segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O QUE NÃO TEM CENSURA NEM NUNCA TERÁ!!!

“O que será que será que andam suspirando pelas alcovas?
Que andam sussurrando em versos e trovas...”.




Salve, salve amigos e amigas, chegamos em mais uma edição do Fanzine do Cartel do Rap nesse ano importante para o Movimento Hip-Hop do Brasil e de Foz. O Movimento Hip-Hop brasileiro completou 25 anos de existência e o Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap de Foz do Iguaçu completou 9 anos de militância. E o Hip-Hop chega até aqui com um grande problema para resolver. O Movimento que nasceu com uma proposta libertadora e emancipadora e sempre se posicionou junto ao povo pobre e oprimido contra o opressor, hoje passa por uma crise. Algumas organizações de Hip-Hop se mostraram favoráveis à ocupação militar das tropas da ONU no Haiti.

O mesmo Hip-Hop que sempre se posicionou contra o imperialismo e contra as bases militares estadunidenses em outros países, que gritou contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e também se manifestou em solidariedade a causa palestina. Organizações de Hip-Hop Militante compromissados com a luta do povo organizou um Ato unificado em solidariedade ao povo do Haiti, mostrando que nem todo Hip-Hop se calou.

Nessa edição vocês poderão acompanhar matérias que mostram como a educação e a cultura hoje no Brasil é coisa de polícia. Essas duas ferramentas que podem ser usadas como uma forma de libertação e emancipação do povo, está sendo observada bem de pertinho pelo aparelho repressivo do Estado. A ditadura militar não acabou?

No artigo Música como Resistência de Danilo George, mostramos como o Rap, Funk, Samba, Maracatu, Punk, Hardcore, a música de protesto em geral, aparece como uma grande possibilidade de ouvir os que os jovens marginalizados têm a dizer e deve ser vista como uma forma de resistir a esse mundo tão desigual. Sérgio Vaz ilustra isso muito bem em seu manifesto que diz que “A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza”.

Boa leitura pra todos!!!

Ajudem a divulgar as idéias do Fanzine e contribua com o tráfico de informação!!!

Chico Buarque - O Que Será

A ARTE QUE LIBERTA NÃO VEM DA MÃO QUE ESCRAVIZA.

Manifesto da Antropofagia periférica - Sérgio Vaz



A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.

A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade.

Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção.
Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.

Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes. Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.

A Periferia unida, no centro de todas as coisas.

Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.

Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural. Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.

Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”.

Contra os carrascos e as vítimas do sistema.

Contra os covardes e eruditos de aquário.

Contra o artista serviçal escravo da vaidade.

Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.

A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.

Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.

Fonte www.colecionadordepedras.blogspot.com

CARTEL DO RAP COMPLETA 9 ANOS DE RESISTÊNCIA

E a Chave Continua sendo a União!!!


O Movimento Hip-Hop chegou em Foz do Iguaçu no início da década de 90 através dos discos gravados por grupos de Rap paulistas. Muitos jovens passaram a ouvir essa música e identificar-se com a ideologia dessa cultura. No final dessa década surgem os primeiros grupos de Rap. Em 1998 surge o grupo Mundo Iguaçu e em 1999 os grupos Enquadro Verbal e Aliados da Periferia. No ano 2000 surgem em Foz os primeiros coletivos de Hip-Hop, o MH2I (Movimento Hip-Hop Iguaçuense) e a Banca CDR (Cartel do Rap) que começaram a difundir o Movimento Hip-Hop na cidade. O Cartel do Rap foi o maior responsável pela divulgação e expansão do Movimento Hip-Hop em Foz do Iguaçu. Desde a sua criação, leva contigo como ideologia a frase “A Chave é a União”, e busca a união dos grupos de Rap da cidade para desenvolver e difundir o Movimento Hip-Hop. Nesses nove anos de existência organizou dezenas de eventos nos bairros periféricos da cidade. O primeiro evento que o Cartel se apresentou foi no Jd. Guarapuava, era um show/protesto contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos. O primeiro organizado pelo Cartel do Rap ocorreu na Associação de Moradores do Jd. Lancaster. O evento que foi batizado de ‘2° Festival de Rap’ rolou no dia 17/05/2001 e o ingresso custou 1 kg de alimento que foram doados a famílias necessitadas.

Eventos:

- Rap na Quebrada.




O evento Rap na Quebrada surge com o intuito de levar o Movimento Hip-Hop para os bairros, que estão sem acesso à cultura. Os equipamentos de som são montados na rua ou em algum bar e o convite é para toda a comunidade. O evento chegou na sua edição de n° 30. O primeiro Rap na Quebrada rolou no dia 05/10/2003 na favela do Jd. Paraná e os grupos que se apresentaram foram X2daB, Conexão PB, ADP (Aliados da Periferia), Mano Vinícius e Facção VY.

- Rap in Foz.



O evento Rap in Foz também é realizado nos bairros periféricos iguaçuenses e chegou na 18° edição. O primeiro Rap in Foz aconteceu na favela da Morenitas no dia 30/10/2004. Os grupos que se apresentaram no evento foram: Aliados da Periferia, Revolucionários MC’s, Esquadrão do Rap, M.A. do Gueto, ZNF, Conexão PB e MDK.

- Hip-Hop.



O evento Hip-Hop percorreu diversos bairros da cidade e chegou a 17 edições. A sua 2° edição rolou na Favela do Queijo no dia 14/08/2005. Os grupos que se apresentaram foram: ZNF, Revolucionários MC’s, Voz do Gueto, Dpendents do Rap, M.A. do Gueto, Conexão PB e Aliados da Periferia.

Com esses eventos o Cartel do Rap percorreu os seguintes bairros: Jd. Paraná, Morumbi, Cidade Nova, Três Lagoas, Jd. Naipi, Favela do Queijo, Vila C, Favela do Bambu, Favela do Petrópolis, Vila Iolanda, Favela do Cemitério, Santo Antonio, Porto Meira, Jd. Canadá, Vila Paraguaia, Favela do Monsenhor, Favela da Mosca, Jd. Jupira, Favela do Petrópolis, Guarda Mirim, Jd. Belvedere, Favela da JK, Favela da Morenitas, Jd. América (beco), Portal da Foz, Porto Belo, Jd. Primavera, Jd. Lancaster, Jd. São Paulo, Jd. das Flores, Vila A, Ouro Verde, Vila Adriana e Jd. Guarapuava.

Além dos eventos nas quebradas o Cartel se apresentou em alguns eventos no centro da cidade nos seguintes locais: Taberna, Café Concerto, Urbanus Bar, Casa do Teatro, Praça da Bíblia, Praça do Mitre, Calçadão da Rio Branco ,Teatro Plaza Foz, Otroplano e Casulo Rock Bar. Além de apresentações em colégios e faculdades, apresentaram-se nos seguintes shows em Foz: Racionais Mc's, DBS e a Quadrilha, Ndee Naldinho, Império ZO, Realidade Cruel, Facção Central, SNJ (São Paulo), e Cirurgia Moral (Brasília).

Intercâmbio



Em julho de 2004, organizado pela Casa do Teatro, Family Roots e Cartel do Rap, ocorre em Foz o 1° Encontro Hip-Hop na Fronteira. A conexão Foz-Londrina aconteceu através de oficinas dos quatro elementos do Hip-Hop que foram ministradas por ativistas do Movimento Hip-Hop Londrinense. Além das oficinas rolou debates e apresentação dos alunos formados nas oficinas. Rolou ainda um show com 08 grupos de Foz e 03 grupos de Londrina no bar Taberna. Os alunos das oficinas de grafite se juntaram e grafitaram mais de dez metros de extensão de um muro existente na terceira pista da Avenida JK.

A segunda edição aconteceu em maio de 2006 com a organização da Casa do Teatro e o apoio do Cartel do Rap, A.C.U.S.A. (Associação Cultural Sociedade Alternativa), UHURU e Colégio Monsenhor Guilherme. O intercâmbio novamente foi com Londrina e ofereceu oficinas de Grafite, MC, DJ, B.Boy e Street Ball. As aulas aconteceram no Colégio Monsenhor Guilherme e no sábado, os alunos que participaram das oficinas, apresentaram-se na Casa do Teatro, expondo o que aprenderam em dois dias de oficinas.

Através desse intercâmbio o Cartel do Rap reconhece a necessidade e a importância de um contado e um diálogo maior entre o Movimento Hip-Hop do Paraná e começa a viajar para outras cidades, apresentando-se em eventos que acontecem nesse estado. Viajaram para Apucarana, Toledo, Campo Mourão, Cascavel, Mandaguari, Marechal Candido Rondon, Assis, Curitiba e Santa Teresinha, divulgando o Hip-Hop local e fechando parcerias. Através dessas parcerias trouxe para Foz o show dos grupos Rajada MC’s (Campo Mourão), Thiagão e os Kamikazes do Gueto (Paissandu), Esquadrão de Rua (Marechal Candido Rondon).

9 ANOS DE ATIVIDADES

Oficinas



Em 2007 o Cartel continua com as oficinas, no Clube de Mães do Cidade Nova, em parceria com a Casa do Teatro. Rolou ainda no Colégio Ipê Roxo (Cidade Nova) e no Centro de Convivência do Jd. São Paulo. Nesse ano surge o Cartel do Break, uma Crew que se une ao Cartel e realiza diversas oficinas de break pelos bairros de Foz.



