domingo, 5 de julho de 2009

CARTEL DO RAP

O BLOG DO FANZINE DO CARTEL DO RAP COMPLETA 01 ANO!!!



Salve, salve rapa!!! Conectem-se. O Blog do Fanzine do Cartel do Rap está completando um ano de idade. Com mais de 400 postagens nesses doze meses o nosso Blog está de cara nova. Agora os leitores terão à disposição dezenas de links para acessar outros blogs e sites. Além de páginas de Hip-Hop (Dj, grafite, B.Boy, Rap) os visitantes terão acesso a blogs de cinema, poesia, literatura, jornais, revistas e muitos outros. Serão postados também vídeos clipes, documentários e os Myspaces dos grupos de rap paranaense.

Nessa edição de número 50 trazemos na coluna As muitas Faces de Foz do Iguaçu as idéias da Arinha da Casa do Teatro. Do blog do Carlos Luz uma matéria sobre o salário mínimo. Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo no Brasil deveria ser de R$ 2.045,06. Não é o que acontece. Durante a etapa seletiva do Campeonato de Basquete de Rua que aconteceu em Foz a Carol entrevistou Júlio Santana, coordenador da CUFA-Londrina. O nosso correspondente no Rio de Janeiro, Danilo George traz uma matéria sobre o Funk e o Rap. Do blog do Ozaí uma matéria sobre a internet. Saiba também sobre o cursinho pré-vestibular comunitário do Clan do Beco.

O PRÓXIMO FRANKENSTEIN (Por: Yoani Sanches, Cuba).



Permutou um relógio de grife para obter o microprocessador; a placa mãe foi deixada pelo irmão que se foi do país. Só lhe faltam as memórias RAM para montar o próximo Frankenstein, com que se unirá a intranet que foi feita por vários jovens de seu edifício. Com apenas trinta anos, tem construído seus próprios computadores desde há uma década, graças ao mercado negro de peças de informática. No princípio eram verdadeiros abortos - cheios de inovações - porém com o tempo suas máquinas tornaram-se mais apresentáveis e competitivas. Agora está montando uma nova “criatura” para iniciar-se no negócio de ripar DVDs e deixar seu aborrecido trabalho numa dependência estatal. Um complexo programa de edição de vídeos lhe permitirá anunciar-se como “especialista em filmar casamentos e festas de quinze”, ocupação informal muito bem remunerada. Entre os sonhos que acaricia está o de plugar-se na Internet e buscar nos chats uma noiva que o tire daqui. Fantasia que ela o presenteia - no dia de seu casamento - com um computador que não necessite nem de um parafuso.

Quando se anunciou que Raúl Castro permitiria a venda de computadores à cubanos, este técnico alternativo se alegrou de não haver tido que esperar tanto. Com o preço de um laptop vendido hoje nas lojas em pesos conversíveis, ele poderia adquirir - de maneira informal - peças para construir ao menos três PCs. Com certeza, no seu Frankenstein falta o mais importante, a possibilidade de sair afora e dar seus primeiros passos na web. Para deixar de ser um simples acúmulo de circuitos, necessita do relâmpago da conectividade, essa corrente de energia que o fará despertar para a vida.

(Yoani Sanches é filóloga e blogueira em Havana, Cuba. Recentemente pela popularidade de seu blog Generacion Y foi considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo)

Fonte: www.desdecuba.com/generaciony

LITERATURA, PÃO E POESIA (Por: Sérgio Vaz)

A literatura na periferia não tem descanso, a cada dia chega mais livros. A cada dia chega mais escritores, e, por conseqüência disso, mais leitores. Só os cegos não querem enxergar este movimento que cresce a olho nu, neste início de século. Só os surdos não querem ouvir o coração deste povo lindo e inteligente zabumbando de amor pela poesia. Só os mudos, sempre eles, não dizem nada. Esses, custam a acreditar. Não quero nem falar dos saraus que estão acontecendo aos montes, pelas quebradas de São Paulo. Isto me tomaria muito tempo. Haja visto as dezenas de encontros literários, pipocando nas noites paulistanas. Cada qual do seu jeito, cada qual com seu tema, cada qual a sua maneira de cortejar as palavras.
Mas eu quero falar mesmo e da poesia que se espalhou feito um vírus no cérebro dos homens e mulheres da periferia. Pois é, essa mesma poesia que há tempos era tratada como uma dama pelos intelectuais, hoje vive se esfregando pelos cantos dos subúrbios à procura de novas emoções. O Tal poema, que desfilava pela academia, de terno e gravata, proferindo palavras de alto calão para platéias desanimadas, hoje, anda sem camisa, feito moleque pelos terreiros, comendo miudinho na mão da mulherada.

Vocês, por acaso, já ouviram falar do tal poema concreto? Pois é, os trabalhadores e desempregados estão construindo bibliotecas com eles, nas favelas. E o lobo mau pode assoprar que não derruba. Apesar da pouca roupa que lhe deram está se sentindo todo importante com sua nova utilidade.
A periferia nunca esteve tão violenta, pelas manhãs é comum ver, nos ônibus, homens e mulheres segurando armas de até 400 páginas. Jovens traficando contos, adultos, romances. Os mais desesperados, cheirando crônicas sem parar. Outro dia um cara enrolou um soneto bem na frente da minha filha. Dei-lhe um acróstico bem forte na cara. Ficou com a rima quebrada por uma semana.

A criançada está muito louca de história infantil. Umas já estão tão viciadas, que, apesar de tudo e de todos, querem ir para as universidades. Viu, quem mandou esconder a literatura da gente, Agora nós queremos tudo de uma vez! Dizem por aí que alguns sábios não estão gostando nada de ver a palavra bonita beijando gente feia. Mas neste país de pele e osso, quem é o sábio ? Quem é o feio? E olha que a gente nem queria o café da manhã, só um pedaço de pão.

Que comam brioches!

Não, não é Alice no país da maravilha, mas também não é o inferno de Dante.

É só o milagre da poesia.

Quem é que odeia ler agora?

Fonte: www.colecionadordepedras .blogspot.com

A HISTÓRIA DAS COISAS...

FUNK É RAP? (Por: Danilo George).

No ano passado o percussor do movimento Hip-Hop Afrika Bambata em visita a Rocinha - maior favela da América latina - deu a seguinte declaração: “A batida do funk é hip-hop, o hip-hop do Brasil tem que agregar o funk como quinto elemento”. A frase de Bambata repercutiu muito no movimento Hip-Hop, e parece ter causado estranhamento aos manos naquele momento. Eu estava em Foz do Iguaçu-PR quando encontrei meu amigo e irmão de hospício, militante do coletivo Cartel do Rap, Mano Zeu de sobrancelha baixa, lendo a revista Rap Brasil e preocupado com a fala de Bambata, naquela ocasião ele deu a seguinte opinião “o que é isso aqui mano, funk virar hip-hop, não vai rolar”. Para mim essa idéia também não se sustentava, na minha visão como é que o Funk que se apresentava como uma música de curtição ia se misturar com o Rap uma música que bate de frente e denuncia às mazelas sociais. Mas passado alguns meses eu e Zeu viemos fazer um curso de formação de Agentes Culturais Populares no Rio de Janeiro e lá descobrimos que também há funk's de protestos, uma música que também retrata a vivência e sobrevivência da periferia, e que pautam uma série de noções reivindicatórias para essa classe periférica. Assim conhecemos um outro tipo de Funk que não é o que é vinculado pela grande mídia, não é o que vende milhões e nem será encontrado com a mesma facilidade nas lojas de discos e shoppings. Esse Funk mais politizado tem uma proporção muito menor ao funk estilo “cachorrão” que toca diariamente nas rádios e movimentam as baladas e boates em Foz do Iguaçu. Assim percebi que nossa visão sobre o Funk foi modificada, e de que na verdade vimos o Funk num sentido único e homogêneo, não conhecíamos outro tipo de Funk e pensávamos que nesse gênero predominava a música para festa, agitação e curtição. Tive a oportunidade de conhecer o outro lado da moeda do Funk, o que hoje me agrada muito, o Funk com um caráter reivindicatório que aparece como uma forte expressão daquela parte da cidade que é constantemente criminalizada.

Sabendo que há muito preconceito desse gênero por parte de pessoas ligadas ao Hip-Hop e que muitos vêem no Funk um caminho de mão única, a música com batida contagiante e com pouco conteúdo, e nomes como Bonde do Tigrão, Tati Quebra Barraco, MC Creu, entre outros, vêm sempre a mente, parece que esses são os artistas frente ao movimento e nomes como Cidinho e Doca, Mascote entre outros foram apagados e silenciados da nossa memória. Resolvi apresentar aqui um outro Funk rompendo com essa modinha de mulher fruta que aparece diariamente na televisão. Dessa forma selecionei três letras para repensarmos o Funk Carioca e fazer uma discussão se o Funk é Hip-Hop ou não. A primeira música é do MC pingo do grupo Força do Rap do complexo de Acari e diz assim:

“Quem é você para falar dos meus erros,
tu não me conhece não sabe quem sou
a luta que tive, a fome que minha família passou
aonde tava você na hora do perrengue,
porque você não tava lá seu doutor?
a sociedade hoje fala de mim mais ninguém me ajudou
todo mundo fala que eu ando armado,
ninguém fala que já tentou me matar
o tempo que o rodo subia o morro pra assassinar
e eu na favela botando o terror
para matar os moleque pegar o dinheiro
desculpa doutor para chorar minha mãe
chora a deles primeiro
Lá no morro o barraco na chuva descia,
mamãe lavadeira trabalhava em casa de família
papai desempregado piorava a situação,
alcoolizado na rua sempre de agressão
Não tive chance pois não nasci herdeiro não,
só fiz o que achei certo peço a Deus o perdão
é assim que o moleque dizia,
é assim que o moleque falava
no beco de uma favela
pra um repórter que o entrevistava”.

A música retrata a vida de um jovem da periferia Carioca, mostrando desde as principais dificuldades como a fome até a desestrutura familiar com o pai alcoólatra e a mãe que trabalha fora, lavando roupa para a família da classe média. No decorrer da canção até a chacina e violência policial são questionados assim como a condição de moradia precária, entre uma gama de sentidos narrados pela experiência de muitos jovens oriundos da periferia, a música ainda revela um diálogo entre um repórter e um moleque favelado que desabafa: “não tive chance, não nasci herdeiro, só fiz o que eu achei certo”, revelando uma vida desregrada que culminou no seu envolvimento com o crime. Agora vamos pegar o segundo exemplo, o do Mc Bacardi, morador da Cidade de Deus.

