terça-feira, 3 de novembro de 2009

É Hora de Lutar



Salve companheiros e companheiras de militância. É hora de lutar!!! A hora é agora!!! Relembro aqui o grande Geraldo Vandré “Vem vamos embora que esperar não é saber / quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. A escravidão continua, 121 anos após a “abolição” e a ditadura continua, 25 anos após a “redemocratização”. Os negros continuam sem acesso a universidade, continuam em papéis subalternos na sociedade, continuam habitando favelas, continuam sendo a maioria das vítimas do genocídio do Estado, continuam lotando cadeias e cemitérios. Precisamos reverter essa situação. É Hora de Lutar. Trazemos aqui uma matéria de Michelle Amaral da Silva, intitulada África, esta desconhecida! O artigo traz a triste constatação: “Muito pouco se sabe sobre o continente e o que se sabe em grande medida reproduz a lógica do eurocentrismo, o mesmo que foi responsável pelo que Jorge Risquet, de Cuba, conceitua como o maior genocídio promovido pela humanidade: a escravidão”. Num texto de Deley de Acari, mostra como os intelectuais criados pela burguesia trabalharam a destruição do conceito de raça. “Para validar ainda mais a idéia de não existência de raça, divulgando-a e massificando na cabeça do povo brasileiro, inclusive do negro, a burguesia branca vale-se de seus mídiadores de maior credibilidade como Jô Soares, Ali Kamel, Ricardo Boerchat e Anselmo Góes. Estes são “encarregados” de dar voz e credito aos Demetrios Magnoli e Ivones maggyes d'agora. O paradoxal nisso tudo é que mesmo agora, em pleno processo de negação da raça, as vezes a idéia de existência de raça convém pra, por exemplo vender o corpo de mulheres negras, no mercado do sexo”.

E a situação está se estreitando para os militantes da esquerda paraguaia. A Carol traz uma matéria onde mostra a mobilização de um grupo armado anticomunista no Paraguai. “Preocupados com a força da organização de esquerda no Paraguay, organizações de ultra-direita lutam para acabar com os ventos de uma luta popular.Esta semana o Comando Anticomunista soltou uma carta na imprensa paraguaia demonstrando repudio total a organização. Enquanto a direita trata de destruir vidas por “vias democráticas” como a fome, a violência e a falta de qualificação no atendimento da área de saúde, o Comando tenta demonstrar para o povo que os errados são os irmãos que lutam por um mundo diferente”.

É hora de mostrarmos solidariedade aos nossos vizinhos. Todos nós, classe trabalhadora, homens e mulheres, negros e brancos, unidos por uma América Latina Unida, contra o imperialismo.

Geraldo Vandré - Pra não dizer que não falei das flores

SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA EM FOZ



Dia 16 ao dia 20 - Contos Infantis nas Escolas Municipais.
Dia 17 às 22h - Roda de Capoeira - Praça da Bíblia.
Dia 18, 19 e 20 às 14:30hs - Cinema no Colégio Estadual Monsenhor Guilherme.
Dia 19 às 20hs - Roda de Break e as 21h Documentário sobre a Música Negra - Praça do Mitre
Dia 20, Dia da Consciência Negra - 18h - Apresentações Culturais na Praça da Bíblia
Dia 21 às 09h - Movimento na Av. Brasil com intervenções artísticas
(Concentração em frente a Caixa Econômica Federal)
Dia 22 às 15hs - encerramento c/ Exposição de desenhos infantis
Apresentações Culturais de Samba, Reggae e Rap
Oficinas Culturais (Grafite, Máscara de Argila) - Parque Remador - Porto Meira

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli)

SANTIAGO - Hip-Hop, Política e Sociedade

Continuação da Edição 54



O Movimento Hip-Hop é um Movimento Negro que tem as suas origens na Jamaica. Nos Estados Unidos teve forte influencia de líderes negros como Martin Luther King, Malcolm X e dos Panteras Negras. No Brasil em Zumbi dos Palmares, líder negro que lutou até a morte pela libertação dos escravos, criando o Quilombo dos Palmares. Num primeiro momento o movimento teve uma certa resistência com pessoas brancas que queriam fazer parte do Hip-Hop. Alguns militantes do Movimento Hip-Hop no Brasil dizem que não querem ver o branco fazer com o Rap o que fez com o Funk. Mano Santiago é um branco dentro do Movimento Negro, a respeito disso ele pensa: “Primeiro, a questão do Funk, né, eu acho que não foi o branco que fez a cagada que o funk ta hoje, a grande maioria do funk, ainda existe funk de raiz, existe aquele legítimo funk. Mas não foi questão de cor, nada é questão de cor. Dentro desse sentido, né. Não foi o branco ou o negro que estragou, não foi isso que aconteceu, na verdade foi os cara querer ganhar dinheiro com o funk, querendo fazer praticamente um filme pornô com o baile funk. Daí isso dá dinheiro, isso dá audiência. Isso é prejudicial pra caramba pro Movimento Funk lá do Rio e aqui também, poxa”. “Eu me sentia mal por ser um branco dentro do Movimento Negro, mas, acho que hoje em dia se algum negro viesse falar comigo 'ô, sai daqui seu branquelo' eu falaria 'sai daqui por quê? Eu mereço tanto tá nesse movimento quanto você, eu luto pela mesma idéia de igualdade racial' eu iria bater de frente, não ia me acovardar”.

Questionado se a mudança social viria pela luta racial ou pela luta de classes ele diz que: “Cada vez mais os cara só querem dividir, fazer esse apartheid, não deve fazer esse apartheid. Cada um tem sua qualidade, cada um tem sua estrela, cada estrela brilha das melhores intensidades possíveis, nenhuma vai se apagar, nenhuma deve se ofuscar por outra que seja maior, por uma pessoa que seja mais parruda, mais forte, não deve se dividir, não tem que ter essa coisa de cor, de raça, de tamanho, de lugar, sendo do social, sendo o pensamento sem mesquinhagem, sem essa coisa de ter só pra si, né, ser participativo, ser o máximo possível colaborador de uma mudança”.

Há um tempo atrás o Mano estava um pouco desiludido com a luta por não conseguir ver concretizada a mudança que ele tanto sonha. “To tentado mudar o quadro social, dou um passo pra frente e dois pra trás, vai amenizando as coisas, só amenizam e não muda, só vai salvando uma, duas ou três pessoas. Muita gente que a gente conversa, tenta trocar uma idéia, e às vezes eu penso em deixar ao léu mesmo e... daí que o pessoal vai querer mudar alguma coisa, quando ver que ta todo mundo na mesma merda que vai querer sair dessa coisa ruim que ta acontecendo na sociedade, tentar tirar essa corda do pescoço todo mundo ao mesmo tempo. Quando afeta não só você, mas seu amigo e todo mundo, os cara tem um escape. A mudança tem que ser coletiva, e se não for de um levante coletivo não vai haver mudança. Eu to meio desiludido com isso, se não for coletivo essa tentativa de mudança não vai acontecer nada”.

Hip-Hop e Juventude

“O Movimento Hip-Hop é complexo, depende de quem ta direcionando, de quem ta organizando eventos e tal, ou elementos e tal, depende dos pioneiros, né. Se é um professor bom você vai assimilar a bondade dele, né, ele vai te explicar, se ele for um cara político, você vai ter um direcionamento. Mas você precisa ter sua própria opinião, não simplesmente assimilar o que os outros te dizem. Mas basicamente quem ta encabeçando o Movimento Hip-Hop, tem o MH2O, tem o Zulunacion, vários movimentos que tentam direcionar politicamente, tem pessoas que vão direcionar pro crime, tem pessoas que vão direcionar pra igreja. Aí cabe de você escolher o caminho e saber se essas pessoas são realmente boas no sentido de educação”.

Periferia e a arte da sobrevivência

“Não é o que falta aqui, mas é o que tem demais lá. É a exploração, é a gente ter que ser submisso aos grandes ricos, as grandes famílias, ao pessoal que já vem de um histórico de herança de propriedade privada e tudo mais, que foi acumulando bens e a gente tem que se submeter a imposição deles. Tipo, ele cuspiu e você tem que limpar, limpa o chão aí, uma coisa mais ou menos assim. Aqui tem muito mais amor do que lá, tem muito mais coletividade do que em uma casa que seja grande que tenha toda a estrutura necessária até pra você defecar. Aqui eu puxo a descarga e não desce, entendeu, porque ta tudo entupido, porque não tem esgoto. Mas aqui também não é só dificuldade, aqui tem muita gente lutadora e de certa forma é feliz, de certa forma. Aqui tem arte. É onde nasce, da dificuldade. Nasce artesãos, nasce escritores, nasce de tudo, na dificuldade, né, a necessidade faz com que a pessoa se explore, se conheça e também tem a capacidade de resistência. Pô, eu fico tantos dias sem comer, não só porque Jesus ficou, mas eu também consigo ficar porque não tive condições de comer, mas se tivesse eu comeria um banquete regado. Mas se preciso for eu fico, só bebo água durante uma semana”.

