quinta-feira, 18 de junho de 2009

VIDA LONGA AO TRÁFICO DE INFORMAÇÃO

Salve amigos e amigas, leitores e leitoras do Fanzine do Cartel do Rap. A reprodução total ou parcial para divulgar as idéias contidas nesse Fanzine está mais que recomendada. Vida longa ao tráfico de informação. Leiam, passem pros amigos, tirem cópias, distribuam, acessem o Blog, enviem o link pra galera. Essa edição bate na tecla da Democratização da Comunicação. Do site Fazendo Média trazemos matéria de Roméro da Costa Machado, intitulado: “A Síntese do Império Globo de Crimes” onde mostra os crimes cometidos pela Rede Globo de Televisão. Além de assalto a banco, exploração de menores, venda de carros roubados, saiba como a rede Globo serviu a ditadura militar no Brasil. Do Blog do Ozaí trazemos o texto O Professor e o MST.

Nossos correspondentes no Rio de Janeiro trazem duas matérias. A primeira é de Danilo George: Paisagens Periféricas, Um breve olhar sobre periferias do Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu, onde tenta fazer uma comparação entre as favelas dessas cidades. A outra é de Eliseu Pirocelli: Os Muros Estão Falando, Pichação política no Rio de Janeiro. Outra novidade dessa edição é a coluna de comentários dos leitores.

Nas edições seguintes estaremos publicando no zine essa coluna com os comentários que os leitores deixam no blog: www.fanzinecarteldorap.blogspot.com
E no e-mail: fanzinecarteldorap@hotmail.com.

Apoiaram essa edição do Fanzine:


A SÍNTESE DO IMPÉRIO GLOBO DE CRIMES (Por Roméro da Costa Machado)

Sob o título de "Império Globo de Crimes", do artigo de mesmo nome, publicado em 28 de junho de 1993, na Tribuna da Imprensa, desdobramos e aprofundamos o assunto, enriquecendo-o em vários outros artigos. Dessa forma, o leitor ficará melhor capacitado a recusar a síntese simplista incentivada pela própria Globo, no sentido de dizer que a Globo cometeu somente alguns poucos pecados, tipo ser contra as "Diretas Já", ou anunciá-las em seu noticiário como uma festa em homenagem ao aniversário da cidade de São Paulo. A Globo não é isso e nem só isso. Aceitar esta versão simplista é minimizar o Império Globo de Crimes ao gosto e interesse da própria Globo. Essa síntese simplista somente interessa à Globo que quer que as pessoas tenham em mente como tendo sido só um dos seus poucos pecados jornalísticos. Mas, no entanto, vejamos a seguir que as coisas não são assim. Muito pelo contrário. É fundamental ter em mente que a Globo é ilegal, errada, torta e criminosa desde a sua criação, com o chamado escândalo Time-Life, quando Roberto Marinho associou-se ilegalmente a um grupo estrangeiro contra as leis do país, integralizou capital com bens que não lhes pertenciam, os bens gravados como inalienáveis foram alienados, houve importação de equipamentos pesados para montar sua indústria de comunicação com câmbio favorecido de quatro anos antes da importação.

Foram tantos, tantos, tantos os abusos e falcatruas que não restou outra alternativa para fugir ao flagrante que não fosse mandar arrancar as folhas 42 e seguintes do livro 1478 do II Cartório de Ofício de Notas, conforme brilhantemente descoberto e reportado por Daniel Herz em seu livro "A História Secreta da Rede Globo". Dizer que a Globo foi criada essencialmente com o apoio da CIA para dar sustentação e apoio ao golpe militar de 1964, é mais do que um exercício de retórica, posto que às custas desse apoio à ditadura militar a Globo enriqueceu trocando notícias favoráveis aos ditadores por anúncios que garantiam a sobrevivência da Globo e da ditadura militar. E com isso foram acobertados os maiores e principais crimes da ditadura, como o escândalo do Riocentro, em que os militares - para se eternizarem no poder - aproveitaram uma festa popular no Riocentro, com grande afluência de público, trancaram os portões por fora, com o público todo lá dentro e foram jogar bombas no público para causar pânico, dor e morte, e com isso jogar a culpa nos revolucionários contrários à ditadura e que a Globo chamava de terroristas. Durante a ditadura militar a Globo também acobertou a Operação Bandeirantes (OBAN), em que os revolucionários contrários à ditadura eram mortos das mais variadas formas inclusive jogados de avião no mar, de barriga aberta para não boiarem e para os corpos não aparecerem jamais. A Globo acobertou também a Operação Gasômetro, que à semelhança do escândalo Riocentro, iria matar multidões, ao ser explodido o gasômetro do Rio de Janeiro, mandando para os ares vários quarteirões, para colocar a culpa nos revolucionários e perpetuar a ditadura militar.
Ainda nesta linha de associação com a criminalidade da ditadura, a Globo bancou as falsas notícias dos assassinatos de Vladimir Herzog, Fiel Filho, Stuart Angel e centenas de outros revolucionários, sempre tendo como verdade os laudos criminosamente falsos do médico parceiro da ditadura, Harry Shibata. E o cinismo da Globo era tal que alguns revolucionários quando eram presos, após tortura, eram apresentados nos telejornais da Globo, confessando "espontaneamente" seus crimes contra o país, para "servir de exemplo à juventude revolucionária " (chamada pela Globo de terrorista). Não bastasse trocar falsas notícias da ditadura por anúncios, a Globo foi além, praticou assaltos a bancos como ninguém. No Banerj, após tomar um empréstimo favorecido, que se fosse aplicado no próprio Banerj (sem o dinheiro sequer sair do banco), a diferença entre o que deveria pagar e o que receberia pelo investimento renderia milhões e milhões. E em retribuição ao golpe, a Globo levou a diretoria do Banerj toda para trabalhar na própria Globo. O que valeu a Roberto Marinho o apelido de "O Maior Assaltante de Bancos do Brasil", título dado pelo jornal "O Pasquim". Mas os assaltos a bancos não pararam por aí. Teve o Banco do Brasil, também com juros vergonhosamente subsidiados; teve o Banco Central com taxas subsidiadas e câmbio com valor de mais de quatro anos anteriores à importação de equipamentos; teve a Caixa Econômica cujo dinheiro, quase gratuito, foi tomado do trabalhador (FGTS) para construir o Projac; e o último escândalo foi o do BNDES em que a Globo pretende contar com o governo federal para a falência e quitar um passivo de mais de três bilhões de dólares. (Isso mesmo: três BILHÕES de dólares). Escândalo é o que não falta na vida da Globo. Desde o simples caso de vender carro roubado, com chassis remarcado e quase causar a prisão do comprador, ao invés dos vendedores (os donos da Globo), provocando a surreal situação em que nem a polícia e nem o Detran quiseram (recusaram-se) apurar a venda de carro roubado e prender os culpados, mesmo diante das provas. Até os casos de perseguições pessoais, como o da Escola de Base e a família Shimada, destruída pelo noticiário falso da Rede Globo. Ou como as perseguições ao Bispo Macedo (IURD) por haver comprado a Rede Record de Televisão, ou a José de Paiva Netto, (LBV) por conseguir o canal de São Paulo que a Globo tanto queria para o seu canal Futura. Perseguição e covardia sempre foi o forte da Globo. Escândalo? Isso é o que não falta na vida da Globo.

Desde a própria existência do Ibope (que já é um escândalo por si só) e seus fajutos índices Fahrenheit que dão 32 pontos de audiência para a Globo mesmo com todos os televisores desligados em meio a um "black out", ou dos índices de popularidade nas eleições comandadas pela Globo, até a criminosa edição do debate Collor versus Lula, e que acabou elegendo Collor presidente da República. Isso sem falar no maior dos escândalos eleitorais do país, que foi o escândalo Globo-Proconsult, onde a divulgação da apuração dos índices da eleição eram adulterados e falsificados pela Proconsult e divulgados pela Globo, para impedir a eleição de Brizola no Rio de Janeiro, e que só foi tornado de conhecimento público graças à aferição dos verdadeiros índices pelo Instituto Pasqualini e pela denúncia de Bizola aos correspondentes estrangeiros, pois a imprensa nacional (como sempre) estava toda comprometida, submetida e controlada pela Globo.

Mas os dois maiores crimes da Globo, que poderiam levar Roberto Marinho para a cadeia por mais de 20 anos, conforme noticiado pela Tribuna da Imprensa sobre declaração do criminalista Paulo Goldrajch, ainda não foram citados aqui. Quais sejam: Os escândalos da TV Globo São Paulo e o da Afundação Roberto Marinho foram notas frias, caixa dois, sonegação fiscal, falsificações diversas de documentos, onde até recibos foram datilografados em máquina de escrever fabricada mais de dez anos após a data em que o recibo falso, frio, foi feito. Ou o caso do rol de pessoas notórias e conhecidas dadas como mortas para facilitar a compra de parte do poder acionário. Ou dos recibos frios de transações comerciais, com os respectivos CPF's nos recibos, quando naquela data sequer existia CPF, que somente foi criado mais de dez anos após a data dos recibos. Para livrar Roberto Marinho da cadeia e impedir a CPI da Afundação (isso sem falar na CPI da NEC/Globo, que foi outro escândalo), as maiores autoridades do país se acumpliciaram: Superintendente da Polícia Federal ("Polícia Federal está na caixinha da Globo", manchete da Tribuna da Imprensa), Procurador Geral da República, Curador de Fundações, Procurador Geral do Estado, Ministro da Justiça, Secretário de Fazenda, Ministro da Fazenda, e até o próprio Presidente da República da época (José Sarney) que no interesse da Globo (e de roldão beneficiou bicheiros, traficantes e contrabandistas) publicou dois decretos permitindo legalizar todo dinheiro frio do país num determinado período de tempo, de interesse específico da Globo para esquentar seu dinheiro frio, denunciado publicamente. Tudo isso regado a uma fartura da distribuição de canais de televisão e estações de rádio que foram parar nas mãos dos deputados e senadores que após assinaram a lista de instalação da CPI, retiravam seus nomes da lista para impedir a instalação da CPI, conforme denunciado pelo Deputado Paulo Ramos, responsável pela coordenação da CPI da Afundação.