Discografia



O primeiro álbum foi gravado em 2004 intitulado “A Chave é a União”. O Cd duplo foi uma coletânea com os grupos que faziam parte do Cartel na época: ZNF, Vozes do Gueto, M.A. do Gueto, Conexão PB, Rivaci e Aliados da Periferia. O segundo álbum foi gravado em 2008, um CD ao vivo “Ao vivo no Casulo”.Os grupos que participaram foram: Inimigos da Guerra, Pesadelo Real, Santiago, DNA do Rap, Mano Zeu, Eloquentes e Aliados da Periferia. No DVD gravado em 2008 em Toledo. participou os grupos: ADP e Inimigos da Guerra. Na coletânea ‘Rap de Quebrada’ de Curitiba, participaram os grupos: Conexão PB, ZNF e M.A. do Gueto. Na coletânea ‘Rap é o Som’ de Campo Mourão, participaram os grupos: Aliados da Periferia e Conexão PB. Os grupos do Cartel que gravaram Cd foram: Iimigos da Guerra (Entre o Poema e o Crime, 2007), Aliados da Periferia (Single, 2008), Luto Decretado (Esse é o nosso Depoimento, 2009).

Fanzines



O Fanzine informativo surge no ano de 2005, no mês de fevereiro saiu a primeira edição. Surgiu da necessidade do Hip-Hop local ter uma ferramenta de comunicação além da música. As críticas, denúncias, indignações, lutas e sonhos que eram cantadas, passam a ser escritas através de poemas, textos, pensamentos, a maioria das vezes em resposta a imprensa convencional. O Fanzine vem pra romper com os estereótipos da imprensa sensacionalista que propaga a idéia de que a periferia é o berço da criminalidade e da violência e que ao mesmo tempo propagandeia a idéia de uma cidade turística, maravilhosa e boa de se viver. Já na sua primeira edição, o Fanzine mostra seu traço contestador. Um dos textos era sobre a ALCA e os malefícios que traria para a América Latina. Intitulado “Diga Não ALCA*PITALISMO” o texto também falava da NAFTA, o acordo comercial entre México, EUA e Canadá.

A principio era um veículo de comunicação onde moradores das favelas de Foz pudessem escrever seus pensamentos e opiniões. Muitas dessas pessoas não se vêem representados pelos grandes jornais da cidade e nem tem espaços no mesmo para deixarem suas idéias. Com o tempo o Fanzine passou a publicar também artigos de pessoas de outros movimentos e outras classes sociais. O Movimento Hardcore, Movimento Negro, Universitários, Jornalistas, Professores, passaram a ver no Fanzine uma ótima ferramenta para divulgar suas idéias para o povo da periferia. O Fanzine diferenciou-se dos grandes meios de comunicação da cidade por seu conteúdo diversificado e pela originalidade. Quem acompanha as publicações se depara com Textos, Contos, Crônicas, Poesias, Pensamentos, Grafites, Charges, Ensaios Fotográficos, Letras de Rap, Entrevistas, Agenda de Eventos, Matérias Jornalísticas e até uma novela que traz um capítulo por edição.

9 ANOS NA LUTA

MINI MEGA EVENTO:



O Bairro Cidade Nova está localizado na região norte da cidade, nas proximidades da UNIOESTE. Esse bairro foi construído no ano de 1996 num processo de desfavelização da cidade de Foz do Iguaçu onde ocupações consideradas “áreas de risco” foram removidas. Desde esse processo a comunidade desse local está “desassistida”, carente de atividades culturais que envolvam crianças, adolescentes e jovens. Lembrando que o bairro conta com aproximadamente 12 mil moradores, e estes não contam com a mínima infra-estrutura como praça, campo de futebol, biblioteca, centro cultural, pista de skate, a população desse local não sofre somente com a falta de estrutura, devido o afastamento dessa população do centro da cidade não há a possibilidade que os mesmos participem dos eventos e atividades que se concentram na região central.

Em setembro de 2007 ativistas culturais ligados ao movimento Hip-Hop de Foz do Iguaçu organizaram o 1° Mini Mega Evento no bairro Cidade Nova. O evento começou na sexta-feira e terminou no domingo, reunindo 15 grupos de Rap. Aconteceu ainda nesse evento batalhas de Dança de Rua e Batalhas de Rima, grafite e apresentação de DJs. Os shows foram gratuitos e teve boa aceitação por parte da população. Para este ano de 2009, o evento foi ampliado envolvendo outros segmentos culturais como teatro, circo e cinema. Lembrando que o bairro Cidade Nova tem um histórico de violência entre os jovens e que a cultura é reconhecida como um grande instrumento de conscientização e transformação dos indivíduos, é de suma importância a realização de eventos como esse. E sabendo que a cidade aspira um diálogo entre sociedade e cultura, pedimos que a câmara de vereadores reconheçam a importância de atividades culturais voltadas a comunidade local, que não vise somente a atividade cultural para o comércio e turismo, assim pedimos o apoio das instituições representativas – eleitas para desenvolver ações em prol da sociedade – que apóiem essa iniciativa.

PIÃO DE VIDA LOKA:



A primeira e terceira sexta feira de cada mês a rapaziada se reúne na praça do Mitre para dançar break e fazer freestyle. O evento é organizado pelo Cartel do Rap e Companhia de Rua e está acontecendo a partir das 20:00hs.

O local já é conhecido pela galera, pois diversas vezes o Movimento Hip-Hop esteve em movimento naquela praça que também é conhecida como Praça das Nações. O local está se transformando num ponto de encontro da rapaziada que sai dos bairros, onde não tem praça, área de lazer e nem opções de acesso a cultura e vão manifestar-se num local público no centro da cidade. É uma forma de ocupar esse espaço que é do povo e que está abandonado e retomar as praças como espaço de convivência das diferenças transformá-la em um espaço de lazer e cultura.


TCC
Em 2008 o Movimento Hip-Hop de Foz foi tema de um Trabalho de Conclusão de Curso. O trabalho desenvolvido pelo estudante Danilo George Ribeiro é intitulado ‘As Muitas Faces de Foz do Iguaçu a Partir do Movimento Hip-Hop’. Danilo cursou História na Universidade Estadual do Oeste do Paraná em Marechal Cândido Rondon e aproveitou os feriados e fins de semana para viajar pra Foz e fazer a pesquisa de campo. Em dois anos de pesquisa e estudo adquiriu com os manos do Hip-Hop local grande material fonográfico e informativo, além de fotos e diversas entrevistas. Alguns dos bairros visitados para fazer as entrevistas foram: Cidade Nova, Favela do Queijo, Favela da Mosca, Favela do Cemitério, Jd. Lancaster, além de acompanhar os shows que estão em constante movimento pelos bairros.

Nas palavras do autor, o trabalho propõe discutir, numa perspectiva histórica, as linguagens que expressam práticas e relações socioculturais vividas a partir do Movimento Hip-Hop e da análise de Fanzines constituídas pelas articulações do Movimento Hip-Hop. Busca-se apreender dinâmicas tecidas pelas tensões e disputas vividas naquela realidade pela juventude das periferias que produzem outras significações de pertencimento, as quais conflitam com a memória hegemônica da cidade e as apropriações concedidas pela indústria do turismo. Dessa forma pretende-se perceber a cidade a partir do viver urbano da experiência periférica, no qual o movimento Hip-Hop aparece como possibilidade de expressões e narrativas desses sujeitos.

Segundo Danilo a pesquisa teve por objetivo abordar a constituição das periferias na cidade a partir da trajetória desse movimento. Nesse sentido, considerou o autor, que o Hip-Hop age como uma espécie de tradutor das expressões de memórias de moradores das periferias iguaçuenses, que de outras formas dificilmente se manifestariam.

9 ANOS NA FITA



No dia 19 de setembro o Cartel do Rap está organizando um evento de comemoração aos 09 anos de vida. Vai rolar no Casulo Rock Bar a partir das 22hs e o ingresso custa 5 reais. Além das apresentações dos grupos de Rap que fazem parte do Cartel terá apresentação de dança com Cartel do Break e Teatro com o grupo Arte em Si. Quem colar poderá apreciar ainda os versos improvisados na hora que já é tradição nos eventos e saber um pouco mais sobre essa família que está há nove anos propagando a Cultura Hip-Hop em Foz.

Salve!!! CDR...

ALIADOS DA PERIFERIA - VÍTIMA




SANTIAGO - INIMIGOS RIVAIS

REVISTA ESCRITA 8



A revista Escrita tem sempre o seu recheio iguaçuense. Luciana Chiyo é uma das participantes desta proposta cultural. A fotografia da veterinária ilustra a capa da revista. O retrato é fruto da oficina de fotografia realizada pela Associação Guatá no primeiro semestre deste ano. Para Luciana, aliar o hobby de fotografar com a paixão pela observação de aves de vida livre tem sido uma experiência muito gratificante.

No seio desta edição, além de toda essa diversidade artística, o leitor encontrará preocupações com o processo cultural em si em dois artigos. No primeiro, Wemerson Augusto registra a importância dos 20 anos de existência da Livraria Kunda, a mais antiga de Foz do Iguaçu e que mantém compromissos bem nítidos com a democratização da cultura iguaçuense. Já o poeta e arquiteto baiano, Almandrade, discute a idéia de cultura dentro do planejamento das cidades. Questiona entre outras coisas se a finalidade desta nos projetos burocráticos não é apenas mais um produto a ser adaptado e consumido.

Ver matéria completa no site www.guata.com.br

“Na cara da Madame, Na cara do Patrão”...

As peripécias da “Geração Cifrão”. (Por Lizal).