Revolução.

“Pro ser humano tudo é possível, desde criar um mundo, criar um outro planeta, até destruir dois, três ao mesmo tempo”. “É, eu já tive muito pensamento assim, de fazer como o Che fez, fazer levante com armas, pegar armas de quem nos mata pra matá-los, só que tudo que é forçado, a gente cai nessa coisa, tudo que é imposto a galera não tem uma aceitação. E qual vai ser a reação depois, eu não quero ser um ditador. Cai nessa coisa, não querer forçar, mas vai chegar um momento que vão forçar a barra, vão querer fazer imposição de sistema, vão querer fazer um levante, né, de mudança e tal, o pessoal vai pegar em armas e se necessário for eu vou pegar em armas também pra salvar minha família, salvar meus amigos, me salvar., pra matar mesmo se for preciso os caras que estão matando muitos só na caneta”.

Sonho

“É de ver tudo isso mudar, de ver essa realidade mudar, de ter uma melhoria social, ver a satisfação de uma mãe com o filho e ter uma família, assim, as pessoas não verem o pai morrer, ou seja com drogas ou com o crime, ou num trabalho como a Itaipu. Morreu porque foi trabalhar na construção. O sonho é basicamente assim, de ver se mudaria alguma coisa, se o pessoal tivesse estrutura social, se estivesse tudo bom. Meu sonho era ver o sistema socialista funcionando”.

El Derecho de Vivir en Paz (Por: Carol)

“Venceremos, venceremos/Mil cadenas habrá que romper/Venceremos venceremos/ al facismo sabremos vencer/” (Quilapayun)

Preocupados com a força da organização de esquerda no Paraguay, organizações de ultra-direita lutam para acabar com os ventos de uma luta popular.

Esta semana o Comando Anticomunista soltou uma carta na imprensa paraguaia demonstrando repudio total a organização. Com palavras de baixo calão insultaram os camaradas alegando que os “comunistas hijos de puta están queriendo destruir nuestro querido Paraguay”. Enquanto a direita trata de destruir vidas por “vias democráticas” como a fome, a violência e a falta de qualificação no atendimento da área de saúde, o Comando tenta demonstrar para o povo que os errados são os irmãos que lutam por um mundo diferente. Na carta o Comando se posicionou contra Fernando Lugo, atual presidente do país, assegurando que ele estaria fazendo vistas grossas ao avanço da guerrilha que ocorre dentro do país, já que não toma nenhuma posição dura contra os subversivos, seja capturando ou executando todos aonde quer que estejam.

Justificando a carta que redigiram, Eduardo Avillés “aseguró que hay que empezar a moverse, si el Gobierno no hace nada, 'hay que defender a la familia'”. Tudo família... É tudo família por que esses bens que deveriam ser do povo, estão nas mãos desse pequeno grupo que por muitos anos dominou nosso vizinho. E quando questionado pelo repórter do periódico Ultima Hora sobre o perigo que envolve armar os civis Avillés disse “qué te parece, voy a esperar que maten a mis hijos, a mis nietos, hay que defenderse; es un drama esto, no podemos seguir así”. A carta, que vem com uma lista de objetivos, fala sobre a importancia de “Perseguir, agarrar, y liquidar fisicamente a todos los comunistas que atentan contra nuestras vidas y pertenencias”. É isso que eles entendem por um país justo? O esquema político do Paraguay, sempre foi uma brincadeira onde o país é encarado como um parquinho de praça onde um fulano se intitula dono e diz quem pode ou não brincar no balanço. Uma brincadeira que privilegia poucas crianças e quando as outras começam a brigar pelo direito de brincar também, os fulanos tratam logo de acabar com a luta. Devemos prestar mais atenção na história de nossa América Latina! Nosso povo está organizado numa luta, que talvez nem seja tão revolucionária, mas é uma luta que fere o sentimentalismo burguês. Os novos governos latinos abrem espaço para discussões importantes acerca dos direitos do povo.

Como disse em matéria especial na edição passada do zine, estive no Paraguay e pude perceber a força que os movimentos sociais têm. A fome que eles têm de mudança. A fome que eles têm de ver um país menos desigual e mais livre. A fome de acabar com esse joguinho de “brinca quem eu quero”. E essa fome insaciável amedrontou as velhas estruturas do país. E é essa fome que o Comando Anticomunista quer matar com AR-15, AK-47 e outras armas mais.

Camaradas de todos os países, uni-vos! Esses são novos tempos, tempos de uma América Latina que sabe dizer que sabe o que quer!

¡Ñorairõ, nunca és demás!

Fonte: sitio Ultima Hora

África, esta desconhecida! (Por: Michelle Amaral da Silva)

Muito pouco se sabe sobre o continente e o que se sabe em grande medida reproduz a lógica do eurocentrismo

O seminário sobre África promovido pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em parceria com o Núcleo de Estudos Africanos e Afro-Descendentes, mostrou aquilo que já era esperado. Muito pouco se sabe sobre o continente e o que se sabe em grande medida reproduz a lógica do eurocentrismo, o mesmo que foi responsável pelo que Jorge Risquet, de Cuba, conceitua como o maior genocídio promovido pela humanidade: a escravidão. Durante dois dias inteiros – 18 e 19 de agosto –, vários professores envolvidos com o ensino da história da África e da literatura africana trouxeram informações sobre o tema, mas a maioria sem uma amarração conceitual crítica. Conceitos como colonialismo, escravidão, capitalismo e imperialismo passaram ao largo, dando espaço para discussões mais abstratas, como contemporaneidade, religiosidade, cotas, elementos textuais e de linguagem, numa espécie de “exercícios de Castália”, a famosa sociedade de Herman Hesse na qual o conhecimento era apenas um jogo linguístico. A nota política e crítica foi dada pelo cubano Jorge Risquet, o mesmo que nos anos 1960 liderou o trabalho de solidariedade revolucionária nas terras africanas, juntamente com Che Guevara, que, com as mais importantes lideranças africanas da época, colocaram um ponto final no colonialismo, inaugurando as vitórias de independência.

Um espaço de começos

O jovem escritor angolano Ondjaki, também bastante conhecido no Brasil, apresentou o seu documentário “Oxalá cresçam pitangas”, que mostra como é o cotidiano da gente de Luanda, capital de Angola. O trabalho traz o depoimento de dez jovens da periferia da cidade e é uma espécie de colcha de retalhos, apresentando variados aspectos do dia-a-dia de uma gente que precisa batalhar muito para reproduzir a vida. Uma grande cidade, com todo o contingente de pessoas que migram do campo e que acabam tendo de “dar jeitinho” para poder sobreviver no caos urbano. Ondjaki diz que o documentário é parcial e foca apenas nessa parte da vida luandense. “Quem quiser mostrar outra Angola, que faça outro filme”. Segundo ele, o povo da periferia está com os olhos no futuro, tem uma atitude otimista diante da vida, coisa que, acredita, possa se transformar também em ativismo social. Na grande cidade de seis milhões de pessoas, o escritor centrou foco no sonho. Para ele, elementos como a música e o futebol são os que mais movem os jovens luandenses, e é por esse caminho que, crê, vai o futuro. “A gente vê que também há um esforço do governo em enfrentar o pós-guerra, mas o problema é tão grande que é difícil. Eu exijo sempre mais”. Ondjaki conta ainda que há muita gente trabalhando em Angola, nas ONGs, sindicatos, associações, e que as pessoas têm uma grande vontade de aprender. “Gente, há filas para entrar em bibliotecas. Isso é uma coisa incrível”. A palavra tem muita força na boca dos jovens e eles a usam. Angola é um lugar que viveu 500 anos de dominação colonial, passou por 37 anos de guerra civil e desde 2002 entrou num tempo de paz, o que mostra que há ainda um longo caminho por se fazer.

Mãe África? De quem?

Durante o seminário, foi visível a sede dos negros brasileiros que lotaram o auditório de saber sobre aquele que consideram seu torrão original. Assim, falar da “mãe” África é coisa natural. Mas, para Ondjaki, é muito difícil entender esse sentimento de orfandade. “Lá, a gente não pensa na África como uma coisa só. São países diferentes, povos diferentes. Não há essa ideia de um espaço único”. A explicação para esse sentimento vem das pessoas que cotidianamente vivenciam a herança ancestral de um povo arrancado de seu lugar e jogado em outro mundo para servir como escravo. “Aqui, no chão da escravidão, não havia diferenças entre nós. Éramos todos cativos e estávamos na mesma situação. Daí, talvez, esse sentimento, que foi crescendo. Já não vislumbrávamos as fronteiras do lugar original. Todos éramos 'africanos', por isso entranhou-se em nós a ideia de uma única mãe, a África”, explicou uma mulher na platéia. E esse foi, talvez, o maior estranhamento causado durante o seminário. A maioria dos estudiosos de África trouxe um olhar que chamaram de “visão da diáspora”, o que, de fato, esteriliza o processo brutal da escravidão que drenou a vida daquele continente por séculos inteiros. A diáspora pressupõe o deslocamento voluntário de pessoas, ainda que constrangidas por algum fator. Mas o que houve nos tempos coloniais não foi um “constrangimento”, foi um crime, um genocídio, um processo feroz de captura e comércio humano, concretizado na escravidão. Não foi à toa que o professor Nildo Ouriques, estudioso de América Latina e presidente do IELA, fez uma fala pesada contra o colonialismo que se expressa na universidade. “A maioria dos autores citados são referências européias, ou de africanos que passam pelo crivo europeu. Mas, como falar de África sem falar de Agostinho Neto, Samora Machel, Lumumba, Ben Bella e tantos outros? É preciso que as pessoas que ensinam a história da África a conheçam pelos seus autores e não mediados pela colônia. E também não dá para falar desse continente deixando de lado conceitos como a escravidão, o colonialismo e o capitalismo”.