Como pode ser visto, os escândalos da Globo vão muito além de uma notícia falsa de "Diretas Já". A Rede Globo, como diz o jornalista Hélio Fernandes, é um grande supermercado, um balcão de negócios, onde tudo é negociado. Até mesmo a prostituição denunciada pela Globo em seus telejornais é feita no interesse de evitar a concorrência pela prostituição independente e preservar os seus anúncios "classificados" de prostitutas em páginas e mais páginas no jornal O Globo, anunciando garotos de programas, termas e casas de massagem. Mas o que é a exploração e comercialização de anúncios da prostituição para quem sobreviveu graças à exploração de menores dos "pequenos jornaleiros", que faziam a distribuição e venda do jornal O Globo e garantiram a sobrevivência do jornal, eliminando, assim, o problema da distribuição? O que é tudo isso diante da exploração consentida de menores? Aliás, ligar escândalos e menores, nada mais significativo do que o escândalo do Papatudo, em que a "rainha dos baixinhos" (Xuxa) e o "embaixador da Unicef" (Didi) foram garotos propagandas e protagonistas de um dos maiores golpes financeiros deste país, que foi a venda dos bilhetes do Papatudo pelos Correios (Governo Federal) e com veiculação exclusiva e específica da Globo. ("Pede para a mamãe e o papai comprarem os bilhetes do Papatudo. O que falam do "titio" Artur Falk é tudo mentira")

Portanto, chega a ser risível ouvir alguém falar de "escândalo das Diretas Já". A Globo está mais para exploração de menores, associação à prostituição, assaltos a bancos, venda de carro roubado, notas frias, caixa dois, falsificações de documentos, contrabando, fraudes eleitorais, perseguições pessoais de desafetos e trambiques generalizados do que simplesmente uma equivocada divulgadora de notícias falsas e imprecisas sobre "Diretas Já".

Fonte: www.fazendomedia.com

PIRATEADOS


Pirata é quem é saqueado? Ou quem saqueia? (Por Caio Amorim e Mariana Gomes)
As dificuldades enfrentadas pelas rádios comunitárias, pintadas como piratas pela mídia grande.

9 de Fevereiro de 2009 Policiais do Bope em conjunto com agentes da ANATEL fecham cinco rádios comunitárias na Cidade de Deus. Sete pessoas foram encaminhadas
para a delegacia da Polícia Federal. Computadores, antenas e notebooks foram apreendidos. 25 de Fevereiro de 2009 Agentes da Polícia Federal e Anatel fecham Rádio Muda, rádio livre que funcionava no campus da UNICAMP. Além dela, oito rádios foram fechadas em Campinas desde o início de Fevereiro na “operação silêncio”.
6 de abril de 2009 Polícia fecha quatro rádios comunitárias nos morros Bateau Mouche e Divina, em Campinho, no subúrbio do Rio de Janeiro. Só no estado do Rio de Janeiro
foram mais de 200 rádios comunitárias fechadas em 2008. Nos últimos meses, em todo o país, mas de 1,2mil tiveram suas atividades interrompidas. Números assustadores que nos levam a investigar um pouco mais sobre essas pequenas rádios e sobre os motivos de campanha tão intensa contra as chamadas radcom por parte das empresas de comunicação do país. Entramos em contato com a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), responsável por regular a radiodifusão no Brasil. Por email, informamos que gostaríamos de saber sobre a “operação silêncio” na qual foram fechadas as rádios de Campinas. Responderam-nos o seguinte: “Não se trata de alguma operação da Polícia Federal?”. Insistimos e, para nossa surpresa, fomos convidados a denunciar as “rádios clandestinas”.

O assessor de imprensa parece não ter entendido
bem nossas intenções. No mesmo e-mail, obtivemos respostas como: “Não se deve confundir Rádios Comunitárias com Rádios não-outorgadas (clandestinas ou piratas). Uma rádio que opera clandestinamente pode causar interferências em rádios que estão devidamente regularizadas ou em outros serviços de telecomunicações. Essas interferências podem atingir equipamentos de um avião, o que aumenta o risco de
acidentes”. M u i t a s p e s s o a s lutam diariamente pela existência dessas pequenas
emissoras tendo como objetivo a democratização da comunicação. É o caso de instituições como a AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias) e a ABRAÇO (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária), que reivindicam alterações na lei 9.612 de 1998 – responsável pela regulamentação das radcom. O objetivo é acabar com restrições que inviabilizam o processo de obtenção de uma outorga para as mesmas. Essa lei é motivo de reclamação para muitos militantes
de movimentos pró rádios comunitárias que alegam, por exemplo, que 1km de raio de
alcance – como determina a lei - não atinge a um número suficiente de pessoas. Pela
demora na expedição de outorgas do ministério das comunicações - devido à burocracia do procedimento -, muitas rádios são fechadas antes mesmo de conseguirem enviar a
documentação necessária. Uma interminável lista de documentos solicitados
e a legislação limitadora são as maiores dificuldades enfrentadas pelos responsáveis
por essas rádios. Além de organizações, pessoas também contribuem para o debate favoravelmente às rádcom. São pessoas como o engenheiro elétrico de Campinas,
Takashi Tome, que acredita não ser possível uma radcom interferir na freqüência
de rádios comunicadores de aviões. Entrevistado pela Vírus Planetário, o pesquisador em telecomunicações afirma: “qualquer sistema eletrônico pode interferir em outro, a não-interferência depende de boa conservação e regulação desses equipamentos dentro dos conformes da legislação.” Ele também informa que já ocorreram interferências no sistema de comunicação aeronáutico por parte de emissoras de rádio e televisão
comerciais.

Para Takashi, existem três diferentes classificações para rádios não-comerciais: comunitárias (licenciadas ou não); as autodenominadas evangélicas; e as rádios experimentais de baixa potência (rádios livres). “Na relação de interferências, não há um único caso que tenha sido provocado por rádio comunitária, nem por
rádio livre. Algumas rádios evangélicas usam equipamento sem filtro de saída, o que faz com que o sinal acabe se espalhando e causando interferência.” – explica o especialista.
Na contramão da demora para expedição de outorga para as radcom, o ministério das comunicações renova automaticamente e com extrema rapidez diversas outorgas de emissoras de rádio e tevê de grande porte. Essas emissoras vêm protagonizando uma campanha anti-comunicação comunitária. Espalhando mentiras e ajudando a criar o mito de que rádios comunitárias derrubam aviões, têm relações com narcotráfico local e veiculam conteúdo ofensivo. No dia 16 de abril de 2009, o governo Lula assinou
um decreto convocando a I Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM). O encontro será em Brasília, nos dias 1, 2 e 3 de dezembro. O tema “Comunicação: meios para a construção de direitos e de cidadania na era digital” será debatido por delegados representantes da sociedade civil – eleitos em conferências estaduais - e por representantes do poder público. Diversas organizações da sociedade civil que lidam com comunicação já estão organizando reuniões para realizarem as etapas regionais prévias à conferência nacional. No Rio, o movimento pró-conferência tem se reunido freqüentemente com o objetivo de tornar este processo o mais democrático e participativo possível.

No dia 8 de abril deste ano, a ANATEL realizou no aeroporto de Congonhas a destruição de oito toneladas de equipamentos apreendidos de rádios comunitárias.
Todos os equipamentos destruídos pelo rolo compressor eram, segundo a Agência, transmissores sem certificação e que poderiam interferir em sistemas de comunicação aeronáuticos. Entretanto, pela foto divulgada pela própria ANATEL, podemos observar
outros objetos como CDs, discos de vinil, microfones, aparelhos de som etc. Após a destruição dos equipamentos, a ABRAÇO divulgou nota demonstrando sua indignação. Na nota, a associação declara que entende esta ação da ANATEL como uma resposta
dos “setores conservadores da mídia brasileira, que se utilizarão de todos os seus meios para ganharem a opinião pública para a sua versão de democratização da comunicação e liberdade de expressão”. Dentre outros assuntos, a nota da ABRAÇO fala sobre o que
chama de “inoperância do Ministério das Comunicações, que atualmente conta com apenas 16 funcionários para atender a demanda de mais de 20.000 processos mofando no Departamento de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações”.

No texto, a ABRAÇO também rebate os argumentos utilizados pela ANATEL para legitimar a destruição dos equipamentos das rádios. A associação declara que irá interpelar judicialmente a ANATEL e seu gerente Regional de São Paulo, Everaldo Gomes Ferreira Às vésperas da I Conferência Nacional de Comunicação, vemos uma mídia grande usando de argumentos cada vez mais baixos para transformar em pirata
o que é legítimo e derrubar essas pequenas embarcações com seus poderosos transatlânticos.


“Existe alguma lei pra rico?”

Visitamos a rádio Estilo Livre do Vidigal, comunidade localizada entre Leblon e São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro. Subimos até o largo de mototaxi. Seguimos
a pé até o número 25 da rua Padre Anchieta, admiramos a vista maravilhosa e entramos
no estúdio por volta de 15h20 do dia 12 de março. Thiago (Jordan) estava apresentando o programa, enquanto Robert Pacheco, muito sorridente e simpático, nos cumprimenta e nos diz para sentarmos. A Rádio Estilo Livre 102,5 FM existe desde 97. As ondas externas de rádio são bloqueadas pelo morro Dois Irmãos, por isso, a emissora foi criada. “Graças a Deus, nunca sofremos nenhuma ameaça de fechamento”, nos conta o proprietário da Estilo Livre, José Wanderley. Por telefone, ele diz que já entrou
com quatro pedidos para concessão de outorga de funcionamento pelo ministério das comunicações, e, desde 99, ainda não obteve resposta. No estúdio, Pacheco nos diz que a rádio toca vários estilos musicais (funk, pagode, axé, rock, hip-hop, sertanejo). “A programação é feita pelos pedidos dos ouvintes” - declara. Sobre os fechamentos das rádios - com o apoio de forças policiais - ele diz não estar com medo. Para ele, essa campanha se deve ao aumento de audiência por parte das rádios comunitárias, significando concorrência para as rádios de grande alcance. “Estamos incomodando, muitas rádios grandes estão perdendo uma parte da audiência para rádios comunitárias, o que deixa as grandes com medo. Não há nada de clandestino nas rádios comunitárias.”- afirma.

