sexta-feira, 6 de março de 2009

PROS MANOS UM SALVE / PRAS MINAS UM BEIJO (Luo).

No estilo Pregador Luo, o Zine do Cartel manda um salve pros manos e um beijo pras minas. Nessa edição de março algumas das matérias estão focadas na questão do gênero. A pesquisadora paulista Eva Blay mostra a confusão histórica e traz uma nova versão sobre o porque do 08 de março ser escolhido para o Dia Internacional da Mulher. Na coluna “Uma Música” trazemos a letra da canção “Rosas” do grupo de Rap feminino de Brasília: Atitude Feminina. O grupo já faturou o premio Hutus e já teve um vídeo clipe premiado. No blog do Cartel você pode assistir ao vídeo clipe da música “Rosas”. No quadro Poesias e Pensamentos temos poesias da Mysk, Carol, Gilka Machado e Ana Peluso. A arte do mês é de uma mina: Jaqueline Miskalo. A Carol traz um texto ácido, mostrando a desumanidade do ser humano. Temos ainda informações sobre a Corrida do Dia Internacional da Mulher, organizada pela ACORREFOZ. Do blog Colecionador de Pedras do poeta Sérgio Vaz traficamos o poema Deusas do Cotidiano, que versa sobre as guerreiras do dia a dia. O Mano Lizal traz um texto mostrando como as letras de Rap do Brasil retratam as mulheres.

Nessa edição estreamos mais um colunista da nossa terrinha. O Mano Danilo George Ribeiro cria a coluna “Contos, Contas, Cantos e Crônicas”, onde narra algumas histórias que são 99% verídicas – como ele mesmo afirma. O Cartel do Rap está feliz pelo reconhecimento. Saiu uma matéria no Site da Guatá e do Megafone sobre o aniversário de 04 anos do Fanzine.

A favela agradece.

Vida longa ao tráfico de informação.

APOIARAM ESSA EDIÇÃO DO FANZINE:


SÓ NO BLOG:

O Blog do Fanzine foi criado para postar somente as matérias que saem no zine impresso. Estamos estudando a possibilidade de criar novos blogs. Enquanto não sai, nós vamos postar uma matéria por mês que sairá só no blog do Cartel. O artigo desse mês de março foi reproduzido da Revista Caros Amigos e é sobre o Carnaval.


BAILE DE CARNAVAL (Por: Frei Betto).

Neste carnaval, despirei a fantasia da vaidade e entrarei no corso dos que buscam os bailes do espírito. Desfilarei na via Láctea cavalgando um asteróide e aplaudirei o rodopio de Gaia, a porta-bandeira, sob os olhos dourados do mestre-sala, o Sol. Espalharei pelo teto do céu confetes de estrelas e atirarei brilhantes serpentinas de cometas. Nada de me encharcar de cerveja; me embriagarei com a euforia dos que descem dos morros para exibir com pompas suas escolas de ilusões.
Contemplarei a alucinada ginga dos passistas que, no resto do ano, driblam as agruras da vida sem que ninguém bata palmas à sua teimosia.

Neste carnaval, arrancarei as máscaras dos bem-pensantes que integram o bloco ácido dos arautos da verdade. Pintarei em seus rostos amargurados as curvas ascendente de um sorriso para livrar-me de tão conservadoras tristezas. Gravarei corações enamorados nos muros e farei florir, na copa das árvores, botões de insensatez. Engrossarei uma batucada tão vibrante a ponto de proteger-me dos ruídos insidiosos e dos discursos forjados na retórica das gralhas. Tomarei em mãos a cuíca e, de seu soluço agônico, arrancarei a cadência capaz de impelir meus passos rumo ao futuro. Não irei aos bailes da cegueira, onde os olhos se recusam a espelhar a felicidade alheia, nem aos desfiles de fantasias que desplumam soberbas. Entrarei na roda de sorrisos ingênuos e darei as mãos aos corações trepidantes daqueles que jamais encerram o carnaval dentro de si. Dançarei o frevo altissonante dos ébrios de utopias e seguirei o trio elétrico que semeia êxtases nas veredas do deserto.

Neste carnaval, meu samba não será de uma nota só; tanto riso e tanta alegria haverão de despertar, no mais íntimo de cada um de nós, o pierrô e a colombina apaixonados. Aspergirei perfume para espantar em volta todos os odores que fazem minguar as flores. E me somarei ao cordão dos que ardilosamente entoam cantos de esperança. Não darei ouvidos ao reco-reco dos que insistem em ensurdecer com seus lamentos o grito de carnaval. Nem abrirei alas a quem impede a passagem do porvir. Ostentarei na passarela a alegoria de promissoras conquistas e preencherei todos os quesitos de um amor inefável. Desfantasiado de esbelto, exibirei contente pelas ruas o balanço de minhas gorduras, o brilho prateado de meus cabelos, a minha doce feiúra. Entre tanta beleza virtual, esculpida à ponta de bisturi, concorrerei ao prêmio de originalidade. Deixarei dançar a flacidez de minhas carnes e, após passar a suntuosa escola de divas alouradas e apolos musculosos, catarei num saco de lixo a vergonha de não suportarem a esplêndida maquiagem que o tempo delicadamente imprime a quem conhece a arte de envelhecer.

Na manhã de Quarta-Feira de Cinzas, arrancarei minha fantasia de arlequim e carregarei solitário meu pandeiro. Com as pernas mergulhadas no lago da praça, lançarei na água uma a uma as argolas, para vê-las flutuar como estrelas de prata. Em seguida, deixarei o pandeiro boiar como o barquinho da criança que me povoa.

Então, revestido de infância, embarcarei no disco de madeira e couro, seguro de que as cinzas da morte são apenas confetes que Deus espargue em seu baile infindável. Não olvidarei que a vida nos conduz ao carnaval no qual só entra quem rasga a fantasia.

(Frei Betto é escritor, autor de a Arte de Semear Estrelas (Rocco), entre outros livros).

Fonte: Revista Caros Amigos n° 143, fevereiro de 2009

UMA MÚSICA

Rosas (Atitude Feminina)

“A cada quinze segundos uma mulher é agredida no Brasil. E a realidade não é nem um pouco cor-de-rosa. A cada ano dois milhões de mulheres são espancadas por maridos ou namorados”.

Refrão:

Hoje meu amor veio me visitar
E trouxe rosas para me alegrar
E com lágrimas pede pra eu voltar
Hoje o perfume eu não sinto mais
Meu amor já não me bate mais
Infelizmente eu descanso em paz!

Tudo era lindo no começo, lembra?
Das coisas que me falou que era bom, sedução
Uma história de amor
Vários planos, desejo, ilusão

E daí?
Não tinha nada a perder
Queria sair dali

No lugar onde eu morava
Me sentia tão só
Aquele cheiro de maconha
E o barulho de dominó

A molecada brincava na rua
E eu cheia de esperança
De encontrar no futuro a paz
Sem tiroteio, vingança

E ele veio como quem não quisesse nada
Me deu um beijo
E me deixou na porta de casa
Os meus olhos brilhavam
Estava apaixonada!

Deixa de ser criança! –
A minha mãe falava
Que no começo tudo é festa
E eu ignorava

Deixa eu viver meu futuro se pá,
Não da nada
Menina boba iludida
Sabe de nada da vida
Uma proposta, ambição
De ter uma família

Me entreguei até a alma
E ele não merecia
O meu pai embriagado
Nem lembrava da filha

Meu príncipe encantado
Meu ator principal
Me chamava de filé e eu achava legal
No começo tudo é festa
Sempre é bom lembrar!
Hoje estou feliz
O meu amor veio me visitar

Refrão

Numa atitude pensada sai de casa
Pra ser feliz
Não dever satisfação
Ser dona do meu nariz

Não agüentava mais ver
A minha mãe sofredora
Levar porrada do meu pai
Embriagado e a toa

Meu irmão se envolvendo
Com as paradas erradas:
Cocaína, maconha, 157

Ah, mas eu estava feliz
No meu lar doce-lar
Sua roupa, olha só!
Tinha prazer de lavar

Mas alegria de pobre dura pouco, diz o ditado
Ele ficou diferente agressivo, irritado
Chegava tarde da rua
Aquele bafo de pinga
Batom na camisa
E cheiro de rapariga

Nem um ano de casado,
Ajuntado sei lá
Não sei pra que cerimônia
O importante é amar

Amor de tolo amor de louco,
Que foi que aconteceu?
Me mandou calar a boca
E não me respondeu

Insistir foi mal, ele me bateu
No outro dia me falou
Que se arrependeu
Quem era eu pra julgar?
Queria perdoar
Hoje estou feliz
O meu amor veio me visitar

“Eu tava a 4 meses grávida, ele me deu uma surra tão violenta que eu caí, desmaiei, aí quando eu acordei eu tava numa poça de sangue assim, que tinha saído da minha boca e do meu rosto. Ele me catou assim pelos meus cabelos, me puxou e falou: Você vai morrer!”.

Quase 2 anos e a rotina parecia um inferno
Que saudade da minha mãe, desisti do colégio
A noite chega, madrugada,
E meu amor não vinha
Quanto mais demorava, preocupada,
Mais eu temia

Não estava agüentando aquela situação
Mas hoje tudo vai mudar ele querendo ou não
Deus havia me escutado
Há uns dois meses atrás
Aquele filho na barriga era esperança de paz

Tantos conselhos me deram de nada adiantou
Era a mulher mais feliz, o meu amor chegou,
Que pena! Novamente embriagado
Aquele cheiro de maconha Inconfundível, é claro.

Tentei acalmá-lo ele ficou irritado
Começou a quebrar tudo loucamente lombrado
Eu falei que estava grávida ele não me escutou
Me bateu novamente mas dessa vez não parou

Vários socos na barriga, lá se vai a esperança
O sangue escorre no chão,
Perdi a minha criança

Aquele monstro que um dia prometeu me amar
Parecia incontrolável eu não pude evitar
Talvez se eu tivesse o denunciado
Talvez se eu tivesse o deixado de lado

Agora é tarde, na cama do hospital
Hemorragia interna o meu estado era mal
O sonho havia acabado e os batimentos também
A esperança se foi pra todo sempre, amém!