A música Geração Cifrão do rapper 'Funkero' tem um quê de ousadia. Num jogo de rima muito bem articulado, no estilo underground, a música rompe com os rap's comportadinhos e higienizados que os empresários e a mídia investem hoje em dia. A música já começa bem doida com um refrão ritmado e bem rimado que quem ouve a primeira vez já aprende a cantar:

“Geração Cifrão, a Geração Canhão
Vai gerar uma ação, invadir sua mansão
Antes que vocês perguntem: “Quem vocês são?”
Nós já demos por encerrada e completa a missão”.

A música é cantada por 4 rappers e narra um assalto a uma mansão. Cada rimador narra de forma diferente o assalto, como se fossem todos de quadrilhas diferentes, para dar a impressão de que existem vários assaltos a mansões acontecendo ao mesmo tempo.

Narrador 01:

“Nunha fração de segundo, um monte de vagabundo
psico, periculoso, treinado no submundo
Os cara que vão pra cima, igual eu pronto pra rima
Seu condomínio sobre o meu domínio eu dou o clima (..)”.

Narrador 02:

“Questão de reapropriação, redistribuição de bens
Suas jóias em Liverton, toda grana do cofre também
Fortuna em fuga na madruga e amanhã na favela tem
Churrasco e doce pras crianças se aqui correr tudo bem (...)”.

Narrador 03:

“Bicos engatilhados, conflitos armados, baralho marcado
Jogo mandado, olha os trincados, dentes cerrados
Errado, quem quer o melhor? Então também quero
Perdeu, levo seus dólares, Rolex, sem lero-lero
Sem pena, sem trauma (...)
Fala pro presidente que inverteu a situação (...)”.

Narrador 04:

“Esse é o Brasil que o povo nunca discutiu
Geração reprimida que a ditadura produziu
Século do medo, vivendo a lei da rua
A revolta continua, a repressão continua
Enquanto latifundiários darem tiro em sem-terra
Cada vez mais vai ter gente preparada pra guerra
Desordem e regresso desde os tempos de Lampião
Nas cidades do Brasil e pelo grande sertão
Perdeu patrão, se se mover eu te furo
Vou levar tua Mercedes, se vira aí com o seguro
Larga a grana, mete o pé sem reclamação
Essa é sua contribuição pra Geração Cifrão”.

Num segundo refrão todos cantam juntos, dizendo que os oprimidos se voltarão contra os opressores e acabarão com essa escravidão não anunciada:

“Se tu me explora de dia, eu te roubo de noite
Aguarde que um dia a gente vinga o açoite”.

O Rap no Brasil trouxe uma grande contribuição para a discussão da questão social. Essa música “Geração Cifrão” (por exemplo), traz à tona a crítica sobre a sociedade de consumo em que vivemos. Ao mesmo tempo em que somos explorados em nossos trabalhos (isso quando temos um emprego), a televisão nos mostra carros, mansões, jóias, restaurantes chiques e tudo o mais que nossos salários de miséria não podem comprar. Enquanto não temos acesso livre à Universidade (e mesmo quem se forma muitas das vezes não consegue trabalho), a TV nos mostra uma chance de ascensão social através da Mega Sorte, Tele Sena e dezenas de outras loterias com seus prêmios milionários.

Vivemos num país onde se criminaliza a pobreza, onde o braço armado do Estado invade as favelas e impõe suas próprias leis, reafirmando as ações de uma Elite que criou uma cultura que diz que a periferia é um lugar sujo, feio, onde só tem ladrão, vagabundo e traficante. É bem mais fácil e mais cômodo dizer que bandido tem que morrer, pedir pena de morte, redução da maioridade penal, do que discutir as causas de todas as desigualdades e trabalhar para reverter a situação. Quem vive nas periferias e favelas vive nas piores condições, as piores escolas, os piores postos de saúde e hospitais, em casas sem estrutura, sem acesso á cultura e lazer, sem acesso á biblioteca e internet. O transporte público é caro e de péssima qualidade, o salário não dá nem pra comida direito. Essa geração reprimida, esquecida e abandonada pelo poder público é incitada a ter também esse poder de consumo que a mídia mostra. Como não tem, nem sempre fica calada ou parada.

Enquanto esse Estado for excludente, não cumprir com o papel que se propôs e não dividir a riqueza com seu povo, a Geração Cifrão estará em ação.

Já passou da hora do povo se levantar e invadir as ruas, se unir e construir coletivamente uma nova sociedade, um novo Brasil que seja “para todos” realmente.

O Menino do Dedo Verde (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Caros amigos, hoje vou falar um pouco em algo que não é a cidade, mas em pessoas.
“Se tem uma coisa que os franceses sabem fazer muito bem, além de falar aquela língua linda, é escrever historinhas infantis feitas especialmente para adultos. O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon, confirma a regra. Ele conta a história de Tistu, um menino muito especial, capaz de transformar as paisagens mais tristes em belos arbustos(...)”.

Sol da manhã. O movimento, logo cedo, das galinhas faz com que Tistu se levante de sua cama e olhe, durante alguns segundos, para o forro do quarto. A luz do dia visita o espaço pelas frestas da antiga parede de madeira, convidando o menino a mais um dia de vida intensa e bem vivida. Ele se levanta e, mesmo antes de visitar o lavado, já prepara a água de seu café (amigo de todos os dias) enquanto olha seus animaizinhos e plantas. Recolhe as sujeiras, dá bom dia para o bichos (que o reconhecem pelo cheiro e pelo amor que leva às criações da casa) ajeita os galhinhos, observa as flores que se abriram durante a madrugada e conta os novos frutos. Aí sim seu dia pode começar.

O que o aborrece? O trabalho longe das plantas e dos animais. Este sim o incomoda. Faz com que ele feche a cara e parece ser quem ele Tistu não é: temperamental. Mas quando volta de seus afazeres do mundo, se tranca em seu pomar, sempre a companhia de um animalzinho, e se põe a cultivar mudas, colher morangos e semear novas plantinhas da estação.

E se a vida o leva daquela terra, daquela casa, leva todas as plantas que pode, uma a uma. O que não consegue levar, planta novamente. Começa do zero, muda a muda, semente a semente e, mais cedo do que todos imaginam, mostra o porquê Tistu é o menino do dedo verde, aquele que planta e colhe não por técnica, mas por amor ao que faz. E o que colhe de seu trabalho divide com todos. Pois acredita que assim a natureza sempre nos dará mais e mais. O que é da Terra deve servir a todos da terra.

Ao final do dia, a escuridão da noite não o impede de cultivar. Tistu utiliza a luz do homem, o sol da noite, para continuar a regar e cuidar dos frutos da terra. Ali ele alivia a tristeza, desvia os pensamentos, compartilha as alegrias e, principalmente, mostra que amor plantado é amor colhido. Tistu existe pra mim (e sempre existiu), desde o dia em que percebi o quanto é bonito seu trabalho e o quanto me sinto seguro ao seu lado. Ele saiu das páginas daquele livro que li, ainda menino, e foi morar no quarto ao lado. Ali, perto.

(Luiz Henrique Dias da Silva é estudante de arquitetura, sonhador, dramaturgo, poeta e escritor).

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George)

Vida nossa de todos os dias

Terça-Feira dia 25 de agosto de 2009, Leandro está atrasado. Tenta apressar os passos mais não consegue, sua deficiência no quadril o impede de correr. No caminho entre a Cinelândia e a praça XV, passa um filme em sua cabeça. Leandro começa a se lembrar da sua infância. Quando demorava horas para subir as ladeiras da Rocinha, sempre ficara para trás, era o último a chegar no campo de futebol toda vez. Sofrera em sua infância. Não conseguia fazer coisas normais que uma criança daquela idade faria, como subir nas lajes e jogar futebol. Por isso, enquanto os amigos se divertiam, corriam e chutavam a bola, ele ficava cantando e escrevendo sambas, á beira do campo batido de barro. Dessa forma se tornara um cantor na adolescência, influenciado pela batida do Miami Bass que sacudiu os bailes nos morros cariocas, migrou do samba para o Funk. Em meio às dificuldades da favela, se tornara através do Funk, um cronista que narrava aquela realidade.

Em 1995 junto com seu irmão Junior, escreveu um Rap que falava do armamento pesado nos morros, e da troca de tiros entre bandidos e policiais. Através desse Rap, ficara conhecido no Brasil. Pudera assim pagar 13 cirurgias no quadril, dessa forma conseguiu andar com um pouco mais de facilidade. É verdade que a vida ficara mais fácil um pouco; mas não muito. Pois ainda sofria com o preconceito por ser Funkeiro. Sua mãe lhe implorava desesperada, para que ele largasse aquela música; pois A televisão só falava coisas ruins do Funk. Mas Leandro foi persistente. Com a mesma garra que encarou a deficiência no quadril enfrentava o fardo de ser MC e cantar uma música tão discriminada. Tudo pioraria ainda mais quando um deputado fascista lançou uma lei que proíbe os bailes Funks nas comunidades. Leandro sofreu muito nesse processo, sem fazer shows, sua família passaria um perrengue ainda maior.

Mas Leandro viu que não estava sozinho, junto com ele havia mais uma multidão de 10 mil pessoas que fora prejudicada por essa lei. Assim, encorajado por uma amiga historiadora e um amigo do MST, resolveu criar uma associação que defendesse os direitos dos funkeiros. Naquela ocasião juntaram-se mc´s dos quatro cantos da cidade, superando as barreiras impostas pelas guerras entre as facções de favelas. Posteriormente a essa causa, se juntaram estudantes, professores, intelectuais, militantes de diversos movimentos e fora organizado rodas de funk´s, que faria com que os bailes não morressem no RJ. Andando por diversas favelas e os mais diferentes picos da cidade, Leandro observara o quanto é importante encarar as dificuldades, resignificando o sentido da vida.