“ Mas a política que tem aqui
parece feita para não me defender
se for pretinho não tem caô
na saída leva uma geral
se não tiver nada, mas se eles cismar
fala pra ir embora ou me dá um pau
eu já não agüento, tanto tormento
eu não to conseguindo viver
quero a paz tranqüilidade
andar na fé CDD
vejo muitas crianças aqui sofrer
por que não tem nada para se ocupar
nem projeto e alimentação
e escola para estudar
será assim que vai melhorar
estão deixando nossas crianças em vão
mãe me desculpa a decepção
hoje seu filho virou ladrão
eu fico triste abaixo a cabeça
e logo começo a pensar
se no meu futuro Deus vai me ajudar
por que meu filho eu pretendo criar
Perdi vários manos estou boladão,
tenho certeza que não vão mais voltar
descanse em paz todos amigos
que estão nesse lugar
mano Menor, mano Gu,
não esqueço do Cabeção
do Alex, Zequinha e do Negão
Fico por aqui deixo um abraço
para todos negros do Brasil
Djavan, Toni Garrido
e meu mano Mv Bill

Eu sou negro, eu sou negro sim
tenho orgulho de onde moro
e também tenho orgulho de mim
sou funkeiro, sou funkeiro sim
tenho orgulho de onde moro
e também tenho orgulho de mim
Sou favela, sou favela sim
tenho orgulho de onde moro
e também tenho orgulho de mim”.

A música de Bacardi tem um traço de pertencimento e de amor com o seu lugar, apesar das dificuldades e do descaso do governo perante os moradores da periferia, esse orgulho e afirmação de ser negro e favelado é algo muito cantando e representado também no Rap. A linguagem é muito comum ao Rap quando ele narra os Manos da CDD que se foram, aqui podemos perceber que esse Funk não está nem um pouco distante do Rap, a mensagem caminha num sentido de desabafo aonde um morador percebe a vitimização de seus irmãos e do envolvimento de crianças com o crime, e se preocupa com o seu futuro, “como meu filho será criado nesse meio”.

A última canção escolhida é da dupla Mc Junior e Leonardo da rocinha e diz assim:

“Comunidade que vive a vontade com mais liberdade tem mais para colher
pois alguns caminhos para a felicidade são paz, cultura e lazer
comunidade que vive acuada tomando porrada de todos os lados
fica mais longe da tal esperança, os menor vão crescendo tudo revoltado
Não se combate crime organizado mandando blindado para beco e viela
pois só gera mais ira, para os que moram dentro da favela
Sou favelado e exijo respeito, são meus direitos que peço aqui
pé na porta sem mandado, tem que ser condenado não pode existir
Mãe sem emprego, filho sem escola, é o ciclo que rola naquele lugar
são milhares de histórias, que no fim são as mesmas podem reparar
Sinceramente eu não tenho a saída, como devia o tal ciclo parar
mas do jeito que estão nos tratando só tão ajudando esse mal se alastrar
morre policia, morre vagabundo e no mesmo segundo outro vem pra ocupar
o lugar daquele que um dia se foi, depois geral deixa para lá
agora amigo o papo é contigo, só um aviso para finalizar
o futuro da favela depende do fruto que você vai plantar

Refrão:

Ta tudo errado, até difícil de explicar
do jeito que a coisa ta indo já passou a hora do bicho pegar
ta tudo errado, difícil entender também
tem gente plantando o mal querendo colher o bem”.

Nessa musica á o sentido de reivindicação da liberdade para os favelados, a palavra favela é constantemente repetida nos versos, a idéia do ciclo vicioso perverso que envolve o dia a dia da periferia e deságua no sofrimento e deterioramento da classe pobre culminando no extermínio de vidas. A violência do Estado é completamente combatida nessa música, fazendo menção que a única participação do estado na favela é pela força policial, e que isso só ajuda as coisas piorarem, trazendo a revolta e dor aos moradores da periferia.

Pegando esses três exemplos vemos que seguindo essa linha de Funk e se compararmos com a letra do Rap combativo, (lembrando que há muito rap comercial também), vemos que tem uma grande semelhança, uma narrativa que caminha num sentido par com o Rap e que aparece como forte expressão da juventude favelada brasileira. Questões que parecem ser pontuais no Rap como violência, desemprego, pobreza, falta de opção para a juventude favelada, preconceito, descaso do governo, violência policial, assim parece que tanto o Funk como o Rap diagnosticam e denunciam os mesmos problemas e revelam a adversidade diária de morar na favela.

Quando Bambata diz que Rap é Funk originalmente ele disse isso pela batida, mas creio que o Rap e Funk se aproximam não somente pela batida, mas pela própria origem do movimento, as letras, rimas, os atores sociais são da mesma procedência e carregam consigo o mesmo drama da exclusão social, do afastamento, preconceito e da barbárie.
Vejo o movimento Funk como mais uma voz da periferia e também como uma grande possibilidade de transgressão dessa sociedade desigual e que age como um forte multiplicador de vários sentidos e significados que mapeiam a experiência periférica, assim penso e reflito: será que o Funk é Rap ou Rap é Funk?

CURSINHO PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO - CLAN DO BECO.

ÓIA SÓ (Por: Lizal)

Venezuela: CLASSE CONTRA CLASSE.



A Revolução Desmascara Seus Inimigos

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CDR (Comitê de Defesa da Revolução).
Tem dezenas deles espalhados pelos bairros cubanos.

(Viva la Revolucion!!!)

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No Pará, o tribunal de Justiça proibiu
a veiculação de fotografias de vítimas de acidentes e de mortes brutais na imprensa – isso quando ofender a dignidade humana e o respeito aos mortos.

(Um exemplo a seguir pelas “Tribunas da Massa” da TV).

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Uma senhora entra no elevador com um poodle no colo. Na cabeça uma toca preta, pra se proteger do frio. Ela olhou pra galera e disse: “To parecendo uma funkeira, mas não vou passar frio por causa dos outros na rua”.

(E o preconceito já volta a imperar).

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Fui pedir uma informação pro motorista do ônibus pra saber como eu fazia pra chegar no Morro do Dendê. Ele disse: “Quem conhece morro é polícia. Pergunta pra esse policial que tá aí do seu lado”.

(To a pampa, deixa baixo).

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O professor perguntou para a aluna porque ela escrevia com a letra tão pequena, se ela estava economizando lápis. A garota respondeu: “Não professor, eu to economizando árvores”.

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Frase de Winston Churchill:

“A democracia é o melhor sistema que o dinheiro pode comprar”.

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Música de Santiago:

“Não quero ficar rico,
Quero viver sem riscos”.

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ABOLIÇÃO DA CARNIFICINA (Gangsta Crime - Part. Mano Zeu).

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George).

Vida nossa de todos os dias

Nicolau era um simples colono que residia no interior do Oeste do Paraná. Descendente de Polonês cuidava da sua pequena propriedade, vivia do que plantava, tinha uma vida pacata e segura. Vivia com a mulher e alguns cachorros, não tinha filhos, adorava o cheiro do campo, a sombra da goiabeira em frente a sua casinha, e preparar a cuia do Chimarrão pela manhã, era sua rotina. Mas por volta do final dos anos 1970 aquela região viveu uma grande agitação, a ditadura militar se instalara naquela região e com ela a dura repressão, que não se restringiu somente aos grandes centros urbanos e aos comunistas, os pequenos proprietários do interior também foram alvos de investigação e perseguição. Foz do Iguaçu por ser uma área de fronteira, os militares temiam uma unificação de guerrilhas brasileiras com outros paises e a entrada de militantes do MR8 era temida pelos militares. Nicolau não era do MR8, muito menos comunista ou idealista, mas foi muito perseguido, pois organizava os pequenos produtores daquela localidade, foi o primeiro sindicalista rural daquela região que posteriormente emergiu o maior movimento social da luta pela reforma agrária (MST). Nicolau só queria permanecer com sua pequena propriedade e levar aquela simples vida campesina, mas teve que começar a combater a forte exploração das cooperativas que começaram a se instalar, formando ali a burguesia agrária que até hoje manda e desmanda nas terras Paranaenses e que teve total apoio policial e militar na desapropriação de camponeses.

Após uma longa perseguição Nicolau foi preso, o sindicato foi fechado, os demais companheiros de Nicolau também foram ameaçados. Nicolau ficou amarrado na sede do sindicato, foi torturado, os militares enfiaram agulha debaixo das suas unhas, ele urrava de dor, os gritos puderam ser ouvidos por quilômetros de distância, e ninguém pode fazer nada. Como desconfiavam da sua atividade, sua pele branca ficou vermelha de tanto sangue, torturar Nicolau era necessário para que os camponeses não aderissem sua luta. Inicialmente ele ficou preso num quartel em Cascavel, após um longo interrogatório foi transferido para Piraquara - aonde hoje funciona como presídio de segurança máxima - ficou três anos preso sem processo, os militares nunca provaram sua ligação com o MR8 ou alguma dissidência do PCB, assim foi solto retornando a Foz do Iguaçu. Ficou completamente fora de si diante daquela desgraça que os militares implantaram na sua vida, Nicolau foi libertado depois sem julgamento, louco, traumatizado, sem sítio, sem mulher, nem família e amigo.

Nicolau perdeu o sítio que foi tomado, o sindicato foi incendiado, os amigos migraram para outras cidades, alguns foram mortos, perdeu a mulher que ficou abalada e se matou. Foi para Foz do Iguaçu sem nada, tudo que possuía fora tomado, deteriorado, sua vida virava uma desgraça, o destino de Nicolau foi o mesmo de muitos sobreviventes daquele regime: se entregou a bebida, quase não dormia, quando se lembrava da sua vida surtava, se cortava com Gilete e chorava por dias. A imagem daquela vida pacata e segura, do cheiro do campo, do fogão de lenha que fervia água para fazer o seu chimarrão, dos sons das violas que tocavam as modas caipiras, sumiu da sua mente; só restara má recordações, morte, tortura, violência, dessa forma morou na rua, viveu como indigente sobreviveu da esmola, e da coleta de materiais recicláveis. Morreu como um sujeito sem história, documento e memória na favela do Cidade Nova em Foz do Iguaçu.

“Danilo George Ribeiro – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.

A UNILA E A MATA (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Caros leitores, não é pouco o que eu tenho falado “as boas” de Foz do Iguaçu para todo mundo que conheço. Certas vezes me sinto meio Policarpo Quaresma (nacionalista e defensor de sua terra) defendendo nossa cidade, nossas novas conquistas, os Centros de Convivência, nosso novo hospital, nosso turismo, Itaipu, a redução dos índices de violência, as belezas naturais, a multidiversidade cultural, os novos vôos para a cidade, a gradativa mudança da matriz econômica, o surgimento de um pólo educacional com novas faculdades, institutos e universidades, o Salão do Livro, a pista de caminhada Avenida Paraná, o projeto calçadas e tudo de bom que vem acontecendo em nossa querida cidade! Não perco a oportunidade de defender em qualquer debate o local onde nasci e vivo, sempre me recheando de argumentos e dados (quantitativos e qualitativos). Só que, de vez em quando, eu acabo me constrangendo um pouco. Há horas que minha cidade me dá uma rasteira e acabo ficando sem saída, a não ser abaixar minha cabeça ir pra casa. Esta semana aconteceu novamente.