Muito magoado com a perseguição das rádios comerciais contra as rádios comunitárias, Pacheco diz “somos colegas de trabalho, mas eles não nos respeitam”. Ele também lamenta os inúmeros requisitos necessários para as rádios comunitárias funcionarem, enquanto que a concessão das grandes rádios é renovada automaticamente pelo poder
público sem discussão alguma na sociedade. “Existe alguma lei pra rico? Só existe pra pobre! Pobre não pode fazer isso, nem aquilo.” Comentamos sobre as publicidades que falam da suposta interferência das rádios comunitárias no sistema de comunicação
dos aviões e o que ele acha disso. “Os burgueses vão sempre falar isso. Na realidade, o sonho deles era de que não existissem rádios comunitárias.”

Fonte: Revista Vírus Planetário IV

ALESSANDRO BUZO NO PROVOCAÇÕES...





segunda-feira, 15 de junho de 2009

OS MUROS ESTÃO FALANDO

Pichação Política no Rio de Janeiro (Por: Eliseu Pirocelli)

“Eu amo pichação”. Quando vi essa frase pichada num muro na região da Lapa, no Rio de Janeiro, resolvi procurar pela cidade outras frases para desenvolver esse artigo. Quem visita o Rio pela primeira vez fica impressionado com a quantidade de pichação e de grafite espalhados pela cidade. A maioria das pessoas que se deparam com essas paredes pichadas pensam que isso não passa de um monte de rabiscos provocados por vândalos. Essa forma de pichação é denominada Tag, que são as letras usadas – geralmente difíceis de serem decifradas - e são desenvolvidas para difundir o pseudônimo do pixador ou o nome de seu coletivo de pichação. Serve também como disputa entre os grupos, onde quem consegue pichar os lugares de difícil acesso, ou espalhar seu nome por toda a cidade, têm maior notoriedade.

Segundo a enciclopédia online Wikipédia, “Pichação é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos, usando tinta em spray aerosol, dificilmente removível, estêncil ou mesmo rolo de tinta”. Geralmente, para o pichador a estética fica em segundo plano – o que o diferencia do grafiteiro – as pixações são feitas em uma cor só e não seguem um padrão artístico. A maioria das pichações que encontrei foram Tags. Sufocadas no meio dessas Tags aparecem diversas frases de contestação e de crítica ao governo e às questões sociais. “Abaixo a ditadura econômica”, “Liberdade para os presos políticos do Império”, “Paz é a gente que faz”, “Anule seu voto. Prefeitura corrupta”, “Israel transforma Gaza em campo de concentração nazista”, essas foram algumas das frases que encontrei durante minha busca.
Alguns críticos veêm também nas Tags uma manifestação de caráter política. Os pichadores não pedem autorização para deixar sua marca em uma parede, também não comercializam sua arte e muitas vezes os espaços pichados são monumentos, museus e ambientes que possuem valor histórico ou cultural. Eles acreditam que o pichador, interferindo e deixando sua marca pela cidade, está tranformando o local e dando um novo significado. Outros acreditam que, por muitos desses pichadores serem moradores de favelas e pela discriminação e preconceito que a periferia sofre por parte da elite, que vê os guetos como um mundo sujo, eles estão dando o troco e sujando também o mundo dos playboys com seus “rabiscos”. Conversei com um pichador que também desenvolve a arte do grafite no Rio de Janeiro (vamos chamá-lo aqui de João). João contou-me que o movimento dos pichadores no Rio de Janeiro é organizado e reúnem-se quinzenalmente para discutir política, arte, cultura e organizar protestos contra a repressão que os pichadores sofrem por parte do Estado. Disse-me que as Tags também representam uma pichação política, pois quando picham algum local que foi tombado patrimônio e que está abandonado pelo governo, estão chamando a atenção de todos para isso. Falou-me das pichações em Igrejas (na Candelária, por exemplo) nas paredes dos Bancos, em Postos Policiais; pichações que chamam a atenção da população para certas questões.

No ano passado o assunto foi polêmica no Brasil inteiro através da mídia que veículou duas grandes ações de pichadores que resolveram “mecher na água parada do poço” e provocar a sociedade. A primeira foi a pichação que aconteceu na Faculdade de Belas Artes em São Paulo e depois na 28º Bienal, o que acarretou na prisão da jovem Caroline Pivetta da Mota. Segundo a Constituição Brasileira, a pichação é considerada vandalismo e crime ambiental nos termos do art. 65 da lei 9.605/98 (lei de crimes ambientais), que estipula pena de detenção de 3 meses a 1 ano e multa. Geralmente os juízes aplicam penas alternativas como prestação de serviços comunitários ou doação de cestas básicas. Não foi o caso de Caroline, ela ficou detida por 50 dias por pichar a bienal. A prisão da jovem provocou manifestações e foi colocada em contraste com a prisão do banqueiro Daniel Dantas que praticou crimes bem maiores e ficou detido por muito menos tempo. Uma das frases pichadas na Bienal foi: “Abaixo a Ditadura” que protestava contra a ditadura da arte. Segundo o pichador Cripta, entrevistado pela revista Cultura Hip-Hop, quem dita o que é, e o que não é arte no Brasil, é a burguesia. Ele protestou por um amigo que desenvolveu um Trabalho de Conclusão de Curso na Belas Artes defendendo a pichação como uma manifestação artística. No dia da defesa de seu trabalho convidou seus amigos pichadores para uma intervenção de pichação ao vivo na faculdade. Acabou reprovado e expulso da universidade.

A Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro também foi alvo das manifestações dos pichadores. Ali eu coletei diversas frases de protesto pela causa estudantil. “Fim do Vestibular. Universidade para todos”, “Sorria você está sendo vigiado”. Em uma parede tem um desenho bem simples, a sombra de um corpo estirado no chão com um buraco na cabeça, como se tivesse sido assassinado. Segue-se a frase: “Estudante negro”. Pelas ruas do Rio encontrei pichações defendendo diversas causas. Democratização da Comunicação: “A Globo mente. Leia mídia independente”. A questão de Gênero: “Mulheres em luta”. Vegetarianismo: “Animais são amigos, não comida”, “Comeis mais vegetais”. União Latina Americana: a imagem de Hugo Chaves seguida da frase “América Latina Integrada”. Em um muro gigantesco tomado por grafites e pichações estava a frase: “Mantenha a cidade ilustrada”. Na parede de um prédio de luxo: “A burguesia fede”. Próximo a um salão de festa da elite: “Haloween é o cacete!!! Viva a cultura nacional”.

Eu defendo a pichação como uma manifestação artística. E defendo as manifestações artísticas que tragam uma perspectiva libertadora, de mudança, de construção de uma nova sociedade. Músicas com conteúdo, bons livros, filmes que não sigam os padrões holiwoodianos, mídias independentes que critiquem o sistema de governo capitalista em que vivemos, fotografias que trazem reflexões. Por isso incentivo os pichadores a cada vez mais deixarem nas paredes suas frases que fazem as pessoas refletirem sobre a realidade em que vivem, que é de suma importância em tempos de barbárie como os de hoje. Os pichadores que viveram durante a ditadura militar no Brasil usaram seus sprays para denunciar aquele regime anti-democrático, violento, assassino, repressor, opressor, corrupto e autoritário. Hoje o Brasil vive uma falsa democracia e esse regime mata tanto quanto a ditadura.

Pichadores de todo o mundo,
Sprays às mãos,
Vamos à luta!!!

Pichações - RJ




Pichações...




CARTAZES




GRAFITES NOS MUROS DO RIO







FORÇA? (Por: Carol)

Sentado no meio fio fico esperando. Passo dias e noites no mesmo lugar. A mesma calçada, na mesma esquina, na mesma encruzilhada, na mesma vila, na mesma cidade, com as mesmas pessoas. É em vão reconhecer... Ninguém me vê. Mas sou teimoso e não desisto. E na calçada, sentado no meio fio, espero.

Passo fome, passo frio, você não vê. Peço ajuda, peço atenção, você não me vê. Fico ali, sentado no mesmo lugar, esperando. Ás vezes me sinto triste, ás vezes esperançoso, muitas vezes de cara com tudo. Todas as vezes abandonado.

Me canso... Não vou mentir pra você. Mas não tenho força pra levantar sozinho. Então fico ali, esperando que algum dia, qualquer um me note, pode ser até mesmo você... Aí, eu torço como num final de copa, pra que você me estenda a mão, que me ajude levantar, que me entenda. Espero que não me de apenas roupas, dinheiro, isso tenho quando quiser, mas to cansado... Espero que me de o que não tive até hoje. Tenho medo de ficar aqui sentado esperando a morte como um menor abandonado.

(Carol é estudante de letras em Foz).

O PROFESSOR E O MST (Por: Antonio Ozaí da Silva).


Outro dia, na aula cujo tema era a sociedade civil, dava exemplos sobre os grupos, classes sociais, entidades representativas, ONGs, associações, movimentos sociais, etc. Citei, então, o MST como um dos movimentos que compõe a sociedade civil organizada. Um aluno, de supetão, perguntou sobre a minha posição, a favor ou contra. Primeiro, pensei em não responder. A minha postura política-ideológica não era o tema da conversa. Nem mesmo o MST era o assunto da aula, mas apenas um exemplo entre outros. Decidi, porém, responder. O aluno esperava, a turma também. O silêncio impôs-se sem necessidade de solicitar, os olhares concentravam-se na figura do professor e ouvidos atentos aguardavam a fala. Foram alguns segundos, mas é um daqueles momentos em que o tempo parece parar.
Comecei expressando meu primeiro pensamento, isto é, que a minha posição política não era o assunto da aula. Em seguida, disse que a questão era complexa e exigia uma resposta não restrita ao “sim” ou ao “não”, considerando-se que estávamos no ambiente da sala de aula. Por uma fração de segundos, criou-se uma certa tensão. Respondi, em alto e bom som: “Sou a favor!”

No dia seguinte, lendo Ideologia e Utopia, de Karl Mannheim*, deparei-me com este trecho: “Mas existe uma profunda diferença entre um professor que, após cuidadosa deliberação, se dirige a seus alunos, cujas mentes ainda não estão formadas, de um ponto-de-vista adquirido por uma cuidadosa meditação, conduzindo a uma compreensão da situação total, e um professor exclusivamente interessado em inculcar um ponto-de-vista partidário já firmemente estabelecido”. A sala de aula não é “escola de formação de quadros” de partidos ou da organização “x”. A postura do professor, portanto, não deve ser a do “doutrinador político”, daquele que procura ganhar “corações e mentes” para a sua causa. Enquanto cidadão e pessoa pública, ele tem outros espaços para defender suas propostas e ideologia. O professor tipo “dogmático” e “doutrinador” desconhece que sua contribuição maior não está em conquistar discípulos, mas sim em “preparar o caminho para se chegar a decisões” (id.). Ou seja, ele deveria apresentar e debater com seus alunos todos os aspectos que envolvem a questão, o tema. Às vezes ele até conquista um ou outro, mas presta um desserviço à ideologia que defende (tive professores, por exemplo, que não davam aula, faziam doutrinação; fortaleciam a fé dos convertidos, mas afastavam a maioria dos que até poderiam simpatizar).