(Fonte: www.brasidefato.com.br).

Originais do Samba - Arquivo - Trama/Radiola 20/04/09

A Conexidade Desconexa. (Por Lizal)

Uma breve análise sobre a peça: Mal Secreto

Num primeiro momento, a peça me despertou ódio, depois frustração. Ódio por estar diante de uma situação em que não sabemos como lidar e frustração por não saber como resolver essas questões que ali foram encenadas e que estamos cientes de que existem na vida real, no cotidiano . Eu sou militante do Movimento Hip-Hop e sempre narro em letras de Rap o cotidiano e as mazelas da sociedade. Por muitas vezes escrevi músicas falando de amigos, parentes ou conhecidos que foram assassinados. São coisas difíceis e dolorosas pra cantar em uma música, mas que precisam ser contadas. Precisamos tirar o bandeide, mostrar a ferida e procurar o remédio.

A peça me deixou vários pontos de interrogação e talvez essa seja a sua pretensão.

• Qual a fronteira entre o bem e o mal?
• Como se quebra essa barreira?
• Como se atravessa a ponte entre a sanidade e a insanidade?
• Como se desenvolve as patologias?
• Todo assassino tem uma patologia?
• Todo aquele que tem uma patologia é assassino?

As cores e as luzes têm um papel central na minha interpretação dos fatos.

Os dois lados da moeda, a escuridão e a luz.

O que simboliza a luz? Não é só a luminosidade, a iluminação, mas também a clareza, a tomada de consciência, quando passamos a enxergar claramente o que nos cerca, o que está à nossa frente. E quando o personagem consegue enxergar, o que ele vê? Percebe que acabou de cometer um crime. A luz passa a ser indesejável, melhor ficar na escuridão e se ausentar da culpa. A escuridão da bebedeira, do cigarro, das drogas. O sangue vermelho na roupa branca. A cor branca simboliza a paz. Na peça a paz com voz, mas a voz autoritária. Tudo é muito intenso e está muito próximo, o assassinato, o desejo, a loucura, o sexo, a força, a fraqueza. Tudo se mistura e ao mesmo tempo contrasta. É a conexidade desconexa. É a realidade irreal. Não sabemos se de fato tudo aquilo está acontecendo.

Os dois lados da moeda, o grito e o silêncio.

Muitas pessoas comentaram sobre a trilha sonora da peça. Eu que trabalho com música e que deveria ter prestado atenção total nesse detalhe confesso que não ouvi muito bem a trilha sonora. Acho que porque prestei demasiada atenção nos momentos de silencio. O que simboliza o grito? A quebra do silencio, o desespero, a dor, a loucura, o sofrimento. Mas na peça o grito me soou silencioso e o silencio ensurdecedor. O grito de dor que ninguém quer ouvir, que tapam os ouvidos ou fingem que não estão escutando e o silencio da dúvida, da indecisão, da impotência, da imobilidade.

Eu sempre levo o debate para o palco da luta de classes. Um velho “defeito” de um “velho” anarquista. Até me questionei se a divisão entre o bem e o mal em nosso cérebro é representado por um lado direito e um lado esquerdo. O lado direito o mal, e o lado esquerdo o bem. Pelo personagem principal ser um rapaz de classe média eu tiro algumas conclusões. Dentro da divisão de classes a classe média é a mais confusa de todas e talvez isso explicaria a confusão mental do personagem. Ela não é nem classe pobre e nem classe dominante, está encima do muro. Ao mesmo tempo em que tem um funcionário pra mandar, tem um patrão de quem recebe ordens. Ele assassina seu funcionário porque não consegue ou não tem coragem e força suficiente para assassinar seu patrão. Ou, pela competitividade do mundo capitalista, mata seu funcionário com rapidez, antes que seu patrão lhe mate. O desejo de consumo, ele tem - ou deseja - várias amantes, apesar de ser casado e ter dois filhos. Isso o incomoda. Como negar e reprimir nossos desejos quando consideramos que isso é errado? A rapidez com que mata suas amantes, em seu cérebro, é a tentativa de acabar com estes desejos.

Os dois lados da moeda, a traição e a confiança.

A confiança só existe porque existe a possibilidade de uma traição, de um erro, de uma falha. “Você está com alguma mulher aí?”. “Sente o cheiro aqui no travesseiro”. “É cheiro de perfume de mulher”. “Não, é o cheiro da morte”. Quando vem a traição morre a confiança.

Os dois lados da moeda, o amor e o ódio.

“A forma mais covarde de se matar é matar com um beijo”. Mas, dentro das covardias, essa é a covardia mais corajosa. O beijo nunca vem sozinho, ele sempre vem junto de sentimentos. Se ele matar com o beijo corre o risco de nunca mais voltar a beijar essa pessoa. E se é a pessoa amada, ou que ele pensa que ama?
Enfim, são vários pontos de interrogação.

(A peça Mal Secreto foi encenada pela Cia de Teatro Menades e Sátiros de Presidente Prudente – SP, no estacionamento do Shopping Boulevard no dia 27 de outubro).

Foz de Luto (Por Carlos Luz)



Quando a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a organização não-governamental Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/UERJ), divulgaram os resultados da pesquisa sobre o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), no dia 21 de julho, e apontaram Foz do Iguaçu como o município com o maior IHA (9,7), cinco vezes maior do que a média nacional, que é de 2,03, o secretário de Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, afirmou ao site de notícias do governo estadual que os dados não são recentes e que a situação é diferente: “o estudo divulgado pelo Governo Federal é uma grande estimativa baseada em dados de 2006. O importante é que nós implementamos políticas públicas na área da segurança e revertemos esta tendência. Desde 2005, reduzimos o número de homicídios constantemente na cidade. Caso o estudo fosse trazido para hoje, seu resultado seria bastante diferente”. (Gazeta do Povo On Line, 21/07/09).

Na edição do jornal A Gazeta do Iguaçu de hoje (6) a manchete estampada é a seguinte: “Adolescente é executado no Portal da Foz”. Na página c 09, matéria assinada por Gilberto Vidal descreve:

“Adolescente é executado no Portal da Foz - Após uma denúncia anônima, equipes da Polícia Militar e da Delegacia de Homicídios (DH) encontraram o corpo de Marcos Ferreira de Oliveira, 16, no Portal da Foz. O adolescente morreu com tiros e facadas efetuados por um criminoso, ainda não identificado pela polícia. Segundo a perícia, o adolescente possuía ferimentos causados por arma branca (faca ou outro objeto cortante) no tórax e disparos de arma de fogo na cabeça”. Parece-me que, para o adolescente Marcos Ferreira de Oliveira, a situação que o secretário Delazari afirma ter mudado, não mudou. E agora, pelo menos para mais este adolescente, não terá a menor importância se mudará ou não. Mas para outros adolescentes, ainda vivos, e que estão permanentemente em situação de risco de morte, ainda há tempo de mudar. Se houver realmente vontade por parte do Estado e dos governos, em implantar políticas públicas que visem melhorar a condição social, econômica e cultural destes adolescentes.

A partir de hoje o blog terá um marcador permanente para ver quantos dias Foz do Iguaçu consegue ficar sem assassinar um adolescente. Mostrando o último homicídio e o nome do último adolescente assassinado. É apenas uma forma de lembrar a sociedade iguaçuense que, além das Cataratas, do Parque Nacional e da Itaipu Binacional também temos adolescentes sendo assassinados.

Fonte: www.carlos-luz.blogspot.com

Salvem o Centro de Artesanato de Foz! (Por Jackson Lima)

Correção de Modelo, Urgente!







Foto de Marcos Labanca, grande amigo, onde apareço com Ênio Mendes da Rocha, presidente da Associação de Concessionários do Centro de Artesanato de Foz e onde se vê também os tanques depósito de cachaça.