Hoje meu amor implora pra eu voltar
Ajoelhado, chorando, infelizmente não da
Agora estou feliz ele veio me visitar
É dia de finados, muito tarde pra chorar.

“É muito importante que o limite seja posto pela mulher: Não vou aceitar uma situação de violência dentro da minha casa!”.

UMA ARTE: Jaqueline Miskalo


Deusas do Cotidiano (Por: Sérgio Vaz)

O nome dessas mulheres eu não sei,
Não lembro e nem preciso saber.

São nomes comuns em meio a tantos outros
Espalhados por esse chão duro chamado Brasil.

Mas a maioria delas eu conheço, e conheço bem,
São donas de um mesmo destino:
As miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos.
É quando a pobreza não é dor, é angústia também.

São as ladras de Victor Hugo.

Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de sonhos que escondem na gravidade da lei. Das trincheiras do ninho enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos pequeninos.

São as Quixotes de Miguel de Cervantes.

Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos.
Quando precisam, cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer que cravam no seu ventre. É quando o prazer humilha.

São as habitantes do inferno de Dante.

Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e os protegem da fome, do frio, e da vida dura e cruel que insiste em bater na porta dessas mulheres de panela vazia. Quanto aos reis, também são os mesmos:

Os covardes dos vinhos da ira.

Mágicas, esses anjos se transformam em rochas, quando a vida pede grão de areia.
Em flores quando rastejam e espinhos quando protegem.
Essas mulheres são aquelas que limpam tapetes, mas não admitem serem pisadas.
São domésticas, mas não aceitam serem domesticadas.

Sim, são as deusas do dia a dia.

Fonte: colecionadordepedras.blogspot.com

TRIBUTO AO SABOTAGE

06 anos sem o Maestro do Canão

O cartel do Rap está organizando um tributo ao imortal rapper Sabotage. Ele foi assassinado no dia 24 de janeiro de 2003, deixando muita saudade para os ouvintes de Rap. Sabotage foi um artista ímpar e deixou apenas uma obra lançada em vida, o Cd O Rap é Compromisso. Levou a favela para o cinema nacional participando de dois filmes: O Carandiru e o Invasor, no qual participou da criação da trilha sonora e foi premiado em Brasília. Sabota estava em estúdio preparando músicas para seu próximo álbum e em breve os manos e minas poderão ouvir um cd novo, com músicas que ele já tinha passado a voz guia. Na Internet tem várias músicas do Sabotage que não saiu no cd Rap é Compromisso. Entre elas participações com RZO, Charlie Brown Jr e até com o Sepultura. A galera que colar no tributo poderá ouvir essas músicas e assistir a dezenas de vídeos do nosso mano Sabotage.

21 de março / a partir das 22:00hs / R$ 5,00 / Casulo Rock Bar
(R. Belarmino de Mendonça, com Av. das Cataratas, próx. ao Muffato Boyci)

*Uma parte da bilheteria será destinada à compra de chocolate para a
páscoa de crianças carentes de Foz.

POR AQUI: 2 ANOS SEM O DJ TUNDA

Dj Tunda foi integrante do grupo Mandamentos da Rua de Foz do Iguaçu. Foi assassinado em 21 de fevereiro de 2007 em Santa Terezinha de Itaipu. O mano trabalhava na Vertical Hip-Hop. No cd do seu grupo deixou uma faixa com scratchs e colagens.

HIP-HOP PARANAENSE

O grupo de Paysandu, Pr, anuncia o fim dos dias. Pra quem já é fã das músicas do Thiagão ele acertou a fórmula novamente e lança esse álbum, um dos melhores do cenário paranaense. Algumas músicas já estavam sendo cantadas em seus shows antes do lançamento como Tático assassino parte III e Todo finado tem mãe. Esse álbum vem para emplacar o grupo no cenário do Rap Naional. Uma das faixas conta com a participação do rapper paulista Douglas do grupo Realidade Cruel. Faz seu corre e garanta o seu. Contato: (44) 9908-7689 / (43) 9974-8147.

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Luto Decretado dá o seu depoimento nesse single que vem com 5 faixas. Pra quem gosta do estilo gangsta dos mais pesados esse cd é um prato cheio. A começar pelo título das letras: Ladrão é ladrão PM é PM, A vida bandida, Registrando o pesadelo. O grupo é formado por Mano Elias, Mano Xanddy e Dj Caverinha e faz parte do Cartel do Rap de Foz do Iguaçu. O cd foi gravado em Foz do Iguaçu, mas atualmente eles estão morando em Cascavel. Eles já haviam gravado um single antes, quando outros manos faziam parte do grupo. Contato: (45) 9954-3375.

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RDR – Retrato das Ruas

Com esse álbum “Qual Lei Você Segue?” o grupo retrata o que acontece nas ruas. Os sons passeiam entre o Gangsta e o Gospel deixando mensagens positivas contra o consumismo, a criminalidade, a politicagem, a patifaria e a trairagem. O grupo que é nativo da cidade de Cambé, Pr, já está há 9 anos na correria. Mas precisamente da Zona Leste de Cambé os Manos Max, Márcio e Rick lançam esse ótimo álbum com várias participações: Pesadelo Atual, Gueto Gospel e IML.
(043) 3523-5487 / (043) 8421-8912 /

HIP-HOP PARANAENSE

O DVD contém 10 Vídeos Clipes, todos produzidos em PG. Os vídeos são dos grupos: Esquadrão de Elite, Raciocínio Engatilhado, Dprimus, MC'A', DDR, Federação Repúbli-k, Vigília Negra e Ponta Rap. Conta ainda com vídeos do elemento Break e Grafite.
Para adquirir o DVD acesse o site:www.hiphoppg.com.br
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MANOS XAPIROS RAP’S

O grupo formado por Mc Carlão e Jhon é da cidade de Sarandi, Pr. O CD traz dez faixas com destaque para os raps românticos (a lá Sampa Crew): Admirador secreto, Medo de te amar loucamente e Me perdoe pela falha.
O cd ainda narra o cotidiano do gueto, as drogas e a criminalidade.
Contato: (44) 9959-8357xapiros@hotmail.com


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VERSO AGRESSIVO

TENDÊNCIA SUICIDA
Direto de Cianorte, um dos expoentes do Rap do interior paranaense. No melhor estilo gangsta o grupo vem abrindo caminho e se apresentando em diversas cidades do Paraná. Destaque para a faixa título do CD (Tendência Suicida). Outras boas canções são: Assassino ou Vítima, Persistir pra Conquistar e Eu to Errado. O trampo Tendência Suicida é do ano de 2005 e o grupo está finalizando o novo álbum intitulado: O Religioso Profano.
O CD Tend~encia Suicida está disponível na Internet para download.

5° NAIPE FAZ SHOW NO CIDADE NOVA

O show aconteceu na noite de 24 de janeiro e foi organizado pelos irmãos de uma igreja evangélica localizada na Av. Garibaldi, no Cidade Nova. O palco foi montado na rua e uma galera colou pra prestigiar. A igreja não tem nome e na maioria das vezes quem dava a palavra no microfone era a juventude. É o diferencial dessa igreja para atrair os jovens. E foi com esse intuito que convidaram o grupo de Rap Gospel de Foz do Iguaçu 5° Naipe para realizar um show. O grupo já é sucesso na cidade com seu primeiro trabalho Entre Cédulas e Pétalas, gravado em 2007 e relançado em 2008 com 02 faixas bônus. O show rolou na Santa Paz e o Mc Rivaci aproveitou que tinha bastante evangélicos presente para falar do preconceito que o Rap sofre até por parte dos cristãos. Disse que o Rap pode ser usado de várias formas, até para transmitir a palavra do Senhor. O grupo cantou todas as suas canções fechando com a música Algo Especial. Mesmo sem o Thiago Mattos estar presente improvisaram chamando o público pra cantar junto. Para finalizar o pastor pegou o microfone e fez uma oração. Naquela noite a Cidade Nova dormiu tranqüila.

Contato 5° Naipe: 3524-8148

CASULO ROCK BAR REALIZARÁ FESTIVAL SOLIDÁRIO DA PÁSCOA

No final do ano o Casulo Rock Bar realizou o Festival Solidário de Natal onde arrecadou brinquedos que alegraram o Natal de crianças carentes da nossa cidade. Um Papai Noel muito loco com camisa de banda de Rock distribuiu os brinquedos pras crianças do bairro Aparecidinha, localizado na área rural de Foz do Iguaçu. Dessa vez a idéia é distribuir ovos de páscoa para a criançada. O Festival Solidário de Páscoa acontecerá nos dias 03, 04 e 05 de abril. O ingresso custará R$ 5,00 e uma barra de chocolate para ovo de páscoa. Quem quiser saber quais as bandas que tocarão no evento podem acessar a Comunidade do Casulo Rock Bar, no Orkut. O Casulo (Bar da Cris) fica localizado na R. Belarmino de Mendonça, com Av. das Cataratas, próximo ao Muffato Boyci.

DVD Espaço do Rap Paraná Vol. II

Os manos e minas pegarão a estrada em destino a Toledo onde acontecerá o show para gravação do segundo DVD Espaço do Rap Paraná. Nessa edição os grupos convidados foram: Atitude Consciente, MPC 288 e Pensamento Racional (Campo Mourão); Alvos do Sistema e G Force (Toledo); Mandamentos da Rua, DNA do Rap, Gangsta Crime e ADP (Foz do Iguaçu); Resistência (Rolândia); Versão Criminal e Visão Periférica (Cascavel). O show contará ainda com uma balada comandada por Djs da região. O show que vai acontecer dia 14 de março a partir das 21:00 hs tem a organização dos manos do Grupo Alvos do Sistema e será apresentado pelo Mestre de Cerimônias Mano Zeu de Foz do Iguaçu.