Os companheiros que me desculpem, mas não considero que o papel do professor seja fazer doutrinação política. Claro, ele tem o direito a ter a sua posição ideológica e política; não acredito em neutralidade. O espaço da sala de aula não está isolado do mundo, nem os alunos, e menos ainda o professor, são neutros. A pergunta do meu aluno não foi ingênua, inocente. Fosse outro e poderia até tomar como provocação. Por outro lado, estar em sala de aula, como afirma Paulo Freire, “é uma presença política em si. Enquanto presença não posso ser uma omissão mas um sujeito de opções. Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de comparar, de avaliar, de decidir, de optar, de romper”.**

Isso, porém, não me dar o direito de “fazer a cabeça dos alunos”, de convertê-los ao meu credo. Esta prática é ainda mais grave quando se traduz em exigências, diretas ou veladas, de adoção do discurso do professor no processo avaliativo. É desrespeitosa e abusiva. É meu direito ser a favor do MST, mas devo respeitar se o aluno for contra. É seu direito!

* MANNHEIM, Karl. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p.187.

** FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2ª edição, 1997, p.110.

Fonte: http://antonio-ozai.blogspot.com/

ILHA DAS FLORES



ESCRITA, NÚMERO SETE.

Nossas Cores na Praça Outra Vez.

Tentando traduzir a imensa diversidade cultural de Foz do Iguaçu, a Guatá comemora mais um punhado de gente misturando suas palavras e olhos ainda inéditos à verve de outros colaboradores habituais da publicação.
Como numa sopa de alta fervura, o corpo da revista Escrita é um caldeirão onde fotografias, desenhos e textos - vindo de cantos e mãos tão diferentes - são ingredientes de um bom caldo. Receita simples, mas eficaz. Para tanto, foram a(con)dicionados num conjunto que tem identidade, memória e sabor de um viés democrático ao se lidar com cultura.
Para a edição sete de Escrita, a Guatá reuniu trabalhos de trinta e uma pessoas , de diferentes lugares, tanto quanto de profissões diferentes. Elas, como num mosaico, formam um grande painel das línguas e linguagens que se reconhecem.

Fonte: www.guata.com.br

Nova Edição nas Ruas!!!

Adquira a sua nas bancas de Foz...

POESIAS E PENSAMENTOS

Ironia Efervescente

Hipocrisia causa azia!

Vou tomar um antiácido
Para suportar a histeria
De sua hipocrisia
Estampada na fotografia
E ficar de bem com a vida

(O Ministério da Saúde adverte:
Afetação de virtude
causa danos à alma)

Graça Carpes

(www.pulsarpoetico.zip.net)

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Revolta

O barulho do cachorro
Os passos de uma criança
O futuro de esperanças
Pisoteados ficam

A angústia no ar
A infelicidade, revoltas
A inimizade, o desprezo...
A solidão
O pesadelo
Quando chega dói

O passo
A realidade
O verso e reverso
Inspiram em mentes
Pisoteados ficam
Quando chega dói

(Edson de Carvalho, Foz)

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Reação

Não basta a indignação
Precisamos sim de uma reação
Tomar uma atitude diante da segregação
Em tempos de globaritarismo
A tendência é EXCLUIR o cidadão
E as oportunidades onde estão
E o acesso a cultura, esporte e lazer
Em tempo de campanha
São temas que fazem a maior fama
E depois que tudo passa
O agito do poder da lábia
Toda essa estória parecendo conto de fada
Se espalha no ar como fumaça
São décadas de exploração
E temos tão pouco tempo pra que isso vire passado
Um pequeno grupo se esforça
Mal diante do sistema retrogrado
Para e fica parado
Ou faz parte do sistema podre e covarde
Que está ultrapassado
O que nos resta é a Esperança
Palavra que acompanha o cidadão por onde ele for
“Precisamos de um espaço
De um espaço cultural
Aonde todos participem
Sem preconceito de raça, cor e
Classe social”.

(Sandro Carvalho da Silva)
O Poeta de Rua-16/05/2009

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Morfeu
Eu adormeci e sonhei...
um sonho que não entendi
e quando acordei já não sabia mais
que eu era e de repente tudo clareou
sonhei começar do começo
e escrever as próprias regras
andar descalça e sentir o chão
então adormeci e sonhei
um sonho que não entendi.

(Misk, Foz)

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O povo quer viver
A mesma sede me acompanha
E esta sede de liberdade
Não se distrai com água

(Elvio Romero)

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De que vale

O sorriso
Sem esperança
O braço
Sem força

De que vale?

O corpo
Sem coragem
Os pés
Sem caminho

De que vale?

Os olhos
Sem brilho
A boca
Sem palavras

De que vale?

O coração
Sem sentimento
A mente
Sem pensamento

De que vale?

O homem
E o vazio do seu silencio...
De que vale?

(Carol Miskalo, Foz)

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"Temos que Lutar por um mundo
onde sejamos
Socialmente Iguais,
Humanamente diferentes
e Totalmente Livres”

(Rosa de Luxemburgo)

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“Ser preto é moda, concorda?
mas só no visual
continua caso raro ascensão social”

(GOG)

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Olhos

Teus olhos verdes
Fitam-me noite adentro
Entre um gole de cerveja
E uma tragada lenta no cigarro.
Teus olhos verdes
Beijam-me noite adentro
Tocam minha alma
E incendeiam minha loucura.
Teus olhos verdes
Brincam com os meus
Noite adentro
E roubam minha serenidade.
Teus olhos verdes
Beijados, sentidos e tocados
Somem na acidez
Que irrompe em minhas palavras.
Assim, ferem minhas certezas
Revoltam minhas dúvidas
E anarquizam meus pensamentos.
Para estes olhos verdes
Deixo apenas uma pergunta:
Quando voltarão
Para me visitar?

(Carol, Foz)

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli).

Aluízio Palmar e a sua trajetória de luta (Continuação da edição 48)

Segundo Aluízio Palmar não foi somente a história brasileira que foi silenciada, nossos vizinhos e irmãos paraguaios também passaram por um cruel processo de esquecimento, acompanhe:

“Em 1980 eu estava voltando ao Brasil, eu recebi informação que em Caguaçu-PY explodiu um movimento guerrilheiro, ninguém sabia o que acontecia, naquela época era um país fechado neh, mas eu tinha alguns canais e fiquei sabendo, e detonei essa história pro mundo. Primeiro mandei pro correio de notícias, falei com o Fabio Campana, disse a novidade e falei faça a matéria urgente, aí depois juntei as informações que eu tinha e fui pro correio. Cheguei e fui direto pro telex, nunca havia mexido no telex, escrevi lá maior dificuldade e mandei, foi capa do correio de notícia. Aí o Estadão manda repórteres aqui para a região e desmente a notícia, mas aí o Le mond publica a notícia e explode na Europa e tudo isso aconteceu”. “Mais tarde quando eu olho nos arquivos da PF, eu descobri que essa ação repressiva teve participação do serviço secreto da ITAIPU, que investigou o Sento Lyon que foi líder do movimento da guerrilha do Paraguai, que eles tomaram um ônibus, tiveram confrontos com um exército na região de Caguaçu, morreram doze que até hoje não foram descobertos os corpos, são os desaparecidos do Paraguai”. “Uma menina de doze anos foi presa como uma agente internacional do comunismo, ela mora aqui em Hernandarias-Py, não sei quantos anos tem hoje, eu tenho a ficha dela, fichada com a fotinha com a carinha de criança. Por que ela participou de um movimento e ITAIPU investigou toda essa movimentação um ano depois. Veio aqui pra Foz um repórter da ISTO É, e foi lá no serviço de relações públicas de ITAIPU pedir por uma pessoa, um funcionário da ITAIPU, aí o repórter falou que esse funcionário tinha envolvimento no movimento de Caguaçu dizendo que ele conhecia o que aconteceu lá, essa simples visita de um repórter para falar com esse funcionário, gerou um inquérito e esse cidadão que foi procurado, sofreu uma baita investigação, investigaram ele a família dele, todas gerações, ele foi exonerado. E ele não tinha envolvimento nenhum com o negócio, o que aconteceu, ele era ligado a Igreja progressista, e por esse envolvimento foi transferido a cacete pelo serviço secreto da ITAIPU”. “Toda essa história está documentada no arquivo aqui da Polícia Federal, em plena ditadura surgiu um movimento bem forte aqui do lado, e ninguém aqui falou desse movimento, mas no Paraguai hoje esse movimento é história, o arquivo do terror tem bastante documento sobre esse fato, eu acredito que o arquivo de ITAIPU no Paraguai está inteirinho lá, tem certeza do documento desse fato, é um fato histórico!”.

Ao falar da sua geração é nítida a emoção em seu semblante.