Estava eu na faculdade de Arquitetura (uma das mais felizes escolhas da cidade) quando um colega me chamou e disse: “assunto para sua coluna no jornal”. Achei que seria uma novidade sobre um novo curso na Unioeste, ou um novo Centro de Pesquisa no PTI, ou uma fábrica de alta tecnologia e poluição zero, ou quem sabe a ampliação de nosso aeroporto! Quem dera... “você sabe onde vai ser instalada a Unila, a nova Universidade Federal?” “Sim” “Você reparou o que há no local hoje?” “Hum” Busquei no arquivo de minha cabeça “mata?”. “Sim. No local fica uma mata fechada, fruto do trabalho (e dinheiro) de reflorestamento que levou mais de 10 anos e exigiu muito empenho dos funcionários de Itaipu para preparar a terra e a topografia e, agora, com o projeto da Universidade vai ser (praticamente) toda derrubada”.

Sai da sala e fui me sentar em um banco localizado no corredor da faculdade. Quando passeio por nossa cidade, o que mais vejo são terrenos vazios. Muitos deles. Enormes áreas inutilizadas tanto no centro, quanto na periferia. Áreas onde, se o Estatuto da Cidade ou mesmo o bom senso fossem seguidos, caberiam universidades, hospitais, escolas, moradia populares e de interesse popular, áreas da lazer, quadras esportivas, centros culturais, enfim, tudo aquilo que pode melhorar a qualidade de vida dos cidadãos de Foz. Mas como, claro leitor amigo, com tanto espaço vazio, resolveram colocar a nossa tão sonhada Universidade num terreno com mata? Eis da dúvida que tem me tirado um sonho.

Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e comunista (convicto). Ele é daqueles caras que costuma perder o sono quando o assunto é sua cidade, principalmente se as notícias são ruins. O Luiz acredita que a cidade (e a sociedade) pode ser melhor se assumirmos nosso papel como indivíduos sociais inseridos em um contexto ambiental, ou seja, se aprendermos a ver não só os seres humanos a nossa volta (e isso, segundo o Luiz, estamos aprendendo), mas também observar que estes seres humanos estão inseridos em um contexto ambiental que deve ser sustentado acima de tudo. O Luiz é um desses “eco-chatos” que andam por aí reclamando de tudo.

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

RIMAS DA LIBERTAÇÃO - O Levante.

POESIAS E PENSAMENTOS

Ironia Efervescente

Hipocrisia causa azia!

Vou tomar um antiácido
Para suportar a histeria
De sua hipocrisia
Estampada na fotografia
E ficar de bem com a vida

(O Ministério da Saúde adverte:
Afetação de virtude
causa danos à alma)

Graça Carpes

(www.pulsarpoetico.zip.net)


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O Peixe

Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.

Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a insconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.

O camponês, também, do nosso Estado,
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.

Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!

(Patativa do Assaré)

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Malditas sejam todas as cercas
Malditas todas as propriedades privadas
Que nos privam de viver e amar!
Malditas sejam todas as leis,
Amanhadas por umas poucas mãos,
Para ampararem cercas e bois
E fazer a terra escrava
E escravos os humanos

(Pedro Casaldáliga)

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"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"

(Zé Bernardinho)

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Adoro uma bobeira
uma palhaçada
uma palavra à margem
uma idéia engraçada
uma sacanagem
adoro a surpresa da piada
uma indecência boa
adoro ficar à toa
fazendo trocadilhos obscenos
com sexo.
Adoro o que não tem nexo
e por isso faz rir
adoro a bobagem pueril
a coisa que não tem rumo
que de repente me escolhe
e me olha.
Preciso da besteira
para obter a glória!

(Elisa Lucinda)

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Como a poesia, a música retrata os estados da alma e as ondulações do coração, e concretiza os pensamentos invisíveis, e descreve o que há de mais belo nos desejos e sensações do corpo.

(Khalil Gibran)

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O batom sai da bolsa rumo aos meus lábios
que se tornam mais volumosos ou molhados
mais indiscretos e vermelhos, incastos
ganham xampu e escova meus cabelos
caem pelos ombros ou são vagamente presos
suspendo-os com grampos e os desalinho com os dedos
roupas, as encontradas nas vitrines, combinadas
florais ou lisas, caretas ou decotadas
de acordo com o dia, se de reza ou de noitada
sapatos de salto, esmalte em unhas crescendo
porém nada me veste melhor que o não-desempenho
bonita eu sou quando não estão me vendo.

(Martha Medeiros)

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Contraoquê?
contraabanda
musica boa
contraomanto
o verão
contraobanco
o povão
contraocanto
silencio
contraabunda
tvdesligada
contraobando
voto nulo
contraobaixo
volume máximo
contraoataque
a surpresa
contraabanca?
Fortalecimento

(Carol, Foz)

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Revolta

O barulho do cachorro
Os passos de uma criança
O futuro de esperanças
Pisoteados ficam

A angústia no ar
A infelicidade, revoltas
A inimizade, o desprezo...
A solidão
O pesadelo
Quando chega dói

O passo
A realidade
O verso e reverso
Inspiram em mentes
Pisoteados ficam
Quando chega dói

(Edson de Carvalho, Foz)

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A vida (feijão com arroz)
A vida é uma pratada!
um engasgo, um vomito

e atonica eu vejo
dentre meu ex- almoço
ali no chão
figurinhas inanimadas

"você é o que você come"

O que eu como?

Eu engulo sapos
Descasco abacaxis
Seguro pepino ....

Então o que fazer?

do sapo eu faço uma fritada
do pepino uma salada
do abacaxi um suco com hortelã

a vida é uma pratada
Um engasgo, uma mastigada
um Vômito!

(Mysk, Foz)

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O RoMpImEnTo

obancodapraçahojetávazio
ocasaldeontemnuncaexistiu

(Carol, Foz)

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"Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados. "

(Mahatma Gandhi)

Seletivas do Basquete de Rua: Etapa Foz

Nos dias 10 e 11 de Maio aconteceu na cidade uma etapa seletiva do Campeonato de Basquete de Rua organizada pela CUFA-Pr. No evento embalado ao melhor do Rap Nacional pude trocar uma idéia com Júlio Santana, coordenador da Cufa de Londrina, um dos organizadores do evento e saber um pouco mais sobre o Basquete de Rua e a Cufa.


Guillerme, Carol, Wmc e Julio Santana)


Carol: Fala um pouco pra gente sobre como funcionam os projetos da Cufa e o que vocês pretendem alcançar com eles.

Julio Santana: A Cufa começou no Rio de Janeiro depois dali começou a se transformar em várias cidades em 26 estados. Cada cidade tem a sua forma de trabalhar, sabe da sua necessidade. Cada coordenador da Cufa sabe como movimentar a Cufa dentro da sua cidade. Se vamos movimentar só com o hip-hop, se vamos movimentar com o meio ambiente, saneamento básico, se vamos movimentar com o esporte. Isso quem sabe realmente como fazer é quem realmente mora na cidade. É aí que a Cufa acaba absorvendo tudinho o que a cidade tem. Nós somos uma central única das favelas, aonde agente busca a integração entre a favela, a comunidade com a sociedade. Normalmente isso não acontece. Acontece que agente fica exposto a várias coisas ao invés de ficar exposto a cultura, esporte, ação social. Agente fica exposto a droga, fica exposto a tudo que é ruim que uma comunidade pode trazer se não tiver esses elementos pra trabalhar com uma criança ou um jovem. Então a Cufa é uma participação na comunidade que dentro dela, as pessoas que moram nela trabalhar com esse tipo de situação. Não só chegar lá e envolver um projeto e deixar que as pessoas só recebam. Não, elas têm que realmente trabalhar pra que elas mesmas consigam seu próprio desenvolvimento. Indo pra dentro da escola, depois faculdade, aquilo que ela pode ter a Cufa tenta trazer pra dentro da comunidade. Não somos salvadores da pátria, não tem como ser salvador da pátria. Mas sabemos que trabalhando dentro da comunidade é muito mais favorável do que agente chegar lá com muito dinheiro e “é do jeito que eu quero!”. Isso não funciona, na comunidade tem que ser do jeito que ela pode nos dar. Se existe quadra, ótimo, se existe uma escola que pode abrir as portas, ótimo, tem que começar pela comunidade, se não é da sociedade pra lá. E agente quer da comunidade pra sociedade.

Carol: E como surgiu essa história do Basquete de Rua?

Julio Santana: Bom, o basquete de rua começou em 2004, 2003, com uma brincadeira no Festival Hutuz o maior da América Latina, e de lá pra cá tomou um tamanho tão grande que virou uma liga internacional de Basquete de Rua. Ninguém imaginava que isso fosse acontecer. E só virou internacional por que os americanos chamaram a própria LIBRA pra tentar fazer uma liga que começasse no Brasil e terminasse nos EUA.

Carol: E o que é a LIBRA?

Júlio Santana: A LIBRA é uma liga internacional de basquete. Ela é tipo uma confederação onde agente coloca todos os times da cidade onde agente passa como foi em Londrina, Guarapuava e Foz são três cidades que não estavam no ciclo de basquete de rua, mas existe! Tanto que hoje agente viu algumas equipes aí realmente exercendo a liberdade do basquete de rua, fazer malabarismo brincar com o cara e o próprio cara do outro time receber isso na esportiva, não como uma falta de respeito ou outra coisa. Então a LIBRA é hoje, pra nós, um dos elementos da Cufa que mais fica transparente entre a comunidade e aquilo que agente quer.

Carol: E vocês têm mais algum projeto sendo desenvolvido?

