica o que oferece. O argumento é que o prêmio proporcionará uma vida nova – e as histórias dos escolhidos para participar da roleta russa parecem confirmar.

A vida que se esvai com a bala que dilacera a cabeça do “sorteado pelo destino” não tem qualquer importância. A atenção volta-se para aquele que seria o próximo a apontar a arma para a própria cabeça e apertar o gatilho. Enquanto o corpo jaz no auditório, todos festejam. Por que ter dó do morto? Não foi sua livre escolha? Eis o principal argumento para convencer as vozes dissonantes que poderiam impedir o programa. Se a liberdade é plena, tenho o direito de dispor do meu corpo e, em público, colocá-lo em risco. Quem tem o direito de impedir a minha opção se esta é a minha liberdade? Como é comum aos reality shows, o público tende a se envolver com os personagens, seus sonhos e dramas. O risco é passar a torcer para um deles e perder o senso crítico. Por outro lado, o filme representa uma vigorosa denúncia da TV, o que esta representa, os interesses que envolvem e o vale tudo para ganhar audiência e, assim, garantir os anunciantes. É interessante como Katy Coubert convence os representantes das empresas.

A venda dos produtos que comercializam é muito mais importante do que a vida humana; se a morte é um componente necessário para a propaganda e a realização dos lucros, paciência! É a sociedade de consumo que dá sustentação a coisas desse tipo. Isso, porém, é apenas um dos aspectos. Como argumenta a diretora do programa Live!, a identificação das multidões pela morte é antiga: a morte de gladiadores no coliseu romano, a queima de corpos nas fogueiras da inquisição, enforcamentos, cabeças decepadas pelas guilhotinas na França pós-revolucionária, execuções de escravos negros em praça pública, etc. O cumprimento da pena de morte no mundo moderno, a banalização da violência na TV com a transmissão ao vivo, e à exaustão, de casos como o das meninas Izabela e Eloá. Da antiguidade à modernidade, eis as multidões em êxtase diante da morte transformada num evento extraordinário e espetacular. De onde vem essa identificação? Quanto vale a vida? Cinco milhões? Mais? Ou nada? Depende das circunstâncias. Há quem seja capaz de matar pelo simples prazer da ação, sem qualquer recompensa financeira. Outros se colocam a serviço dos que não tem coragem de matar, mas tem dinheiro para contratar e pagar. Cotidianamente, muitos esvaem suas energias vitais a troco do suficiente para sobreviverem. Morrem a cada dia para prolongar a vida, ainda que esta seja miserável. As justificativas para a morte são muitas, até mesmo políticas – olhemos para o que acontece na Faixa de Gaza! Nem sempre é uma escolha feita em plena liberdade. Mas vale a pena ganhar cinco milhões se isto significou a perda de uma vida?

Fonte:www.antonio-ozai.blogspot.com

FAVELA Lugar de Trabalhador!!! (Por: Eliseu Pirocelli)

O Morro do Estado se levanta contra o capitalismo.

1° de Maio, 9 horas da manhã, um carro de som percorre as ruas do Morro do Estado, o maior morro de Niterói - Rj, em contingente habitacional. No microfone um antigo militante, Sebastião José de Souza de 51 anos de idade. Conhecido como TÃO, chegou ao Rio de Janeiro em 1962, com 01 ano de idade. Foi um dos fundadores do PT e há seis anos faz parte do Psol. TÃO faz parte do MTL (Movimento Terra e Liberdade) que é um movimento de luta pela terra e reforma agrária. O MTL está há seis anos com uma ocupação em Uberlândia, no Triângulo Mineiro onde trabalham a terra coletivamente. Nessa fazenda a terra não pode ser revendida pelos ocupantes e o trabalho funciona de forma coletiva. Como Rousseau pregava: “A terra não é de ninguém, mas os frutos são de todos”. TÃO faz parte ainda do SINDSPREV (Sindicato Saúde Previdência e Trabalho) que na sua opinião sinaliza o novo sindicalismo do século XXI com ideologia revolucionária de trabalho de base sendo gerenciado pelos trabalhadores mundiais buscando uma nova sociedade. Criaram o SINDSPREV Comunitário como uma forma de levar os sindicatos pra dentro das favelas, estruturar as periferias e discutir uma nova ordem mundial.