“Minha geração passou por momentos difíceis, veja bem, nós tínhamos um farol que era a União Soviética, mas de repente em 1966 nós tiramos todas as nossas dúvidas em relação à União Soviética, tivemos grandes decepções com o bloco socialista. Quando teve a Primavera de Praga, nós éramos internacionalistas, quando as tropas da União soviética invadem a Tchecoslováquia e o povo Tcheco é reprimido pelas tropas da União Soviética, e quem saiu as ruas para protestar fomos nós, quem pichou os muros de solidariedade com os Tchecos fomos nós dissidentes. Por que nós éramos antes de tudo libertários, e foi essa visão libertária que nos conduziu, a gente não tinha uma formulação teórica a um regime que iria substituir a ditadura, nós sabíamos que pra substituir a ditadura teria que ser um governo socialista, mas um governo socialista onde se implante a liberdade, justiça e paz para os trabalhadores, e que os funcionários da ditadura, toda essa elite repressiva não teriam essa liberdade, a liberdade era pra avançar, progredir e pra distribuir renda; liberdade para democratizar a saúde, educação e a terra, essa era a nossa visão de formulação, mas pra chegar lá era preciso passar por muita luta, difusão, levaria muitos anos pra chegar ao estado que a gente tinha idealizado”. “Nós tínhamos consciência, pelo menos às dissidências, e mais tarde o PCR adotou a mesma postura, nós não queríamos para o Brasil um regime segregado igual o da União Soviética, nós buscamos um socialismo real, nós não éramos seguidores do Partido Comunista Soviético, nós éramos seguidores da nossa consciência. Não fomos financiados em momento algum nem pela Coréia, Cuba, União Soviética, nem por ninguém; pelo contrário, parte do dinheiro do cofre do Ademar de Barros que eram 12 milhões de dólares, foi para a Argélia ajudando o movimento Argelino a erguer a Argélia que tinha recém se libertado da França, a gente aqui estava passando por uma derrota violenta então passamos o dinheiro pra lá”. “A gente quando precisava de dinheiro pra financiar a Revolução, fomos buscar o dinheiro dos bancos, fomos expropriar bancos, nós fomos tomar lá o cofre do corrupto governador de São Paulo, essa era a nossa visão da época, nós não queríamos dependência em hipótese alguma, essa era a visão da dissidência, não era a visão do partidão, nem do PC do B. O PC do B tava atrelado à China, Albânia e não sei o que, nós não, nós éramos uns bichos meios esquisitos sabe, nós éramos, sobretudo rebeldes, mas com causa, não com concepção teórica e sabíamos que não queríamos nenhum tipo de atrelamento com algo do exterior, nada disso”.


Aluízio desabafa ao falar como a grande mídia põe os jovens e lutadores que enfrentaram a “ditabrava” Brasileira.

“A idéia que a direita brasileira tenta fazer é de que os comunistas eram terroristas, a tirania sempre nos chamam de terroristas, são assim com todos que se levantam contra ela, nós éramos taxados de terroristas, você pega manchetes de jornais noticiário da imprensa que ta isso ai lá”. Ao ser questionado sobre a revolução ele aponta o corte que foi feito naquele período analisando a América Latina como um todo, e diz acreditar que hoje essa parte do continente está mais próxima da luta do bem estar social. “A ditadura foi um corte na história, por que olha bem, isso aconteceu também na Guatemala, isso o Che Guevara conta nos diários dele, ele assistiu a queda do Chacoy na Guatemala e isso foi muito importante para o processo de Revolução do Che, que foi um movimento antiimperialista na Guatemala. Aí teve o ataque na Nicarágua depois foi Cuba, esses processos na América Latina e aconteciam também na Ásia. Esses tipos de exércitos na guerra pela libertação nos países, teve uma influência muito grande na formulação de uma doutrina, de uma visão Terceiro-mundista, que era a emergência de países como o nosso aqui em busca de um regime de bem estar social. Claro que alguns privilégios teriam que ser abolidos, pra você chegar ao bem estar social. Não tem como chegar ao bem estar social num regime capitalista, é preciso eliminar a ganância dos bancos, é preciso que se distribuam terras, é preciso que se melhore a previdência social, a massa salarial, se não... pra chegarmos ao bem estar social tem que melhorar a universidade pública, saúde pública, então o bem estar social significa cortar privilégios das elites, mas é um cacete... Então essas idéias viraram Comunismo, mas não era comunismo era a busca de um bem estar social, não só aqui mais em outros países da América latina”.

Nesse contexto de América Latina ele cita a presidência de Jango como um exemplo, sentia na sua concepção que uma mudança estava próxima de ocorrer no país.

“João Goulart tinha uma profunda sensibilidade pra isso aí, o discurso do Jango na central do Brasil no dia 13 de março de 1964, que vai fazer 45 anos. Ele deixou bem claro que pra você chegar à democracia social era preciso abolir privilégios, ele não tinha dúvida disso e estava decidido a fazer isso. Mas um homem sozinho não faz, quem faz é a massa, ele era porta voz do movimento, do movimento operário, estudantil, Camponês, movimento do baixo escalão, do exército, marinha e aeronáutica e dos intelectuais”. “Discutia-se isso sabe, se buscava uma transição e ele, o Presidente, era o porta voz disso daí, e o país estava vivendo nessa coisa absorvendo essa ruptura. Revolução é ruptura e era um momento revolucionário, aonde os marinheiros foram fazer motins nos navios e fizeram assembléia no sindicato dos metalúrgicos, aonde os fuzileiros foram prender os marinheiros, aí os fuzileiros jogaram as armas no chão e aderiram a luta dos marinheiros, para se ter uma idéia”. “Então era um momento revolucionário, mas não era um movimento para implantar um comunismo, era um momento pra se implantar a democracia social, mas era um perigo para o bloco americano estávamos na guerra fria, 'opa!!! Brasil ta saindo da órbita, da disciplina, ta pendendo pro outro lado', o medo deles é que o Brasil virasse uma segunda Cuba. Aí a elite já começou a financiar manifestações contra o Goulart, começou haver escassez de alimento como acontece hoje com a Venezuela, já aconteceu com o Allende no Chile, foi se criando um clima favorável ao golpe, até que veio o golpe e a ditadura”.


Quando questionado sobre o MR8 ele faz questão de frisar que iniciou sua luta como dissidente de partidos.

“Nós éramos a dissidência do estado do Rio de Janeiro, naquela época o estado do Rio era separado do ex-distrito federal, esse virou o estado da Guanabara quando a capital foi para Brasília. Então de um lado da Bahia de Guanabara era um grupo e do outro lado era estado do Rio. Criaram o estado da Guanabara eu não sei por quê, deve ter sido para darem o governo para o Lacerda, só pode ser. Aí depois o estado da Guanabara começou a votar em candidatos para a eleição de governador e depois eles mesmos acabaram com a eleição de governador por que o povo queria o governador que não era do grupo que estava no governo. Nós tínhamos uma revista chamada Oito de Outubro, nós não éramos MR8, nós éramos dissidência. A gente tentou fazer articulação com a Guanabara, mas nós tínhamos uma certa divergência, por que nós éramos foquistas (praticantes da ideologia de luta armada de Che Guevara) ou seja, a gente decidiu não esperar mais, não discutir mais, não construir partidos pois era urgente, as coisas estavam acontecendo, a ditadura se consolidava e construir partido é demorado, a discussão leva anos, séculos e nunca chega. Por que a esquerda por causa de uma vírgula passa por noites debatendo, a gente não podia mais esperar e mesmo assim a gente tentou unificação com o Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e optamos por outro caminho”. “O Rio Grande do Sul optou pelo caminho do Partido Operário, São Paulo e a dissidência de lá foi toda com o Marighela e a União Nacional, e o Rio continuou como dissidência da Guanabara e nós continuamos como dissidência do estado do Rio e assim ficamos”. “Quando vim pra Foz do Iguaçu vim como dissidência e não como MR8, vim para ser do foco guerrilheiro do Oeste do Paraná que era urgente. Nós fomos a primeira organização do Rio de Janeiro a fazer expropriação, e nós fizemos um desfalque num banco e o dinheiro desse desfalque veio parar aqui em Cascavel – PR e fizemos esse desfalque de cara aberta, panfletando dentro do banco, gritando palavras de ordens e ainda não éramos MR8”.

Aluízio explica a distinção de dois estados no período revolucionário, Paraná e Rio de Janeiro.
“No Paraná eu conheci uma realidade bem diferente do Rio, aqui era campo. Trouxemos a liga dos camponeses do Rio de Janeiro, vieram com a gente um camponês analfabeto de pai e mãe, chegavam aqui para cuidar dos nossos sítios e eles achavam que aqui era estrangeiro por causa do sotaque, era impressionante. Plantamos pessoas de uma realidade em outra, foi um erro nosso mas... (silencio). Vieram muitos da cidade de Campos - RJ de uma realidade Canavieira e aqui era mato não havia planta, soja, nada, era só mato, milho e feijão. Então fizemos um acampamento na região de Ramilandia-PR e lá começamos a nós organizar”.

A recruta de Guerrilheiros

“Nessa época fizemos vários recrutamentos e um deles foi o Bigode Branco que era o Bernardino Jorge Velho, que era sargento do exército reformado. Ele tinha um sítio em Santa Terezinha-PR, esse sitio foi tomado por latifundiários, ele teve a casa queimada e ficou na rua, ele era bastante consciente, ele era o mais velho, nós tínhamos vinte e poucos anos e ele estava com quarenta, nós jovens urbanos do Rio de Janeiro e ele mateiro do interior do Paraná. Ele foi muito útil por que com ele conhecemos a realidade do Paraná e descobrimos essa realidade caminhando, andávamos de Foz do Iguaçu a Guairá-PR, observamos tudo e ficávamos no meio do Parque Nacional em São Alberto, uma vila que acabou, que era uma colônia de imigrantes de Alemães e Italianos. Andávamos por dias, não tinha mochilas, eram sacos de farinha, dormíamos no mato, nas plantações, o dinheiro entrou quando o Mauro Silas saiu do banco e limpou o caixa e trouxe dinheiro com ele. Aí nós compramos um jipe e fizemos todo levantamento topográfico da área. Fizemos mapas perfeitos, o primeiro mapa da cidade de Medianeira-PR foi nós que fizemos, com a localização do quartel, da casa do dono da serraria, do açougue, de tudo. Íamos nas cidades, ora como topógrafos, outra vez
como geógrafos e éramos recebidos pelas autoridades, prefeitos, vereadores (risos) ficávamos hospedado,s éramos verdadeiros artistas”.

A triste realidade do Oeste do Paraná, A luta pela terra.

“Eu não vou dizer que eu conheci toda realidade do Oeste do Paraná, mas uma parte geral eu conheci, e uma realidade cruel, uma verdade de atrocidade a luta pela terra foi extremamente violenta, a posse. Por que as colonizadoras ocupavam de forma organizada a terra, ocuparam com a conivência do governo do estado e da polícia, a polícia era a força do latifúndio. Interessante que no estado de uma forma clara e evidente a polícia era o braço armado do latifúndio, de forma descarada e assim foram ocupando as terras da região, não existia lei”.

“Entramos uma vez numa fazenda em Matelândia e tinha uma indústria lá, e o pessoal vivia sem dedo, braço, não existia direito, eles não sabiam de direito algum, não havia quem falasse com eles sobre seus direitos, Ministério do Trabalho era conivente. A única fez que esse ministério interviu aqui no oeste foi no governo Jango quando o ministro era o Amauri Silva, um paranaense que tentou organizar os primeiros sindicatos rurais da região”.