PIÃO DE VIDA LOKA


O Cartel do Rap organiza o primeiro Pião de Vida Loka. A intenção é reunir a galera na praça para dançar Break e fazer Freestyle, usando o espaço da praça, que é um espaço do povo. Essa primeira edição acontece na sexta do dia 06 de março a partir das 20:00hs na Praça do Mitre, Centro. O Pião será fora do padrão, quem chegar e quiser dançar pode dançar, quem quiser rimar e mandar sua idéia também. Vamos sair das nossas quebradas onde não tem praça e nem espaço de lazer e vamos invadir o centro para praticar nossa arte e tirar um barato com os irmãos. O Movimento Hip-Hop em São Paulo começou assim na Praça Roosevelt e Estação de Metrô São Bento.

Confusão histórica marca dia 8 de março

Segundo a pesquisadora Eva Blay, do Nemge - USP - o Dia Internacional da Mulher, que passou a ser comemorado mais intensamente na década de 60, é marcado por controvérsias históricas. Para ela, algumas citações sobre a data são feitas sem uma consulta adequada.

Dia Internacional da Mulher: fatos e mitos

O dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, é constantemente associado a uma proposta da líder comunista alemã Clara Zetkin, feita em 1910, durante o II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, ocorrido em Copenhague, para lembrar operárias mortas num incêndio que teria ocorrido em Nova York, em 1857. Segundo a socióloga Eva Alterman Blay, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e coordenadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações de Gênero (Nemge), "o acidente de 1857 não aconteceu" e, durante o Congresso, a líder comu-nista propôs um Dia Internacional da Mulher, porém, sem definir uma data precisa para as comemorações.

"O dia 8 de março baseia-se em fatos históricos diferentes daqueles que são freqüentemente repetidos sem uma consulta adequada", afirma. De acordo com Eva Blay, o incêndio relacionado ao Dia Internacional da Mulher é o que ocorreu no dia 25 de março de 1911, nos EUA, na Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo), uma fábrica têxtil que ocupava o oitavo, o nono e o décimo andar de um prédio. A Triangle empregava 600 trabalhadores, a maioria mulheres imigrantes judias e italianas, com idade entre 13 e 23 anos. Fugindo do fogo, parte dos trabalhadores conseguiu alcançar as escadas descendo para a rua ou subindo no telhado. Outros desceram pelo elevador. Mas a fumaça e o fogo se expandiram, e muitos trabalhadores pularam das janelas para a morte. Algumas mulheres morreram nas próprias máquinas. Houve 146 vítimas fatais, sendo 125 mulheres e 21 homens. No funeral coletivo ocorrido dia 05 de abril compareceram cerca de 100 mil pessoas. No local do incêndio está construída uma parte da Universidade de Nova York, onde consta a inscrição: "Neste lugar, em 25 de março de 1911, 146 trabalhadores perderam suas vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triangle. Deste martírio resultaram novos conceitos de responsabilidade social e legislação do trabalho que ajudaram a tornar as condições de trabalho as melhores do mundo."

Segundo Eva Blay, é muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da comemoração do Dia Internacional da Mulher pela luta por elas travada. Mas o processo de instituição de uma data comemorativa já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há alguns tempo, e foi confirmado com a proposta de Clara Zetkin em 1910. "O dia 08 de março passou a ser comemorado mais intensamente na década de 60, após o fortalecimento do movimento feminista, quando também passaram a ser discutidos problemas da sexualidade, da liberdade ao corpo, do casamento e dos jovens", relata. Embora não se conheça com precisão por que o dia 8 de março foi escolhido, o fato é que ele se consagrou ao longo do século XX. A consagração do direito de manifestação pública veio com o apoio internacional, em 1975, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data como o Dia Internacional da Mulher.

Fonte: Agência USP de Notícias. Mais informações: ( (0xx11) 220-9505

COISA DE ALMA (Por: Pedro Almeida)

Na edição passada, falamos do caminho que teve a dança de rua em nosso país, que quando tudo começou ninguém sabia o que era o que e ninguém falava a mesma língua mais o loco é que no Tio Sam não foi diferente.
Logo após o grande crack onde começaram a aparecer as primeiras manifestações da arte negra na rua, como blues, jazz, tap, e algumas danças sociais como o charleston, as pessoas, espectadores e participantes, começaram a se perguntar o que era tudo aquilo, por partes dos que estavam envolvidos em todo esse movimento começaram a chamar uns aos outros de Soul Brothers, (irmãos de alma). Dessa forma todos que participavam de arte negra de rua, na música, na dança, ou até mesmo indiretamente por fazerem suas artes onde suas habilidades vinham de sua alma, aderiram ao nome Soul Brothers. Logo a mídia e o público criaram um grande movimento cultural chamado SOUL (alma). Assim os irmãos não estavam muito preocupados com nomenclatura ou plástica, o que importava era a arte que vinha da alma. Não interessava se era dança ou música, o importante era apenas o movimento Soul. A diferença é que todos os irmãos respeitavam a diferença que havia em cada manifestação artística, Já aqui a galera aprendeu primeiro a cantar ou dançar e foram aprender mais tarde que o verdadeiro significado é O FILLING e o Soul.

(Pedro Almeida é estudante de danças urbanas em Foz)
Meeting de valinhos www.meetinghiphop.com.br

IDÉIA PRA PERIFERIA

Idéia do Bairro (Por: Mano Edo).

VII - A Luta Continua

A luta continua, os meninos vão sem destino ao centro e começam a coletar recicláveis, por todas as ruas: Brasil, Jk, Jorge Schimmelpfeng, Almirante Barroso e outras ruas próximas. Então voltariam, no caso, quando o carrinho estivesse cheio. Mas antes de o carrinho estar cheio Gugu pensa maldade e executa; viu uma senhora saindo de um banco; de aparência velha (idosa), que foi buscar a sua aposentadoria no banco; Gugu fez como nas Olimpíadas, passou correndo e fez um “cavalo louco” na tiazinha de idade. Se fosse competição ninguém ganharia de tanto que correu. Quando chega perto do Boyci, em frente a Guarda Municipal, há um bar de nome Urbanus Bar. Gugu pede se pode ceder um copo com água, pois estava com muita sede; tomou e saiu novamente rápido. Chegando na curva do Boyci indo no sentido do Porto Meira Gugu é abordado por uma viatura da PM e com os policiais estava a senhora chorando querendo sua bolsa. Como é a caminho do CIAAD a viatura seguiu em frente e levou o adolescente até o Centro Integrado de Atendimento ao Infrator Adolescente para uma denúncia. Gugu ficou algumas horas preso em uma salinha e levou uns tapas pelo roubo que cometeu; logo foi liberado, porque era a primeira vez que foi preso. Em passos chega até a Avenida Safira. Hora se lamenta pela grana, hora se glorifica pela liberdade. E quando Gugu chega à esquina da Av. Safira com Chavier Koelb encontra Gustavo com o carrinho cheio e com altos cobres e latinha de alumínio.

(Mano Edo é B.Boy e estudante de letras em Foz do Iguaçu)

SONHO NÈGRE (Por: Mano Adão)

Esses últimos dias fiquei muito feliz, sabe porque?
Porque eu estava conversando com uma moça de pele branca e no meio da conversa ela falou que queria ser morena. Eu perguntei o porquê. Ela respondeu:
“A cor morena não mostra a idade e também tem vários talentos e dons naturais.
Foi a cor negra quem inventou o carnaval, o samba, futebol, capoeira, Funk, Rap etc.
Tudo que vocês inventam pega”, ela falou para mim que queria ser como nós.
Eu perguntei por que, se nós sofremos bastantes preconceitos por todos os lados.
Ela respondeu que apesar dessas dificuldades nós não desistimos nunca, estamos sempre lutando. E continuou: “apesar de eu ser branca minha descendência é negra, eu tenho sangue negro, mas fico chateada”. Eu pergunto porquê. Ela responde:
“Eu queria ser negra por dentro e por fora”.
Chego a uma conclusão. A cor negra tem muito valor, nós somos pedra nos calçados de muita gente, só queremos conquistar nosso espaço da maneira certa sem prejudicar ninguém e nós não tapamos o sol com a peneira, nós somos espinhos na roseira, com a gente se quiser comer mel vai morder bunda de abelha.
Porque nós somos Negros. Isso que é um sonho Nègre.

(Mano Adão é B.Boy e arte-educador em Foz do Iguaçu).

LUA DESUMANIZADA (Por: Carol).

Na foto, o bebê nascido na África mama no peito seco e murcho de sua mãe. Sua mãe não sabe o que é comida desde que seu filho nasceu. Ela, com seu corpo magro, sofre com a desigualdade social. Sem sapatos, os pés voltam do canavial cansados como os braços, calejados como as mãos e pesados como os olhos. Depois de um dia exaustivo de trabalho chega em casa e prepara um prato de calango para dividir com seus filhos. Esses pés e essas mãos brasileiras também sofrem com as diferenças sociais.

O homem do campo de punhos fechados e peito aberto encara o homem fardado que empunha um rifle. O homem do campo sujo e faminto luta por seus direitos enquanto o homem de farda luta em defesa do homem de terno e dinheiro no banco. O homem do campo sofre com as diferenças sociais.

O mendigo abaixou suas calças e ficou de cócoras. Há horas ele está ali perto do meio-fio, mas ninguém se importa. A sensibilidade perdeu seu lugar para o dinheiro.

O cadeirante sofre com a falta de acessibilidade. Além de sua limitação física sofre a limitação imposta pela sociedade excludente. Eles também sentem dolorosamente as diferenças e desigualdades sociais.

O homem inventa e reinventa seu mundo. Cansado deste, passa para um planeta casto, onde inventa e reinventa e desumaniza ainda mais.

(Carol é estudante de letras em Foz do Iguaçu).