E compreendeu que quando for impedido de correr, irá caminhar; mesmo que vagarosamente, mas que jamais ficará parado.

“Danilo George Ribeiro – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.

POESIAS E PENSAMENTOS

Minha casa

Eu quero uma casa
de frente pros meus sonhos
com jardim inteiro pra mim

plantar begônias, amor e jasmins
eu quero uma casa assim

que na tarde de sol
meu filho fique a correr
arrastando carrinhos e sorrisos sem prender

eu quero um gato cor de oliveira, é possível?


eu quero uma casa assim

quero um cachorro
que nas noites de chuva pra me aconselhar

é possível?

eu quero uma casa assim

e nas noites de frio que eu tenha um amor
pra me agasalhar.

(Mysk, Foz).

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Orientação

menos que retratar:
fazer do verbo a bússola
para o amanhã

menos que chorar:
a-r-marem gestos e palavras
o braço que é trocado
por cifrões

não mais murmúrios
de ventos noturnos:
agora é o grito claro
despertando o sol de amor
por sabres dilacerado
antes mesmo da aurora

não mais a doce esperança
ingênua como criança:
hoje vale a certeza
do árduo caminho à frente
(berço de mil ciladas)
a ser trilhado levando
a verdade feita tocha, canção, faca
com gosto de madrugada.

(Mário Jorge)

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Convencional

Alguns equipamentos são montados
e música na corrente de vento
na diversão, caretas e drogados
ficando num mesmo ambiente

Grama está coberta de sereno
acento de madeira cheio
também algumas mulheres morenas
cabelos longos, lábios vermelhos

Realidade de uma região
os evangélicos e católicos
conduzindo-se a mesma intenção

O pecado neste ar manifesta
na celebração da devida festa
parecem bicho de uma floresta

(Edson de Carvalho, Foz)

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Queres saber quem sou eu?
Em versos eu vou falar!
Eu nasci na Paraíba e,
Hoje não moro lá
Vim pro Rio de Janeiro
E vinte e cinco janeiros
Acabo de completar.
Eu gosto da minha terra
Mas deixei meu pé de serra
Vim aqui poetizar!

Me chamam de Severino
Por nascer lá no Nordeste,
Resolvi fazer Cordel
O meu pai foi professor;
Na roça fiz escarcéu
Sendo eu um bom menino
Me pus pra literatura,
Me dei a fugir da dor

Para traçar meu destino
Cidadão de vida pura!

Não sei qual é o sentido
Do apelido que tenho,
Não protesto e nem convido
Ou mesmo nego a ninguém
Não sei quem o inventou
Ou sei lá quem descobriu,
Sei que sou filho do povo
Mas igualzinho a você
Eu também quero saber
Por que me chamam de Biu!

Eu nasci em fevereiro
Em dia que pouco há
Descobri não ser verdade
Luto com voracidade
Para poder consertar,
Vivo em nome d´alegria

Para fazer poesia
Eu escrevo noite e dia
Sozinho ou em companhia
Para te fazer sonhar!

Sou profeta da verdade
Do trabalho pastoral,
Com base no Evangelho
Em Jesus Cristo
Eu espelho,
A minha arte e ação...
Falo de economia
Sem limite e carga horária
Sou eu, em nível do Rio,
Articulador bravio
Da Pastoral Operária.


(Severino Honorato)

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50% OFF
In the store
Eu li Sold Out
In the street
Ouvi É UM ASSALTO
50% off
É a liquidação
Da crise, do grito
Da arma na mão
What you see
Atrás da vitrine
As roupas da moda
Ou a cena do crime

(Carol, Foz).

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FAVELA: CEM ANOS.

Tá visto que em cem anos de favela
muito sangue de morte banhou
as terras batidas de becos, ruas e vielas.

Mas tá visto também que na favela
há muito mais mulher que a gente
e muita menina vira moça toda hora, todo dia
se vendo meio que assustada e maravilhada
pela primeira vez menstruada.

Vai daí, que por benção de Mãe Oxum,
essa saguinolência toda que jorra na favela
por cem anos a fio, filetes e ximbicas,
tem sido muito menos da certeza da morte
e muito mais da verdade da possibilidade da vida.

Daí que, pela graça de Mãe Oxum,
na favela, centenariamente, se sangra ainda
muito mais da divina maravilha da criação
que dos horrores letais das chacinas.

(Deley de Acari)

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Coração Morto
Quem avisa a família
Que ele insiste em vadiar?
Teimoso e lento
Avisou que ia parar
De bater...
e bate...
bat...
a...

(Carol, Foz).


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Carta à mãe África - GOG

O PROERD e o Bandeide Social (Por: Lizal)

O PROERD é um programa importado dos gringos norte-americanos. O “Drug Abuse Resistance Education - DARE”, foi adaptado à nossa realidade e consiste, em sua idéia original, treinar policiais militares para desenvolverem atividades de educação preventiva sobre drogas e violência nas escolas. O Programa é aplicado por policiais militares fardados para crianças e adolescentes na faixa etária entre 9 e 12 anos de idade, atingindo as quartas e sextas séries do ensino fundamental. E conta ainda com um curso para pais ou responsáveis. Hoje esse programa é desenvolvido em 58 países, e já alcançou nos cinco continentes, aproximadamente 55 milhões de crianças até a presente data. No Brasil surgiu no estado do Rio de Janeiro em 1992 e no estado do Paraná no ano de 2000, hoje está presente em 227 municípios do Paraná e já alcançou até a presente data aproximadamente 800 mil alunos.

Me preocupa muito projetos como esse vindo de um governo como o nosso e uma polícia como a nossa. Dentro do programa esses policiais são chamados de “Educadores Sociais” e tem a tarefa de proporcionar aos estudantes a construção de conceitos de prevenção ao não uso de drogas, cultura da paz e de cidadania, para atuarem como protagonistas sociais nas escolas, famílias, comunidade e à Polícia Militar do Paraná na construção de uma sociedade mais segura e na formação de jovens e adultos reflexivos e responsáveis com as questões sociais.

Todo morador de favela como eu sabe que essas mesmas crianças que estão sendo “ensinadas” pelos policiais militares a ficarem longe das drogas e a espalharem uma cultura de paz, serão os jovens que amanhã serão enquadrados na rua por policiais militares que engatilharão as armas e apontarão para suas cabeças. Essas mesmas crianças serão xingadas e humilhadas pelos policiais e poderão até ser levados presos como suspeitos de terem cometido algum crime. Essa mesma polícia que tenta implantar em nossas crianças uma cultura de paz está pelas ruas espalhando a cultura do medo e impondo toques de recolher para jovens que estão reunidos na rua de noite. Isso sem falar que o tráfico de drogas hoje no Brasil corre lado a lado com as milícias, formadas por policiais que usam o distintivo para praticarem suas atividades, vender drogas e gato de TV a Cabo e Internet.

Hoje no Brasil a Educação e a Cultura são casos de polícia. O Projeto Patrulha Escolar traz a Polícia para dentro da escola pública no Paraná. Segundo Cátia Ronsani Castro, funcionária do Colégio Estadual Barão do Rio Branco em Foz do Iguaçu “A saída encontrada pelo Governo do Paraná para a solução dos conflitos existentes e estabelecidos dentro do ambiente escolar e nas suas proximidades é o uso do seu aparelho repressivo, a polícia, que é apresentada à educação com um caráter mais “humanizado”: Patrulha Escolar”. Para se realizar um evento ou qualquer atividade cultural e artística em Foz hoje temos que pedir a permissão no Corpo de Bombeiros e alguns batalhões da polícia e não na Fundação Cultural. A ditadura militar no Brasil passou e hoje vivemos uma falsa democracia, mas o braço armado do Estado continua cuidando muito de perto a educação e a cultura que são instrumentos que podem ser usados para a transformação social e criar uma sociedade mais atenta às armadilhas que lhes são impostas pelo governo.

O Bandeide não cura, só esconde a ferida. É bem mais fácil mandar polícia pra dentro da escola do que se discutir um investimento maior na educação para que todo brasileiro tenha uma educação de qualidade e acesso livre a Universidade. Mandar polícia pra dentro das salas de aula para educarem nossas crianças é um Bandeide para
encobrir as feridas de um Estado doente. É bem mais fácil fazer isso do que discutir a redução da jornada de trabalho por exemplo, para que os pais tenham mais tempo para passar com seus filhos. Porque não se discute o aumento do salário mínimo, a geração de emprego, a democratização dos meios de comunicação, o acesso à cultura e lazer e tudo o mais que o nosso governo está deixando a desejar?

Eu não entregaria um filho meu pra polícia educar.

(Lizal é morador de favela e nunca recebeu um “bom dia” de um policial, sempre é “mão na cabeça vagabundo”).

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por Danilo George e Eliseu Pirocelli)



DJ CAÊ E a Cena Underground Iguaçuense.



Carlos Eduardo Traven, mais conhecido como Caê, tem 27 anos, nasceu em Foz do Iguaçu e cresceu no bairro Jd. Tarobá que antigamente era chamado de Cohapar I. Teve uma infância normal, muito contato com terra, por causa do quintal em casa, brincava na rua, sempre ia no domingo na casa dos primos que moravam em outro bairro. Andava muito de bicicleta, subia em árvore, no pé de ameixa que tinha em sua casa, em pé de goiaba. Foi uma infância como a das demais crianças da época, fazia guerra de mamona, ia no mato pegar laranja, roubar melancia em uma chácara que tinha perto de sua casa.