Julio Santana: Temos também o Cine Cufa que é uma coisa muito grande. Também temos informações que vai chegar até o sul do Brasil, mas por enquanto ainda ta no circuito São Paulo e Rio porque lá o cinema é muito mais trabalhado, lá liberam milhões pra fazer o projeto enquanto aqui se agente fizer um projeto dentro da minha cidade, que é Londrina, é 100 mil pra fazer um filme. Enquanto lá no Rio de Janeiro são 170, 200, 300, 400 mil que eles liberam porque é cultura. Infelizmente aqui no sul do Brasil não pegou ainda essa vontade de liberar verbas, nem por parte das prefeituras, nem dos órgãos públicos e nem do primeiro setor, que são as empresas. Trabalhamos muito com os três setores, o primeiro, o segundo e o terceiro. Mas sabemos que o terceiro setor é a nossa meta. Melhorar as comunidades de uma forma que seja conjunta. Em Foz do Iguaçu, tá vindo uma Cufa prá cá, depende muito mais da cidade do que da própria Cufa do Rio ou de Curitiba. Por que a de Curitiba é onde nós prestamos conta do que agente faz, temos nossas comunicações, nossos parceiros, se é prefeito, se é vereador. E Curitiba absorve isso pra jogar pra nacional. Mas mesmo assim nós temos liberdade pra jogar pra nacional que é o que realmente agente quer. Se é mentira ou não agente acaba descobrindo, por que querendo ou não o Paraná é pequeno numa viagem agente já sabe o que ta acontecendo de certo ou errado. Já a LIBRA acontecendo aqui em Foz do Iguaçu pra mim é novidade por que não imaginava fazendo em Londrina também, porque em Londrina é uma cidade que tem basquete, mas tinha pouco basquete de rua, então agente ficou “vamos fazer ou não”, “vamos fazer ou não”, e quando agente fez um cronograma que atingia Londrina, Guarapuava, Foz e Curitiba (onde vai ser a final), agente viu que poderia fazer nem que fosse num ginásio público, nem que fosse numa praça, mas agente ia fazer de qualquer jeito. Com ou sem patrocinador, levamos sorte que encontramos a UNILIVRE que é uma Universidade do Meio Ambiente. Mas tudo foi no cronograma que agente imaginou, nada saiu daquilo que agente queria. Hoje o evento foi sensacional, no primeiro dia agente acabou vendo duas equipes se destacando no basquete de rua mesmo. Por que existe, tem que existir isso aí na cabeça deles. E acabamos de crer que a vinda das seletivas tanto pra Londrina, quanto pra Foz e Guarapuava foi acertada na escolha.

Carol: O que diferencia realmente o Basquete “convencional” do Basquete de Rua?

Julio Santana: No basquete normal existem regras muito severas, faltas, andar, não da liberdade de drible e sim de finta. Então é uma finta pro cara sair da sua frente. Já o basquete de rua ele te dá liberdade até de dançar dentro da quadra, de você usar o próprio adversário pra fazer uma tabela com um drible diferente. De você até tirar o calção do jogador e não ser punido por causa disso. Então é uma liberdade. O basquete de rua é uma liberdade. Agente sabe que até se adaptar, principalmente pra nós aqui do sul, não vai demorar muito não. Agora com a LIBRA fazendo isso acontecer vai ter muito mais retorno. Mas basicamente o que diferencia os dois é isso. O basquete é muito mais cadenciado. Fora que agente imagina que o basquete de rua se transformando numa liga muito mais forte que o basquete, vai criar jogadores de basquete. Que nem todo mundo sabe fazer drible como é o basquete de rua, mas todo mundo sabe jogar basquete. Então talvez acabe ajudando nosso basquete brasileiro que está tão carente de título e carente de jogador.

Carol: E dá onde saiu a idéia de fazer uma etapa das seletivas aqui?

Julio Santana: Na verdade agente fez uma pesquisa e ficamos sabendo que aqui não se envolve só o basquete, mas também se envolve os elementos do hip-hop. Há 4 anos atrás elementos de Londrina fizeram um workshop aqui. Então agente já sabia que há 4 anos atrás as idéias já existiam. Aí agente começou a se comunicar muito mais e vimos que os elementos do hip-hop em Foz ainda estavam forte e se misturando com outras coisas como teatro também, dança de rua, que são coisas pra nós que são os elementos do hip-hop. Então agente trouxe pra cá pra quê? Primeiro fortalecer e trazer a Cufa pra eles pra aumentarem suas expectativas dentro de câmaras de vereadores. Nós temos liberdade agente é Central Única das favelas por causa disso. Agente representa a favela. Mas a favela não pode ser representada se ela não vier junto com essa turma que mexe com hip-hop, que mexe com teatro, pedagogia, etc... Dentro de Londrina agente mexe com quase 30 áreas, então são 16 secretarias, que nós estamos abertos pra trabalhar com eles que são Meio Ambiente, Ação Social, Saneamento Básico, Esporte, e até coisa que ninguém imagina que agente mexe, como Informática e Tecnologia. Pra que vai servir pra uma favela isso? Agente tenta achar uma forma de ajudar agente lá dentro. Londrina ainda é uma cidade que tem 15 faculdades e aqui não pesquisei totalmente aqui. Mas agente sabe que aqui também tem faculdade e que muito mais alunos deveriam trabalhar dentro da comunidade. Lá em Londrina agente ta até vendo uma forma pra que isso vire lei. Que pelo menos 30% dos alunos de cada faculdade entrem pra trabalhar em ONG´s. Não faz mal que não seja pra trabalhar na Cufa, que seja outra, mas que comece a dar mais visão e mais visibilidade àquilo que acontece na cidade, ao que acontece com o hip-hop. Querendo ou não, o hip-hop é uma linguagem que só nós que moramos na periferia sabe qual que é.

Carol: Então vocês já tinham algum contato?

Julio Santana: Agente pegou contato direto com a secretaria e lá eles me passaram o contato do Michael e dele saiu a transformação de pelo menos ter o evento. Agora vai ter dele dar continuidade ao projeto. Agente sabe que tem que montar uma equipe, não é tão simples trazer uma Cufa pra cidade. Tem que colocar elementos na sua equipe, um coordenador que todos respeitem a idéia dele, pra que seja um todo. Não precisa ter só a idéia dele, sim de todo mundo, pra que todo mundo vá pro mesmo lugar. Por que há uma fusão de idéias. Pra mim foi muito difícil. Por que eu mexo com pedagoga, ação social, secretário executivo, hip-hop, esporte, tudo isso com a chapa da Cufa em Londrina. Então imagina cada um querendo uma coisa. Então tem que ser muito frio e muito amigo, pra não machucar e não magoar alguém que queira alguma coisa. Pra evitar aquele: “Pô, então você não olha prá nós...”. Não, agente olha, só que tem que ter paciência. Eu acho que a Cufa aqui por ter aqui umas comunidades muito grande, agente foi visitar aqui uma comunidade aonde tem um centro, tem salas, tem ginásio. Quer dizer, existe tudo perto da comunidade, mas falta alguém pra direcionar. E é isso que o MV Bill é, assim que o Davi Black é em Curitiba, assim como o Julio Santana é em Londrina, e assim em Guarapuava é também. E é assim que agente espera de quem for trazer a Cufa pra cá. Agente tem que pensar num todo. Não só em uma favela, ou em uma comunidade. Em Londrina tem 76, eu tenho 76 pra pensar. Pra pensar desse jeito o que eu tenho que fazer? Eu prefiro chamar o presidente do bairro e aquelas pessoas que já trabalham no bairro pra que aquilo de certo. Agente acaba fazendo o quê? Unindo o útil ao agradável e respeitando aqueles que estão a anos trabalhando. Essa é a forma de trabalho da Cufa-Londrina. Como vai ser aqui? Aí com o futuro agente vai saber...

CICATRIZES DA GUERRA - Facção Periférica

A TEIA (Por: Lizal)

Naquela favela tudo parecia estar interligado



Mano Bira desceu a rua principal da favela do Jd. Paraná com um caderno na mão. Acabara de sair de um ensaio do barraco do Mano Zóio. Há oito meses os dois montaram um grupo de Rap juntamente com o Dj J.J e ensaiam semanalmente com o sonho de gravar um CD. Antes de descer a viela D em direção ao seu barraco ouve alguém lhe chamando do bar da Dona Bete.

- Chega aí piá.

- Salve Amarelo. Tranqüilidade?

- Fiquei sabendo que você ta escrevendo umas letras de Rap.

- É verdade. Quer passar um pano?

Após passar as páginas do caderno rapidamente, Amarelo disse com ironia:

- Isso daqui ta muito paia. Eu tenho umas letras escritas e tô só esperando o Rap começar a dar dinheiro pra lançar elas.

Amarelo é o caçula de cinco irmãos e uma irmã. Um deles, o Cláudio, foi assassinado pelo outro irmão chamado Pedro. Discutiram por causa de comida durante a janta e Pedro passou-lhe a faca no pescoço dentro do próprio barraco na frente dos irmãos e da mãe. A irmã de Amarelo, Sandrinha, é casada com o irmão do Mano Bira, João, que trabalha junto com o Mano Zóio descarregando caminhões de laranja no Ceasa. Entram no trampo às 4:00hs da madruga, trabalham 12 horas por dia pra ganhar 15 reais. A irmã mais velha do Mano Zóio, Vânia, é casada com o irmão do meio do Amarelo, Marquinhos. O casal é evangélico e mora ao lado do bar da Dona Bete, numa casa de quintal enorme onde realizam cultos ao ar livre três vezes na semana. O ex-marido de Dona Bete, Ramon, já foi padrasto de Amarelo. Ramon começou a ter um caso com a Edna – mãe de Amarelo – enquanto ainda era casado com Bete. Abandonou a família e foi morar com Edna que é viúva de Sebastião. Dois anos depois abandonou também Edna e foi morar em outro bairro com outra mulher. Sebastião era pedreiro e contratava os serviços do Mussum, um jovem que morava na rua e vivia na favela do Jd. Paraná onde criou amizade com os moradores. Durante a noite, Mussum dormia no barracão da fábrica de móveis para cuidar do local, assim não precisava pagar aluguel. Mussum era explorado por Sebastião que lhe pagava uma mixaria e ainda enrolava no pagamento. Um dia, no bar do Seu Antônio, após matarem uma garrafa de 51 os dois discutiram e Mussum bateu com uma barra de ferro na cabeça de Sebastião indo embora do bairro em seguida. Sebastião não resistiu a pancada.