O carro de som transita pelas ruas do morro, o discurso é eloqüente e bate na tecla da atual crise mundial e da falência do capitalismo: “O que significa a crise? Significa menos educação, menos saúde, menos alimentação pro povo das favelas (...)
O trabalhador não pode pagar pela crise (...) Ela só é comentada hoje no mundo inteiro porque chegou aos poderosos. A gente já vive a crise desde que nascemos dentro de uma favela”. O ato foi organizado pelo MTL, AMME (Associação de Moradores do Morro do Estado), SINDSPREV Comunitário e DCE da UFF. Os organizadores fizeram questão de deixar bem claro que não se tratava de um dia de comemorações ou festividades e sim um dia de luta porque os trabalhadores brasileiros não têm muito o que comemorar. Enquanto o carro de som subia o morro convocando o povo pra se reunir no campo (que fica localizado no alto da favela) os militantes subiam entregando panfletos informativos pra população, pedindo a unificação de todos os trabalhadores contra o sistema capitalista. O informativo do Dia do Trabalhador diz que com o aprofundamento da atual crise capitalista mundial, os governos (federal, estadual e municipais) e as empresas privadas estão cortando direitos dos servidores e verbas dos serviços públicos de saúde, educação, e saneamento com gravíssimos prejuízos à população.

O panfleto falou ainda sobre as práticas discriminatórias que vem acontecendo por parte do governo. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) começou a construção de muros cercando as favelas cariocas. Essa postura segregacionista está indignando os habitantes. Outra atrocidade foi o chicoteamento de passageiros – a maioria negros e pobres – no trem da Supervia, na estação de Madureira, durante a greve de ferroviários ocorrida em abril. No morro do Estado, como nas demais favelas do Brasil, a maioria da população é negra e numa das teclas que a manifestação bateu foi a questão racial. Os organizadores do ato trouxeram á tona a triste realidade de que os negros e pobres das favelas têm sido os maiores prejudicados pelo desemprego decorrente da crise do capitalismo no mundo. “Não podemos aceitar que as favelas de hoje sejam tratadas como as senzalas da escravidão”, dizia no panfleto.

O povo se reuniu no campo onde aconteceria em instantes um torneio de futebol masculino e feminino. Algumas pessoas usavam camisetas com os dizeres: “Antes Senzala, Hoje favela”. As camisetas foram confeccionadas para um protesto pela morte de 05 jovens. No ano de 2005 a PM assassinou esses jovens com a desculpa de inibir o tráfico na favela. Isso impulsionou também as manifestações do dia 20 de Novembro que chama a atenção para a discriminação que a favela sofre por parte das ‘autoridades’. O estado do Rio de Janeiro conta hoje com um feriado do dia 20 de novembro em memória a Zumbi do Palmares, o herói negro que lutou até a morte pela liberdade dos escravos. No campo o discurso continuou, agora sobre o comando de Madureira, um exímio militante e um dos organizadores do ato. Madureira nasceu em Belo horizonte e chegou ao Rio há 11 anos. Cursa geografia na UFF e vive há dois anos no Morro do Estado. “Eu não nasci aqui, mas eu moro aqui e considero o Morro do Estado a minha casa”, disse Madureira. Desde que chegou ao morro envolveu-se na militância e desenvolve trabalhos sociais junto à Associação de Moradores. Recentemente trouxe para a favela o curso de soldador. É muito querido pela população e como trabalha na Universidade faz essa ponte da Academia com a Favela. Conseguiu 10 vagas de emprego para moradores do Morro trabalharem na Universidade.

Outro organizador do manifesto é o militante Fábio Silva, 38 anos, que ficou responsável pela macarronada que foi servida aos participantes do ato. Fábio, além de cozinheiro, é carnavalesco e trabalha há muito tempo com escolas de samba. Foi integrante por 04 anos da GRES Acadêmicos do Sossego de Niterói, por 01 ano da Portela - Rj, por 01 ano da Boi da Ilha – Rj. Entrou para a escola Bafo do Tigre do Morro do Estado em 2007 e com o enredo 1001 noites de boemias, ficou empatado em 1º lugar com a Acadêmicos Novo México no carnaval niteroiense. Em 2008 veio com o enredo aguardente- cachaça, da cana de açúcar ao líquido precioso e ficaram em 2º lugar. “O meu sonho é trazer o título de campeão pra Bafo do Tigre no próximo desfile”, falou Fábio, que deixou a família de classe média para morar no morro e lutar em prol do povo da favela. Na Escola Airton Senna (que fica dentro do Morro do Estado) ele desenvolve o curso de Adereços e Fantasias Artísticas para crianças e adolescentes. O curso visa a inclusão dos adolescentes formados, na Escola Bafo do Tigre, com trabalho remunerado.