Seu primeiro emprego foi de atendente de locadora, trabalhou numas três. Trabalhou também de atendente de fliperama vendendo fichas. Mais tarde foi trabalhar no Paraguai de vendedor numa loja de videogame e quando retornou pra Foz trabalhou na Pernambucanas por um tempo, depois no PTI, na Web rádio do PTI. Teve contato com a música quando trabalhou na pirataria no Paraguai, vendendo cd pras lojas. Levava pra casa os cds que lhe interessavam e começou a montar o seu acervo. Caê trabalhou ainda por um ano no Amarelo Skate Boards como vendedor, uma loja que vendia roupas e artigos para skatistas. Isso o influenciou a mais tarde montar a sua própria loja, a UHURU que vendia roupas e acessórios, atendendo a galera underground de Foz.

Caê começou a ouvir rap quando tinha uns 14 anos e uma proximidade com o skate: “Uma galera andava de Skate e o pessoal gostava muito de Rock e eu também, e ouvia muito Hardcore. Aí tivemos contato com as músicas do Cypress Hill, Beast Boys, que era um som de Skate anos 90 e a partir daí eu conheci o Rap. Passando um tempo mais, através dos meus primos que eram mais velhos eu tive contato com um cedezinho Holocausto Urbano do Racionais. E a partir daí as coisas foram se dando, foi tendo grupos nacionais, Thaide e Dj Hum, o próprio Planet Hemp na época não era Rap mas teve uma grande influência por causa dos Djs, tudo. Então foi a partir dessas influências que eu fui construindo a base, pesquisando, e aí veio o bum do rap nacional também, então a gente foi pegando um pouco de cada coisa e foi ouvindo”.

Ele acredita que o Hip-Hop na cidade começou no final da década de 90. “De 1996 a 1998 foi quando a gente começou a criar as raízes pra ser o que é hoje”. “Rap nessa época não tinha, mas tinha bandas de amigos Skin of Rate que fazia um lance Rapcore, assim, era a banda do Titi, do Adriano, Toninho. Eles tinham mais essa pegada Rap, mas não era o Rap propriamente porque tinha banda, mas é daí que veio até o próprio contato com o Cypress Hill, que eu te falei, essas coisas assim. E aí isso foi começando, tinha uma galera que fazia Funk, até o próprio Kanibal que era meu parceiro do 0.1, eu sabia que ele cantava Funk, esses funks que fizeram muito sucesso antigamente”.

Seu envolvimento com o Hip-Hop deu-se nessa mesma época através do contato com essa galera. “O Hip-Hop veio pra mim como uma salvação, porque eu andava no meio da galera que tinha banda, o pessoal, a maioria tocava algum instrumento, cantava, eu sempre tava no meio mas eu nunca tive muita vontade de aprender a tocar instrumento. Eu sempre via nos clipes de Rap o lance do Dj, desde pequeno eu sempre ouvi muito som em casa, samba, música sertaneja, minha mãe tinha uns discos, então eu sempre brincava nos toca-discos de casa assim. Na época da escola quando tinha festinha eu sempre levava um 3 em 1 da CCE que eu tinha pra fazer um som, então já veio uma coisa meio que natural. A partir do momento que eu tive a oportunidade de participar de um grupo que era o Enquadro Verbal, aí tinha o Rafael, um brother que comprou 2 toca-discos Gemini lá do Paraguai, aí todo mundo queria cantar, ninguém queria tocar, aí eu falei 'não, eu vou ser o Dj' aí comecei a comprar discos, pude ir pra São Paulo algumas vezes, trazer discos de base, ensaiava alguns scratches assim. A partir daí eu decidi: 'vou ser um dj, Dj Caê'. Nunca gostei de ser Dj na verdade, porque Dj eu acho que é uma palavra que é assim muito forte, né meu, mais tarde eu adotei o Selector”.



Através de seu trabalho no Paraguai, na época que trabalhou com pirataria de cd, teve acesso a muitos sons, o que ajudou muito em suas discotecagens. Aprendeu a mexer nos equipamentos vendo vídeos e apostilas. “No começo começou a Noite do Hip-Hop no Amarelo que a gente fazia lá também, tinha um toca-discos, um mixer e usava disc-man pra discotecar, então tinha muito cd e pouco vinil. Acho que até hoje o problema que a gente encontra na cidade é isso, não tem uma loja especializada em vinil pra galera que é adepta assim poder ta comprando vinil de base, vinil de grupo. A gente fazia com disc-man, mais tarde, claro a gente conseguiu adquirir CD J, um equipamento um pouco mais profissional, mas no começo era 2 disc man, um toca-discos pra fazer scratches, um mixer, e vamos embora, vai que vai”.

Caê acredita que o Skate e o Rap sempre caminharam lado a lado. No ano 2000 em Foz teve o show do SNJ e do Da Guedes pra inaugurar a pista de Skate. “Então, não só aqui em Foz, mas no resto do Brasil todo até nos Estados Unidos o Skate tava bem rap, que até era chamado Skate Rap, assim, calça larga, o movimento Street tava bem forte, então vários grupos influenciavam a galera que curtia skate. Mas é bom lembrar que o Skate sempre foi ligado com o Rock, é o que a gente mais vê hoje em dia, mas o Rap e o Skate foi o que direcionou pra gente ser o que é hoje, as influências tanto nas vestimentas quanto na sonoridade”.

No ano 2000 cria junto aos parceiros do Hip-Hop o MH2I. A sigla significa Movimento Hip-Hop Iguaçuense e nasceu da necessidade de organizar o Movimento Hip-Hop da cidade. “A intenção era juntar os 4 elementos que faziam parte da cultura mas que no momento não estava presente na cidade e era promover a ação da cultura Hip-Hop, né meu, fazer com que aparecesse mais DJs, mais MCs, Grafiteiros, B. boys e organizar uma parada mesmo pra fazer o negócio funcionar. Era uma coisa que fazia parte quem queria, a gente passou a idéia pra algumas pessoas, algumas pessoas vinham com a gente na idéia”. A partir do MH2I foram organizados alguns zines explicando o que era o Hip-Hop em si, a sua origem e foram organizadas muitas festas. Outra iniciativa foi os programas de rádio: “Tivemos a sorte de aparecer as rádios do Paraguai aí mesmo com horário pago, coisa que as rádios de Foz nunca fizeram. Não foi por falta de procurar, a gente procurou AM, FM, mas nunca se teve um espaço pra se fazer um programa de Rap. Rádio Comunitária a gente até tentou uma vez através do MH2I buscar umas parcerias mas é uma coisa que por causa das rádios FM é uma coisa praticamente impossível. No Brasil na verdade é praticamente impossível você começar uma rádio comunitária, porque a rádio comunitária ela atende primeiramente a comunidade que é mais carente de informação e que não tem acesso aos meios. Então quem tem acesso não quer permitir jamais que o povo consiga chegar a um canal como é uma rádio, um canal de radiodifusão, uma televisão, porque se a gente conseguir chegar a gente vai revolucionar e não é isso que eles querem. Então o MH2I veio com esse intuito de promover a cultura, a gente organizou algumas ações, shows, festas, zine, era pra isso assim. Na verdade uma semente que foi lançada e ela floresceu em algumas pessoas e em alguns locais, de repente em outros nomes mas que vinha com aquele radical que vinha da vontade de difundir a cultura Hip-Hop em todos os seus expoentes aqui em Foz do Iguaçu”. Os encontros do MH2I se davam nos sábados a tarde na praça Naipi, nas Quinta do Hip-Hop no Verdega, nos ensaios na casa do Kanibal, onde a galera se reunia pra ouvir som e trocar idéia, na rua, na Pista do Amarelo e na Pista pública de skate.

Juntamente a isso tudo surgiu o grupo Zero Ponto Um. “Então, o Zero Ponto Um é um grupo que veio na minha vida assim, meio que como um presente mesmo. O começo era em 10 pessoas, a gente montou o Enquadro Verbal, um grupo que tinha 10 pessoas, várias influências, naquele momento a gente queria fazer, não sabia como e reunimos todo mundo pra fazer. Na verdade o Zero Ponto Um antes de ser Zero Ponto Um ele foi Atitude Consciente, que era o Kanibal e o Caê, no caso eu. A gente ficou com esse nome, depois a gente descobriu que existia outro grupo em outro lugar do Brasil usando esse nome. A gente tava no ano 2000 indo pro ano 2001 e a gente com várias idéias na cabeça, virada de século, a gente falou 'meu, vamos pegar esse 0.1 aí, 2000, 2001, esse ponto vai ser a divisão de quando a gente se encontrou pra gente poder fazer essa história'. E é legal também, uma pira assim, o lance do ano 2000 todo mundo falando muito de informática, a nova febre do momento, linguagem binária, o computador até hoje é 0 e 1, a gente queria ser alguma coisa que quebrasse esse sistema, por isso o ponto, porque o computador não lê o ponto, ele lê só o 0 e o 1, intervalo e repetição. Então a gente falou 'vamos colocar esse ponto que é uma coisa que vai quebrar o sistema' mas não é quebrar no intuito de causar o mal, é colocar o sistema pra trabalhar em uma outra velocidade, pensar nas coisas, né. A gente vinha retratando e relatando o nosso cotidiano aqui na cidade, né. Tinha umas coisas que a gente via ao vivo e as coisas que a gente ouvia chegavam de fora, a gente sempre teve essa preocupação de fazer uma música Rap voltada pra Foz do Iguaçu, nunca tivemos a pretensão de estourar nacionalmente, mas a gente teve a idéia de levar o som pra galera que tava do lado da nossa casa, que tava no ônibus com a gente, na escola. Daí que veio o Zero Ponto Um, dessa vontade de fazer um rap com a cara de Foz. Aqui por exemplo nesse lugar que a gente ta agora (Praça Naipi) foi um dos muitos lugares que a gente começou a fazer o ensaio aberto, né. A gente trazia a caixa de som, o Kanibal morava na Vila Cláudia, eu moro aqui perto, a gente vinha, trazia a caixa, trazia uma mesa, toca-discos, fazia uma roda de freestyle, fazia o ensaio dos nossos sons, a galera sentava aí. E foi daí que começou o Zero Ponto Um, essa época aí”. Em 2002 entra no grupo o Rodrigo Mc. Mais tarde entra o Fábio quando o Kanibal vai embora pra Argentina. Durante a sua trajetória o grupo se apresentou na Fartal, em rádios, em várias quebradas, em Campo Mourão, Cascavel, Curitiba. e gravaram um Cd com 4 músicas. Foi o primeiro grupo da cidade a gravar.