óIA sÓ (Por: Lizal)

NAS ANTIGAS:

17 de abril de 2002 / protesto do MST na Ponte da Amizade.
Em memória aos 19 militantes mortos no dia 17 de abril de 1996 em Eldorado dos Carajás (PA). A ponte ficou fechada por 40 minutos e umas 1000 pessoas aproximadamente participaram do protesto.
Protesto organizado pela Comunidade Árabe de Foz do Iguaçu em abril de 2002 contra a ofensiva de Israel em terras palestinas.


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Do Livro Falcão, Mulheres e o Tráfico:

Mv Bill e sua equipe está em uma comunidade na véspera de Natal. Está rolando uma festa com distribuição de brinquedos para as crianças. Ele está conversando com a “Dona” da favela. Ela inovou o trabalho dos falcões. Ao invés de soltar rojões, foi instalado nos postes uma campanhinha controlada por controle remoto, se os policiais subissem o morro era só acionar o alarme e dar um toque pelo rádio amador. Quando estão ali conversando sobre a comunidade o alarme soa e a rapa se prepara pra dar no pé, quando ela avisa:

- Muita calma, eles só estão subindo pra pegar o danoninho deles.


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Orçamento Mundial (Gastos em dólar):

Armamentos: 80 bilhões / Fumo: 40 bilhões
Publicidade: 25 bilhões / Cerveja: 16 bilhões
Vinho: 8,6 bilhões / Golfe: 4 bilhões
Total do necessário para satisfazer as necessidades elementares de saúde, educação e alimentação de todas as crianças do mundo: 3,4 bilhões.

(Mylton Severiano pergunta: Mundo muito doido não? Ou será que doido é você achar que podiam raspar 4 bilhõezinhos das armas para dar às crianças?).


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A obra A Sangue Frio de Truman Capone foi um marco na literatura de não ficção. Os romances de não ficção são narrados com fatos reais e seu livro conta a história de um assassinato ocorrido nos EUA. Um jornalista brasileiro – após ler a obra – escreveu: “Nem tudo no livro é verdade, mas tudo é verdadeiro”.

(Entendeu).


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Li o livro “Vermes, uma comédia política” de José Roberto Torero e Marcus Aurélius Pimenta. O livro – como sugere o título – fala de vermes e políticos. Fiquei impressionado como os vermes são sangue bom, divertidos e inteligentes. Já os políticos...

(Esse livro vai pra minha lista de vale a pena ler de novo).

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É BOM SABER!!!

* Nos Estados Unidos, a indústria da carne causa mais poluição da água do que todas as outras indústrias juntas.
* Do total do solo cultivável nos Estados Unidos, 87% são utilizados para criação de animais de corte.
* A criação de animais de corte consome mais da metade de toda a água usada nos Estados Unidos.
* São destruídos 200 km² de florestas tropicais por ano, para criar espaço destinado à criação de animais.
* A criação de animais para servirem de alimento utiliza mais de um terço de toda a matéria-prima e combustível fóssil consumidos nos Estados Unidos.
* Por ano, mais de 25 bilhões de animais são criados e mortos pela indústria da carne.

(Essas e outras informações podem ser lidas em: www.goveg.com).


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O Canibal Vegetariano:

Só come a batata da perna.

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Música do grupo TSG:

Mulher é pra Malandro
Não pra loke de Internet.

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CARNAVAL:

Uma perfeita forma de dominação autoritária: a “felicidade”. Mas é interessante como ainda se insiste em criticar a Bahia. É claro que é só inveja da genialidade do projeto baiano. Enquanto o resto do mundo se esforça para dominar as massas seja pelo capitalismo, socialismo, a guerra, a evolução, até o consumo, eles não... eles só fazem o suficiente para gerar felicidade. Mantém todo mundo pobre, coloca um som pra tocar e pronto. Tudo bem que eles sejam gênios; mas porque os que não querem ser felizes são obrigados a participar? Se todo mundo prefere ficar feliz, porque a gente não desiste de vez da bandeira da ordem e progresso e assume definitivamente essa ficção barata da felicidade moribunda, podre, mijada; essa imagem aprimorada da brasilidade enlatada que é boa pra todo mundo. (...) A que serve se fantasiar de ouro e prata e desfilar em uma rua fechada. Quase como um curral. Ladeada por camarotes onde continuam a estar seus senhores. O que resta são alguns segundos de glória, o suficiente para sentir e se convencer de que a dominação é importante. Não que goste de ser dominada, mas por uma cumplicidade diante do prazer de dominar. A esperança de um dia poder ser de alguma forma senhor, faz com que seja suportável a dominação.

(Do filme Cronicamente Inviável de Sérgio Bianchi).

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A Panasonic, empresa japonesa, anunciou a demissão de 15 mil trabalhadores e fechará 27 das suas unidades no mundo todo. A Pioneer, também do Japão, irá fechar fábricas na Europa e EUA e demitir 10 mil funcionários.

(É o capitalismo na UTI).

ABALANDO AS ESTRUTURAS DA ARTE DE RUA








Entrevista com os mentores dos ataques à Bienal e a Invasão da Faculdade de Belas Artes. (Por: Alexandre de Maio).

Eles abalaram as estruturas das artes plásticas e do Street Art, logo eles, que sempre foram considerados vândalos, sem valor artístico, discriminados por muitos críticos. Só que em 2008 as ações dos pixadores se revelaram uma das coisas mais interessantes no universo das artes. Eles atacaram a Faculdade de Belas Artes, a Bienal de São Paulo, a Galeria Choque Cultural e ainda acirraram as disputas com os grafiteiros pelos espaços da cidade. Buscando respeito e atenção eles mantém vivo o protesto dentro da cultura da pixação. Eles têm história, têm propósito, e vão muito além de tinta na parede. Numa troca de idéias no Vale do Anhagabaú, Centro de São Paulo, entrevistamos um dos mentores desse movimento, conhecemos as motivações, a história e a verdade por trás dos ataques.

Tudo começou com o ingresso de um dos pixadores na Faculdade de Belas Artes. “O primeiro ataque foi o TCC do Rafael, que é um cara que é pixador e da periferia. Ele conseguiu uma bolsa de estudos na Belas Artes através de um trabalho que fez lá. Quebrou o braço, ficou desempregado e a faculdade foi obrigada a dar a bolsa integral para ele. Nesses quatro anos de faculdade, ele defendeu como tese artística a Pixação, e tinha, no final do curso, de apresentar um trabalho prático, e o que ele achou de mais verdadeiro foi levar a galera pra pixar a faculdade, dentro do contexto da pixação. Ele não avisou ninguém. Foi o trabalho dele de conclusão dentro do contexto do movimento. Sem perder a essência, ele foi e chamou a maior galera. Chegamos lá, invadimos e pixamos tudo, e o moleque foi reprovado e expulso. Foi aí que começamos a tirar as mascaras, mostramos que uma instituição de arte não agüentou com a tinta”, revela Cripta.

Depois dessa reação da faculdade, a história tomou forma e conteúdo, e os novos ataques foram à Galeria Choque Cultural, famosa por exposições de grafiteiros, e a Bienal Internacional de São Paulo. “O motivo do ataque à Bienal e à Choque Cultural foi defender a pixação como manifestação artística, mas sem perder a essência dela. O que aconteceu na galeria e na Bienal foi um deslocamento de contexto. A gente levou a pixação, que é uma arte da rua, uma arte da ilegalidade, para dentro da galeria e da Bienal, mas sem perder o contexto dela, que é a ilegalidade. Se a gente fosse convidado a pixar lá dentro, perderia todo o contexto”, explica. Travando uma luta de conceito com a arte de galeria, a pixação segue o caminho oposto ao do Graffiti. “A pixação não vai ser domesticada, como o que aconteceu com o Graffiti. O objetivo desses ataques também é mostrar isso, que eles podem até levar a estética da pixação para dentro da galeria, escolher meia dúzia de pixadores que não entendem nada e achar que é legal. Mas é só a estética mesmo, porque a essência do movimento só tem como se manter dentro da ilegalidade”, revela, com ar de desafio.

A Galeria Choque Cultural, que contribui para o sucesso de grafiteiros na cena mundial das Artes Plasticas, também não foi perdoada. “O dono da Choque Cultural, o Baixo Ribeiro, andava declarando que a galeria era underground, que representava a arte das ruas, que não tinha nenhum problema, então, a gente promoveu uma exposição da ilegalidade, e aí caiu a mascara da Choque Cultural, porque eles não entenderam e levaram para o outro lado, prestaram queixa crime. Como é que uma galeria que se diz underground e ganhou de presente uma exposição da ilegalidade, recusa dessa forma? Então, foi mais uma máscara que a gente tirou também”, afirma. Enquanto as galerias eram atacadas, o apoio era total, mas o aumento da cultura e as brigas por espaço na cidade também ficaram mais duras, e uma das ações dos pixadores foi atacar alguns pontos de Graffiti, como o Beco da Vila Madalena e a Avenida Paulista. Será que existe uma guerra entre grafiteiros e pixadores,irmãos na arte de rua? “O graffiti e a pixação sempre tiveram uma relação muito delicada. Alguns grafiteiros não respeitam a pixação, e vários pixadores não respeitam o Graffiti. No caso desses ataques, foi uma coisa pensada, para atingir o movimento de uma forma geral, uma espécie de alerta para os grafiteiros se ligarem que eles se renderam ao sistema. O Graffiti quando nasceu era ilegal, foi como a pixação, cada um buscava seu espaço dentro da ilegalidade. Aí, o Grafitti começou a ser usado como ferramenta para combater a pixação. As autoridades e a sociedade começaram a ver que os grafiteiros tinham o respeito dos pixadores, e começaram a usar isso para combater a pixação. Muitos grafiteiros se omitiram, se deixaram levar pelo dinheiro e acabaram se vendendo. Eles estão perdendo totalmente o respeito da galera, e esse ataque aos graffitis foi uma espécie de alerta, para os caras se ligarem em tudo, não entrar em qualquer fria, não ir para qualquer coisa que forem chamados. E também para buscar o espaço deles na ilegalidade, como o pixador busca. Não existe uma guerra, mas existe uma disputa de espaço. Mas essa disputa está sendo covarde por parte dos grafiteiros, que se aliaram ao sistema, à sociedade, eles se renderam ao sistema. Eu não posso ser específico, pode ser que aconteça uma guerra e a gente não sabe. O que rolou agora foi um alerta, tem muito pixador que não gosta de Graffiti porque os caras apagam os trampos”.