Além de todo o manifesto, o torneio de futebol e a macarronada, aconteceu ainda o concurso de Funk e Rap. Com a apresentação do grande MC Guelo, os funkeiros e rappers mostraram suas músicas e composições. Guelo vive no Morro do Estado, é Mc de Funk e faz parte da APA FUNK. A APA Funk é uma organização que luta contra a criminalização do Funk no Rio de Janeiro. Com o Movimento Funk é Cultura organiza debates e shows onde resgatam o Funk de Raiz. O vencedor do concurso foi Du B, seguido por 2 D e Mano Zeu. O jovem Du B ofereceu o troféu ao seu avô falecido há uma semana.

O Morro do Estado é o único morro de Niterói que organiza o ato do 1º de maio. É de suma importância que os movimentos sociais e a população estejam organizados para lutar por seus direitos. A carta que foi entregue à população deixa isso bem claro: “A única forma de todos nós, moradores de comunidades carentes, resistirmos a esses ataques é nos unirmos e organizarmos para a defesa dos nossos direitos (...) Por tudo isso é que o 1º de maio de luta tem que ser feito dentro da favela, onde os trabalhadores sofrem a verdadeira opressão promovida pelo Estado”.


(Mano Zeu, 2 D, Mc Guelo e Du B)

1° de maio no morro







IDÉIA PRA PERIFERIA (Por Mano Edo)

Idéia do Bairro. Capítulo IX –

Quando a viatura faz a curva, projéteis são deflagrados. Na rua onde acontecera; a razão: foi teste de arma de fogo. A policia passa bem na hora que um dos moradores da Morenitas iria, ou estava testando uma arma; pelo barulho deveria ser uma pistola. A viatura para defronte do barraco e fica na averiguação do suposto suspeito que deflagrara as cápsulas dos projéteis. Mas nada aconteceu em seguida, assim os policiais foram rondar com a viatura em outro lugar. Gugu ficou muito curioso com a abordagem que os policiais queriam executar, mas, não conseguiram, então, Gugu foi fazer um "corre loko", não sei o que! E nisso Gustavo já estava pronto para fazer uma outra atividade. Gustavo iria alimentar e olhar como estaria o filhote de cavalo que ambos, Gugu e Gustavo ganharam de José? O filhote está forte e bem alimentado, no Horto Municipal havia inúmeras moitas de colonião, sustenta todos os cavalos da favela da Morenitas e do jardim Veraneio (onde havia diversos cavalos também).

Como o filhote estava se passando muito bem Gustavo resolvera voltar e ir para sua casa tomar um banho para desfrutar de um descanso. Gustavo antes de tudo, colocou a carro em um posto específico e levou o cavalo emprestado pra pastar no terreno baldio da antiga firma de manutenção do município, a Consbrasil. E assim retornou para a periferia amada e foi tomar banho. Quase no escurecer, houve uma treta (bronca de foras da lei) diversos tiros foram escutados pelos moradores, quando foram deparar era um ex-presidiário que fora alvejado e executado por grupos ou gangues rivais. Gustavo tinha acabado de jantar; como escutou os barulhos de tiros ficou curioso com o que tinha acontecido e foi ver, chegando no local observou um rapaz jovem estirado no meio da rua de terra e coberto com uma lona preta: possivelmente coletada pelas ruas da rota de coleta. Antes do corpo ser periciado pela criminalística o tempo começou a fazer barulhos de trovões, raios e exordiando com relâmpagos, em questões de segundos começa a chover e o cadáver se encharcava aos poucos e o sangue que estaria sendo cristalizado ou coando começou a ir a favor das correntezas com destino a valeta (que corta a favela ao meio).

O IML chega, faz sua partilhação científica e se desfaz como se não tivesse acontecido nada, levando o corpo no rabecão. Parece que o tempo começou achorar antes que a própria mãe biológica chorasse. E a chuva continua, não queria parar... De repente, em alguns minutos a valeta começa a transbordar e fazer com que algumas famílias se tornassem desabrigadas novamente.

Gustavo já teria retornado à sua casa e se lamentava com os crimes e agora com a enchente que inundava partes da favela. Gugu apenas deu uma averiguada e foi para uma pequena taberna na parte de cima da favela, onde devidamente iria ter seus outros contatos com bebidas alcoólicas...