Hoje Caê mora em Curitiba, sobre sua saída de Foz ele diz: “O que me fez sair de Foz é a vontade de continuar com meu trabalho. Eu gosto de discotecar, em Foz já fiz muita festa, o pessoal conhece o trampo, mas não é a mesma coisa, não dá pra você sobreviver com isso. E eu particularmente quero sobreviver com isso, através da música, pesquisando a música em um lugar e tocando a música em outro lugar, fazendo com que as pessoas conheçam, assim. Então hoje eu to em Curitiba, amanhã não sei onde eu vo ta, eu vou pelo som, selecionando sempre o som, por isso Caê Selector. E se tiver que ta aqui, vo ta aqui, já é”. “Então, pra falar a verdade eu nunca procurei viver só do Hip-Hop, do movimento, nunca fiquei nessa ilusão de viver só disso. Porém hoje em dia eu toco, não só Rap, mas outras músicas e vivo só disso, mas no passado eu nunca tive a ilusão, apesar de querer muito eu nunca larguei as bets e fui só mexer com Rap pra sobreviver porque é muito difícil, eu tive essa ciência”.

Pra Foz melhorar.

“Pra Foz melhorar o que falta é a adminis-tração pública direcionar mais as ações pro social, né. Pra cultura, pra saúde, pra infra- estrutura da cidade, de uma maneira que fique bom pro morador de Foz, não pra quem vem pra Foz, porque até então eles se preocupam muito em deixar a cidade boa pro turista, mas não se preocupam tanto pra quem ta aqui, né. Eu acho que uma melhor infra-estrutura pras pessoas, mais informação, mais cultura, investir na qualidade de vida dos moradores, dos diferentes bairros. Fazer com que as pessoas sintam e gostem de ta morando aqui, tenha aqui como realmente seu lar, a extensão da sua casa. Aprendendo o lance do lixo na rua, o lance da educação, respeito, fazer com que a qualidade de vida da cidade melhore, assim. Isso vai fazer com que a cidade fique, com certeza, melhor habitável”.

Integração Latino-americana.

“Eu tenho muitos amigos no Paraguai, mais no Paraguai do que na Argentina, mas o que a gente tinha que fazer aqui na tríplice fronteira é o triângulo virar um círculo, fazer com que as pessoas do Paraguai saibam o que ta rolando na Argentina e o que rola em Foz e o que rola lá. Porque até então, assim desde pequeno é passado pra gente que o Paraguai é uma cidade onde você compra tudo pirata e que é só aquilo ali, e não, é um país muito rico de cultura, o povo é muito hospitaleiro, assim. É só as pessoas se ligarem e fazer o triângulo virar um círculo mesmo, né. A mesma coisa pra Argentina que é um puta país também. Essa integração vai partir da sociedade, da mocidade, da juventude, porque as pessoas mais velhas infelizmente já viveram seu tempo e já não tão mais preocupados. Então a gente que ta aí que pode fazer alguma coisa tem que procurar integrar, procurar fazer o intercâmbio e fazer com que a fronteira seja só uma fronteira no nome, assim, mas que não haja fronteira pra gente poder ir, voltar e eles virem e conhecer a riqueza cultural dos três países que é muito grande. Então tem que fazer o triângulo virar um círculo mesmo. Aí já é”.

Desterro - F.U.R.T.O.

Jornada de Trabalho ( Por Luiz Carlos Silva)

Com a presença de mais de mil trabalhadores e dirigentes sindicais de vários ramos de atividade a PEC 231/95, dos ex-deputados e atuais senadores Inácio Arruda e Paulo Paim, que reduz jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais foi aprovada por unanimidade, no último dia 30 de junho. A votação foi na comissão especial instituída para analisar o mérito da proposta. Com a aprovação na comissão especial, o relatório ainda precisa passar por duas votações nos plenários: da Câmara e do Senado. Além disso, por se tratar de uma proposta de emenda à Constituição, necessita de quorum, 3/5 dos parlamentares (308 deputados e 41 senadores)

Os dirigentes das Centrais Sindicais do país são unânimes na avaliação de que o Brasil atravessa um momento que propicia a redução da jornada de trabalho. O relator da matéria destacou que: “a utilização excessiva do trabalho extraordinário, além de causar evidentes prejuízos à sociedade, ante o aumento do desemprego, causa também graves danos à saúde do trabalhador”. Ele cita trechos da publicação: “Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador” , em que é relatado que: “um processo prolongado de fadiga induz à instalação de um cansaço crônico, que não cede nem mesmo com o repouso diário. Esse quadro patológico compromete o sistema imunológico, produz insatisfação com o serviço, absenteísmo, baixa produtividade e maior número de acidentes do trabalho”.

A proposta de redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas poderia ser de até 30 horas semanais, e seria justa; considerando que o salário, calculado em l988, pelo Dieese, para sustentar uma família era de R$2.070, e foi aprovado pelo congresso nacional, em R$415, logo, se não podem pagar o que é justo, de acordo com padrões internacionais, reduzam o horário, porque o salário, a princípio, já foi reduzido.
O Brasil tem um dos menores salários do planeta. O que deveria acender o movimento sindical pelos maus salários, inibe pelo receio do desemprego. Os patrões se aproveitam desta situação e inadvertidamente combatem os sindicatos de categoria, para inviabilizar não só os direitos dos trabalhadores, mas também suas organizações, que envidam esforços para organizar-los a fim de lutarem por estes e outros direitos.

Luiz Carlos Silva é Analista Político e colaborador do Megafone.

Fonte: www.megafone.inf.br

O Favelês x Intelectualês

Um debate lingüístico da crise do capitalismo. (Por Danilo George)

Esse texto tem por objetivo provocar um debate acerca da linguagem teórica e acadêmica da esquerda, uma vez que o comunismo, socialismo são ideologias formuladas e materializadas para impulsionar a classe trabalhadora para a superação da ordem burguesa do capitalismo. Mas há tempos tenho reparado a distância da linguagem marxista do seu povo, isso já era algo notável desde que eu começara a pesquisar na periferia de Foz do Iguaçu, quando percebi que muitos jovens da favela tinham receio em ouvir e dialogar com pessoas ligadas a Universidade devido as suas formas de se impor e principalmente de se expressar.

O que parecia ser um problema local de Foz do Iguaçu, ficou evidente em minha experiência ser algo mais complexo, há quatro meses andando e pesquisando em algumas favelas do Rio de Janeiro venho notando como os militantes de esquerda tentam dialogar com a favela, e vejo que esse dialogo, às vezes, caminha para uma torre de babel. Um debate central feito nas periferias hoje é o da crise do capitalismo, algo muito relevante de ser debatido na favela, pois eles são os que sofrem mais nesse processo, são penalizados ainda mais pela crise. O problema é que muitas vezes as falas feitas para essa camada da população é totalmente descolada da realidade periférica, operária, camponesa e toda esfera que se compõem a classe trabalhadora. Analisarei aqui um discurso feito por um intelectual renomado da esquerda que falava em um curso popular sobre a crise, a maioria do público era alunos de Cursinhos pré-vestibulares comunitários, pessoas oriundas de favelas. Vejamos “a crise atual é uma crise de superacumulação que se combina de forma explosiva com manifestações de superprodução e subconsumo”.

A cara dos ouvintes era de dúvida, espanto, alguns aplaudiram desconfiados, outros continuaram ali sentados aparentemente sem dar muita importância. Sai meio encabulado da aula, pensando na armadilha que os discursos das complexas teorias nos amarram, conversando com dois militantes do hip-hop eles disseram que não entenderam nada do que o professor quis dizer. Passado alguns dias, participo de um ato contra violência nas favelas, no ápice da manifestação um líder comunitário faz uma analise interessante da crise “O que significa a crise? Significa menos educação, menos saúde, menos alimentação pro povo das favelas, o trabalhador não pode pagar pela crise, ela só é comentada hoje no mundo inteiro porque chegou aos poderosos. A gente já vive a crise desde que nascemos dentro de uma favela, o capitalismo para o pobre não serve”.

Quanto ao intelectual que discursou pelo intelectualês deixou que percebemos como a esquerda hoje tem a prática de falar para si mesmo, foi um ótimo discurso "academicista" para economistas e universitários que também estavam lá, para os favelados aquele discurso infelizmente não serviu de nada.

O que se comunicou com o Favelês representou uma voz que é compreendida na favela, cumpriu o seu papel de formador mostrando que a crise não é instalada hoje, a população favelada já nasce na crise e a maioria vive com uma crise social permanente.

É isso mesmo: O ÚNICO está Chegando:

Sistema de Bilhetagem Eletrônica. (Por Jackson Lima).