“Aí o exemplo do seu Stanislaw que morreu no Cidade Nova ano passado. Ele foi preso em Cascavel, foi o primeiro sindicalista rural e não era comunista, ele era um pequeno sitiante e organizou os trabalhadores e quando teve o golpe ele foi preso, o sindicato foi fechado, encheram ele de porrada. Ele foi parar em Piraquara, ficou três anos preso sem processo e foi libertado depois sem julgamento. Stanislaw perdeu o sítio, perdeu a mulher que ficou doida e se matou, e ele morreu indigente no Cidade Nova. Bom... é a luta pela terra”.

INQUÉRITO - Já disse o Poeta

A NOVA TARIFA DO TRANSPORTE (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Hoje me senti um completo idiota, caro leitor. Estava eu em sala de aula falando sobre o aquecimento global e pregando aos meus alunos que devemos abdicar do carro sempre que possível e usar o transporte coletivo. Aí, alguém do fundo da sala grita:
- Mas por R$ 2,20 é melhor andar de carro.
Parei por um instante. Aumentaram a passagem. Conseguiram aumentar a passagem novamente. Como eu pude ser tão incoerente em dizer para aquelas pessoas deixarem seus carros em casa e andarem neste transporte horrível e caro que temos em nossa cidade.
O desrespeito, que já era visível, está se tornando descarado e sem pudor.Vou mudar o discurso em sala a partir de agora. Vamos discutir o transporte da cidade primeiro e, então, poderemos deixar o carro em casa e ir para o trabalho ou para a escola transportados como pessoas dignas, como cidadãos.Hoje, mais uma vez, minha cidade me envergonhou e, novamente, quem vai pagar a conta somos nós.


(Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo em Foz do Iguaçu)

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

SER COMO ELES_ Eduardo Galeano

PODEMOS SER COMO ELES?

Promessa dos políticos, razão dos tecnocratas, fantasia dos desamparados:
O Terceiro Mundo vai virar Primeiro Mundo, será rico, culto e feliz, tudo isso só com boa conduta, fazendo o que mandam lhe fazer sem protestar. Um destino de prosperidade recompensará a obediência dos mortos de fome, no ultimo capítulo da novela da história. Podemos ser como eles, anuncia um gigantesco letreiro luminoso, aceso no caminho do desenvolvimento dos subdesenvolvidos e a modernização dos atrasados. Mas o que não pode ser, não pode ser mesmo e além disso é impossível: se os países pobres chegassem ao nível de produção e fartura dos países ricos, o planeta morreria. Já está nosso pobre planeta em estado de coma, gravemente intoxicado pela civilização industrial e exprimido até a penúltima gota pela sociedade de consumo. O mundo, convertido em mercado e mercadoria, a natureza, humilhada, posta ao serviço da acumulação de capital, envenena-se a terra, a água e o ar para que o dinheiro produza mais dinheiro sem que caia a taxa de lucros. A chuva ácida dos gases industriais assassina os bosques e as lagoas do Norte do mundo, os detritos tóxicos envenenam rios e mares, enquanto ao Sul a agroindústria da exportação avança arrasando árvores e gente, uma piada, EUA o único país que não assina o Protocolo de Kyoto para redução das substâncias do efeito invernadero e proteção da camada de ozônio. Ao Norte e ao Sul, a Leste e Oeste, o homem serra, com delirante entusiasmo, o galho onde está sentado.

Na fogueira continuada da Amazônia arde meia Bélgica por ano, queimada pela civilização da cobiça, em toda América Latina a terra está ficando deserta e seca. No sul do continente americano morrem 22 hectares de terra por minuto, na grande maioria sacrificadas pelas empresas que produzem carne e madeira, em grande escala, para o consumo dos cidadãos do mundo globalizado. As vacas de Costa Rica se convertem, nos Estados Unidos, em hambúrgueres do MacDonald's, há 50 anos as árvores cobriam três quartas partes do território de Costa Rica: já são muito poucos as árvores que sobraram, e ao ritmo atual de desmatamento, o pequeno país vai virar um sertão. Costa Rica exporta carne aos Estados Unidos, e dos Estados Unidos importa agrotóxicos que os norte-americanos proíbem aplicar sobre seu próprio solo. A bolsa de valores de New York dirige a grande orquestra da globalização. Os países do hemisfério Norte dilapidam os recursos de todos, crime e delírio da sociedade da abundância: uma minoria de ricos devoram um terço de toda a energia, e um terço de todos os recursos naturais do mundo inteiro.

Segundo as estatísticas revelam um só norte-americano consome como cinqüenta haitianos; que aconteceria se os cinqüenta haitianos consumissem subitamente como cinqüenta norte-americanos? Que aconteceria se toda a imensa população do Sul pudesse devorar o mundo com a impune voracidade do Norte? Que aconteceria se multiplicasse nessa louca medida os artigos suntuosos, as “limusines”, os computadores, as casas com piscinas, o ar condicionado central, usinas termo elétricas e nucleares? Que aconteceria com o clima, que já esta perto do colapso pelo aquecimento da atmosfera? Que aconteceria com a terra, com a pouca terra que a erosão esta nos deixando? E com a água, que a metade do mundo bebe contaminada com nitratos, pesticidas e detritos industriais de chumbo e mercúrio entre outras substâncias?
Já está acontecendo, teríamos que nos mudar de planeta, este está gasto e já não suporta mais.

QUEREMOS SER COMO ELES?

Num formigueiro bem organizado, as formigas rainhas são poucas e as formigas obreiras muitas, as rainhas nascem com asas e podem fazer amor, as obreiras que não voam nem amam, trabalham para as rainhas; tem policias que vigiam as obreiras e as rainhas. Nossa época está marcada pela confusão dos meios e os fins; não se trabalha para viver, vive-se para trabalhar; uns trabalham muito porque necessitam mais do que consomem; outros trabalham cada dia mais para seguir consumindo mais do que necessitam. Somos peças de um sistema de engrenagens, estamos obrigados a dançar, quem se nega fica fora, excluído do sistema bancário, da saúde, da educação e da previdência.

A CIDADE COMO CÂMARA DE GÁS

Nossos campos se esvaziam, as cidades como São Paulo, se convertem em infernos grandes como países, cresce a um ritmo de meio milhão de pessoas e trinta quilômetros quadrados por ano, já tem cinco vezes mais habitantes que a Noruega. O ar limpo e o silêncio são artigos tão raros e tão caros que já nem os ricos podem comprá-los. Existe uma nuvem de sujeira no ar das grandes cidades, pássaros que tossem em vez de cantar, árvores que se negam a crescer, só falta um cartaz que diga “Recomenda-se não respirar”. As crianças nascem com um coquetel no sangue, MONÓXIDO DE CARBONO, OXIDO NITROSO, OZÔNIO FOTOQUÍMICO, DIÓXIDO DE ENXOFRE, a contaminação sonora está instalada fora e dentro do lar, para que não esqueçam que temos que viver com 'stress”. O direito de contaminar e mais um incentivo fundamental para trazer “Invenções Estrangeiras”, a liberdade do dinheiro que deprecia a liberdade dos demais. São mais importantes o direito de empresa e de propriedade que os direitos humanos. A anarquia dos veículos determina que os paulistas dediquem até quatro horas por dia para ir e voltar do trabalho, quatro horas sentados no carro respirando sujeira, e coitados dos pedestres que ousarem invadir o território do maior predador da metrópole.

A CIDADE COMO PRISÃO

Caminhar pelas ruas das cidades virou uma atividade de alto risco, ficar em casa também, sair, só pela necessidade de trabalhar, vivemos presos no medo, condenados ao pânico do próximo assalto, rezando para evitar formar parte das estatísticas da violência. Quem tem algo por pouco que seja, vive em estado de ameaça, em posição de defesa. Prédios residenciais que parecem castelos feudais da era eletrônica; só falta a fossa com tubarões, grades eletrificadas, portões levadiços, câmeras e alarmes, torres e guardas armados, e ainda assim são alvo dos criminosos. Neste país onde se condena a pena de morte, existe a pena de morte pelo direito a propriedade, ou o direito ao seqüestro ou assalto. A sociedade de consumo, que consome gente, obriga a gente a consumir, enquanto a televisão dita cursos de violência a universitários e analfabetos.

A televisão exibe o obsceno delírio da festa do consumo, a opulência de políticos e famosos, e nos ensina também a defender nosso território com balas. Crianças, adolescentes e maiores pobres, praticam a iniciativa privada do delito, o único campo onde podem-se desenvolver, os direitos humanos se reduzem a roubar ou morrer, como feras saem nas ruas de caçada, em qualquer esquina está a presa, depois fogem. Sua vida acaba cedo, consumida pelo álcool, cheiro de cola, maconha e outras drogas, bom para enganar a fome, o frio, a solidão, a vida acaba com uma bala ante as câmeras dos jornais, o verdadeiro “Reality Show”. A civilização do capitalismo selvagem, o direito de propriedade é mais importante que o direito a vida, a gente vale menos que as coisas. Temos que acreditar na premissa “o mercado livre é a clave da riqueza”, eficiente e quem mais ganha em menos tempo, cuidado com o vizinho que é um concorrente. O duvidoso casamento entre a oferta e a demanda, num mercado livre que serve ao despotismo dos poderosos, castiga aos pobres e gera uma economia de especulação. Tecnocracia que enxerga números e não pessoas, mas só enxerga os números que a ela servem. Ao fim e ao cabo, a dignidade humana depende do cálculo de custos e benefícios, o sacrifício da população não é mais que o “custo social do progresso”.

(Eduardo Galeano, escritor e jornalista uruguaio.

Fonte: Livro Ser Como Eles.)

PAISAGENS PERIFÉRICAS

Um Breve Olhar Sobre Periferias do Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu (Por: Danilo George).