CURSO DE FORMAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS POPULARES (Por: Danilo George)

O Curso de Formação de Agentes Culturais Populares visa capacitar/qualificar jovens e adultos moradores de espaços populares, que desenvolvem atividades no campo da arte e da cultura (artistas e produtores culturais dos campos da música, da dança, audiovisual, artes plásticas, artesanato, teatro e “animadores culturais”). A intenção é estimular essas iniciativas e permitir que elas possam se beneficiar de editais de fomento, sendo organizadas no sentido de captar recursos (públicos ou privados), bem como desenvolver atividades auto-sustentáveis. Com isso, além da formação profissional dos empreendedores culturais das favelas, será possível dinamizar a economia dessas localidades, tornando as atividades culturais já desenvolvidas por esses agentes fonte de renda e emprego para a população favelada. Outro objetivo é desenvolver redes culturais nas favelas, no sentido da construção de uma cultura de paz, com respeito à diversidade étnica, de gênero, religiosa etc.

O curso busca Qualificar/capacitar 45 agentes culturais através do curso de formação, que combina momentos de estudo de teorias e troca de experiências práticas, com a perspectiva de contribuir na construção de alternativas de geração de emprego e renda para os moradores dos espaços populares. O curso contará com disciplinas de Cultura brasileira, Gestão cultural, Políticas culturais, Comunicação popular, Projeto cultural, entre outras. As aulas teóricas serão semanais, totalizando 12 encontros, com duração de 4 horas cada, ministradas por especialistas das áreas.

É interessante percebermos nessa iniciativa, o reconhecimento da cultura popular como ferramenta de luta e transformação social, e mais uma vez reforçarmos a idéia de cultura do povo voltada a sociedade, comunidade, de forma democrática, precisamos estabelecer o respeito ás camadas subalternas. A cultura popular não pode ser utilizada para subsidiar projetos privados e estatais que visem o lucro, e servem como propaganda dos “senhores” do poder, devemos buscar formas de capacitar os produtores culturais, para os próprios trabalharem e viver do que produzem e não de transforma-los em mercadoria para negociá-los para turistas.

Em Foz do Iguaçu os administradores do município, assim como os órgão representativos da cidade, não pautam a cultura no âmbito comum, não respeitam o sentido da arte feita pelo povo; se fala sempre na cultura destinada ao turismo, romper essa lógica é um papel fundamental para estabelecermos uma gestão cultural feita pelos próprios produtores, e que essa seja vista e assistida e compartilhada por todas parcelas da população, que as atividades culturais não se restrinjam somente a lugares destinados à classe dominante ou seja reduzida ao capital dos turistas que passeiam por aqui. Fica aqui um bom experimento que vem da iniciativa de professores, educadores e militantes do estado do Rio de Janeiro para também refletirmos nesse processo em Foz do Iguaçu, temos que reconhecer a importância de projetos como esse, e repensarmos como essas iniciativas caberiam aqui na nossa cidade.

Como disse Marildo Menegat: “Pensar o processo cultural é pensar uma outra práxis, uma outra forma de organização da vida social, um outro conjunto de intencionalidades, de valores, para olhar o real .”

(Adriana Facina - Coordenadora do Curso)...


Poesias e Pensamentos

Quem chora por Gaza?

É a morte! É a morte!
Mata-se a planta na flor.
Pobres bebês palestinos
que já nascem em caixões!

Onde estão as aves
que não cantam mais?
Onde estão as estrelas
que iluminaram Maimônides e Avicena?
Até a flagrância das roseiras é amarga.

Quem chora pelas crianças palestinas?

Por que os israelenses não reagem
contra seus dirigentes?
Por que não se repugnam
contra o altar dos sacrifícios?
Terão perdido sua humanidade?

Gente de imunda hipocrisia
que não poupa sequer os hospitais.
Eles exibem com orgulho o progresso
que o demônio realizou.
Satânicos, querem provar que o diabo
é mais poderoso que Deus.
Até quando terão razão?

Eis uma sociedade decadente e doente
que vive na idade das trevas.
Plantaram muros na terra de leite e do mel.
Prosperam os arames farpados.
Já não se colhe alimentos, mas horrores.

Seus governantes praticam
o ideal da perversidade.
São energúmenos perturbados.
São os filhos do abismo.
Eles se odeiam e têm horror de si mesmos.
Até quando Jerusalém, até quando?
Quem chora por Gaza?

(Georges Bourdoukan).