O Centro de Artesanato de Foz do Iguaçu possui uma ótima estrutura que infelizmente está sendo mal utilizada. O Centro de Artesanato era para ter funcionado desde o início como uma cooperativa, ou seja nos modelos de uma cooperativa. A linha que deveria ter seguido era a linha do Fórum Social Mundial, Linha de Porto Alegre cujo lema é "Outro Mundo é Possível". Infelizmente, terminou, seguindo a linha do Fórum Econômico Mundial de Davos - e optando pelo sistema capitalista puro - isto é puro comércio sem nenhuma pitada de valor cultural, social agregado. Isso fez com que o empreendimento, seguisse o caminho da licitação, da concessão pública e do grande capital. Perdeu-se a oportunidade de trabalhar cooperativamente segundo as linhas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), na área de convergência com o Ministério do Turismo (Turismo Rural na Agricultura Familiar) e ainda segundo as linhas da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho.

A Cachaça foi vítima de preconceito por parte de alguns vereadores. A Coopercachaça é uma cooperativa que reúne 39 propriedades rurais de 22 municípios do Oeste do Paraná. Esses produtores fazem parte da agricultura familiar. A venda da cachaça deles em Foz seria a participação deles no turismo rural (produção associada). Por isso a idéia de envelhecer e engarrafar a cachaça diante dos olhos do turista e assim obter renda para as comunidades que permaneceram na roça e plantaram a cana, colheram, moeram e fizeram só deus-sabe-mais-o-quê. Hoje o projeto é híbrido. Venceu a licitação e o pessoal que está lá padecendo, são concessionários. Estão amargando prejuízos. Ninguém vende nada. Não pára ninguém lá e não adianta colocar a culpa nos guias. Está tudo errado desde o começo. É necessário corrigir o modelo! Porto Alegre ou Davos? Algo tem que ser feito por este projeto! Ele não pode morrer! Foz precisa de muitos outros!

Fonte www.blogdefoz.blogspot.com

QUANDO A IDÉIA DE RAÇA CONVÉM AOS BRANCOS (Por Deley de Acari)

Durante séculos a idéia de raça serviu a burguesia branca pra dominar, explorar e escravizar não brancos. Ao ter a “boa” idéia de inventar as vermelha, negra e amarela “dialeticamente” inventou sua própria raça, a branca. Valendo-se das pesquisas e conhecimentos “cientifico” de seus cientistas que validaram cientificamente a superioridade de uma raça sobre a outra, a burguesia branca justificou e justifica até hoje a dominação, a exploração, a escravidão e o genocídio de bilhões de não brancos. A burguesia branca sempre teve a seu serviço cientistas e intelectuais pra validar o racismo, a dominação capitalista. A cada época a burguesia criou seus próprios cientistas e intelectuais, frankisteins fabricados de acordo á cada época.

É de acordo com os atuais interesses de perpetuar a dominação, a exploração e revitalizar a escravidão capitalista que a burguesia fabricou cientistas e intelectuais como Ivone Maggye e Demétrio Magnoli que estão firmemente empenhados em desinventar as raças que seus predecessores inventaram. No que as vitimas da idéia de raça passamos a usar a idéia de raça pra nossas ações afirmativas e movimento de reparações pra resgatar o que o branco nos roubou durante séculos e a burguesia branca se apressa a dar aos seus cientistas e intelectuais de plantão a missão de negar a existência de raça. Não havendo raça, não há como provar o racismo nem como crime pessoal, nem como crime contra a humanidade. Muito menos a obrigação de por bem ou por mal, na paz ou na porrada, devolver aos não brancos tudo que o branco nos roubou, material, cultural e espiritualmente.

Para validar ainda mais a idéia de não existência de raça, divulgando-a e massificando na cabeça do povo brasileiro, inclusive do negro, a burguesia branca vale-se de seus mídiadores de maior credibilidade como Jô Soares, Ali Kamel, Ricardo Boerchat e Anselmo Góes. Estes são “encarregados” de dar voz e credito aos Demetrios Magnoli e Ivones maggyes d'agora. O paradoxal nisso tudo é que mesmo agora, em pleno processo de negação da raça, as vezes a idéia de existência de raça convém pra, por exemplo vender o corpo de mulheres negras, no mercado do sexo.

Leiam isso:

MISTURA E MANDA. Por Anselmo Góes

Juliana Alves, lindeza em forma de mulher, e produto da evolução da espécie. É o final feliz de uma historia que começa há exatos 500 anos, quando o navegante português Diogo Álvares Correia, o Caramuru, naufragou nas costa baiana e casou com a índia Paraguaçu, dando inicio ao processo de miscigenação entre raças no Brasil. A raça foi enobrecida entre os séculos 16 e 19 com a chegada dos africanos. Mistura pra lá, mistura pra cá... Produziu essa supermulata cheia de graça que ainda por cima é atriz, bailarina. Estudou psicologia na UERJ, militou na ONG Crioula. Benza, Deus!
(Anselmo Góes é presidente da OAJA - Ordem dos Admiradores de Juliana Alves)

Como muitos senhores de engenho, acrescento eu.

(Fonte: www.deleydeacari.blogspot.com).

DMN - H. Aço

O Estado é inimigo da população

- ou não é à toa - (Por Eduardo Marinho)

Foi fácil chegar à visão de que o Estado, longe de servir à sua população (ao contrário, sabota o povo, a favor desta elitezinha de merda, que o controla), tornou-se seu algoz, seu ludibriador (tendo como linha de frente ideológica a mídia privada) e, em caso de movimentação popular, seu contentor - haja visto o aparelhamento da "segurança pública", com base nas práticas de Israel sobre os palestinos. Não é à toa que se importam caveirões de Israel, terrestres, aéreos e aquáticos. Não é à toa que agentes policiais brasileiros fazem estágios em Israel. Pelo menos aqui no estado do Rio de Janeiro, é isso o que está acontecendo, às vistas de quem quiser. Eu mesmo, que faço minha galeria nas calçadas ou em qualquer lugar, tô vendo isso, de longe e há muito tempo. Ou não fizeram até uma feira de armamentos ali no Riocentro, com destaque todo especial pro estande de Israel e seus equipamentos de contenção de massa? Precisa ser algum gênio acadêmico, pra se tocar? O pior é ver laureados acadêmicos, sociólogos, especialistas, cronistas, jornalistas e outros istas e ólogos apoiando o recrudescimento da repressão nas áreas pobres – e lembro de Brecht. “O homem que não conhece a verdade é apenas um ignorante. Mas aquele que a conhece e diz que é mentira, esse é um criminoso”. Que corações de pedra, que tipo de sub-humanidade pode sustentar uma segurança pública tão desumana, tão deliberadamente direcionada à contenção dos sabotados pelo Estado, à contenção das conseqüências dessa sociedade vergonhosa, concentradora de privilégios para alguns, enquanto sonega direitos constitucionais à maioria?

É de se pensar, por exemplo, na quantidade de armas israelenses nas mãos do varejo do tráfico, além de armas russas e algumas estadunidenses. Não é possível imaginar esses traficantes de morro, que mal sabem escrever seu próprio nome, negociando lotes de armamentos em hebraico ou russo, com especificações técnicas de alto nível, detalhando estratégias de transporte, entrega e pagamento de tais volumes de dinheiro, através do sistema bancário internacional. Morei um ano praticamente dentro do complexo do Falet, entre o Catumbi, o Rio Comprido e Santa Teresa. Cansei de ver os caras comentando uma arma nova que havia chegado, mostrando um pro outro como funcionava e seu potencial destrutivo, deixando perceber que a arma não era conhecida e que chegara acompanhada de instruções de uso, que eram passadas aos "donos" do morro, que as repassavam àqueles que iriam usá-las. Os verdadeiros donos moram em locais "nobres", têm grandes empresas para legalizar o dinheiro do tráfico, transitam nas elites, nas colunas sociais, nas assembléias legislativas, na Câmara e no Senado (vide a assustadora entrevista do Marcola - se não tiraram, tá no gúgol, na mídia privada não saiu nada), têm lobistas e seus contatos são fortes no comando da "segurança pública". E não permitem a descriminalização das chamadas drogas ilícitas, sua principal fonte de renda, mais lucrativa que qualquer outra empresa, mesmo sonegadora de impostos, mesmo favorecida pelos poderes constituídos, mesmo ao custo de milhares de vidas. Afinal, são “apenas pobres”, gente sem significância social – isso dói e revolta.