O bar do Seu Antônio é um dos mais movimentados da quebrada. O espaço é enorme com dezenas de mesas e cadeiras, mesas de sinuca e música alta. Uma das figuras que batem cartão nesse bar é o Gordo. O gordo é comerciante varejista de drogas na favela e já executou várias pessoas por cobrança de dívidas e por tretas. Está sempre cercado de pessoas, tratado como celebridade por aqueles que o temem e que preferem se fazer de amigos para não correrem o risco de serem confundidos com inimigos. Na adolescência o Gordo andava junto com o Neca, Jorge, Marquinhos e Vânia pelas ruas do Jd. Petrópolis onde praticavam pequenos furtos a residências durante a madrugada. Alguns anos depois Neca e Jorge foram assassinados pela polícia. Nos jornais locais saíram matérias com títulos como: “Bandidos resistem à prisão e morrem em confronto com a polícia”. Um jornalista investigativo descobriu que muitos jovens iguaçuenses estavam sendo executados pela polícia e não mortos em confronto como diziam os noticiários. Depoimentos de parentes e testemunhas desse crime disseram que os policiais colocaram os dois jovens contra o muro e executaram com tiros à queima-roupa na cabeça. Depois levaram os corpos para serem desovados próximos do bairro Cidade Nova em uma rua deserta e sem iluminação pública. Os laudos do IML comprovaram a execução. Os tiros disparados até 20 cm de distância das vítimas deixam área de chamuscamento e zona de chama indicando o tiro à queima-roupa e como os tiros foram na nuca anula o argumento de confronto. Foi durante as ações da jovem quadrilha que nasceu a paixão de Marquinhos por Vânia. Quando começaram a namorar, os dois já praticavam alguns assaltos à mão armada juntos. Com o dinheiro dos assaltos a sacoleiros na Ponte da Amizade passavam os fins de semana no conforto dos hotéis iguaçuenses. Uma vez uma das vítimas reconheceu-os, pois estavam hospedados no mesmo hotel. O casal estava tirando uma chinfra na piscina, curtindo a vida e tomando uma cervejinha. Foram parar atrás das grades pela primeira vez. Quando saíram resolveram voltar aos estudos, entrar pra igreja, procurar um trabalho e juntar as escovas de dente. Foram morar de favor na cada de uma prima de Vânia conhecida como Cida pé-sujo. O apelido vem da infância por não ser muito afeita a tomar banho. Ficava brincando até tarde com os moleques no campinho de terra que tem no meio da favela e dormia com os pés todo sujo de terra. A mãe de Cida deixou-a ainda pequena para a avó cuidar e foi embora para o Mato Grosso do Sul à procura de trabalho. Nunca mais deu notícia. O pai não assumiu a paternidade e a vó estava velha e doente demais para cuidar da educação da netinha, que cresceu meio jogada. Ela só andava no meio dos garotos, jogava futebol, bolinha-de-gude, brincava de carrinho. Até seus 18 anos nunca havia ficado com nenhum rapaz, usava calça larga, camisetas grandes, bonés e óculos escuros. Seu primeiro beijo foi na festa junina do bairro, roubado por Amarelo. Foram três meses de namoro intenso até que ela pegou-o na cama com outra. Resolveu se vingar ficando com os garotos do bairro. Começou pelo irmão de Amarelo, Ferrugem, gostou e continuou a fila. Dizem que quase todo o bairro passou por seus lençóis, o que destruiu alguns namoros e casamentos.

Outro irmão do Amarelo está foragido da quebrada. O Zezão havia atacado algumas garotas e tentado violentá-las. Os malucos já estavam na sua captura, não chamaram a polícia nem nada, já haviam decretado pena de morte no tribunal da favela. Numa noite pegaram-no em flagrante tentado violentar uma senhora. Dona alzira tem 45 anos e trabalha vendendo cosméticos de bairro em bairro. Naquela noite Zezão abordou-a e pediu para ver um baton que queria comprar pra irmã. Os malucos ouviram os gritos da senhora e correram até lá. O primeiro tiro foi disparado pelo Gordo. Dos 15 disparos nenhum acertou o Zezão que fugiu da quebrada em ziguezague. Levaram Dona Alzira até o bar do Seu Antônio para ela se recuperar do susto. Ali nasceu o romance de Antônio e Alzira. No passado os dois já foram inimigos. O filho de Antônio, Eliezer, estava namorando a filha de Alzira, Cleonice. A mãe não aceitava o namoro porque Eliezer era usuário de maconha. Dona Alzira e Antônio chegaram a se agredir verbalmente várias vezes, ninguém acredita que os dois se tornariam um casal no futuro, ainda mais pelo fato de Antonio dar uma bola num baseado todos os dias. Hoje o filho de Antônio está completando 04 anos de prisão por ter cometido um latrocínio. A filha de Alzira tem 03 filhos, todos de pais diferentes que não assumiram a paternidade. Seu Antônio e Dona Alzira ajudam a cuidar dos netos, além de visitar Eliezer na prisão.

Os estudantes saíam da escola e o Gordo resolveu comprar um perfume para presentear Sabrina, uma mina por quem ele sempre foi apaixonado. Entregou-lhe o perfume e acompanhou-a até o portão dizendo-lhe coisas românticas. Sabrina disse que poderia rolar, desde que ele abandonasse o crime. Gordo prometeu, mas não cumpriu. Um ano depois os dois moravam juntos, nascia o primeiro filho e Sabrina visitava-o na cadeia. Com a influencia de seu marido Sabrina estava vendendo droga no barraco pra ajudá-lo com advogado e os outros custos da vida na cadeia. Sabrina é prima do Bira e contou-lhe que o irmão de Amarelo, Ferrugem, estava de talaricagem pra cima dela. Isto chegou aos ouvidos de Gordo e quando saiu da cadeia esperou o Ferrugem na esquina e executou-o com cinco tiros. Quando o Gordo recebeu uma intimação para depor, ele foi até a casa do Amarelo e ameaçou-o:

- Ou você vai depor a meu favor como testemunha, ou...

Com o próprio irmão inocentando o assassino, Gordo se livrou da acusação. Depois desse dia Amarelo caiu de vez na bebedeira, vivia pelos bares tomando pinga e arrumando confusão. Comprou uma arma e jurou para si mesmo que se vingaria. Anda sempre com ela na cintura, mas nunca usou, sempre que passa pelo Gordo abaixa a cabeça e se entristece. Alguns meses depois, Zezão voltou na quebrada vestido de terno e com uma bíblia embaixo do braço. Por consideração a Vânia e Marquinhos que intercederam por ele dizendo que era um novo homem, os malucos não o mataram, mas ficaram de campana vigiando sua conduta. Cinco meses depois Zezão violentou uma garotinha que participava das aulas da escola dominical e foi executado com 32 tiros e mais de 30 facadas.

Com 06 anos de grupo os rappers gravaram seu primeiro álbum. O show de lançamento foi marcado pra uma noite de sábado no bar do Seu Antônio. Toda a favela estava presente. Dona Alzira, a filha, os netos; Pedro; os casais Sandrinha e João, Vânia e Marquinhos; dona Bete, que fechou o bar pra ir no show; Beto; Gordo, com Sabrina e a filha em um canto; Amarelo em outro canto sozinho. Nessa noite a Cida pé-sujo estava ficando com Eliezer, que estava na condicional. Até o Ramon apareceu na companhia de sua nova esposa e seus novos afilhados, o que causou indignação na Edna e na Dona Bete. O dj JJ, dj do grupo que foi batizado de Libertários, é primo do Zóio. Ele é animador cultural em Foz do Iguaçu e apresenta muitos eventos pela cidade. Sempre muito brincalhão, sua forma irreverente de apresentar os eventos ficou conhecida nas festas juninas que ele ajudava a organizar junto a Associação de Moradores. Naquela noite ele estava com CDs e camisetas do grupo para serem sorteados. Quem respondesse as perguntas ganharia os prêmios. “Em que dia e ano morreu Zumbi dos Palmares, o líder negro que lutou até a morte pela libertação dos escravos?”. Ninguém respondeu. “Em que dia e ano foi assinada a Lei Áurea, que a Princesa Isabel assinou e que anunciava a falsa abolição da escravidão?”. Novamente ninguém respondeu. “Qual o nome do argentino que lutou ao lado de Fidel Castro na revolução cubana?”. Todos mudos. “O que aconteceu no Brasil na noite de 31 de março de 1964 que culminou num dos capítulos mais tristes da nossa história?”. Um rapaz chutou: “Guerra do Paraguai”. Ao ver que ninguém mais queria tentar, perguntou com ironia: “Qual o nome da nova novela das oito?”. Mais de 15 pessoas levantaram o braço pra responder.

O show começou com um discurso do Mano Bira. “A favela é uma enorme teia. Tudo aqui dentro parece estar interligado. Todos os excluídos aqui estão incluídos numa grande roubada. Quantos aqui estão desempregados, trabalhando em sub-empregos, sendo explorados, humilhados. Os favelados estão a semana inteira trabalhando na construção das casas dos playboys, construindo seus hotéis 5 estrelas, seus condomínios de luxo e depois voltam para a quebrada para levantar suas próprias casas. E qual a diferença da casa que construímos pra eles e a que construímos pra gente? Porque os nossos filhos não podem estudar nas escolas particulares que nós construímos? Porque nós não podemos jantar nos restaurantes que construímos, não podemos nos hospedar nos hotéis? Quando falam de violência na favela sempre falam do crime, do tráfico, da violência policial, mas a maior violência que sofremos é a violência estrutural. E a primeira violência que um favelado sofre é a fome. (...) Temos que ter consciência de classe. A elite só enriquece por causa da exploração da nossa força de trabalho. Porque nós aceitamos a dominação? Porque continuamos nos matando? É só gente da gente que ta morrendo. Vamos construir uma nova sociedade, concertar não dá mais, temos que construir outra, que essa sociedade capitalista nunca foi boa pra gente. Alguém aqui ta contente, acha que ta bom assim, que não precisa mudar? Temos que nos unir e lutar coletivamente (...)”. O grupo começou a cantar suas músicas, todas de autoria própria e com um forte conteúdo político. O Amarelo estava em um canto na companhia do irmão Pedro, os dois estavam tomando todas, a mesa cheia de garrafas de cerveja vazias.

- Muito fraquinha as músicas desses doido. Eu tenho umas letras escrita e to só esperando o Rap começar a dar dinheiro pra lançar elas.

No fim do show a maioria das pessoas já tinham ido pra suas casas. O Amarelo chegou no Seu Antônio e disse pra ele pendurar a conta, que estava sem dinheiro.

- Mas você é um patife mesmo. Primeiro bebe e depois pede pra marcar.

Levou um empurrão de Amarelo e devolveu um soco no meio da cara. Amarelo puxou a arma e colocou na cara de Antônio, gritando:

- Eu vou te matar seu desgraçado, ninguém bate na minha cara, eu sou sujeito homem.

- Se você fosse sujeito homem não tinha ido depor a favor do assassino do seu irmão. Você é um covarde.

Seu Antonio entrou no bar, pegou o celular e foi ligar pra polícia. Amarelo aproveitou a brecha e correu pra casa prometendo para si mesmo que se vingaria.

MÍNIMO (Por: Carlos Luz).



Segundo levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo no Brasil deveria ser de R$ 2.045,06. O estudo da entidade foi feito com base na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de maio, realizada em 17 capitais do país.

A Constituição brasileira estabelece que o salário mínimo deva ser suficiente para garantir as despesas familiares com alimentação, moradia, saúde, transportes, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência. Pelos cálculos do Dieese, o valor do mínimo deveria ser 4,4 vezes do que vale hoje.

Fonte: www.carlos-luz.blogspot.com

ANIVERSÁRIO DE FOZ 95 ANOS! PARABÉNS TERRA DAS MUDANÇAS(Por: Jackson Lima).