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“Os vencidos de agora
Serão os vencedores de amanhã
E o hoje nascerá do jamais”

(Bertolt Brecht)

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Pássaros libertários

Que vivam os estudantes
Jardim das alegrias
São aves que não se assustam
De animal nem de polícia
Não lhes assustam as balas
Nem os latidos dos cães
Que vivam os estudantes
Quegritam como os ventos
Quando lhes chegam aos ouvidos
Botinas ou regimentos

(Violeta Parra).

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Fazer

Ir quando se quer ficar
ficar com fome quando se quer comer
rir quando se quer chorar
morrer quando se quer viver
calar quando se quer gritar
esconder-se quando se quer mostrar
voltar ... quando se quer terminar...

(Misk, Foz)

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Uns querem bala perdida
nós poesia
quem cala a ferida, anemia.
A pólvora que risca o beco
sai dos lábios que nem tiro sêco.

Poema traçante
que rasga o peito da noite,
um levante,
levando declaração de guerra
camuflada de alegria.
Avante,
nosso exército
marcha nas sombras
sem pisar nas flores das primaveras
que plantaram bombas.

O Poema que voa
não é pássaro nem avião
muito menos
projétil de metralhadora.
O perigo da poesia
Não está no balão que baila no ar,
mas nas mãos duras
que cavam o pão amargo
do dia a dia
nas trincheiras do trigo
e da erva daninha.

Sim, gás Sarin
contra nossa letra torta.
Mas, o que não mata engorda.

Em tempo da tua paz
Verás que nem tudo era
palavra, em ar comprimido,
e quando o gás do teu riso acabar
é nossa vez de chegar
com o Urânio enriquecido.

Sérgio Vaz

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Na parede de um botequim de Madri,
um cartaz avisa:
Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro,
um aviso informa:
É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja:
Ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca.

(Eduardo Galeano).

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A Beleza é um grito
É um fruto
A beleza é um vício
É um mergulho vivo
No infinito

(Afonso Romano de Sant'anna)

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Vestidoimundo

costasnuaspelasruas
pelasruasemsuasvestes
vestespesadasepoluídas
suasvestespelasruas
rasgadasesujas
retratamasruasnuas
nosrestosindigestos
afalsafarsadaalimentação
cale-se e coma
sem seu vale alimentação
suasvestesdoloridas
nasruasemsolidão
somemoumisturamseaescuridão
nestasvestesmedíocres
insistoepensopranãoser
maisumdesnudoimundo
quesóvestemarca
edesnudaomundosemsaber

(Carol, Foz).

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NOVELA DA VIDA REAL

Mais um Cidadão José Cap. 38


- Fecha o vidro aí rapaziada, gritou o paraguaio!!!

José até tentou fechar o vidro, mas não deu tempo. Uma bexiga cheia de água suja acertou em cheio o seu rosto. Olhou pra trás e viu várias crianças correndo e dando risada da cara dele. O pessoal do carro não se agüentou e caiu na gargalhada. Ele não entendeu nada. O paraguaio começou a explicar que nos dias de carnaval o povo paraguaio tem essa pira de jogar água um no outro. As mulheres enchem os baldes e jogam nos vizinhos e nas pessoas que passam na rua. As crianças enchem balões ou usam pistolas d'água. Geralmente usam água limpa, mas o José estava com azar de ser alvo de crianças arteiras e foi presenteado com uma granada de água suja. Dizem que algumas crianças fazem xixi dentro de latas, sobem em árvores ou lugares altos e jogam na cabeça das pessoas que passam.

Eles pararam em um mercado para comprar os mantimentos. Compraram carne para assar, se caso não pegassem nenhum peixe, não passariam fome. Compraram ainda cerveja, gelo, refrigerante, farinha e pão. Na hora de fazer a vaquinha para pagar a conta José estranhou a falta de dinheiro em sua carteira. Tinha menos de 50 reais, dos 2.000 reais que tinha pegado com o Mano Gê. Ficou olhando para seus companheiros e desconfiou deles. “Aproveitaram que eu estava bêbado para fazer um cinco-cinco na minha grana”. – pensou indignado. Nem lembrou da loira que ele morfô na boate e que aproveitou o seu cochilo pra furtar quase todo o seu dinheiro.

O carro cortou as ruas ladeadas por uma bela paisagem. A natureza naquela região do Paraguai ainda é bem preservada. Ali de onde estavam já podiam ver o Molle lá embaixo. Centenas de carros, ônibus, táxis, motos e pessoas dividiam aquele espaço de lazer.