Foto 'bairronauta' abordo do ônibus TTU -
Parque Nacional do Iguaçu (repito a foto)

No dia 7 de agosto publiquei uma nota chamada: O ÚNICO está chegando: cartão pré-pago eletrônico de passagem de ônibus! Agora volto ao assunto com um pouco mais de clareza. O "ÚNICO" nome fantasia do SBE (Sistema de Bilhetagem Eletrônica) vai entrar em vigor logo, logo e os iguaçuenses vão ter que começar a ajeitar a cabeça para entender como tudo vai funcionar. Recebi de um internauta (saudações, colega) por e-mail, a cópia do Diário Oficial do Município onde registra-se a aprovação do decreto 19.004 que regulamenta o ÚNICO. Por sua vez, este decreto se baseia na Lei 3.523 de 17 de abril deste ano.

Como a coisa é complexa e como estou meio complicado de tempo só lhe digo o seguinte: foram criados por esse decreto o que se chama de Órgão Regulador do Sistema (que é a própria Prefeitura, "Orgão Gestor" que é o FOZTRANS deverá ser criado ainda uma entidade sem fim lucrativo que será a Operadora do SBE. Isso ainda quero entender pois essa entidade deverá ser "cível" ou "sindical". Quem está na lista?

Foi criado ainda uma coisa chamada UT ou seja Unidade Tarifária que vale um centavo de real. Assim, o preço total da passagem equivalerá a uma quantidade de UTs e é aí onde está a alma do sistema. Vai haver seis espécies de cartões. Chama a atenção o do "turista" que, segundo entendi e posso estar errado, poderá ser mais caro, devido ao fato de que muitos turistas simplesmente levarão o ÚNICO como lembrança. O único do turista poderá ser vendido em hotéis, restaurantes e lugares com afinidades com o turista. Um golpe para a economia popular e isso digo por dizer - sem julgamento - o vale transporte vai sumir como moeda auxiliar de tempos de crise. Como vai funcionar o Vale Transporte na era do cartão? Outra coisa que necessita cálculos matemáticos complexos é o do valor integrado da passagem. Hoje o transporte integrado se dá fisicamente no TTU quando quem vai do Porto Meira para a Aparecidinha vai de ônibus até o TTU e lá desce do ônibus do Porto Meira e pega o ônibus da Aparecidinha. Paga-se, neste caso, uma passagem.

Na era eletrônica entram em cena a UT, tarifas completas, tarifas diferentes tudo a ser entendido. Eu volto, vou estudar o Decreto e procurar quem possa me esclarecer as idéias. Se você quiser pesquisar junto, compartilho o calhamaço eletrônico que me foi enviado.

Fonte www.blogdefoz.blogspot.com

Polícia Na Escola (Cátia Ronsani Castro).



A criação de um projeto que traz a Polícia para dentro da escola pública no Paraná, Projeto Patrulha Escolar, implementado pelo Governo Requião/SEED, no ano de 2004, revela-se uma das maiores, se não a maior contradição de um Governo que afirma pautar sua Política Educacional na construção de uma escola democrática e de uma educação emancipadora. Por mais que os documentos oficiais e os calhamaços de textos elaborados pela SEED tentem convencer os educadores de que o caminho escolhido por essa Equipe, que atua no aparelho do Estado é o de uma educação crítica, transformadora, a prática política tem provado o contrário. A saída encontrada pelo Governo do Paraná para a solução dos conflitos existentes e estabelecidos dentro do ambiente escolar e nas suas proximidades é o uso do seu aparelho repressivo, a polícia, que é apresentada à educação com um caráter mais “humanizado”: patrulha escolar.

A política do Paraná caminha na contramão das conquistas históricas obtidas na proteção da criança e do adolescente. Quando precisamos na escola de melhores condições de trabalho para darmos ao aluno a atenção devida, (contratação de mais profissionais da educação, redução de aluno por turma, instalações físicas adequadas, tempo e espaços destinados às atividades educativas) o que recebemos é uma equipe de polícia para encaminhar as situações conflituosas. A política educacional do Estado defendida pelo Governador e seus representantes, não passa de discurso demagógico para camuflar o caráter de classe desse Estado que em essência é autoritário.
Preocupa-nos muito o que temos verificado e vivenciado no dia-a-dia da escola pública, onde a intervenção da Patrulha Escolar, tem sido cada vez mais freqüente para a resolução (ao seu modo) de problemas indisciplinares entre outros. A indisciplina tem deixado de ser uma questão pedagógica, a ser discutida pelo conjunto de educadores e passou a ser uma questão policial.

Entendemos a escola pública como parte do contexto social, não sendo ela uma ilha, isolada de todas as mazelas sociais, não sendo ela composta por crianças e adolescentes imunes aos desajustes sociais, não poderíamos esperar algo diferente do que se apresenta hoje: uma realidade de violência, rebeldia, indisciplina, desencontros, etc. Afinal, se não nas ruas, é na escola que encontramos as crianças e adolescentes marginalizadas, vítimas de todo o tipo de violência, abuso e exploração, que desde o berço sofrem um processo constante de deseducação. Fazer essa constatação, não significa que concordamos com essa realidade e tão pouco que aceitamos ela como natural. Também não acreditamos que através da escola possamos apresentar uma solução aos conflitos da sociedade, ou reverter toda essa situação. Contudo, a escola enquanto espaço da luta de classes, da contradição, espaço que acreditamos ainda ser potencial para o processo educativo e humanizador é parte da resistência e enfrentamento à marginalização e criminalização da infância e da juventude, tão presente nos dias atuais. Intrínseco à transmissão dos conteúdos científicos, está a possibilidade de construir e transmitir, por intermédio dos trabalhadores da escola (professores, funcionários, pedagogos e diretores) uma série de valores e ensinamentos que contribuem significativamente para a formação do educando enquanto sujeito histórico.

O papel educativo, dentro da escola, cabe a nós educadores - lembrando que isso é o que confere especificidade a nossa formação e a nossa atuação. Não estou afirmando, que vamos ou que temos condições de resolver todos os conflitos e as situações de indisciplina e violência, pois como apontei anteriormente, estas extrapolam o cotidiano escolar, mas apostar em alternativas que geram mais violência e que de maneira incisiva negam a escola como espaço educativo, é bastante preocupante e precisa ser revertido.

São nessas situações diárias, onde a nossa intervenção educacional é solicitada, que devemos fazer uma reflexão profunda e científica da nossa realidade, buscar compreender o problema da violência na sua raiz, para que a solução apresentada não seja superficial. O autoritarismo no ambiente escolar tem que ser uma prática negada e denunciada pelos educadores, para que dentro dos limites impostos pela sociedade de mercado, possamos construir práticas educativas e solidárias que apontem para a superação do atual sistema.

Acredito que por meio do nosso principal instrumento hoje, de luta e de construção de relações solidárias e humanizadoras – o Sindicato, devamos dar inicio a uma grande campanha contra a política de repreensão e repressão, de denúncia dos abusos que vem ocorrendo, exigir melhores condições de trabalho e ações de atendimento à infância, fortalecendo a nossa luta pela superação deste sistema.


(Louis Althusser define a polícia, entre outros, como Aparelho Repressivo do Estado).


* Cátia Ronsani Castro é funcionária do Colégio Estadual Barão do Rio Branco e Secretária Geral da APP-Sindicato/Núcleo Sindical de Foz do Iguaçu.

O texto foi publicado originalmente no Informativo da APP-SINDICATO/Núcleo Sindical de Foz do Iguaçu "Educação em Luta" e reproduzido no site do MEGAFONE:
www.megafone.inf.br

Face da morte - Libertadores

NEM TODO HIP-HOP SE CALOU

Hip-Hop Militante exige a retirada das tropas da ONU do Haiti.



O Hip-Hop brasileiro sempre se posicionou contra o imperialismo e contra as bases militares estadunidenses em outros países. Foi quem mais gritou contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e também se manifestou em solidariedade a causa palestina. A respeito da ocupação do Haiti por tropas estrangeiras esperava-se que seria do mesmo jeito. O Haiti é um país latino-americano e esse país conseguiu sua libertação pela força do próprio povo. Uma revolta dos escravos iniciada em 1971 expulsou os franceses que escravizavam o povo haitiano, sendo reconhecida a sua independência no ano de 1804.

Apesar da revolução dos escravos, o Haiti foi alvo de vários golpes de Estado e de intervenções militares em defesa da manutenção de interesses estrangeiros associados às classes dominantes locais. Entre latifundiários e grandes burgueses, 3% da população, representada essencialmente por grandes empresários, forma a elite econômica que manda no país e submete à miséria o restante da população. Novamente o povo do Haiti se revoltou em defesa de sua sobrevivência, foi às ruas em grandes protestos, saques, fazendo até greves gerais. No início de 2004, aconteceu uma intervenção do governo dos Estados Unidos, forçando o então presidente (Aristide) a renunciar e deixar o país. O fato de o Brasil estar interessado em ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU faz com que esteja pronto a atender qualquer pedido daquela organização. O Brasil ocupou o Haiti em 2004 e lidera a operação que conta com tropas de mais 15 países.

Os interesses estrangeiros com a ocupação são representados pelos USA, que sempre acompanhou de perto os acontecimentos e exigiu que se adequasse o Haiti à receita imperialista subordinando-o aos organismos dos banqueiros internacionais. Um dos objetivos é controlar um país que está estrategicamente situado entre Cuba e Venezuela. E além disso, é muito interessante para o governo estadunidense a criação de mais um pólo de indústrias, onde corporações como Nike e Adidas possam produzir seus artigos esportivos pagando um salário de miséria aos trabalhadores.