Foz do Iguaçu está comemorando hoje 95 anos como município autônomo. Autônomo do que ou de quem? De Guarapuava. Hoje Guarapuava está tão longe. Parece que não temos nada a ver com ela. Em 1914, Foz ganhou a autonomia dela. Hoje, entre Guarapuava e Foz do Iguaçu há tantas cidades: Cascavel foi Foz do Iguaçu e daí tudo foi se dividindo e assumindo autonomias. O ano em que Foz do Iguaçu se desligou de Guarapuava foi mágico, no sentido perverso. Foi o ano da Primeira Guerra Mundial. Dois anos depois, o resultado da Guerra chegou aqui. Foi o decreto que proibia a entrada no Brasil de imigrantes alemães, italianos entre outros. Isso afetou a pequena cidade cujo prefeito era Jorge Schimmelpfeng – nome mais alemão que esse não poderia haver. Foz que desde seus primeiros habitantes (um espanhol e um brasileiro) já era diversificada. Hoje aos 95 anos, a cidade tem gente de toda parte. Eu vim de Alagoas. Veio gente de todo o Brasil. Mas há também gente de todo o Paraguai e de boa parte da Argentina – excluindo talvez a Terra do Fogo, Malvinas e as províncias do Norte. Há gente de todo o Líbano. Há gente da China, de Taiwan, da Coréia, Índia, Japão, Colômbia, Equador, Togo. Eu entrevisto muita gente. Do Paraná há gente de toda parte. Uma senhora que veio de Umuarama me disse que o ar aqui é diferente. As coisas acontecem. Tem muitas cidades por aí onde quem tem, tem e não há espaço para quem vem de fora. E como tem cidades assim! Tem coisa acontecendo na cidade. Está havendo uma mudança. O fermento está crescendo. E embora a cidade de Foz ainda seja injusta com boa parte de sua população e a criminalidade seja absurda, os bairros considerados boca quente estão diminuindo. Tem coisa acontecendo. Daqui a cinco anos, serão 100 anos. Em Foz e no Tao, uma coisa é imutável: a mudança. Em Foz tudo muda! Mudemos sempre para o bem!

Fonte: www.blogdefoz.blogspot.com

Natureza sofre, no olhar de Adilson Borges



Na Semana do Meio Ambiente, o ambientalista Adilson Borges fez algumas fotos em diferentes pontos geográficos da cidade que mostram o descaso das autoridades com o meio ambiente e, em parte, a omissão da comunidade com estes espaços públicos e terrenos obsoletos. As imagens comprovam a falta de uma política pública específica de ocupação e segurança em locais considerados críticos de Foz do Iguaçu, com o lixo, a degradação e desrespeito ao meio ambiente ferindo a alma da natureza da “Terra das Cataratas”. As fotos foram tiradas das margens do Rio Boiçy, do Parque Monjolo e de uma estrada localizada atrás do Posto Oklahoma, situado às margens da Rodovia das Cataratas, que dá acesso ao Parque Nacional do Iguaçu. Enquanto a mãe natureza era entoada em cânticos por xamãs e simpatizantes espiritualizados, o meio ambiente de Foz do Iguaçu sofre com a moléstia da falta de conscientização das pessoas, a desinformação e o desinteresse da maioria em desempenhar pequenas atitudes no dia-a-dia que podem mudar o atual panorama.

“Pior do que ver uma grande parte do patrimônio natural de Foz do Iguaçu ser destruído é ver a omissão da sociedade que nada faz para protegê-lo”, refletiu o ambientalista Adilson Borges.

Fonte: www.megafone.inf.br

A INVASÃO CULTURAL NORTE-AMERICANA



Será que os diferentes povos que compõe essa aldeia global conseguirão manter, daqui para frente, a riqueza contida em suas diversidades culturais? Ou será que o atual processo de mundialização da cultura norte-americana deixará todos eles com a mesma cara dos USA? O que acontecerá com a cultura brasileira, se até agora ainda estamos construindo nossa própria identidade cultural? Para responder a essas perguntas, a autora Júlia Falivene Alves transforma seu livro, A Invasão Cultural Norte-Americana (Editora Moderna, 2004), em um verdadeiro manifesto antropofágico [cultura comendo cultura], sem ufanismos e com alto teor crítico multifacetado. A autora percorre as variáveis que compõe a cultura brasileira, denunciando as conseqüências da invasão cultural norte-americana no Brasil. O mais grave nesse manifesto é a característica subliminar da invasão. Como se fosse um vírus, infiltrado dentro de nossas mentes. São invasores invisíveis, confundem-se com nossos valores, nossas crenças e nosso estilo de vida. Os invasores estão em nosso tênis (Nike), em nosso som (Punk Rock), são nossos ídolos (Nirvana), estão nos filmes (Star Wars), na nossa comida (McDonald's), na nossa bebida (Coca-Cola), nos nossos apelidos (baby), nos desenhos animados (Scooby-Doo), nos nossos sonhos (Hawaí), enfim. Indubitavelmente somos hospedeiros culturais made in USA.

O livro A Invasão Cultural Norte-Americana, percorre a história buscando a origem da doença. A autora mostra que desde o início de nossa industrialização, somos mantidos por capital estrangeiro, principalmente americano. O imperialismo americano mostra-se na desigualdade do intercâmbio econômico, na qual o Brasil é mero fornecedor de matérias-primas e alimentos e importador de manufaturados, tecnologia e capitais dos Estados Unidos.

Os USA tem o poder de influir sobre os assuntos de interesse público no Brasil, opondo-se e interferindo nas tentativas de emancipação que porventura possam ocorrer, usando para isso tanto pressões diplomáticas, sanções econômicas e campanhas publicitárias, como ainda operações secretas e intervenções militares. Segundo a autora, "durante a ditadura militar, a TV brasileira se transformaria em anestésico e analgésico socioculturais. Em decorrência, surgiam ante nosso olhos 'dois Brasis': um que a gente de fato vivia, e outro, que a gente apenas 'televia'.
Entender como programas e anúncios publicitários televisivos nos manipularam naquele período é meio caminho para nos livrarmos de possíveis manipulações nos dias de hoje". A autora cita como exemplo a Rede Globo. A emissora foi criada a partir do capital americano através de um consórcio de US$ 5 milhões com o grupo Time-Life. Inclusive nessa época foi aberta uma CPI para averiguar esse misterioso contrato. A CPI concluiu que o acordo infringia preceitos constitucionais, que proibiam a participação de estrangeiros na orientação intelectual e administrativa da TV brasileira. No governo militar de Costa e Silva (1967-1969), o caso foi arquivado.

Gilberto Gil, em seu discurso de posse como ministro do governo Lula, disse: "A multiplicidade cultural brasileira é um fato. Paradoxalmente, a nossa unidade de cultura – unidade básica, abrangente e profunda – também. Em verdade, podemos mesmo dizer que a diversidade interna é, hoje, um dos nossos traços identitários mais nítidos. É o que faz com que um habitante da favela carioca, vinculado ao samba e à macumba, e um caboclo amazônico, cultivando carimbós e encantados sintam-se – e, de fato, sejam – igualmente brasileiros. Como bem disse Agostinho da Silva, o Brasil não é o país do isto ou aquilo, mas o país do isto e aquilo. Somos um povo mestiço que vem criando, ao longo dos séculos, uma cultura essencialmente sincrética. Uma cultura diversificada, plural – mas que é como um verbo conjugado por essas pessoas diversas, em tempos e modos distintos.

Porque, ao mesmo tempo, essa cultura é una: cultura tropical sincrética tecida ao abrigo e à luz da língua portuguesa". Viva a cultura brasileira! Viva a produção nacional! Viva o novo! Viva o inédito! O livro A Invasão Cultural Norte-Americana é fruto de um estudo amparado por números e fatos que comprovam o colonialismo cultural que o Brasil se submete aos Estados Unidos. É um livro, é um manifesto, é uma luz que se acende nesse mar de penumbra cultural.

Fonte: www.granjadosolar.blogspot.com

TESTA DE FERRO - Nega Gizza

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli).



Arinha - Casa do Teatro



Arinha Rocha tem 40 anos e nasceu em Umuarama-Pr. Sua família veio para Foz do Iguaçu em 1976 em busca de melhoria de vida. A construção da barragem de Itaipu parecia uma boa alternativa, uma vez que seu pai trabalhava em obras. Seu pai trabalhou inicialmente no lado Paraguaio da barragem e para ele era tudo novo, pois se mal conhecia outras cidades do Paraná, ela lembra que a família passou bastante dificuldade, pois no ano de 1977 a obra já estava bem encaminhada e boa parte dos obreiros foram despejados. Moraram em casinhas alugadas por “KID” que era um pistoleiro que fazia serviços para um político da cidade, posteriormente a família se mudou para o PROFILURB que eram casas nos estilos BNH, programas populares de habitação para trabalhadores que chegavam dos mais diversos estados do Brasil. Arinha cresceu na região do Porto-Meira, sobre sua infância diz que “Morar em bairro é um barato neh, muito bom, conheci ali um povo batalhador que vive com poucas oportunidades, dançava nas danceterias dos botecos, estudei e trabalhei na escola do bairro, conheci todas as professoras e construí boas amizades lá”.

Arinha já trabalhou vendendo vassouras, picolé, jornal, sonhava em trabalhar em escritório e assim foi trabalhar na prefeitura como secretária. Para conseguir o emprego ela revela que ia para a prefeitura às 7 da manhã e ficava até a meia noite na prefeitura, formalmente esse foi seu primeiro trabalho. Depois, após concluir a graduação de ciências contábeis, começou a trabalhar em escritório de contabilidade, aí depois de muito tempo começou a fazer curso de teatro na época em que se tinha iniciado a Fundação Cultural do município, o Sílvio e toda galera trouxe um curso de teatro. Depois foi para São Paulo, onde residiu por nove anos, mas voltou pra Foz do Iguaçu com o sonho de construir um grupo de teatro. “Foz do Iguaçu é uma coisa bem louca, uma relação de amor e ódio, eu ainda tenho amigos de verdade aqui, eu conheço várias partes de Foz, saí muitas vezes daqui e voltei. Acho aqui magnífico, tem pessoas incríveis, você vai num bar que você vira amigo do cara, eu sou meio refém de várias pessoas batalhadoras e luto por elas para que aconteça alguma coisa, e o ódio é com algumas coisas daqui principalmente com a administração pública”. “Eu sempre fui envolvida com as coisas mais políticas neh, quando eu era adolescente ajudei a criar no Porto-Meira um grupo chamado Jovem em Ação. Eu tinha 13 anos e a função desse grupo era escutar a população local. Nós usávamos o espaço da creche, mas a gente não fazia nada para lugar nenhum, era algo Anarquizoide, mas lá desabava um pouco das angústias e das vontades dos moradores. E aí conseguimos encontrar um dia um ex-exilado da política paraguaia e ele viu naquilo ali uma possibilidade de começar a fazer que as pessoas pensassem, e ele criou uma biblioteca nesse grupo pra gente ler. Líamos Eduardo Galeano, aí eu queria mudar o mundo, esse cara foi uma pessoa importantíssima e meu irmão também influenciou criando atividades que nos ajudassem a pensar na verdade. A gente participou inclusive na ditadura Paraguaia, fizemos greve de fome também, começamos a participar politicamente também da cidade”.