A discussão nas ruas continua, e na internet o seguinte texto foi divulgado pelos grafiteiros: “Ninguém deve atropelar o trabalho do outro, seja Graffiti ou pixação. Também é preciso lembrar que muitos grafiteiros que deveriam respeitar agendas e diversos rolês, não fazem isso, e talvez este momento seja oportuno para reclamar sobre esses atos com quem os pratica”, Diz o texto sem identificação, que acaba dando razão, em parte, aos pixadores. O Graffiti ganhou espaço, deixou um pouco a ilegalidade de lado e ganhou o respeito da sociedade, mas em termos artísticos, a pixação segue outros caminhos. “O caminho da pixação é se manter dentro da ilegalidade, porque vem da época da ditadura militar, e veio tomando outras formas. Essa pixação que a gente faz hoje em dia começou com a galera que ouvia Punk Rock, Hardcore, que tinha muita coisa de protesto nas músicas, e o pessoal saia pra pixar também pra protestar. Só que começou a virar uma parada de gangues, de disputa de espaços. O que aconteceu é que no decorrer desses vinte anos de movimento, a pixação ficou focada mais na vaidade do pixador, no seu ego, e foi perdendo aquele cunho político de protestar. A intenção dos ataques foi resgatar esse lado que estava esquecido, esse lado do protesto”.

Mas os ataques não são unanimidades entre os pixadores. Grandes nomes das antiga se pronunciaram contra, dizendo que tudo isso só serviu para atrair a atenção da polícia. “Tem muito pixador que não enxerga um palmo à frente do nariz, só pensa em si mesmo. Tem cara que acha que essas paradas vão arrastar a pixação, porque, de repente, tem o pensamento de que a pixação vai ser aceita, como o Graffiti foi. Isso tudo acontece para mostrar o que? Pra ficar na rua só quem é, porque o cara que tem medo da repercussão que os ataques estão tendo, vão deixar de pixar, e isso é bom também, porque aí vão ficar só os verdadeiros, só o pessoal para bater de frente mesmo, porque pixação é resistência, não tem hierarquia, não impede nada”, rebate o ativista.

Nos ataques à Bienal estava escrito “Abaixo a Ditadura”. “Ditadura não se enquadra só em ditadura militar, ela se enquadra em tudo que é ditado, porque a burguesia está acostumada a ditar o que é arte. Quem organiza a Bienal? É a burguesia, são os burgueses. Então, eles estão acostumados a ditar o que é arte e a reduzir a pixação ao vandalismo. Abaixo a Ditadura foi contra a ditadura da arte, e existem várias formas de ditadura dentro da arte. Nosso abaixo a ditadura na Bienal foi contra tudo isso aí, ditadura da arte e a ditadura camuflada em que a gente vive”.

(Fonte: Revista Cultura Hip-Hop n° 04. Adquira a revista e leia a matéria completa).



O PROGRAMA POLICIAL E A HORA DO ALMOÇO (Por: Luiz Henrique Dias da Silva )

Fui muito cruel com meus costumes quando decidi não ter mais televisão em casa. Mas, um ano depois, começo a colher os frutos de minha opção, pois percebo que a falta de um contato diário com a TV torna o ser humano mais sensível as mudanças do mundo. Quando ficamos parados, hipnotizados com a programação, nos tornamos apáticos aos fatos, cada vez mais corriqueiros e comuns em nossas vidas. As mortes não causam mais medo e se tornam normais. E isto me espanta. Lembro-me de ouvir comentários do tipo “o acidente nem foi tão grave. Só morreu uma pessoa” ou “o programa de hoje está fraco, o bom mesmo é o de segunda. Final de semana é cheio de homicídio”.

A vida vai seguindo e as tragédias se tornam notícias que meia hora depois não tem mais relevância em nossas vidas. Certa vez li um livro do jornalista José Arbex Júnior chamado Showrnalismo que mostrava, entre outras artimanhas da mídia televisiva, as táticas na hora de elaborar a seqüência de apresentação dos fatos, a fim de criar determinadas impressões no público, sempre de acordo com a intenção a transmitir ou com a ideologia do dono da emissora e de seus amigos. O fato é que minha experiência sem televisão em casa, me limitando há apenas poucos minutos por semana (ou por mês), me transformaram em um crítico voraz deste costume imposto e num defensor do limite diário de mídia como forma de reconstrução da vida comunitária. Na faculdade de Arquitetura e Urbanismo fui muito criticado ao abolir a sala de TV dos projetos residências ou a abrir mão das horrorosas e desumanas cozinhas com televisão que, em minha opinião, só servem para corromper ainda mais os laços familiares nesta sociedade cada vez mais individualista.

Pois bem, na última quarta-feira estava eu com muita fome e resolvi procurar um local para almoçar. Optei por uma pequena lanchonete que costumo freqüentar em uma galeria comercial no centro da cidade. O local é limpo e tem um prato feito barato e muito gostoso. Pedi minha refeição, uma água mineral com gás e me sentei numa mesa de frente para uma televisão desligada. Fiquei reparando, como de costume, as pessoas ao meu redor até que um senhor se levantou e disse para a moça que servia os pratos “coloca no canal 'tal', vai começar o programa”. E ela seguiu a exigência do freguês. Confesso que me interessei, pois há muito tempo não via televisão e achei que não seria de mal assistir um pouco enquanto esperava meu prato. Foi então que pude relembrar como é triste ver a banalização da vida na tela da grande mídia (seja ela local ou nacional).

O programa que mostra transforma a criminalidade como moeda de mídia, se diz defensor do povo e contra a violência urbana quando, claramente, depende desta para viver. Os quadros são dispostos intercalando mortes, pequenos furtos e comerciais. Os crimes mais bárbaros ficam para o final e, acredito eu, os comerciais mais caros também. Naquele dia pude acompanhar o caso de um homem que supostamente (pois não confessou) havia furtado uma máquina de cortar grama. O repórter, que também apresenta, tirou sarro do acusado. Ria e o chamava de “sortudo”, pois este alegava ter “encontrado” a máquina. Ao que sei, somos inocentes até a prova do contrário. Mas o direito do cidadão não foi respeitado. Algemado, sua imagem foi mostrada. Virou motivo de risadas na lanchonete (e em toda cidade) e depois, para piorar o desrespeito com o “acusado”, no comentário após o final da reportagem,o apresentador/repórter
apresentou a tese que o rapaz havia roubado para comprar crack, intitulado de “pedra da morte”, mesmo sem o preso se quer assumir o furto. Por fim, a matéria acabou com um alegre informe publicitário feito pelo próprio apresentador/repórter/garoto-propaganda.

Acredito que a sociedade tem o direito de julgar quem vai contra a lei, da mesma forma que o acusado tem o direito a defesa. Se nós não respeitamos o direito dele, como queremos que ele respeite o nosso?

(Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e comunista (convicto). Ele afirma que em sua casa não há televisão. A explicação para isso, segundo o Luiz, é o combate ao poder alienante da mídia sobre a vida das pessoas e noção de que, na maioria das vezes, a televisão transforma os seres humanos em papagaios. “É o chamado 'senso-comum'” – diz o Luiz. Nós acreditamos que o Luiz está de frescura).

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

FESTA NA CASA AMARELA - *Ninguém quis lavar a louça.


Aconteceu no dia 27 de fevereiro na Vila A uma das festas mais loca da história de Foz. A diversidade cultural marcou esse evento organizado pelos manos da Troupe Luz da Lua. O som eletrônico ficou por conta dos Djs: Caê Selector fez seu repertório dando um rolê pelo Reggae, Dub e outros sons locos que animou a galera naquela noite de sexta-feira. Além do Dj Toninho, colou diretamente do Paraguai Juan Sound Sistem, tornando a festa mais eclética. Uma das atrações do evento foi as apresentações circenses da Troupe Luz da Lua. Trapézio, Cubo, Fita e malabares – com e sem fogo – arrancou aplausos da galera.

O Hip-Hop ficou por parte da Banca CDR. Mano Zeu, Santiago, Fernando e Guilherme cantaram suas músicas mostrando um pouco do Rap “Mad in Foz”. Os manos do Cartel do Break giraram no chão e mostraram a arte da dança de rua. A festa foi Underground até o osso, a começar pela decoração muito bem feita, que contou até com uns archotes do lado de fora.
Algo que chamou a atenção pra esse evento foi o flyer que anunciava: Banda “Os Quem Lava Louça”. A galera ficou até o final da festa para ouvir o som dos malucos. A banda tocou até som do Chico Buarque e outras músicas psicodélicas.
Eu – assim como a maioria da galera – saí antes da última música pra não ter que lavar a louça.




Cartel do Rap no site da Guatá. A Favela Agradece!!!


Fanzine iguaçuense faz aniversário fiel às origens.
“Movimento do hip-hop e comunidade underground de Foz do Iguaçu comemora o quarto aniversário do Fanzine Cartel do Rap. O zine chega a sua edição de número 45 com um invejável histórico de originalidade, liberdade, diversidade e contestação. Sem maquiagem e com muita garra os colaboradores do veículo apresentam de forma humilde que as mudanças são possíveis”. (...) “Os protagonistas das tramas literárias apresentadas no “Cartel” são inevitavelmente pessoas com o nome de José, João, Maria ou, ainda, figuras que sustentam os mais prosaicos apelidos e sonhos, numa mistura de fatos reais e ficção. Esses personagens têm força entre os leitores porque espelham uma vida comum àquela dos muitos colaboradores do veículo. Melhor dizendo o fanzine é uma sincera narrativa da periferia iguaçuense”. (...).