A estratégia de "combate" ao tráfico não toca em seu cerne, dirige-se ao combate mais inócuo, mais inofensivo ao próprio tráfico, com efeitos cosméticos e midiáticos, apenas, pois, para cada traficante de morro morto, há cinco miseráveis esperando a vaga, cinco candidatos que, em sua ignorância, pensam que com eles vai ser diferente, cada um esperando ser invulnerável ao destino inevitável de 90% dos meninos que trabalham no ramo, a morte. Os 10% sobreviventes vivem histórias de encarceramento, fugas, novos encarceramentos, brutalizações, seqüelas de tiros, etc. Cada vez mais embrutecidos, mais insensíveis, mais sangüinários, se prestando a serem pretextos pro recrudescimento da repressão brutal sobre a camada mais pobre da população (é preciso lembrar que, nas favelas de maior movimento de tráfico, o percentual de bandidos não chega a 1%, embora a população seja atingida como um todo pelas ações de invasão e/ou ocupação das comunidades pobres pela polícia).Os verdadeiros donos do tráfico não são afetados por essas ações, devido à ausência de obrigações trabalhistas e pela imediata substituição dos "funcionários" caídos em "serviço". A cada vez que interesses econômicos se excitam, qualquer coletividade no caminho se torna "inimiga" e deve ser eliminada de qualquer maneira. As estratégias vão da criminalização midiática (a mídia privada está sempre pronta a distorcer a realidade em favor de interesses econômicos privados) até a pura e simples dissolução dessas coletividades, sua dispersão e a destruição dos seus vestígios, com apoio do aparato de contenção montado nas polícias.

Exemplo claro, na construção da Vila Olímpica “para o Pan” (não à toa, os maiores investidores, na propaganda internacional da candidatura do Brasil, foram as construtoras e empreiteiras com interesses imobiliários na Barra), foi a remoção de dezenas de comunidades pobres instaladas na área, algumas com mais de cinqüenta anos e resistentes a inúmeras tentativas privadas de remoção por esses mesmos interesses. Na ocasião, chegavam nessas comunidades os assistentes sociais, seguidos de oficiais de justiça com ordens de despejo, apoiados por guardas municipais, com caminhões destinados a transportar as tralhas que pudessem, para abrigos da prefeitura – que de abrigos só têm o nome, são lugares infectos, com grades e guardas armados -, acompanhados pela PM, na função de conter qualquer reação mais exacerbada, e tratores, para botarem abaixo casas, palhoças, taperas e casebres e fazer a “limpeza” da área. O que os interesses privados não conseguiram na justiça, no suborno, na compra de líderes, nas ações de sabotagem ou na pistolagem, o município fez pra eles. Algumas famílias receberam o cheque-despejo, uma indenização pífia. A maioria menos organizada, nem isso.

O grito dos sacaneados só funciona se for "muito alto" e envolver grande quantidade de entidades, principalmente com repercussão internacional. Assim mesmo, provisoriamente. Toda a estrutura do Estado está viciada, legislativos, executivos, judiciários, tudo cooptado pela alta bandidagem social, a parte podre que habita a elite mais poderosa. É preciso desbancar a fábrica de idiotas, de consumistas, de competidores sem sentido. É preciso pulverizar a mídia, abrir pra todo mundo se expressar, se comunicar, com o apoio do Estado para a maioria sem recurso (que é quem banca esse Estado – de coisas). E pra isso, é preciso resgatar o Estado. Transformar o que eles chamam de “custo social” em “investimento na população”. Destrinchar a idéia plantada e mal intencionada de que a vida é uma competição desenfreada pra ganhar dinheiro pra pagar o consumo desenfreado. Às vezes fico pasmo de ver como valores tão escancaradamente mentirosos podem “colar”, a ponto de não se imaginar outras alternativas.

A estratégia de infantilização, de idiotização e alienação conduzido pela mídia privada, a distorção da realidade e a imposição dos valores falsos que regem nossa cultura social, para ter a eficiência desconcertante que vemos, depende diretamente da sabotagem do ensino público, para que a população não desenvolva defesas críticas. Daí o envolvimento emocional no futebol, nas novelas, nos biguebróderes e outros narcóticos, enquanto somos roubados na educação das crianças e jovens, no sistema de saúde, na privatização das empresas públicas, na privatização da maior parte dos orçamentos dos municípios, estados e União. Somos roubados nos direitos mais básicos, direitos humanos e direitos constitucionais, para que haja a concentração absurda de privilégios para a minoriazinha dominante e suas classes subalternas, em hierarquia decrescente, ficando as migalhas, poucas e podres, para a maioria. Não é à toa, como eu dizia, o atual aparelhamento das forças de “segurança”. Levantes estão ocorrendo, distorcidos na mídia como ações do tráfico, que obriga a população a protestar. A tsunami da miséria se levanta, e há quem acredite na eficácia do aparato de segurança para contê-la.

Eu fico pasmo com tamanha falta de inteligência, tamanha cegueira, tamanha temeridade. A elite parece ter a sensação adolescente de indestrutibilidade, de ser inalcançável, de estar fora de risco. Mas o tempo está passando, a bomba relógio está montada.

(Eduardo Marinho é arteiro, penseiro e escrevinhador).
Fonte www.observareabsorver.blogspot.com

Poesias e Pensamentos

Medo do escuro

As nuvens cinzas e pesadas
assombram tua plantação,
tuas sementes assustadas
com o barulho do trovão
choram caladas
com os pés atolados no chão.
Eu estendo a mão ,
mas você não floresce
você não vêm.
.
No matagal o capitão-do-mato
se espalha feito joio no trigo
o pão tem o gosto horrível da escravidão
e o chicote estrala
na tua boca vazia
que se cala.
E eu te empresto as costas,
minha pele exposta...
mas você não vem,
não dá respostas.
.
Uma canção doce e alegre
que fala da tua tristeza
entra pelos teus ouvidos
e você ri, e dança
em torno de si mesma
soterrada em lágrimas pelo salão.
Num sussurro desafinado
imploro ao teus pés,
mas você não cansa,
é mansa
e também não vem.

A ventania
destelha teu coração..

Sem sentimento,
você ama sem amar
e de mãos dadas
caminha saltitante com a solidão
nas ruas esburacadas à procura de um lar.
Eu abro as portas,
mas você não vem,é torta
não quer entrar.
.
A Vida dói
como uma faca enferrujada na garganta
e você,
Alice no país das maravilhas,
covarde como um leão
foge das hienas
para dentro da densa selva.
Abatida
eu lambo
tuas feridas,
mas você não vem
não me cicatriza.
.
Uma manhã mal dormida
acorda no meio da noite
e percebe que está sem estrela.
Na ausência de brilho
um vaga-lume
risca um poema
sob a névoa trêmula
que vai além.
Você não lê,
não vem,
mas está escrito:
" eu tenho medo também."

(Sergio Vaz).

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“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
(Nelson Mandela).
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Menino de olhos tristes

Eu sou um Eco
Um cisco
Uma semente
Um floco
Um sopro Oco

Eu sou um feixe de luz
Uma duvida
Um Por quê!
Por que eu não esqueço de você?

Sou uma flor
Que a aurora não rega
e o Sol esqueceu

sou um Por quê

Um eco!

Por que!

Eu não esqueço de você?

Esquecer?

Mais que encantos eu tenho a lembrar!

Dos teus olhos castanhos de amêndoas
e da tua pele alva flocada

do teu sorriso de menino dissimulado?
mas que sabe sussurrar
profundas palavras
que descem suaves
Como mel garganta abaixo

Eu sou um eco, sou um por que

porque eu não esqueço de você?

(Misk, Foz)
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Madrugada

Véspera de eleição
O pensamento no candidato
com o titulo na mão
elege o grato

Madrugada: hora de dormir
O álcool está junto
para poder ingerir
em todo o conjunto

A droga verde sobe
a maresia espelha
corre por todos os lados

Parecem loucos os eleitos
Não querem aceitar as dores
porém, não resistem...

(Edson de Carvalho, Foz)
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Meu cigarro meu amor...

Meu cigarro acabou
Não dancei um rock´n´roll
Não fiz nenhum gol
Não vi o seu show
Meu copo esvaziou
Minha vida desabou
Meu corpo se cansou
Minha história fracassou
Quando meu cigarro acabou...

(Carol, Foz).
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COR LOCAL [TROVA SEMI(PATRI)ÓTICA] [1978]

Minha terra tem mais terra
Minha fome tem mais cores
minha cor que menos berra
é que sente minhas dores

Glauco Mattoso)
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As UPPs, a Mídia e o Otávio Mesquita (Por: Guilherme Pimentel)

A abordagem geral sobre as favelas ocupadas pela Polícia Militar, especialmente onde há experiências de Unidades de Policiamento Pacificador (UPP's), está muito equivocada. A função de qualquer atuação do Estado em um espaço da cidade deveria ser a de garantir direitos e melhoria da qualidade de vida da população que vive ali — obviamente levando em consideração a opinião de quem lá mora. No entanto, não me parece que é bem isso o que está acontecendo...