As favelas de Foz do Iguaçu em sua maioria são praticamente invisíveis, localizadas às margens do Rio Paraná, ou áreas baixas, escondidas por becos, algumas próximas do centro administrativo e perto de hóteis de luxo, locais de difícil acesso e pouca visibilidade. Dessa forma muitos moradores estão pertos de periferias de lá e não se dão conta; se para alguns moradores é difícil localizar algumas áreas periféricas, imagina isso para um turista. No Rio de Janeiro os morros são em sua maioria visíveis, do trem, do carro, dos prédios, de lugares altos, é só olhar para cima, para os lados, eles estão lá. Parece que não há como esconder, aí entra o PAC com seu planejamento nefário da construção de grandes muros que irão cercar e esconder morros de todos os lados da cidade. Já que o Estado não é capaz de construir um plano social que combata e minimize a desigualdade social, então ele utiliza de formas higiênicas de “organização” da cidade e higienizar é camuflar, esconder, disfarçar essa desigualdade. Mas quando o assunto é camuflar a pobreza Foz do Iguaçu serve de grande exemplo, sabe empurrar e remover a população periférica como ninguém, que o digam os moradores de casas populares “Cidade Nova” e tantos outros projetos habitacionais que trazem a lógica da higienização da cidade, que conta com um forte investimento da Secretaria de Turismo e planejamento, ou seja dinheiro público que patrocina desde as propagandas turísticas e suas belas paisagens ao extermínio e afastamento da população “favelada”.

Percebemos que tanto no Rio de Janeiro como em Foz do Iguaçu que o Estado e seus aparelhos são utilizados para combater, esconder, massacrar as populações igual no RJ, pois ali não há a necessidade de proteger aquele local de uma facção rival, ou pela própria polícia e sua tenebrosa milícia, o armamento mais pesado de Foz do Iguaçu se concentra em áreas perto de barrancas de rios, principalmente do Paraná que
periféricas; irei apresentar algumas características próprias das duas cidades, para assim refletimos o viver urbano dessas cidades. As periferias de Foz têm o terreno normalmente plano, em Foz não há morros, as construções “irregulares” costumam ficar sobre rios e entre matas. Nesse sentido as crianças e moradores não sofrem com descidas e subidas íngremes, algo comum a lugares periféricos do RJ; em Foz os moradores sofrem muito com a distância do centro, da área de comércio, mas em relação com o espaço físico acredito que as crianças de lá têm mais espaço para brincar, pois mesmo na periferia é comum se ver áreas verdes que possibilitam as brincadeiras de rua, futebol etc. Em alguns morros cariocas o que parece ser comum é a brincadeira em lajes, os fios de alta tensão ficam muito próximos dos moradores, dessa maneira acredito que as crianças daqui estão mais vulneráveis a acidentes, há diversas escadarias, e o terreno costuma ser muito acentuado cheio de becos, comprometendo o lazer dos moradores. Em Foz algumas favelas lembram uma espécie de chácara, é comum haver plantações, hortas e agricultura familiar nesses locais, que de certa forma subsidiam e salvam muita gente da fome, é comum você ouvir de um morador de lá, não passei fome, pois tinha minha hortinha, tinha um pé de abacate, entre outras culturas. No RJ o grande aglomerado de casas não possibilita a plantação quanto o cultivo de hortas etc, dessa maneira vejo um ponto positivo ao pensarmos a questão do espaço na periferia Iguaçuense.

Em Foz não existem facções, e raramente há rixa de quebrada com quebrada, não há um armamento pesado faz fronteira com o Paraguai. Mas nem por isso temos que nos conformar, enquanto estiver uma criança, um jovem armado é motivo para tentarmos mudar essa realidade. No RJ há um código tácito e moral muito mais presente na realidade dos moradores, a idéia de pertencimento é mais propagada, é visível o orgulho em ser “cria” daquele local, ou seja nasceu, cresceu, sobreviveu e muitas vezes envelheceu naquele lugar, assim não é comum no RJ um morador passar por diversos bairros de diferentes locais, se busca um enraizamento naquela favela, naquela região, a questão migrante em Foz é mais “comum” pois não há disputas por grupos rivais, um morador ser de tal área e se mudar para outra não há restrição ou diferenciação, pelo menos explicitamente. Boa parte da população periférica de Foz do Iguaçu, já residiu em mais de uma favela, é comum o transito por várias áreas. A questão da migração no RJ é evidente o traço nordestino, que compõem boa parte da mão de obra da cidade, muitos são comerciantes, donos de bares, tendas, biroskas, das áreas periféricas, se escuta o forró e músicas tradicionais daquela região nesses estabelecimentos. Em Foz é comum você ver paraguaios nessas áreas, há uma imagem constituída de que a Itaipu construiu a cidade e um local como o Porto Meira - um grande complexo habitacional que abriga boa parte dessa população - revela como a mão-de-obra paraguaia foi útil e serviu aquela cidade, outro traço marcante da cultura paraguaia na periferia é sua bebida tradicional o “tererê” um mate gelado, composto por ervas, servido com água gelada.

Em Foz a população é carente de lugares de lazer, raramente há bailes, não há tanta movimentação na rua, a população fica mais em casa, é comum jovens dessas áreas percorrerem praças centrais, ou locais freqüentados pela classe média. Não há uma divisão de classes tênue, o contraste não é tão visível quanto ao RJ, mas existe e é cruel. A especulação imobiliária de Foz ainda não está claramente estabelecida, a territorização burguesa começa a se estabelecer no inicio dos anos de 1990, ainda há áreas que o mercado de imóveis não conseguiu se instaurar. No RJ a questão da zona sul, zona norte, revela um pouco da divisão social da cidade, e de uma lógica funcional da especulação imobiliária com a valorização de terrenos e imóveis de algumas regiões. Devido aos produtos importados do Paraguai, boa parte da periferia de Foz conta com aparelhos dvd´s, computadores, mp3 entre outros, a favela lá é bem digitalizada, talvez seja por isso que não tenha tantas lan-houses como no RJ. Há também a entrada desses produtos nos morros cariocas, mas numa escala menor uma vez que esses já chegam aqui super-faturados pelos impostos brasileiros. A palavra MC ainda não é tão presente em Foz, no RJ é bem mais difundida. Em Foz do Iguaçu é comum se dizer eu canto Rap, sou Rapper, agora eu sou MC ainda não é muito divulgado, o orgulho em se dizer MC é perceptível no RJ, assim muitos mostram que ser MC é seu trabalho, vivem da música. O MC do RJ está normalmente relacionado ao Funk, quando se fala em RAP no RJ é funk, assim você escuta “Rap das armas” “Rap do Salgueiro” que são Funks, o Rap de Foz é chamado aqui de Hip-Hop, há um pouco de confusão, essa discussão é complexa e não me aprofundarei aqui. São muitas diferenças, culturais, sociais e econômicas sobre essas duas cidades tão distantes, mas há algumas semelhanças.

Tanto Foz quanto RJ são cidades turísticas cujos cartões postais percorrem o mundo inteiro, mas na verdade boa parte dessas populações ainda não tem condições de desfrutar desses lugares, de conhecer e pisar nos paraísos naturais, os símbolos oficiais das cidades parecem ser encarado com um desmazelo pela população periférica dessas cidades, creio que isso acontece por que na verdade a maioria das pessoas não podem ir nas Cataratas do Iguaçu ou no Pão de Açúcar, pois não se tem o acesso a esses locais; fica a nítida impressão que os moradores das periferias não se vêem pertencentes e participantes daquele local, e assim constituem da sua forma, do seu modo, um resignificado para seus símbolos, e os diversos lugares da cidade. Em alguns Morros cariocas, assim como em algumas favelas de Foz do Iguaçu, boa parte da população não conta com água potavél, assim é comum a comercialização de cloro e fluor em garrafinhas para misturarem na água. Na Mosca, Morenitas, em Acari, no Morro do Estado entre tantos não há Água potável e a solução encontrada é a mesma, contar com a solidariedade do vizinho, do amigo que instalou um filtro em casa, ou levar latas na cabeça até um poço mais perto, ou andar um longo trecho com garrafas PET e com muita labuta conquistarem finalmente a água tratada.

(Favela da Morenitas - Foz do Iguaçu).


(Morro do Estado - Niterói)
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O popular GATO também é comum nas favelas iguaçuenses e nos morros cariocas, é a simples maneira que eles, inventores e reinventores do cotidiano, criaram a sua forma de resistência popular para se incluir no mundo globalizado, os moradores das favelas também querem Internet, TV a cabo, mas em sua maioria lutam pela simples energia elétrica. O que é muito comum nessas duas cidades tão diferentes? É a forma como os moradores são discriminados, tratados e representados nos programas sensacionalistas. Nas duas cidades no hórario do almoço passam programas policiais que disseminam um olhar fascista que contamina boa parte da população. Em Foz do Iguaçu o programa se chama Naipi Aqui Agora, no RJ se chama Balanço Geral. Em Foz é apresentado por Luciano Alves (SBT), no RJ por Vagner Montes (RECORD), ambos parecem ter a mesma visão, para a qual a “periferia” é, por excelência, o lugar de violência e criminalidade, e deve ser imediatamente controlada, combatida, mesmo que para isso tenha um grande custo, que é as de milhares de vidas dizimadas pelo incentivo da força policial e da propagação e liberação da violência que é legitimada todo dia pelo Estado.

O nosso desafio é romper com essa prática perversa que se propaga diariamente e tenta causar na periferia um inferno urbano, precisamos reconstruir o sentido de favela, morro, ocupação, desmistificar a origem da pobreza e riqueza, e isso significa que temos ainda que defender um sentido muito primitivo, o de conscientizar as pessoas que as periferias são simplesmente um lugar comum de gente comum, que come, trabalha, canta, dança, sorri, chora, luta e antes de tudo que sobrevive a essa barbárie.

(Danilo George, historiador e pesquisador das camadas populares de Foz do Iguaçu e do Rio de Janeiro. Não vê nesses locais a violência e a selvageria posta na grande mídia. Ele deve está louco).

QUEM PODE ME JULGAR (Por: Carol)

O menino vinha subindo a rua com seu irmão um pouco mais novo. Ele, seu irmão e seu carrinho cheio de material reciclável. Me contou que estava trabalhando desde as 06 da manhã.

Subiam a rua e pararam na entrada do bosque. Olharam-se sérios, tristes, e sem trocar nenhuma palavra abriram um sorriso. Os dois entraram no bosque, estacionaram o carrinho na calçada perto do balanço e foram brincar. Ficaram ali horas e horas. Até que o Sol se foi e era hora de voltar.

Talvez quando chegarem em casa levarão uma bronca. Talvez role treta. Talvez apanhem. Talvez não tenha janta... Talvez não tenham ninguém pra conversar, muito menos alguém pra lhes abraçar...