*Veja matéria completa no site da Guatá: http://www.guata.com.br/

Poesias e Pensamentos

Eu, Joanna

As palavras não surgem,
Não brindam,
Não rugem.
Prostram-se
Caladas,
Nas bocas
Fechadas.
Espaços mudos
Do nosso ser.

Reluto
Armada,
Dos pés à cabeça,
E de Joanna roubo
A echarpe de ferro
E o cinto do clero
Que ela não queimou.
Avanço o limite
Do chão.
Pedregulho
Que Afrodite
Pisou.

Encanto-te a alma,
E guardo na calma
Tuas chaves
De rei.
E na fogueira
Da cama
Saio ilesa.
Você, poder deposto,
Me acaricia o rosto,
E solta-me as mãos.

(Ana Peluso)

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As estações
A lua e suas fases
As lutas
Os deuses e seus milagres

Os dias
As opções que nos oferecem
Os meses
As riquezas pr'os que não merecem

As flores
As cores do nosso caminho
As dores
As regras no pergaminho

Os motivos
Todas nossas razões
As lideranças
Que obstruem nossas direções.

As mudanças
Que demoram a chegar
As mudanças
As vezes param no mesmo lugar.

(Carol, Foz).


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SONHOS

Eu acredito em sonhos...
eu acredito em fadas...
eu acredito em ets...
eu acredito em justiça social
eu acredito em consciência ecológica
eu acredito num país
sem desigualdade social
eu acredito na paz mundial...
eu acredito em carros
movidos a energia sustentável...
eu acredito em fadas....

(Mysk, Foz).


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Eu já não suporto mais
Do tempo tantas revoltas
Prazer, por que não me prendes?
Mágoa, por que não me soltas?
Presente, por que não foges?
Passado, por que não voltas?

(Lourival Batista, Louro do Pajeú)


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A modernidade

Modernidade .
Evolução
Tecnologia
Razão

Século Xxl
Burocracia
Crônicas
Filosofias

Cada dia que passa
Surgem idéias novas
Formas diferentes
Diferentes prosas
A informática

O automobilismo
O CHIP toma conta
Paraíso
Ascensão do capital
Contendas
Crimes
Em agendas

A genética
Ecologia
Extinção animal
Malícia em ira
A modernidade
Quem diria

(Edson de Carvalho, Foz)


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Insanidade Lógica

Hoje estou vermelho sangue
Vermelho vida
Em carne viva

A última gota é doce
O último suspiro é suave
Com minhas unhas negras
rasgarei a carne
e mato
Um minueto ao meu prazer
E escaldada
No calor orgasmico
Na minha insanidade lógica.

(Mysk, Foz).


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No terceiro parágrafo da página 143
O Cavaleiro Andante apenas sonha
Caufield só sabe criticar
Henry Miller se diverte com as putas
E Winston chora pelo grande irmão

Dom Casmurro foi traído
O Santo Graau foi descoberto
Sofia descobre que é uma personagem
Hans Thomas vê o mundo através da lupa

Carter luta contra os monstros de Lovecraft
Jostein Gaarden dá vida às cartas
Alice no mundo das maravilhas
E eu detesto Paulo Coelho

(Robson Mattjie, Foz).

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Ser Mulher ...

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

(Gilka Machado).

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George Ribeiro)

Vida nossa de todos os dias

Seu Oscar era mais uma daquelas pessoas invisíveis que a sociedade finge não ver. Vivia sujo, fedido e com uma aparência cansada. Como viera do Chile de forma clandestina, não tinha nenhum documento do Brasil, não recebia atenção nem dos programas assistencialistas do governo, e dessa forma virou catador de reciclados na região de Três Lagoas, uma das maiores regiões periféricas de Foz do Iguaçu. Vivia empurrando um carrinho feito por ele próprio, de madeira, com dois pneus de carro. Seu trabalho era exaustivo. Também não era para menos, o calor consumia suas energias, os termômetros da cidade apontaram para os 40° graus naquele verão de 2007. Tinha uma rotina puxada: de segunda a sábado acordava às 05h30min da manhã, e voltava às 18h00min para casa. Caminhava pelas ruas e juntava o máximo de lixo que ia encontrando, juntava tudo aquilo que a sociedade não consumia. Aliás, seu Oscar não catava somente materiais reciclados, também catava sonhos: sonhava encontrar algum material valioso em meio ao lixo que revirava, chegando mesmo a levar alguns objetos para casa, mas seu tesouro em meio ao lixo nunca foi encontrado.

Mas um dia sua vida iria mudar, era o que ele repetia para si mesmo. Rezava todos os dias quando acordava, e tinha esperança de que um dia sua situação miserável melhoraria. Foi assim por mais de 15 anos, sua fé era inabalável e ele carregava uma imagem de Santo Expedito em seu carrinho de catar reciclado. Santo Expedito é conhecido como "o santo das causas urgentes” e para seu Oscar era necessário o quanto antes sair daquela situação. Na realidade ele tinha um bom e justo motivo para ter fé. Havia participado de movimentos políticos na década de 1960, vivenciou o golpe de 1973, resistiu e escapou de diversas emboscadas promovidos pela repressão do governo de Pinochet, no que foi uma das mais sanguinárias ditaduras da América – latina. Andava pelas ruas armado com sua pistola, a qual chamava carinhosamente de Violeta, primeiro nome da sua heroína, a cantora que escutava e que sonhava namorar durante a adolescência rebelde no Chile: Violeta Parra. Esse era um nome que tinha um grande significado em sua vida, pois tudo o que ele tinha atualmente estava resumido nesse nome: alguns vinis da cantora, conhecida pelo seu tom de protesto e sua velha pistola. Dizia que andava sempre em companhia da Violeta-Segunda, pois tinha uma síndrome de perseguição, um trauma que herdara da vida de fuga e de acossamento.

Um dia parece que Santo Expedito ouviu suas orações e seu destino começara a mudar. Ele catava lixo na frente do Posto Texaco, como fazia diariamente, e o dono do posto, Seu Sérgio, ficou sabendo que Seu Oscar tinha sido um guerrilheiro e portava uma arma; Fez então uma posposta, para que ele fizesse a segurança do posto. Não que Sérgio fosse uma pessoa bondosa, generosa, ou que partisse seu coração ao ver aquele senhor revirar os lixos do bairro. Como um bom burguês, pensava na defesa da sua propriedade. O Posto Texaco fora muitas vezes assaltado, e o dono acreditava que por seu Oscar, por ter fama de rebelde, ligado a um passado de revolução armada, assustaria a malandragem daquela região. Dessa forma seu Oscar ganhava a primeira oportunidade de ter um emprego com salário fixo por mês desde que chegara ao Brasil. Além disso, os 80 reais que ganhava juntando reciclados não davam para nada, começara a sonhar ali com o salário de 250 reais que Sérgio ofereceu, e com isso planejava comprar um som, um Toca-CD portátil no Paraguai, e assim ouvir a música de Violeta Parra enquanto trabalhava.

Oscar enxergava no novo emprego a oportunidade que sempre esperava, via naquela oportunidade um momento de promoção social, e assim abandonou o carrinho de catar reciclado que o havia acompanhado por sete anos, desde que chegara a Foz. Agora ele trabalharia na sombra e não federia mais, assim passou a acreditar que tinha subido um degrau na escala evolutiva do capitalismo. Atualmente seu Oscar vive em contradições com alguns ideais comunistas que ainda permanecem em seu coração, quando percebe a má-fé do patrão Sérgio, que “sacaneia” diariamente os frentistas e clientes do posto. Seu Oscar se lembra do seu passado, da experiência guerrilheira, aonde aprendera dividir até as migalhas de comida com os companheiros de luta. Assim às vezes pensa em abandonar o emprego, pois corta por dentro conviver com uma pessoa tão gananciosa como Sérgio - mas voltar a catar lixo era o que menos queria para sua vida; agora, conseguia até algumas mulheres... Para aliviar sua consciência, às vezes se remete a uma pergunta: como seria se “virasse o tapete”? E se quem estive por cima fosse para baixo?

Assim prossegue ele, com a velha Violeta na cinta, com seu som portátil e com a imagem de Santo Expedito – agora colada no Toca-CD – desacreditando da mudança e das pessoas. É mais um que vai levando a vida, e se você o questionar sobre mudança, revolução e outras questões políticas, ele certamente olhará no fundo dos seus olhos com um ar de dúvida e fará a mesma pergunta que ocupa seu subconsciente: Como seria se virássemos o tapete? E se quem estivesse em cima fosse para baixo?

“Danilo George Ribeiro – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.


A MULHER NAS LETRAS DE RAP (Por: Lizal).

Quando lemos críticas ao Rap norte-americano é de praxe frases como essa: “É um estilo de música que trata as mulheres como prostitutas”. Na verdade, na maioria dos casos, o rapper norte-americano vê a mulher como um objeto, um produto de consumo. Nos vídeos clipes você pode notar isso: o carrão, as jóias, as mulheres, as bebidas. Aqui no Brasil a grande maioria dos rappers trata as mulheres com muito respeito. O Rap gospel – em especial – tem um cuidado muito grande com essa questão. O Mc Lito Atalaia em sua música intitulada Vocês são Damas, com parceria de Pregador Luo manda a idéia: “A gente sente quando as irmãs não tem valor / Pede ao Senhor lembrar os irmãos que as irmãs precisam de amor (...) / Não vou fazer rima pra insultar minhas irmãzinhas / fazer elas ouvirem tudo o que eu não gostaria (...) / Tem sujeito que é loco, xinga e bate em mulher / faz direitinho o jogo que o inimigo quer (...) / Na verdade a burrice e a fraqueza te consome / pra respeitar mulher tem que ser muito homem (...)”. O refrão da música coloca o dedo na ferida dos manos do Funk que chamam as mulheres de cachorras: “Uh, vocês são damas, Uh, não são cachorras / Uh, dê seu respeito, a quem te ama”.