Outro dia, lendo um artigo sobre as favelas ocupadas pela PM na Revista d'O Globo, me lembrei de uma madrugada de insônia, tediosa, em que cismei em ligar a TV para “assistir qualquer coisa”, mesmo sabendo que “qualquer coisa” na TV nessa hora é muito pior do que o tédio. Não encontrando nada, entrei na velha dinâmica de ficar mudando de canal, meio que na inexplicável e automática esperança de que algum daqueles seis ou sete canais passasse a transmitir algo diferente e interessante em intervalos de um minuto. E foi reproduzindo este comportamento bizonho, que encontrei algo ainda mais bizonho que meu comportamento: o programa do Otávio Mesquita. Neste programa, ele passava um verão em um hotel de luxo no México. Mostrava a piscina, os drinks, o bar, o restaurante, a vista, os quartos, os jardins etc. Lá pelas tantas, mostrou a maior atração do hotel: empregados invisíveis! O hotel conta com uma rede de túneis pelos quais seus trabalhadores (milhares, para manter o luxo) circulam e “só aparecem quando chamados para servir um cliente!”. A invisibilidade do trabalhador está cada vez mais vinculada ao projeto de sociedade de consumo. Quem assistiu ao vídeo oficial da campanha Rio 2016 viu um Rio de Janeiro sem favelas. Os projetos governamentais para as favelas incluem — todos — muita polícia e alguma maquiagem, como a pintura de casas visíveis do asfalto com tintas de cores fortes e bonitas. E quando se pensa sobre inclusão e favela, às vezes se esquece de pensar nos próprios moradores das favelas. A matéria que me remeteu a uma noite bizonha falava das favelas sem falar dos favelados. Abordava “programas agradáveis” que a classe média pode fazer nos morros cariocas ocupados pela PM, os preços, as vistas, os sabores, as cores... Mas não falava dos trabalhadores. Assim como essa, li outra que falava do quanto a ocupação policial valorizou Botafogo.

Eu me pergunto: valorizou pra quem? Quais são os efeitos reais dessa valorização? Chego a me desesperar, às vezes. Vejo formas sem conteúdo, matérias sobre a cidade que não discutem a cidade. Um jornalismo propagandista, não investigativo, que se baseia em releases governamentais. Compromissos, qualquer um, menos com a Verdade. Da mesma maneira, novamente, li as notícias mentirosas de que um policial militar fora espancado em um baile funk na Cidade de Deus. A “notícia” foi baseada única e exclusivamente em uma nota da Secretaria de Segurança Pública, que contrastava justamente com o próprio inquérito da Polícia Civil, taxativo na definição do local, que não era o baile. Sabendo do erro, as pouquíssimas notas publicadas eram minúsculas e não cumpriam bem a tarefa de desmentir as capas dos dias anteriores. A mídia comercial, formada por verdadeiras linhas de produção de papel, esquece-se de sua função social: informar. E, buscando o lucro, reproduz a lógica do consumo, explorando trabalhadores jornalistas, que são pagos para ignorar ou falar mal de trabalhadores não-jornalistas. Por isso, ao se dirigir à classe média, fala da valorização imobiliária de Botafogo e fala dos “programas legais” que se pode fazer nos morros, sobretudo elogiando o policiamento nas favelas. Afinal, o critério para se fazer essa análise é o critério do consumo: ver e pensar as coisas a partir do ponto de vista do indivíduo consumidor. Segundo esse critério, de fato não há razão em se falar de direitos de quem lá vive. Portanto, reside aí o primeiro equívoco: asfalto e favela continuam separados, divididos pelo muro da abordagem pública das grandes corporações, que constrói um senso comum que desumaniza e invisibiliza os anfitriões dos locais onde ocorrem “os programas legais”.

Nem a ação estatal está preocupada em unir de fato a cidade, nem a abordagem midiática produz isso. Já quando analisamos o discurso oficial que atinge camadas mais populares ou que abordam temas mais próximos a políticas públicas, o foco muda um pouco: a abordagem fala do medo, da violência, dos perigos, dos riscos... Fala de tudo aquilo que não foi dito no videozinho do Rio 2016, ou seja, da necessidade que o povo tem de ser policiado, mesmo que abrindo mão de vários direitos. Obviamente, falar de consumo para quem serve o consumidor, falar de trabalho para quem trabalha, falar de direitos para quem não os tem, não ajuda na propaganda oficial da Política de Segurança que controla uma sociedade altamente desigual. Então, vamos ao que interessa: os problemas que temos visto nisso tudo.

Ao falarmos de acesso à energia elétrica, já começamos mal. A Light chegou ao Santa Marta trazendo a... escuridão! Rapidamente instalaram medidores de energia para viabilizar a cobrança das contas de luz nas casas. No entanto, apesar da rápida instalação de medidores de energia (e até cortes de luz em algumas casas), a iluminação pública ainda não foi instalada. Alguns becos e vielas ficam às escuras, crianças não podem mais
brincar à noite... Ou seja, a qualidade de vida piorou com a chegada da Light. Mas a arrecadação da Light aumentou. E isso ainda não foi pautado. Lembremos que o valor da conta de luz que pagamos está submetido a um cálculo que leva em consideração a demanda total de energia. Ora, a demanda diminuiu e tende a diminuir mais ainda, e a arrecadação aumentou e tende a continuar aumentando. Então, será que os governantes têm se esquecido de refazer o cálculo e diminuir a taxa de energia da cidade? Por que não vemos isso também? Os muros foram construídos em favelas que diminuem de tamanho, segundo dados oficiais. A justificativa para a construção dos muros foi “conter a comunidade”. Será que é muito difícil perceber que o discurso não condiz com a realidade e que tem algo de estranho nisso tudo? As câmeras no Santa Marta foram instaladas do dia pra noite, sem discussão alguma com os moradores vigiados. O policiamento mais uma vez se mostra a serviço do controle dos pobres e não da garantia da segurança dos mesmos — o que tem se manifestado também nas abordagens violentas e agressivas, desrespeitosas de direitos, com relatos de policiais homens revistando moradoras, deboches, agressões físicas, entre outros.

Muitos barracos de madeira ainda não foram substituídos por casas de alvenaria. Mesmo as casas de alvenaria que foram feitas são muito pequenas, abaixo do mínimo recomendado. O problema dos valões ainda não foi resolvido. Um transporte muito comum na Cidade de Deus, o moto-táxi, foi retirado pela ocupação. E nenhuma alternativa de transporte público foi pensada. Atividades culturais estão praticamente suspensas em muitos dos lugares ocupados, sem opção de convívio social, divertimento e lazer para a juventude pobre. Um jornalismo sério deveria se perguntar: por que fuzis e câmeras onde não há mais varejo de drogas armado? Por que quando a Light chega traz a escuridão? Por que muros em favelas que diminuem de tamanho? Por que não estamos discutindo direitos, ao invés de discutir oportunistas, insensíveis e sádicos divertimentos em áreas pobres sem uma relação humana com os que ali vivem? Por que não queremos ver aqueles que trabalham? Por que discutimos a cidade sem considerar quem faz a cidade funcionar?

Enquanto o Otávio Mesquita for a vanguarda da grande mídia e das políticas públicas, sinceramente, não teremos solução de fato para a cidade.

(Guilherme Pimentel é estudante de Direito, militante do Movimento Direito Para Quem? e assessor do mandato Marcelo Freixo).

Um Conto (Por: Letícia Antonelli)

O telhado de zinco faz um barulho chato quando chove forte, e toda vez que isso acontece ela corre com baldes e panelas para conter as goteiras. No chão, frente ao berço usado, comprado por cinqüenta reais para a terceira filha, cuidadosamente ela coloca uma vela para a imagem de Santa Clara. Reza baixinho para a chuva parar, reza baixinho para que o barraco agüente a força do vento, reza baixinho para não assustar as crianças.

E quando Santa Clara ignora e o barraco vem a baixo o jeito é pegar as crianças e correr para se abrigar no toldo do mercado da esquina. Durante o dia ela procura no lixão algo que garanta o almoço das crianças e também o dela, só por mais um dia.

Meu Deus, ela sempre quis ser médica.

Bob Marley - Verdades evitadas pelo mundo

UMA MÚSICA - Carta a Mãe África (Gog)

É preciso ter pés firmes no chão
Sentir as forças vindas dos céus, da missão...
Dos seios da mãe África e do coração
É hora de escrever entre a razão e a emoção
Mãe! Aqui crescemos subnutridos de amor
A distância de ti, o doloroso chicote do feitor...
Nos tornou algo nunca imaginavel, imprevisível
E isso nos trouxe um desconforto horrível
As trancas, as correntes,
A prisão do corpo outrora...
Evoluiram para a prisão da mente agora
Ser preto é moda, concorda? Mas só no visual
Continua caso raro ascensão social
Tudo igual, só que de maneira diferente
A trapaça mudou de cara, segue impunemente
As senzalas são as ante salas das delegacias
Corredores lotados por seus filhos e filhas...
Hum! Verdadeiras ilhas, grandes naufrágios
A falsa abolição fez altos estragos
Fez acreditarem em racismo ao contrário
Num cenário de estações rumo ao calvário
Heróis brancos, destruidores de quilombos
Usurpadores de sonhos, seguem reinando...
Mesmo separado de ti pelo Atlântico
Minha trilha são seus românticos cantos
Mãe! Me imagino arrancado dos seus braços
Que não me viu nascer,
Nem meus primeiros passos
O esboço! É o que tenho na mente do teu rosto
Por aqui de ti falam muito pouco
E penso... Qual foi o erro cometido?
Por que fizeram com a gente isso?
O plano fica claro... É o nosso sumiço
O que querem os partidários,
Os visionários disso. Eis a qüestão...
A maioria da população tem guetofobia
Anomalia sem vacinação.
E o pior, a triste constatação:
Muitos irmãos patrocinam o vilão...
De várias formas oportunistas, sem perceber
Pelo alimento, fome, sede de poder
E o que menos querem ser e parecer...
Alguém que lembre, no visual, você.