Recentemente o rapper MV Bill apareceu no programa do Faustão, na Rede Globo defendendo a ocupação militar no Haiti. Isso abriu um grande debate no Movimento Hip- Hop brasileiro. Muitas organizações e grupos de Hip-Hop questionaram a veracidade dos depoimentos do referido rapper. Em reunião no Rio de Janeiro, organizações de Hip-Hop Militante decidiram realizar um ato unificado em solidariedade ao povo do Haiti. No período de 25 de agosto a 07 de setembro estará acontecendo um conjunto de atividades políticas e culturais em solidariedade a brava resistência do povo haitiano contra a ocupação das tropas da ONU liderada pelo Brasil. Esses eventos pretendem ser um marco político no Hip-Hop brasileiro que pela primeira vez em sua história consegue articular um ato nacional junto à juventude das periferias do Brasil com um caráter de solidariedade internacionalista.



(Grupo Teatral Arte em Si)


(Chileno que colou no Ato e participou com o grupo Versos de Honra. Viva a integração Latino Americana).

O Ato contou com Coletivos de Hip-Hop Militante de vários estados. Resistência Cangaço Urbano (CE), Coletivo de Hip Hop LUTARMADA (RJ), Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão Quilombo Urbano (MA), Cartel do RAP (PR), Liberdade e Revolução (SP), Ministério das Favelas (MA) e Atividade Interna (PI). Além de shows e panfletagem o Ato contou com palestras e apresentação de vídeos mostrando todas as atrocidades que as tropas estão cometendo no Haiti.
Tudo foi filmado, fotografado e registrado, e todo o material será enviado para o Haiti e para organizações de direitos humanos e movimentos que repudiam a ocupação.


(Cartel do Break)

No Paraná quem ficou responsável foi o Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap, de Foz do Iguaçu. O Ato/Show foi organizado na Praça da Bíblia na noite de 29 de agosto. Além de apresentação dos grupos de Rap, rolou uma roda de Break, Poesia, e apresentação teatral com o grupo Arte em Si. Essa iniciativa mostra que nem todo Hip-Hop se calou e que nossos gritos aqui com certeza serão escutados por lá.


(Michael, CIA de Rua, participou do Ato).

Hip-Hop Militante unido por uma América-Latina unida contra o imperialismo!!!

(Mano Edo com seu livro de poesias 'Líricas e Satíricas do Iguaçu')


(Danilo em sua fala: "Hoje o MV Bill não serve pro Hip-Hop")

Ato em Solidariedade ao povo do Haiti

UMA ARTE (Por: Eduardo Marinho)



Este é um desenho prestes a ser refeito. Sinto falta de mais elementos no contexto tanto verde quanto amarelo. O azul destaca a América Latina, sempre imbecilmente vilipendiada em troca de um eurocentrismo servil, uma subalternidade cultural, política e econômica. A emancipação dos povos latinoamericanos passa por sua integração, sua confraternização, por isso o formato da região ocupa o centro da bandeira. Isso não muda, na próxima versão.

ACARI, NÃO TEMEMOS A GUERRA, MAS AMAMOS A PAZ (Por: Deley de Acari)

Há alguns anos uma inscrição num dos muros da favela de Acari era:

“Acari, não tememos a guerra, mas amamos a paz”.

Mas hoje, o espírito que prevalece na comunidade é do título deste texto:A Paz é mais importante que a guerra. Hoje, os jornais mais populares do Rio, estampam em suas primeiras páginas manchetes e fotos sobre uma operação com cerca de 70 PMS do 09º BPM que resultou numa grande apreensão de drogas, armas e a prisão de quatro rapazes suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas local.Todas as matérias destacam que houve a colaboração de um morador que desenhou um mapa dos esconderijos e o entregou pessoalmente no Batalhão. As matérias dão pouco destaque ao fato de não ter havido troca de tiros nem mortos ou feridos, seja policial ou traficante. Cada leitor de cada jornal certamente fará sua própria leitura dos fatos, mais ou menos induzidos pela visão de cada jornal. Aqui vai mais uma leitura de um leitor de todos os jornais, com a diferença de que é um morador da comunidade, e que tem direto interesse em alguns pontos destacados pelas matérias:

*Sobre o suposto morador colaborador: Tenho dúvidas se foi mesmo um morador que fez a denúncia, desenhou o mapa e o levou ao Batalhão. Mas vá lá que seja: Ao revelar que foi um morador, mesmo que preservando sua identidade, por razões óbvias, o Comandante Camelo, do 09º BPM, mesmo sem ter a intenção, coloca sob suspeita de serem X-9, todos os vizinhos dos locais onde foram apreendidas as drogas e, consequentemente põe em risco suas vidas. Se sua fonte não é um morador e ele quer preservar um P-2 seu erro é maior ainda, pois põe em risco a vida de moradores, que não tem nada a ver com a guerra entre policia e traficante, muito menos com a política de segurança pública de confronto e extermínio do Governo do Estado do Rio.

*Sobre não ter havido troca de tiros e a prisão, vivos, de quatro supostos traficantes: Desde o rompimento da aliança entre 3º Comando e ADA que ocasionou o surgimento da facção TCP- 3º Comando Puro, e o tráfico de drogas em Acari ter ficado sob o comando do Derico de Acari, em 2002, sua quadrilha adotou a política de não confronto com a Policia. Essa política de não confronto foi o resultado do trabalho invisível, mas concreto e palpável, de 03 lideres comunitários e militantes de direitos humanos locais, inspirados nos projetos de redução de danos, implementados em várias cidades norte-americanas, e a partir de 2005, principalmente no Movimento Critical Resistence, também norte-americano. Mesmo com a prisão de Derico, sua regeneração e conversão evangélica, os chefes de tráfico que o vem sucedendo, têm mantido a mesma política de não confronto, mesmo revoltados com varias execuções sumárias, tanto de supostos traficantes como de moradores ditos inocentes, nos últimos três anos, principalmente cometidos por policiais do 09º BPM sob o comando de coronéis que antecederam o atual Comandante Camelo, que comandou a operação de ontem.

Há quem possa dizer, que os resultados da operação de ontem, a apreensão de tantas drogas e armas, sem nenhum tiro e a prisão de supostos traficantes vivos, seja resultado de uma nova filosofia de comando do novo comandante do 09º BPM. Se for, que bom, muito bom mesmo! Já que nos últimos 20 anos, pelo menos, o 09º BPM vem sendo comandado por verdadeiros Coronéis de Roça que transformaram aquele batalhão numa verdadeira grande quadrilha de policiais militares assassinos mercenários. As comunidades do Complexo de Acari pagam pra ver, e torcem pra que seja verdade, embora descrente de tudo. Os lideres comunitários que implantaram a atual "Política de Redução de Perdas e Danos de Vidas" no Complexo de Acari, não estão nem um pouco interessados em dividir ou disputar os "louros" e receber as "graças", nem com a policia nem com o tráfico, pelos resultados positivos obtidos com tal política pacifista. Nossos "louros" e nossas graças já são as vidas de nossos moradores, principalmente, nossos jovens, já que a cada dia que vemos cada um desses "meninos" vivos, é mais um dia de esperança que ganhamos, mas um alimento na nossa inquebrantável vontade de conseguirmos tirar mais vários deles da vida do crime, como temos conseguido fazer, com mais eficácia e mais resultados concretos nos últimos dois anos. Essa disputa, essa competição é que gostamos de entrar e estar nela: Disputar com a policia quantos jovens tiramos da vida do crime na nossa comunidade, antes que ela os prenda, ou os mate, que é o mais comum. Cada rapaz, que ontem vimos com fuzis e sacolas de drogas nas mãos e hoje vemos pegar ônibus ou metrô às 06 da manhã pra ir trabalhar na cidade, nos emociona e nos alegra com a alegria humilde de quem só quer lutar pela paz e pela esperança em nosso lugar.

Talvez por isso é que odiamos tanto os dedos duros X-9, de dentro e de fora da comunidade: mais que a própria policia, o X-9 é nosso maior inimigo e a maior barreira para que consigamos tirar jovens da vida do crime. Só como exemplo: Entre os anos de 2007 e 2008, quatro dos sete rapazes executados sumariamente pela policia no Complexo de Acari, faziam parte da nossa política de redução de perdas e danos, e estavam em processo de saída do trafico, inclusive com empregos chamados "honestos" já garantidos. A ação perversa e desastrosa de X-9 que os denunciaram precipitou suas mortes antes que pudéssemos concluir nosso trabalho. Por isso, se for verdade, que foi um morador que X-9vou os traficantes de Acari para que a operação do 09º BPM tivesse o sucesso que teve ontem, dá até pra entender que ele teve lá suas razões, mas não dá de maneira nenhuma pra aceitar e apoiar o que ele fez. Se não fosse a política de não confronto dos traficantes de Acari, ou a política de não chacina do novo comando do 9º BPM, a verdade é que a "ação" desse morador X-9 poderia ter resultado na morte, execução sumaria dos 4 supostos traficantes presos, de moradores atingidos por balas perdidas, e até mesmo de um ou outro policial.

Felizmente, isso não aconteceu, pelo menos dessa vez. A gente não pode falar nem pelos traficantes nem pela policia, mas no que depender da gente, líderes comunitários e militantes pela Paz e pelos direitos humanos no Complexo de Acari, nossa Política de Redução de Danos e de Perdas de Vidas Humanas no Complexo de Acari continuarão assim como está agora e por muitos e muitos:

Num Acari, Todo Pela Vida e Pela Paz, mesmo que isso contrarie a vontade e os interesses cruéis e perversos dos donos da atual Política de Segurança Pública de Confronto e Extermínio no Estado do Rio.

(Fonte: www.deleydeacari.blogspot.com)