Mas tenho certeza que quando se deitarem em seus colchões duros, fecharão os olhos e darão um sorriso de satisfação. Há tempos não sabem o que é ser criança...

(Carol é estudante de letras em Foz do Iguaçu)

ÓIA SÓ (Por: Lizal).

Enquanto os Estados Unidos criticam Venezuela e Bolívia por suposta falta de empenho na luta contra o narcotráfico, no Afeganistão, ocupado pelos gringos, aumenta a produção de ópio. Na Colômbia, país que recebe grande "ajuda" para combater o narcotráfico (mas ao que tudo indica é para combater as Farc), apesar da diminuição da área de cultivo, não houve diminuição da produção de coca. Não bastasse esses fracassos, descobre-se que a produção norte americana de canabis, a famosa maconha, em 2006, faturou mais do que a produção do milho e da soja. Foram quase 9 mil toneladas, que resultaram num faturamento de US$35 bilhões. Segundo o jurista,
e especialista no assunto, Wálter Fanganiello Maierovitch “A produção de maconha cresceu 10 vezes em 25 anos" nos EUA.

A Comissão da Coca da Assembléia Constituinte Boliviana aprovou uma resolução que pede que multinacionais como a Coca-Cola não usem em seus produtos o nome da "sagrada planta milenar". Os constituntes esperam desencadear uma campanha para que a folha seja reconhecida como "recurso natural, econômico, renovável e estratégico" na futura constituição boliviana. A proposta foi apresentada, segundo o jornal El Colombiano, por Margarita Terán, ex dirigente cocaleira do partido Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo Morales, presidente da Bolívia.
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Karl Marx:

“Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável. O débito não pago levará os bancos à falência, que terão que ser nacionalizados pelo Estado".

(O caminhão das Casas Bahia não para de descer nas quebradas, logo eles vão quebrar...).

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Van Gogh:

“O moinho já não existe;
O vento continua, todavia.”

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Óia sÓ:

Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro disse que é favor da legalização aborto para que as mulheres das favelas não produzam mais marginais.

(E o povão vota no Zé-povinho).

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Propaganda numa revista:

“Verão do Morro”. “Cinema ao ar livre, Djs renomados, Grandes shows”.
No canto do panfleto: “Morro da Urca”.

Embaixo em letras minúsculas: “Ingressos R$ 80,00”.

(Me nego)

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Milícia e Polícia, Unha e Carne.

O deputado estadual Marcelo Freixo foi entrevistado pela revista Vírus Planetário onde admitiu que a milícia é a polícia, não é paralela e nem é fora da polícia. Questionado se haveria uma parte da polícia que enfrentaria as milícias, respondeu: “Não vai. E não é esse tipo de enfrentamento que deveria haver. Recentemente, tivemos um caso de milicianos que invadiram um posto policial para roubar armas e acabaram matando um policial que reagiu. Mas são casos esporádicos. A milícia tem uma natureza absolutamente distinta do varejo da droga nas favelas, é incomparável, pode-se falar em termos de domínio de território, mas a análise comparativa para por aí. Porque na verdade a milícia é um grupo armado formado por agentes públicos da segurança que dominam o território e utilizam a máquina do estado, usam a carteira, o distintivo. A fala é da ordem, por isso não querem ser expulsos da polícia e lutam para não serem expulsos”.

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PROPAGANDA NO PROGRAMA DE RÁDIO BAND NEW'S NO RIO DE JANEIRO:

“Leblon, bairro onde as pessoas se cuidam. Onde as pessoas gostam de viver bem”.
(Como se os moradores dos morros não gostassem de viver bem).

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No programa policial.

“Preso suspeito de assaltar um hotel. Eu falo suspeito porque ele não passou pelo reconhecimento da vítima ainda. Mas eu vou mostrar o rosto do elemento aqui... vai que aparece outras vítimas”.

(O Zé-povinho é foda)

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Propaganda do Estado da Bahia numa Revista:

“O Estado que tinha o maior número de analfabetos agora tem o Topa, o maior programa de alfabetização do Brasil”. “O Estado que tinha a 6° pior saúde do país agora tem Internação Domiciliar, um programa inédito no Brasil”. “Um Estado onde metade da população vive no sertão agora tem o Água para Todos, o maior programa de acesso à água do Brasil”.

Pra terminar a propaganda:

“Ronda nos bairros, a polícia mais perto das pessoas, garantindo mais tranqüilidade e segurança”. “Ferrovia Oeste-Leste. Vai integrar a Bahia incentivando o agronegócio, bicombustíveis, mineração e comércio”.

(Qualquer semelhança com o Projeto Feijão Verde não é mera coincidência).

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Frase de Eduardo Marinho:

“Ostentação de Riqueza,
Demonstração de pobreza”.

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Música do grupo Visão de Rua:

“O amor não é pra covardes”.

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CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George)

Vida Nossa de Todos os Dias

Mikael é um jovem norte-americano, oriundo de uma família de classe média daquela terra, estudou Ciências Sociais e Artes Cênicas pela Harvard, apontado por muitos como o grande modelo universitário do mundo. Além dessas formações ele pratica teatro e escreve poesias, esse perfil parece típico de um Nobel, ou daqueles modelos de inteligência e superação liberal, mas podem se tranqüilizar caros leitores, pois o gringo Mikael foi além desse blá blá blá positivista.


Ele chegou ao Brasil em 2005, conheceu o Rio de Janeiro, morou um ano no Recife e lá começou seu trabalho com o teatro, com a convivência com o povo brasileiro foi aos poucos se encantando com aquele país. Ele já não se sentia pertencente a seu país de origem, como um crítico da sociedade capitalista logo percebeu que aquele país do terceiro mundo precisaria do seu trabalho. Assim fez contato com um amigo paulista e decidiu morar inicialmente em São Paulo, conheceu o hip-hop, era freqüentador assíduo dos saraus de poesias da Cooperifa, se envolveu e batalhou para aprender a confusa língua portuguesa. Passado esse tempo vendo que todos o chamavam de gringo, ele se denominou “o gringo que fala” uma vez que boa parte dos estrangeiros que se instalam no Brasil não conseguem falar português, ou simplesmente não se interessam por aprender aquela língua uma vez que consideram o inglês uma língua universal, ele até mesmo nesse sentido pensava diferente pois o público que ele queria conhecer, conversar e se relacionar muitas vezes não sabia ler e escrever sua própria língua quanto mais falar outro idioma.

O gringo que fala sentia vergonha das atrocidades e da política imperialista do seu país, era comum as pessoas virem querer atacar sua nação, imaginando assim que iam provocá-lo, mas na realidade as mais severas e sinceras críticas que o EUA recebera viera do próprio gringo, suas críticas eram leais de quem conhece aquele país por dentro e sabia perfeitamente do que estava falando, a análise do gringo rompia com os jargões e o denuncismo barato, ele explicara a contradição do seu país desde a relação com os imigrantes até o processo eleitoral no qual ele votou via fax paro o presidente negro Obama, dizia que esse presidente não mudaria muito, seria um mais do mesmo, mas por não suportar a política republicana optou por Obama. O gringo surpreendia também quando as pessoas vinham elogiar seu país geralmente com aquela retórica de país livre e desenvolvido ele respondia com ironia “desenvolvido é o preconceito daquela gente. Liberdade nós não temos, o EUA tem a maior população carcerária do mundo”. Quando o gringo que fala não gostava da pessoa ele dizia “vai pro EUA é legal”, quando ele achava que a pessoa era gente fina ele dizia “nem vai pra lá, tu não vai ser bem tratado”, passado um tempo resolveu ir para o Rio de Janeiro trabalhar com o Teatro do Oprimido.

Gringo às vezes era severo nas críticas e não perdoava nem o fundador do Teatro do Oprimido Boal, para ele o teatro estava muito centralizado nele, preso as dificuldades enfrentadas durante a ditadura militar, então seu método seria ultrapassado, o falador gringo explicara que o teatro do oprimido necessitava de se adaptar as mais diversas realidades como prisão, hospitais, favelas, clínicas de recuperação entre outras, e não só tratar da opressão sofrida da cruel ditadura brasileira. Partindo desse princípio ele começou a desenvolver trabalhos nas carceragens de Nova Iguaçu-RJ, em hospitais e em algumas favelas cariocas. Realizou um brilhante trabalho, se sentia realizado, seu trabalho começara a transformar a vida de muitas pessoas no Brasil, mas seu sonho será interrompido uma vez que seu visto estava com os dias contados, sendo assim ele tentou várias possibilidades de permanecer no seu país de coração, mas todas tentativas foram sem sucesso.

Deprimido tivera que retornar a seu país infame - em suas palavras - em sua despedida gringo escreveu um Rap de protesto e cantou emocionado. O Rap se chama “A Puta Língua que me Pariu” e diz assim:

“Eu vou buscar um jeito de esquecer
Esse lugar horrível que eu to erradicado, que achou razão
Em fazer guerra através da mentirosa invasão
Vida Brasileira já é diferente
Eu deixo a língua portuguesa invadir minha mente
Vou fazer a tentativa de escrever algumas rimas
Para o público que se anima, quando ponho a mão pra cima”

(gesto dos panteras negras).

“Tem gringo que se mete na vida dos outros
Tem gringo que rouba o que deve ser nosso
Tem gringo que enriquece com corporação
Mas também tem gringo bom de carne e osso
Eu já falo não olho para trás
Pois só sei escutar o que vale mais
Deixei meu País escolhi outro que vale bem mais
Só olho pra frente,
Mas pense nenhum gringo é inocente
Tem gringo brincando de ser fuzileiro
Tentando “gringar” o Planeta inteiro
Acham se dez, mas é nota zero
Bem melhor seria se eu fosse Brasileiro
Eu vou agora escutar e aprender
O gringo que fala é para valer
Eu to aqui e não vou embora
Para arrumar as minhas malas eu sou assim...”.

“O Gringo que fala!”.

Repetiu três vezes essa última frase levando a galera ao delírio.
Ali estava mais uma representação desse norte-americano que encantou os brasileiros que o conheceram, e nos deixou uma grande lição. De que não existe fronteira de língua quando o interesse é coletivo e para um bem comum, e a escolha de nação muitas vezes se dá por afinidade, por identificação com a mais verdadeira sintonia que faz com que busquemos um outro modo de vida.

“Danilo George – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.