Movimento juvenil no Porto-Meira


“Então essas coisas fizeram que eu tivesse vontade de criar as coisas, aí veio o teatro que foi algo que me apaixonei, eu fazia desfile de moda no bairro do Porto-Meira, então assim eu sempre participei de algum jeito da comunidade e das coisas. Aí o teatro me fez encontrar o que eu sonhei, aí nunca dava pra gente fazer uma coisa e eu comecei a querer fazer só teatro, não queria mais participar de movimento, só queria teatro. Só que a cidade nunca deu oportunidade para que as coisas acontecessem única e exclusivamente, como tudo que ta começando a gente teve que criar público para tudo que a gente fazia. Aí começamos a chamar as pessoas e a gente criou a Mostra Nacional de Teatro que foi cinco anos. Veio gente do Brasil todo, grupos extremamente respeitados do Brasil e de fora, então começamos a participar do movimento cultural. Você pensa política e vai participando das coisas e uma coisa vai misturando com a outra e aí a paixão pela arte e o teatro me levou”.


Casa do Teatro




Nós temos um grupo chamado Teatro e Companhia que é de 1992, a criação em documento, mas na verdade já faz mais neh, em 1988 eu já fazia teatro aqui em Foz, só que o grupo foi registrado em 1992, aí a Casa do Teatro fazem seis anos por que eu achava que pro grupo faltava algo. Aí resolvemos criar a idéia da Casa do Teatro para consolidar o povo, espaço, todas as coisas que faltavam”. “Hoje o que a casa do teatro faz é oficinas, tem trabalhos de recreação, rodas de conversas, fazemos o Café com Teatro. Hoje a gente podia fazer só teatro, mas achamos que devemos nos envolver em outras possibilidades como musica hip-hop, cinema, pessoas que fazem qualquer coisa, essa movimentação é melhora para todo mundo. A casa do teatro é meia hibrida e faz um pouco de cada coisa”. “A casa tem um projeto com o ministério da cultura que são do ponto de cultura e parte das oficinas que a gente faz são pagos pelo ponto de cultura que vai até o ano que vem. Começou ano passado e tem duração de três anos. Temos trabalhos em bairros, visando a cultura popular e um trabalho com a ITAIPU Binacional também, atualmente esses são os dois trabalhos que temos”.

A casa é uma ONG?

“Na verdade ONG é não governamental, nós não somos governo então somos uma ONG. Todo mundo tem um pouco de resquício de dizer ONG, mas na verdade somos uma organização de artistas que trabalham com a cultura”. “Temos várias dificuldades. Primeiro por que as oficinas não são pagas, e não cobramos por que cada dia acho que temos que formar pessoas que gostem de arte, lutamos para não acabar e estancar a arte, por que se eu fizesse só espetáculo nós não temos espaços para fazer arte, se eu tivesse um espaço público e me apresentasse semanalmente... mas, na verdade aqui em Foz apresentamos de forma esporádica por falta de espaço.Então se você não fizer nada até acontecer uma peça de teatro as coisas esfriam, então mantemos a oficina aonde não se paga e mantemos ela por que achamos importante. Muitas coisas que nós fazemos não tem da onde tirar o dinheiro, as vezes a gente acaba pagando para fazer e manter as coisas aqui, então passamos dificuldade, a casa tem que pagar água, luz e telefone. Temos esses custos fixos que precisam ser pagos. Então temos que bancar a nossa estrutura”.

Viver de Cultura

“Quem vive de cultura é resistente, quem trabalha nessa área é mais por teimosia do que grana, fora que muitos não vêem isso como trabalho e acham que você é vagabundo. A cidade aqui tem que começar a imaginar uma outra coisa, olhar para fora e perceber como se desenvolve uma cidade, para ela desenvolver culturalmente ela tem que se pensar de uma forma que a vida é trabalho, lazer, educação, se não tiver isso não é um ser completo e a gente tem que estar pensando a população como um ser completo neh, a cultura ta no meio dessa gama é um índice indispensável na vida de qualquer cidade. Não é pensar em ser maior, é pensar no seu povo como pessoas portadoras de direito”.

Cultura de Violência

“Eu acho que a cidade tem que caminhar muito, olhar para fora e entender como que se faz, um colega meu diz que Foz sofre do mal de malinche que é uma tribo indígena que se apaixonou pelos brancos e por tudo que veio de fora, pararam de fazer tudo que faziam e deixaram os brancos fazerem e quando os brancos entraram na tribo também trouxeram o mal e a doença do malinche que exterminou seu povo. A cidade tem que entender que ela passa por isso, nós não temos amor próprio, as pessoas daqui tem que acreditar que são capazes de fazer e tem que saber o que produz e a cultura é feita pelas pessoas que moram aqui, então quando falamos de Foz lembramos que ela tem uma cultura de violência terrível. Isso tem que ser mudado por algo interessante, os meninos produzindo nas periferias o hip-hop, circo e música por que a violência só vai mudar se a gente introduzir outras coisas lá. Temos que ter uma política pública que de uma juntada nisso e desenvolver um trabalho que nos leve adiante. Existe aqui em Foz produtores de cultura e lutamos para que não morremos do mal de malinche, acho que as pessoas daqui tem que olhar para esse caldeirão e pelas coisas produzidas aqui, fomentando o que vem daqui por que se não vira uma idiotice de que tudo que vem de fora é bom e o que tem aqui não significa nada”.

Itaipu e a cidade

“A cidade aqui é nova, eu acho que a cidade começa quando Itaipu começa. Falam que aqui tem 90 anos, mas na verdade aqui antes não tinha nada, pra mim começa a Itaipu começa a cidade. Isso me lembra a parte da bíblia dos ataques dos gafanhotos, muitos gafanhotos estão aqui comendo tudo, mas depois vão embora. Eu espero que venham pessoas iguais a vocês que estão querendo descobrir o que a cidade pensa através de várias visões, todo mundo aqui tem um parâmetro do que a cidade enxerga de si, eu tenho 40 anos e espero que os jovens achem que vale a pena lutar e toquem o barco”.

Cultura e transformação social

“Eu sou muito apaixonada por essa cidade, meu discurso é muito apaixonado eu já conheci cidade que a cultura transformou a forma do povo olhar. Quando você conhece e produz alguma coisa muitos começam a ser dono do espaço, aí é a diferença você tem um lugar então depredamos menos a escola, por que a escola é sua; você destrói menos o orelhão por que o orelhão é seu. Cultura não é só a arte, a arte é parte da cultura, quando se trabalha com arte você se discute a cultura da cidade, você faz com que as pessoas se apropriem do que é delas e toda noção que você tem da cidade muda. Você chega em São Paulo, sabe, naquela cidade gigantesca, as pessoas vão ao teatro e não só a classe média e alta são as pessoas da cidade. Na rua tem espetáculo por que lá as pessoas tem orgulho em dizer eu sou daqui. Em Porto Iguazu na Argentina não tem um prédio chamado Teatro, mas eles reconhecem a rua como espaço deles, o pessoal vai pra rua fazer espetáculo e a galera participa, então você vê um povo reconhecendo aquele espaço como deles. Tudo que acontece lá é importante pra eles, a participação lá é muito, aqui em Foz parece que as coisas são distantes das pessoas, tipo aquilo não faz parte da minha vida, aqui por ser uma cidade de turista então um teatro aqui não altera a ordem da cidade, mas sempre aparece cinco, seis gringos aqui. A cidade carece disso, desses espaços, inclusive para segurar as pessoas que vem para a cidade, que aqui é cassino, compras, aqui fora o turismo tem o que? Aqui poderia ter um bom teatro, bares interessantes, coisas acontecendo nas ruas. Muitas pessoas que vem aqui são mochileiros e aventureiros como a gente, que nem quando você vai pro Chile, vai pro Uruguai, então você quer conversar com as pessoas da cidade, descobrir o que elas fazem, então as pessoas querem conhecer o povo, e aqui nós temos que fazer muitos entenderem isso: o povo é parte da cidade, não existe prédios diferentes das pessoas que moram lá, se você entender isso você entende que isso tem que ser povoado de cultura. Eu acho que a cultura muda tanto a questão econômica quanto aos conflitos, assassinatos, por que as pessoas têm que estar ocupadas, serem donas do que estão fazendo, temos que ver que as coisas podem ser diferentes”.

Governantes

“Cultura não é o interesse dos governantes dessa cidade, nunca foi e continua não sendo, é uma coisa que não levaram em conta que é interessante. Eu tenho uma crítica as pessoas que são donas da cidade, que são as pessoas que mandam, neh: se você nunca viu, você não vai entender para o que é que serve. A falta de integração latino-americana perpassa pela cultura, a língua é uma dificuldade, mas acho que ainda é uma fronteira pequena quando pensa que as pessoas querem se encontrar. A gente aqui quer conhecer outros povos e entender, muitos dizem que aqui a gente vive harmonicamente com não sei quantas etnias, mas harmonia não é ausência de guerras, harmonia é quando você consegue dialogar com essas diferenças. Eu vejo que não há diálogo, as culturas só vivem aqui. Então a cidade tem dificuldade desde a criação e temos todos os problemas políticos neh, desde a guerra do Paraguai, a dificuldade que a gente tem, e a relação estreita do MERCOSUL, mas por isso acho que a cultura seria uma forma de romper isso de fazer as pessoas se encontrarem e ligar menos para preconceito. A juventude tem muita facilidade de diálogo e de adentrar no mundo do outro, isso tudo perpassa pela cultura e eu acho que é uma forma de integração. Muitos pensam em criar documentos e assinar dois, três países, mas não se rompe, para entrar na Argentina tem tudo uma dificuldade, mas quando apresentamos lá levando cenário e figurino os caras até cumprimentam a gente, 'á!!! vocês são do teatro'. Quer dizer, tem um mundo que parece que não é muito oficial e que as pessoas caminham por isso, muitas vezes o pessoal do Paraguai faz som aqui, eu acho que não é oficializada a coisa, mas existe um encontro, mas ainda é pequeno”.

FERNARTEC

“Aqui tudo que começa termina, mas para mim a feira nunca representou integração de nada, mas lamento por ter terminado por que é mais um perda para a cidade, nunca fui assídua freqüentadora, essas feiras são uma tristeza”.

Integração Latino-Americana

“Tem muitas dificuldades, neh, politicamente é complicado, porque não é uma coisa que se faz porque quer., é política e jogo duríssimo. Pensamentos diferentes, nosso presidente, os outros presidentes., tem muita dificuldades porque politicamente não sei nem se é muito interessante assim. É muito complicado, não é assim uma integração, neh. A gente acha que integração é você conversar com o outro. Integração deveria ser muito mais que isso, deveria ter coisas acontecendo e a gente poderia, por exemplo, estudar no Paraguai sem muita dificuldade, ser aceito aqui no Brasil sem muita dificuldade, até porque a maioria é muito equiparado a qualidade das escolas, das faculdades. Mas passa por muita coisa, por muita dificuldade, politicamnete é muito diferente. Mas oxalá se a gente tivesse muito mais integração, fortaleceria a america-latina toda . É um sonho de todo latino-americano, sonho meu, Mercedes Sosa e tanta gente que já até morreu sonhando com isso”.