A música Algo Especial do grupo Quinto Naipe – assim como o título sugere – trata a mulher como um presente divino: “Vou dizer que eu te amo / vou dizer que eu te quero / vou dizer, preciso de você (...) / Nega, não se entrega pra mulher dos pensamentos / por mais que a ame não demonstra sentimento / casamento é mó tormento, loucura, é várias perda / quem dizia 'nunca' a aliança ta na esquerda / sossegado, apaixonado, fornecido o sobrenome / os manos fazem engano do amor que o consome (...) / A se eu pudesse voltar no tempo Senhor / teria tantas coisas pra mudar (...) / Quantas vezes amei, sem se quer ser amado, mas não reclamo / quantas vezes me amaram, se decepcionaram, sonhos destruídos pelo engano (...) / Minha cara metade, minha alma gêmea, se o Senhor unir / ninguém tira ela do meu lado”.

Um dos sons mais ouvidos pela galera do Rap é a música Vida Loka também Ama do grupo Trilha Sonora do Gueto. A música narra as relações 'mano e mina' e as armadilhas da vida: “Não vai ficar aí se lamentando / se a mina não te quer doidão, cê sai andando / deixa ela pensar que é pá, que é modelo / que a fantasia de princesa dura o tempo inteiro (...)”. Em uma parte da música mostra uma mina que ta com o cara só por causa do dinheiro. E mesmo assim – por causa da mina ser bonita – o mano, que ganha seu dinheiro no crime, estufa o peito e fica cheio de querer. “Acho que você só ta com ela mesmo / porque você não trampa e não paga um veneno / queria ver se você fosse um operário / dasse aquele trampo pra ganhar um só salário (...) Mais vale um operário sem ela, vai por mim / do que um criminoso estando em cana ai sozinho / não sou mais que ninguém, só quero alertar / um dia eu também nego passei por lá / foi lá que eu notei que o homem também chora / quando a modelo de favela vai embora / aí só fica ele e a decepção / pagando de mau-mau abandonado na prisão”. O refrão é cantado suavemente: “Cara é complicado essa vida / mas aprendendo é que se ensina / ainda existe boa gente, que segue a luta e segue sempre em frente”.

A Mc Dina Dee, do grupo feminino Visão de Rua cobra a atitude das minas. O nome da música é Corpo em Evidência e vai contra a idéia das minas que mostram o corpo pra ganhar a vida. Já começa com o refrão: “Muita mulher / na Tv você vê, você quer / mas na hora de ver qual que é...”. “A capa da playboy / quem será a próxima tentação / vou te falar de um corpo perfeito e uma mente vazia / uma atriz pornô que interpretou uma vadia (...) / Ai da Kelly Key se fosse feia / eu vi seu pôster nu, até seu -ú- no boi de uma cadeia / a mesma chance não teria / cá entre nós, com aquela voz e um corpo cheio de estria / o adultério é um monstro que destrói o casamento / se não acaba fica a mágoa, a ferida por dentro / eu só lamento, o amor não é pra covarde, quem sente / enquanto ele existir é fiel até na mente / não deixe a confiança acabar (...) / Purifique seu pensamento dessa fome / pornografia é anti-amor, uma carne podre que tantos consomem (...) / Não tem comparação, sangue bom, as dançarinas do Gugu / é como essas que mal tem dinheiro pro xampu / até na cor, toda modelo na prática faz / bronzeamento, tratamentos corporais / objetos de sedução da televisão / com o tempo cai no esquecimento, se vão”.

O Ndee Naldinho sempre fez músicas românticas que falam de minas. A mais conhecida – com toda a certeza – é a canção Aquela Mina é Firmeza. A música é um desabafo, o narrador está conversando com o amigo: “Já faz um tempo que a gente não se tromba / amigo eu vou falar como a minha vida anda / esse tempo que a gente ficou desligado / muita coisa ficou embaçado / lembra aquela mina que era firmeza? / foi embora, me deixou na tristeza / irmão minha vida mudou / aquela mina firmeza me deixou”. A música segue com milhares de elogios para a mina, que o mano sente muita falta. Só fala dela, ta triste, pra baixo e diz pro seu truta que tava precisando desabafar. Quem faz o refrão é o amigo: “Amigo eu to aqui de braços abertos / me conta o seu problema eu quero estar por perto (...)”. Ele diz que não quer outra mina, precisa encontrar aquela, ela era especial, ajudou-o a superar situações difíceis. “Mulher de responsa, um dom da natureza / aquela mina é firmeza”.

MULHER ELÉTRICA!!! Um pedido de desculpa?

O grupo Racionais Mc's nós temos que analisar separado quando o assunto é mulher. Desde as primeiras gravações do grupo em cada álbum vem uma música que aborda esse tema. Começamos pela música Mulheres Vulgares do álbum Holocausto Urbano. Na canção o Mano Brown liga pro Edy Rock e ele canta um pedaço da música que ele fez: “Derivada de uma sociedade feminista / Que consideram e dizem que somos todos machistas / Não quer ser considerada símbolo sexual / Luta pra chegar ao poder, provar a sua moral / Numa relação a qual não admite ser subjugada, passam a dar pra trás / Exige direitos iguais (...) / É uma cretina que se mostra nua como objeto / É uma inútil que ganha dinheiro fazendo sexo / No quarto, motel, ou telas de cinema / Ela é mais uma figura viva, obscena (...). O refrão diz: “Mulheres vulgares, uma noite e nada mais”.

No próximo álbum saiu uma canção intitulada Parte II, como se fosse a continuação das Mulheres Vulgares. No início tem uma vinheta com uma encenação na qual a namorada do amigo do Edy Rock ta tentando ficar com ele. Ele fala que não é certo, que conhece o cara a muito tempo, mas a mulher insiste: “Deixa ele fora disso, é entre eu e você”. Edy Rock então solta o verbo: “Mulher de aliado meu eu considero homem / não admito dando em cima de mim ou de outros camaradas / são sem-vergonha, não prestam mesmo sendo compromissadas / não criam vergonha na cara, então, escória de safada (...) / No rebanho de fêmea, ela é a fêmea pior / Também a pedra branca no jogo de dominó / Ás do baralho, papagaio sem língua / árvore sem galho, repentista sem rima”. Aproveita a música ainda pra cobrar o vacilo do mano que confiou na mina e o refrão com scratches diz: “Ela te troca, troca, troca por outro”.

No álbum Sobrevivendo no Inferno de 1997 não tem nenhuma música que é direcionada pra mulher, mas tem duas músicas que deixa um salve. Numa delas é a música Fórmula Mágica da Paz: “(...) Sem dinheiro / sendo assim sem chances, sem mulher / você sabe muito bem o que ela quer / encontre uma de caráter se você puder, é embaçado ou não é?”. A outra música é intitulada Qual Mentira vou Acreditar? Em uma parte o Ice Blue conta que ta no role e encontra uma mina. Aí consegue sair com ela: “Tudo muito bom, tudo muito bem / sei lá o que tem, idéia vai, idéia vem / ela era princesa, eu era o plebeu / quem é mais foda que eu? Espelho, espelho meu (...) / Será que ela aceita ir comigo pro baile / ou ir pra Zona Sul ter o grand finale / amor com gosto, de jeito, até as seis da manhã / me chamar de meu preto e me cantar Djavan / ninguém ouviu mas, puta que o pariu / em fração de segundos meu castelo caiu / a mais bonita da escola rainha passista / se transformou numa vaca nazista / eu ouvindo James Brown, pá, cheio de pose / ela pergunta se eu tenho o quê? Guns and Roses / lógico que não / a mina quase histérica meteu a mão no rádio e pôs na transamérica (...) Só se liga nessa / que mina cabulosa olha só que conversa / que tinha bronca de neguinho de salão / que a maioria é maloqueiro e ladrão (...) / Disse pra mim não falar gíria com ela / pra me lembrar que eu não to na favela”.

No último álbum do Racionais Nada como um Dia após o outro Dia, a música que fala de mulher é intitulada: Estilo Cachorro. Quase toda a música narra a história de um cara que cata um monte de mulher. Ele é poderoso cheio da grana, moto, jóias e gosta de ostentação. O refrão diz: “Mulher e dinheiro, dinheiro e mulher / quanto mais você tem, muito mais você quer”. A primeira provocação vem antes do refrão: “Pra conseguir aquilo o que sempre quer / utiliza a mesma arma que você mulher”. E a música segue no ritmo de ostentação até que nos últimos dois minutos muda o instrumental e o Mano Brown chega cantando: “Não é machismo, fale o que quiser, o que é, é / verme ou sangue-bom tanto faz pra mulher / não importa de onde vem nem pra quê / se o que ela quer mesmo é sensação de poder / com um ladrão fez rolê se envolveu sei lá, saiu / mas ou menos abril, curtiu, quem viu, viu / em Maio foi vista de RR a mil, na BR no frio, com um boyzão da Civil / viu, uns e outros aí, bom rapaz / abre o coração e sofre demais / conversa com os pais ali no sofá da sala / ouve e dá razão enquanto ela fala (...) / E ele tava em punga / pra levá-la no trampo lá na Barra Funda / 10 graus, cinco da manhã, sem problema / se ela não morasse em Diadema / pontual como o big-bang, 4 anos assim / nem Sheakspeare, imaginaria o fim / te trocou por um vadio, sem vergonha / que guenta até a mãe quando acaba a maconha / E ela diz que é feliz, que ele é cabuloso / cê pisa pra caralho moscão pegajoso / mulher finge bem, casar é negócio / você vê quem é quem, só depois do divórcio / ei, ei neném, de amor eu não morro / vocês consagraram o estilo cachorro”.