- Olha que loka essa vista rapaziada. – disse o mano Pio todo empolgado.

Encostaram o carro numa grande calçada onde a galera leva os veículos para lavar. O domingão estava ensolarado e o local tava lotado, famílias, crianças, jovens e adultos se jogavam nas águas do Rio Paraná. O Mano Gê foi buscar água com um balde para dar uma geral no carro, um paraguaio começou a juntar algumas pedras para improvisar uma churrasqueira e o outro chirá foi procurar galhos secos para fazer o fogo.
Enquanto preparavam a carne, José e mano Branco foram pescar em um canto onde não tinha muita correnteza. Sentaram em uma pedra, armaram os molinetes e ficaram por ali trocando idéia enquanto fumavam um baseado made in Paraguai e tomavam uma breja. Vários carros estavam com o som ligado e o porta malas aberto. As músicas se misturavam, cumbia, reggaeton, kachaca, polca, samba, rap, música eletrônica dos anos 70, uma mistura de ritmos que formava uma babel musical.

- E aí Zé, cê ta morando onde mesmo meu bom? - perguntou o Mano Branco.

- Saí do barraco onde eu tava morando de aluguel. O dono vendeu a casa. Quando eu voltar pra Foz vou procurar outro lugar. – mentiu José.

- Boto fé.
- Eu ganhei um terreno lá na Favela do Lodo, o mano Dé arrumou pra mim. To juntando dinheiro pra construir um barraco lá. Ta difícil, mas se Deus quiser, logo eu me mudo pra lá.

- Ele quer, ele quer!!! – falou Mano Branco com otimismo.

O mano Gê acabou de lavar o carro e foi ajudar os malucos a colocar a carne pra assar. O Mano Pio tava apanhando pra passar o sal grosso. Próximo dali, os motoristas do transporte público paraguaio lavavam seus ônibus. Os micros são dirigidos pela mesma pessoa todos os dias, assim muitos motoristas personificam e decoram o veículo a seu gosto. As cabines são todas enfeitadas, algumas com seu time do coração, outros com santos, crucifixos, terços, cartazes com salmos de acordo com sua crença e religião. Os patriotas colocam bandeiras do Paraguai e objetos simbolizando a cultura e as tradições nativas. Alguns motoristas colam fotos da família, esposa e filhos. O Molle é um lugar de encontro da galera onde podem tirar um lazer tranqüilo sem gastar dinheiro. No passado funcionava no local um porto fazendo fronteira com o Porto Meira do lado brasileiro. Hoje está desativado e no período noturno serve para a travessia de drogas e contrabando do Paraguai para o Brasil.

- A nossa próxima jogada é tomar essa quebrada. – disse o Mano Gê, apontando para o outro lado do lago.

- Boto fé. Vai ser tudo nosso!!! – Respondeu com firmeza o Mano Pio.

- Já to arquitetando com os manos do Remancito, vai ser daquela forma.

Próximo dali José soltou uma gargalhada sinistra, havia pegado o primeiro peixe do dia. O primeiro de muitos outros que iria pra grelha naquela tarde.
O sol já estava se pondo, o local estava quase vazio e os malucos continuavam por ali. Num canto um paraguaio sintonizava um radinho a pilha. Colocou na rádio 103.5, uma rádio underground onde nos domingos a tarde toca reggae, rock e rap. Começou a tocar o som do Charlie Brown Jr, a música chamada Quinta-feira.

“Ainda me lembro bem daquela quinta feira
Cinco malandro em volta da fogueira
Ouvi o grito de dor de um homem que falava a verdade
mas ninguém se importava
Botando pra fora tudo o que sentiu na pele
Mas ninguém lhe dava ouvidos não

Deixou a marca da fogueira que acendeu
pra se livrar do frio que mata
Miséria impune, notável,
sincera, não acaba nunca a ira ”.

Ao som do Charlie Brown, Mano Branco e o Mano Gê saltaram na água.

“O difícil é desviar de quem tá sempre querendo
Ela mantém a porta aberta ela te faz de instrumento
Vai te dominar, se já não dominou (...)”
Nadaram pra longe de onde estava os companheiros, se agarraram numa pedra e ficaram trocando idéia.

- Qual a relação com os manos da Favela do Lodo? – perguntou Mano Branco.

- Temos parceiros por lá. Estamos pensando em ter um ponto naquela quebrada.

- Então, o José ganhou um terreno lá e ta sem dinheiro pra construir. O que você acha se...

(Lizal, na próxima edição mais um capítulo)