SONHOS

“Agora, a gente tava até conversando com os meninos que tem viajado a América-Latina, o sonho, acho que todas as pessoas que moram por esses quinhão, que tem a mesma dor, que sofre as mesmas coisas, que é matado pelos mesmos, sacrificados pelos mesmos, que são o povo latino-americano, oxalá que a gente conseguisse acreditar que nós somos o mesmo povo, neh”. “Não acredito que tenha uma grande mudança, mas eu torço para que ele aconteça”.

Para saber mais sobre a Casa do Teatro acessem: WWW.casadoteatro.org.br

VERBOS À FLOR DA PELE - F.U.R.T.O.

GERAÇÃO “LOOK AT ME” (Por: Antonio Ozaí da Silva).



Tenho Orkut, MSN, vários blogs, grupos e participo de redes sociais: Café História, Plaxo, Unyk e Multiply. Mantenho vários emails e, claro, conta no YouTube, álbuns de fotos no Picasa e rádio na LastFM. Embora esteja próximo ao cinqüentenário, sou da geração Look at me (Olhe para mim). A geração Look at me está exposta full time na Web. Ela faz questão de se mostrar. De certa forma, vivemos a época do Big Brother World. Basta conectar-se e todos nos vêem e podemos vê-los. A revolução tecnológica, que inclui celulares e câmeras digitais, possibilita uma verdadeira devassa. Não faz muito tempo, ver fotos era uma atividade restrita à família e aos amigos mais próximos. Outro dia, fui à casa de uma família que não tem acesso à Internet. Após certo tempo, me trouxeram um monte de fotos para ver. Enquanto me mostravam as fotos, falavam sobre os contextos em que foram tiradas, quem eram as pessoas fotografadas, etc. Ela não tem câmara digital, mas já pensa em comprar. Hoje, basta ter uma câmera digital e registramos as festas familiares, confraternizações, encontros com os amigos, as férias na praia, etc. Depois, quase que instantaneamente, as fotos são disponibilizadas nos fotoblogs, Picasa e, claro, no Orkut. Talvez vivamos a época de maior exposição e risco à privacidade. As imagens são acompanhadas de palavras. A geração Look at me expõe sentimentos, declarações apaixonadas, comentários sobre as amizades, etc. Exibem o que deveria se restringir à intimidade das relações. Alguns aplicativos, como o BuddyPoke, representam situações íntimas e até mesmo ridículas. Namora-se pelo MSN, Orkut, etc. Tudo se torna público! Até é possível informar como está o estado psicológico e o que você está fazendo no momento. E somos estimulados a informar sobre estas coisas. Tudo com muito amor e bom-humor! Os sites de relacionamento permitem configurar e controlar quem tem acesso aos dados, fotos, vídeos, etc. Mas a geração look at me nem sempre tem a preocupação com a preservação da privacidade. O fundamental é aparecer, se mostrar. Nem sempre há o cuidado com o que se escreve e o que se deixa visível. Se antes expúnhamos nossas confidências e cotidiano apenas aos amigos mais próximos, agora temos dezenas e centenas de amigos virtuais. Muitas amizades e exposição, pouca intimidade. Não obstante, tecnologia potencializa as possibilidades de comunicação. Na Internet descobrimos pessoas que há muito não víamos e somos descobertos. Tem-se, então, a chance de resgatar amizades e relacionamentos que se perderam com o tempo. Por outro lado, essas redes de relacionamento também possibilitam o fortalecimento dos laços virtuais, amizades que podem até mesmo se tornarem reais. As redes de relacionamento virtuais, como o Orkut, transformam até mesmo a prática docente. Pedagogicamente, é importante que o professor conheça seus alunos e estes se deixam conhecer. Por sua vez, também nos expomos ao olhar perspicaz deles. Essa comunicação, ainda que virtual, contribui para fortalecer os vínculos necessários ao processo de ensino-aprendizagem. Outros recursos, como os grupos de discussão e o simples uso do email, também favorecem a relação pedagógica professor-aluno. Por outro lado, estes recursos nos permitem divulgar nosso trabalho, opiniões, produção acadêmica, etc. São estes objetivos que me levam a aderir, embora de maneira crítica, à geração look at me. É por isso que mantenho os sites, além dos blogs e grupos. Tudo isso me dá muito trabalho, mas é parte da minha práxis docente. E gosto e tenho prazer com o que faço. Ainda bem que inventaram a Web!

Fonte: www.antonio-ozai.blogspot.com

NOVELA DA VIDA REAL (Por: Lizal)

Mais um Cidadão José Cap. 40

- O Mano Gê tem uma surpresa pra você.

O mano Pio falou e continuou sério, com a cara fechada. José ficou apreensivo e sem saber o que falar. O clima no carro que já estava friozão ficou mais ainda. Enquanto o carro se aproximava da Favela do Lodo se desenhava em sua mente mil hipóteses. “Será que o doido descobriu que não fui eu que empurrei o gambé?”. “Será que isso é alguma casinha de caboclo?”. Pensou em pedir pra parar o carro e dar uma idéia de que ia comprar uma cerveja e no desbaratino dar um perdido no doido. Mas o carro já adentrava as ruas de calçamento da favela. Ficou torcendo pra encontrar o Mano Dé ou algum outro conhecido por ali, ainda mais quando o carro parou e os dois desceram a pé por uma viela de chão de terra. O lugar lhe parecia familiar. Lembrou que desceu por ali da outra vez que foi conhecer a quebrada. No fim de uma outra viela havia três pessoas paradas em frente a um portão. José ficou aliviado quando percebeu que era o Mano Dé que estava ali junto com o Mano Gê.

- Salve José. Essa aqui é minha mina, a Marina. – disse o Mano Dé, com alegria por rever o amigo.

O Mano Gê jogou um molho de chaves na mão de José e ele não entendeu nada. Tentou disfarçar e ficou olhando ao redor. Lembrou que já esteve ali outra vez com o Mano Dé. Aquela casa onde estavam parados em frente foi construída encima do terreno que ele ganhou do Mano Dé.

- Vamos entrar mano. – Disse o Mano Gê.

O muro que cercava a casa era bem alto, talvez o mais alto do bairro. José abriu o cadeado do portão de ferro e entrou no quintal observando os entulhos da construção amontoados no canto do muro. A casa era de tijolo, sem reboco e tinha uma grande área coberta na frente. José abriu a porta e viu que tinha alguns móveis na casa, mesa, cadeiras, fogão, geladeira.

- Então Zé, a casa é sua. Depois a gente conversa pra parcelar o material de construção que foi usado. A gente tava ligado na sua condição, sem lugar pra morar e tal, e essa quebrada é muito estratégica pros nossos planos. Como você é um mano de confiança, nada mais justo neh.

José entrou no quarto e viu que tinha uma cama e um guarda-roupa. No banheiro tinha chuveiro com água quente. A luz e a água era no gato.

Sentaram-se na área e ficaram trocando idéia. José percebeu que havia mais uma peça, colada com a casa. Não quis perguntar pro Mano Gê, mas descobriu logo após quando um carro encostou na frente da casa e buzinou. O mano Gê pediu pra ele abrir o portão grande e o carro entrou dentro do quintal. Ele pegou a chave com José e abriu o galpão construído para guardar mercadoria. Os dois malucos que estavam no carro começaram a descarregar algumas caixas e guardar no galpão saindo em seguida. Ali José percebeu na armadilha que estava entrando e que talvez não conseguisse se livrar disso. Estava subindo de cargo dentro da organização e estava gostando da grana que estava ganhando. O tratamento também foi algo que lhe impressionava muito, nunca foi tratado tão bem pelos amigos como está sendo tratado agora. Conquistar a casa própria sempre foi o sonho de José e de muitos outros moradores de favela. Mas, José estava se sentindo um pouco cabuloso por ter conseguido sua casa nessas condições. Como sairia do tráfico agora, como escaparia dessa roubada que ele caiu de páraquedas?


As pedras estavam se encaixando no tabuleiro. Da lista que foi entregue na última reunião, quase todas as pessoas já haviam sido executadas, inclusive os policiais. A articulação com a máfia chinesa e árabe já estava firmada. Nos contêineres vindos da china chegavam misturados a mercadorias caixas com armamento e com drogas. O próximo ataque seria na quebrada do Japão, o maior rival da quadrilha do Mano Gê. José foi convidado pelo Mano Dé para participar de uma reunião na sede da Associação de Moradores. O barracão fica no centro da favela e conta com um telecentro de informática e uma biblioteca comunitária. Havia umas vinte pessoas na reunião. A pauta era sobre a repressão policial que o povo da favela vinha sofrendo. As operações na favela se tornara mais expressiva e o uso da força encima dos jovens estava indignando os moradores. Trabalhador sendo humilhado, jovens apanhando na cara, assassinatos, extorsão, cobrança de propinas, invasão a domicílio sem mandado e na madrugada. Aquele grupo estava se organizando para buscar dentro da lei uma forma de se defender desses abusos. Naquela noite estava presente alguns estudantes de direito que tem uma posição política mais à esquerda e que estavam dispostos a ajudar. Estavam presentes também representantes da Comissão de Direitos Humanos para contribuir com a luta e mostrar um direcionamento, um caminho que poderia ser tomado para fazer as denúncias e assim obterem um resultado mais eficiente. Além das pessoas envolvidas nos trabalhos da Associação colou também militantes do Movimento Hip-Hop, do MST e do Movimento de Luta pela Moradia. A reunião foi agitada e rolou muita discussão.

Algumas pessoas mais “radicais” defendiam o uso de armas para um enfrentamento de igual para igual, mas a maioria decidiu a via pacífica. Da reunião saiu um manifesto com o título “Paz sem Voz é Medo” chamando a população para juntar-se na luta contra a violência repressiva do Estado. O manifesto discutia ainda a crise mundial do capitalismo e a política de extermínio de pobre que vem acontecendo no Brasil por parte do Governo. Ficou firmado a organização de um evento para 15 dias após a reunião. Um evento não como festa, mas sim como um ato político de luta contra o sistema capitalista, buscando uma sociedade socialista, mais justa, uma transformação social, a construção de uma nova sociedade. Além da distribuição de panfletos e informativos, as apresentações do evento foram bem pensadas pelos organizadores. Começaria com cinema ao ar livre na rua e depois apresentações de Hip-Hop, Teatro, Capoeira, exposições de fotografias, varais de poesia e samba de raiz.

(Lizal. Na próxima edição mais um capítulo)