( Refrão 2x ) (Colagem: A Carne - Elza Soares)

A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra
A carne mais barata do mercado é a negra,
A carne mais marcada pelo Estado é a negra

(...)

Eterno! É o tempo atual, na moral
No mural vedem uma democracia racial
E os pretos, os negros, afro-descendentes...
Passaram a ser obedientes, afro-convenientes.
Nos jornais, entrevistas nas revistas
Alguns de nós,
Quando expõem seus pontos de vista
Tentam ser pacíficos, cordiais, amorosos
E eu penso como os dias tem sido dolorosos
E rancorosos, maldosos muitos são,
Quando falamos numa miníma reparação:
- Ações afirmativas, inclusão, cotas?!
- O opressor ameaça recalçar as botas..
Nos mergulharam numa grande confusão
Racismo não existe e sim uma social exclusão
Mas sei fazer bem a diferenciação
Sofro pela cor, pelo patrão e o padrão
E a miscigenação, tema polêmico no gueto
Relação do branco, do índio com preto
Fator que atrasou ainda mais a auto-estima:
-Tem cabelo liso, mas olha o nariz da menina
O espelho na favela após a novela é o divã
Onde o parceiro sonha em ser galã
Onde a garota viaja...
Quer ser atriz em vez de meretriz
Onde a lágrima corre como num chafariz
Quem diz! Que este povo foi um dia unido
E que um plano o trouxe
Para um lugar desconhecido
Hoje amado (Ah! muito amado..),
São mais de quinhentos anos
Criamos nossos laços, reescrevemos sonhos
Mãe! Sou fruto do seu sangue,
das suas entranhas
O sistema me marcou, mas não me arrebanha

(...)


Óia sÓ (Por: Lizal)

Propaganda do Banco do Brasil:

“Faz a diferença se sentir à vontade no seu banco. Seja porque ele é parecido com você ou porque você se sente parte dele. Faz diferença ter um banco todo seu. A Gisele é funcionária do Banco do Brasil. Faz parte do banco que tem a cara desse País, onde trabalham pessoas de todas as raças, de todas as regiões, de todas as culturas. Onde você sabe que vai encontrar alguém como você. E é assim que nossas diferenças fazem a diferença. Porque respeitamos e valorizamos a diversidade”.

(A Gisele é negra. Em entrevista para o Fanzine número 36, de novembro de 2007, o Seu Raimundo esclareceu: “Eles sempre colocam uma pessoa negra lá. Como no Faustão mesmo, nós temos uma negra lá no meio de doze. A pessoa do Pelé, 'ele é o rei', era pra dar uma acalmada na questão racial do Brasil”).

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Roubar um banco
Nem se compara a abrir um
(Disse o véio deitado)

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Luiz Gama foi vendido pelo pai branco, quando tornou-se advogado advogou de graça pela causa dos negros. Sempre dizia: “Matar senhor é legítima defesa”.

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Música do grupo Furto:
“Carros à prova de bala
Com vidros à prova de gente”

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Li uma matéria na Revista Piauí sobre
um inglês que visitou a selva paulistana e amazônica. Kenneth Colgan já viajou por 30 países nos últimos 10 anos. Se encantou com o Brasil, sobretudo com o nosso açaí. O inglês admitiu que acha o escritor curitibano Dalton Trevisan um pessimista. Em suas palavras: “Curitiba é uma das cidades com melhor qualidade de vida do Brasil, mas não dá pra perceber isso lendo Trevisan”.

(Acho que o gringo não conheceu a mesma Curitiba que eu conheci).

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Joel Rufino:

“Escravo passivo é lenda: eles mataram feitores, sabotaram o trabalho, se rebelaram...”.
(Hoje a escravidão continua e muitos aceitam passivamente).

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A MORTE É NEGRA

Entre 2006 e 2007, foram mortos por hora no país, acredite, 3,5 negros (entre brancos, a proporção foi quase a metade, 1,7).

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Ivo Meireles:
“O branco favelado, é negro social”.

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- Vich!!! Óia lá mano!!!
- O que foi?
- O Brasil ta perdendo pra Bolívia
- Se orienta. O Brasil ta perdendo pra Bolívia faz tempo!!!

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CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George)

Vida nossa de todos os dias

Antonio é um jovem Italiano, oriundo de uma família com dificuldades financeiras, sempre sonhou em cursar letras. Através de uma bolsa de estudos conseguiu ir para a Universidade em Tourino.Centro industrial da Itália. A cidade na época passava por um rápido processo de industrialização, com as fábricas da Fiat recrutando trabalhadores de várias regiões da Itália. Antonio sempre refletiu sobre a sua dificuldade econômica, e se indignou com a condição de trabalho daquelas fábricas, pois via seu pai trabalhar arduamente e nunca prosperava. Posteriormente teve contato com o socialismo através de seu irmão que já militava no PC Italiano. O socialismo ajudou a formular melhor suas reflexões e lhe mostrou que romper aquela barbárie do capitalismo era a única chance de tirar a Itália daquela decadência no inicio do século XX. Antonio percebera que a imprensa daquele período estava sendo dominada pelos fascistas e junto com seu irmão, fundou o jornal “A nova ordem” que propunha divulgar a revolução soviética e defendiam a auto-organização dos trabalhadores. Assim Antonio conseguiu que o partido socialista Italiano aderisse a 3º internacional. A partir daí sofreu perseguição dos Fascistas que já visavam o poder naquele país.

Sua militância revolucionaria foi contida com sua prisão, impossibilitado de publicar seu jornal e seus ideais, começara a escrever na parede da cela, posteriormente ele consegue algumas folhas e organiza suas idéias que foram baseadas no papel do intelectual na sociedade, entendendo que surgiria da classe subalterna um tipo que era capaz de organizar seu povo. Seus escritos foram algo que não restringiram ao seu tempo, até hoje suas idéias continuam atuais e circulam pelo mundo inteiro; no Brasil seu pensamento chegou não através das universidades, mas através dos militantes políticos.
Antonio deixou um grande legado, provou a necessidade da classe subalterna de produzir seu próprio jornal, fazer a sua imprensa.

Assim a chama revolucionária ainda não se apagou e hoje muitos operários, camponeses, favelados fazem o seu jornal para não deixar que os atuais fascistas propaguem isoladamente sua ideologia como única.

(Danilo George é historiador e contador de histórias, garante que 99% das suas
narrativas são verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação).

Luto Decretado

Lançamento do CD Esse é o Nosso Depoimento.



Nesse sábado o grupo de Rap Luto Decretado estará lançando seu CD no bairro Cidade Nova. Intitulado Esse é o Nosso Depoimento, o álbum traz cinco músicas de autoria própria, e narra o cotidiano dos moradores de periferia. Além de fazer uma crítica ao sensacionalismo dos programas policiais, a repressão e o abuso de autoridade da polícia, critica o sistema capitalista e seus males, com um rap pesado, no estilo gangsta.
O palco do show é a Lanchonete do Meio Quilo que fica localizada próximo ao Colégio Ipê Roxo, no Cidade Nova I. O evento conta ainda com a participação do Cartel do Rap, Cartel do Break e Cartel da Arte e tem a organização do Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap. O ingresso custa 1 real e o show começa às 21h e 30.

Racismo influencia desempenho escolar

As escolas brasileiras não estão atentas para as práticas sutis de racismo existentes entre alunos e professores, prejudicando, assim, a mobilidade educacional e social de crianças e jovens negros. Esse é o principal argumento da pesquisa "Relações raciais na escola: reprodução de desigualdades em nome da igualdade", resultado de um convênio entre o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação, e a Unesco. Coordenado pelas sociólogas Mary Garcia Castro e Miriam Abramovay, a pesquisa combina técnicas qualitativas – como entrevistas, grupos focais e observações em sala de aula – com análises quantitativas tais como os dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Realizado nas cidades de Belém, Salvador, São Paulo, Porto Alegre e no Distrito Federal, o estudo é abrangente e focaliza crianças, alunos das últimas séries do ensino fundamental e do ensino médio, assim como pais, professores, diretores e funcionários de 25 escolas particulares e públicas.