Com a repercussão dessa música algumas minas do Movimento Hip-Hop tomaram uma atitude. Durante um debate do Dia Internacional da Mulher, organizado por Minas da Rima, convidaram Mano Brown. Uma das questões foi sobre como o Racionais trata as mulheres em suas músicas. Ele disse que era o Edy Rock que tem as idéias de fazer essas músicas provocativas e pediu para que elas conversassem com ele. Recentemente no show de gravação do DVD Mil Trutas, Mil Tretas o Mano Brown deixou uma idéia na música Fórmula Mágica da Paz. Na parte em que ele canta sobre mulher e diz “Encontre uma de caráter se você puder” ele acrescenta à letra: “Mas tem”.

Há alguns meses vazou na Internet uma música nova do Racionais intitulada Mulher Elétrica. A novidade é que quem canta a música é o Brown e não o Edy Rock. E pela letra da música dá pra ver que não foi o Edy Rock que escreveu. A música é uma ode as minas: “Ela chega, Ela olha, Ela bate um flash / Ela invade a pista e ninguém se mexe / Ela dança, Ela ri, Ela quer curtir / quer amar, quer beijar quer se divertir / Ela manda, Ela pode, Ela é quem faz / Ela é funk, Ela é samba, Ela é mais mais mais (...) / Ela é preta na cor loira no cabelo / Ela é 1 hora e meia em frente ao espelho / Ela é.../ Ela é Naomi, Ela é Clara, é Nunes, é Dona Summer / Rosa, é Sônia, Ela é Tereza / Ela é Ana, Ela é Glória, Ela é bem Brasil / me engana que eu gosto ela tem tristeza / balança o swing rara beleza, Ela é...”. Na verdade a música também é bem provocativa se analisarmos bem e mostra a malandragem da mina. “Ela bebe e malandro paga (...) / Uns 10 na fita e eu também... (...) / Ela é quem comanda e a minha comanda quase preencheu / mais se Ela vier valeu (...) / Contos de uma festa Black / é a cinderela High Tech / vai vendo moleque, Ela foi capaz / de entrar no banheiro e não voltar mais”. Então nós vemos que na festa a mina ficou na veia de um monte de loco, bebendo de graça e depois deu perdido. No fim da música tem uma colagem da operadora de celular que diz: “Infelizmente a sua chamada não pode ser completada, por favor verifique o número digitado e tente novamente”.

Aí podemos ver que a mina deu o número errado pro cara ou desligou o celular. Mas é lógico que as mulheres, acostumadas com as letras do Racionais tratando-as da forma que tratou, ouvirão com outros ouvidos ainda mais na parte que o Brown canta: “ Ela é as 10 mais da Billboard”.

Vamos esperar o novo álbum do Racionais para ver se o Edy Rock atacará novamente.

(Lizal, é ativista do Movimento Hip-Hop em Foz do Iguaçu e gosta de ouvir músicas que tratam as mulheres com respeito).

ACORREFOZ ORGANIZA CORRIDA DO DIA DA MULHER

A 1° Corrida de Rua e Caminhada do Dia da Mulher está sendo organizada pela Associação de Corredores de Rua de Foz do Iguaçu (ACORREFOZ). O local da largada e da chegada é no Gramadão da Vila A, no Domingo do dia 8 de março, às 08:00hs da manhã. As inscrições vão de 18/02 a 06/03 e são gratuitas. As premiações são pro 1° ao 3° lugar nas categorias Mirin, Juvenil, Adulto e Veterano, o qual ganhará troféus. Haverá medalhas para todas as participantes que concluírem a prova.

Local de inscrição: Sede da Acorrefoz, Av. Brasil, n° 16.
Contatos: 3523-6890 / 9129-9007.
Falar com Raimundo Ramos.



Mais informações no blog da ACORREFOZ:

www.acorrefoz.blogspot.com


NOVELA DA VIDA REAL (Por Lizal)

Mais um Cidadão José Cap. 36

A loira colocou o dinheiro na bolsa e devolveu a carteira no bolso de José, com muito cuidado, pra ele não acordar. Saiu do quarto, deixando-o ali cochilando. Ele havia pagado o programa adiantado, assim como o combinado. Lá embaixo no salão os malucos esperavam por José. Ele só despertou quando tocou uma campainha avisando que esgotou seu tempo de 2 horas de aluguel do quarto. Acordou assustado e correu para lavar o rosto. Antes de sair viu uma garota entrar no quarto e começar a dar uma geral rápida, trocar lençóis e recolher as embalagens vazias de bebidas. Não conferiu sua carteira. Desceu as escadas e avistou os malucos no balcão ainda bebendo. Todos eles tinham saído com alguma garota. Pegaram uma garrafa de Uísque e chamaram José pra dar linha na pipa.

- Quem vai dirigir? Eu to sem condições. – disse Mano Gê.

Os malucos ficaram se olhando, José estava muito chapado e ainda meio dormindo. O Mano Branco assumiu a boléia. O litro de Uísque passeava de mão em mão enquanto o loco pisava fundo no acelerador. Ligaram o som e a coletânea de Rap iguaçuense ainda estava no toca cd do carro. Começou a rolar o som do Mano Santiago de Foz do Iguaçu, mas os malucos já estavam pra lá de Bagdá, estavam muito chapados pra prestar atenção na música. “Nos fizeram inimigos, nos tornamos rivais / é o ser humano em conflito, sempre em busca de paz / dividiram as classes, preconceito de raças / é o estúpido esquema, do sistema covarde (...) Ricos e pobres nesse conflito / do lado nobre os edifícios (...) Guerra entre nobres e plebeus / vários revólveres cadê o meu? (...) Que Deus proteja o povo pobre / porque os ricos vão ao psicólogo (...) Olha em volta dor e revolta / tem diferença, fome e pobreza / tem desperdício a classe burguesa (...)”.

- Maluco!!! Pensa numa morena. Ahahahhaha.... – disse o Mano Branco olhando pro banco de trás.

- Cês não viram nada rapaziada. – falou o Mano Gê todo orgulhoso.

Os paraguaios começaram a falar em guarani entre si. Eles haviam alugado o mesmo quarto pra economizar dinheiro e foram com duas brasileiras. Mas no final ficou até mais caro, porque as minas cobraram um preço mais alto.

- A mais filé foi eu que catei. – disse o Mano Pio com empolgação.

- É que você não viu a loirona que o Zé levou pra grupo, meu irmão. – rebateu o Mano Branco.

- Conta aí Zé.

José estava calado, no seu canto.

- Fala aí maluco. – começaram a insistir.

- Então, eu dormi.

- Ahahahahah.

A gargalhada foi geral e chegou a abafar o som do carro. Começaram a fazer piadinha e tirar um barato da cara de José.

- Depois da fita malandro. Eu dormi depois. Ehehehehhe.

José tentou corrigir, mas não teve jeito, os malucos continuaram zuando. Um dos paraguaios bolou um baseado e começou a fumar. O beque passou de mão em mão até chegar em José.

- To sossegado tio, não gosto de baseado.

- Você já fumou alguma vez?

- Não, nunca fumei.

- Então como você diz que não gosta de uma parada que você nunca provou?

- É...

Antes de José se explicar o maluco emendou:

- Faz um teste-drive aí malandro, se você não gostar você nunca mais fuma.

- É isso aí Zé, vai na fé.

Os malucos continuaram a insistir. José estava chapado e mais vulnerável. Não raciocinava direito. Pensou em seguir o conselho do maluco, dar uma bola e falar que não gostou, aí deixariam ele em paz. E quando outras pessoas o colocassem nessa situação ele poderá falar que já fumou e não curtiu.

- Cheu dá um dois nessa parada então.

Os malucos aplaudiram, gritaram e assoviaram como se José fosse o camisa dez de seu time do coração fazendo um gol de placa. Na primeira tragada ele achou estranho, tossiu um monte e passou rapidamente o baseado pro maluco ao lado. José não sabia que depois daquela tragada o beque o acompanharia por toda a sua vida; e que por muitas vezes tentaria romper essa relação em vão; e que muitas vezes apanharia da polícia por estar portando maconha; e que muitas vezes ficaria nervoso e um pouco agressivo pela falta da erva; e que muitas vezes, nas horas de solidão e momentos de depressão o baseado seria seu único companheiro presente, fiel, e que em momentos de crise só a erva o acalmaria.

O carro já estava chegando. Balançava bastante por causa dos buracos na rua de terra. José tinha bebido muito e a mistura de bebida com maconha não estava fazendo muito bem pra ele.

- Para o carro tio. Rápido, vai. – disse José todo apavorado.

O Mano Branco parou e ele desceu correndo, assim que pisou no chão começou a vomitar. Foi até a beirada da estrada e ficou alguns minutos vomitando. Os malucos aproveitaram pra tirar uma água do joelho.

- Cê ta fei na foto, hein Zé.

Chegando na casa os malucos se ajeitaram pra tirar um ronco, uns nos sofás, outros nas redes. Já estava amanhecendo. José ainda estava mal e foi algumas vezes no banheiro para tentar vomitar. Estava tudo escuro, tropeçava nas coisas, caía no chão. Os malucos resmungavam diziam que queriam dormir. José acordou meio dia, alguns malucos ainda estavam dormindo. Sua cabeça doía muito e uma tontura fazia ele sentar novamente logo após levantar. Depois de uns quinze minutos saiu pra fora. O Mano Branco estava sentado em um banco de madeira fumando um baseado. Um dos paraguaios vinha com uma jarra cheia de leite e convidou José para tomar um café, para curar a ressaca. O cheiro de café feito na hora invadia a casa. Dali José conseguia ver os bois, o chiqueiro dos porcos e a granja. Ao longe centenas de pássaros pousavam sobre a plantação. O cheiro do café estava convidativo mas antes ele foi até o Mano Branco e pediu pra dar um dois no baseado. Isso entraria na rotina da sua vida, fumar um baseado toda vez que acordar.

(Lizal, na próxima edição mais um capítulo)