Existe um desempenho escolar desigual entre alunos brancos e negros, que é maior entre ricos do que entre pobres, aponta a pesquisa. Sendo assim, mais do que às diferenças socioeconômicas, o baixo desempenho dos alunos negros se deve às práticas discriminatórias na escola, muitas vezes veladas. Essas conclusões foram obtidas a partir da análise das provas do Saeb de 2003 aplicadas, pelo Ministério da Educação, junto aos alunos da 4a e 8a série do ensino fundamental e da 3a série do ensino médio.

FATOR SOCIAL

Nos estratos sociais mais altos, os índices de desempenho dos alunos são menos críticos, o que reforçaria a tese de que aqueles que possuem um desempenho escolar mais baixo são os alunos mais pobres. Mas quando se cruzam os dados socioeconômicos com a variável raça/cor dos alunos, a conclusão é que "a pobreza iguala por baixo", ou seja, brancos e negros possuem as notas mais baixas, estando mais próximos. Já os alunos brancos e negros de estrato socioeconômico superior, ainda que apresentem as notas mais altas, se distanciam mais entre si: os alunos negros apresentam notas bem mais baixas do que os alunos brancos da mesma classe social. Os dados do Saeb foram comparados com as percepções de pais, professores, diretores e alunos. Segundo as pesquisadoras, adveio daí uma surpresa: a maioria dos entrevistados tende a negar que há diferenças no desempenho escolar entre alunos brancos e negros. Para as pesquisadoras, essa negação está relacionada a uma "ideologia da igualdade na escola" que a exime de responsabilidade sobre as diferenças de desempenho escolar, atribuindo-as ao empenho pessoal dos próprios alunos, ou às suas famílias.

Nesse sentido, professores, pais e alunos tendem a negar que existam práticas racistas nas escolas. Xingamentos e apelidos de cunho racista são justificados como "brincadeiras" . Professores silenciam e se omitem, preferindo não tratar do assunto em sala de aula para "não levantar o problema" ou mesmo deixando de intervir nos casos de discriminação racial. "Todos tendem a se declarar contra racismo, o que de alguma forma colabora para que não se discutam formas de identificar sutis discriminações, ou a reconhecer que os apelidos de teor racista, mesmo que aceitos pelos vitimizados, doem e causam sequelas identitárias" , diz a pesquisa.

A questão racial tende, assim, a ser tratada pelas escolas de modo circunstancial – como o Dia da Consciência Negra. Para as autoras, é fundamental instituir-se novas práticas pedagógicas, que contemplem as relações entre todos os alunos, brancos e negros, no ambiente escolar.

Fonte: http://cienciaecult ura.bvs.br

Cotas infernais (Por Sérgio Vaz)

Povo lindo, povo inteligente, esta semana de moda "Fashion Week" que aconteceu em São Paulo novamente o assunto sobre cotas de modelos Negros no desfile veio à baila, e como sempre, muita discussão sobre o tema, que pouco avança em solução, mas uma coisa em especial me chamou atenção. É que alguém, não me lembro o nome agora, disse que o negro precisava conseguir o espaço com esforço próprio, e que essa coisa de cota só desvalorizaria o trabalho da pessoa, e coisa e tal.

Outro dia também participei de uma reunião com intelectuais da literatura que estavam preparando um novo prêmio para novos e velhos talentos da escrita. Num dado momento alguém que se esbarrou em mim por acaso com o olhar me perguntou o que achava. Disse que era legal, mas que precisávamos fazer uma coisa parecida aqui na periferia, já que a cena literária não para de crescer, e blá, e blá, enfim. Mas aí um cara me falou:

-Mas aí, se criar um prêmio pra periferia vai criar uma divisão...

-Sim, é isso que eu quero: dividir. - Argumentei.

Lógico que ninguém ouviu o que eu disse, e o mínimo que consegui foi apenas um mal- estar na roda literária. Nunca mais fui.
Por que será que as pessoas têm dificuldades para dividir as coisas?

E se as pessoas não tem oportunidades iguais, como disputar de igual para igual?
Tudo se resume a uma coisa só: falta de generosidade. E o que mais me preocupa é que a maioria das pessoas que são contra, são cristãs, seguidoras de cristo. Sim, Cristo, aquele mesmo, o que dividiu os pães e distribuiu os peixes com os mais carentes, que faz cego enxergar, surdo ouvir (?) e deficiente andar, que pregou a paz entre os seres humanos. Já pensou, no que uma pessoa que acredita no diabo é capaz de fazer então?
Xô satanás, já temos demônios demais aqui na terra.

Juro que pra mim é difícil entender porque uma pessoa que já tem sapatos se incomoda quando alguém descalço também quer um. Essa tal gente do bem, me enche o saco com tanta maldade.Essa gente prefere que lhes roubem os tênis a entrelaçar os cadarços. Prefere ficar com as mãos para o alto a retirar as pedras do coração. Prefere o medo do semáforo a abrir as portas da escuridão.

Se alguém puder me responder, por favor, responda: "que gente é essa?"
O diabo devia reservar uma cota de 100% no inferno para essas pessoas. Mas não em qualquer inferno, no nosso, onde a maioria do nosso povo vive.

Fonte www.colecionadordepedras.blogspot.com

Os heróis do Apocalipse da TV iguaçuense

Nossos heróis não morreram de overdose, muito menos nossos inimigos deixaram o poder. Os heróis da televisão em Foz do Iguaçu falam, com sangue nos olhos, de mortes e violência. Eles gritam, esperneiam, alardeiam, conjugam de forma errada os verbos e adoram as gírias. Usam e abusam do poder da mídia eletrônica e televisiva com influência direta e certeira nos lares da cidade e da região. Manipulam o pensamento coletivo, tocam terror e pavor em meio à sociedade, com o claro objetivo de manter inertes as reações, popularizando o drama geral e atraindo a atenção de todos, a fim de preservar a inabalável audiência. Outro dia, em um evento relacionado à literatura, o apresentador de um programa policialesco da cidade brilhou em meio às crianças presentes no local. Na ocasião, pequenos infantes se apressavam a pedir autógrafos, prestar homenagens e destinar calorosos abraços ao “comunicador” de catástrofes. Vejamos o nível em que chegamos. As referências da televisão viraram os profetas do Apocalipse. As crianças, presente e futuro da sociedade, espelham-se em declarações, encenações, caretas e bizarrices difundidas por tais apresentadores de sangue, morte e crueldade. Crescem assistindo e ouvindo sobre a violência, sobre a falta de segurança e sobre a falência da sociedade e o seu modo de vida. Apresentadores e programas desta natureza prestam, sim, um desserviço de ordem social e pública.

Eles não apresentam caminhos, soluções ou alternativas à sociedade. Vivem das tragédias e precisam delas. Por isso, não constroem nada, apenas desconstroem e deturpam a sanidade social das pessoas com agressões psicológicas ao imaginário coletivo. Mas a responsabilidade precisa ser dividida. Os exemplos precisam partir de dentro de casa, seguir para as questões governamentais, terceiro setor e desbocar nas escolas. É aquela velha história: como querer que um filho goste de ler se eu, o pai, não abro um jornal, uma revista, um livro de cruzadinhas em sua frente. Aos pais, atenção aos ídolos (politeísmo televisivo) adorados pelos filhos. Às crianças, uma melhor sorte e o desejo de que não assimilem ou pouco assimilem essa escandalização do ridículo na TV. E, aos apresentadores e seus programas, desejo, sinceramente, uma overdose de moralidade e respeito às famílias.

(Pedro Lichtnow é jornalista e editor do Megafone.
Fonte: www.megafone.inf. br).

Como nascem as guerras? (Pâmella Passos)

Como nascem as guerras?

Essa é a pergunta que todo cidadão carioca, bombardeado nos últimos dias pela grande mídia deveria se fazer? Que a violência e o medo crescem, isso é fato, mas de onde eles vem? Hoje, durante meu almoço, recorrentemente mal digerido devido as reportagens sensacionalistas de jornais como SBT-Rio, Balanço Geral (Record) e RJ TV, não pude terminar a refeição. Ela, a “Guerra contra o Tráfico” era anunciada em todos esses telejornais. É verdade que infelizmente já assisti cenas mais chocantes nesses veículos de comunicação, como há algumas semanas a transmissão do desfecho de uma operação policial em que um atirador de elite da Polícia Militar, despedaça a cabeça de um bandido na Tijuca. No entanto, o que me fez parar de comer? O que me despertou dessa desumanização cotidiana na TV? Não sei ao certo dizer, mas o fato é que o garfo caiu de minha mão quando um vídeo propagandeando o blindado Águia foi ao ar. A música, as cenas, as luzes...tudo, me lembrava as guerras do século XX. E como estas nasceram? Por que os homens daquela época aceitaram e lutaram nesta guerra que não era deles? Pensar sobre isso talvez nos ajude a decidir se acreditamos ou não nessa guerra. O século XX foi marcado por duas grandes guerras mundiais, além da famigerada Guerra Fria e seus desdobramentos pelo mundo, como em nosso caso as ditaduras latino-americanas. No entanto, qual o motivo dessas guerras? Lembrando rapidamente das aulas de história na escola, reconhecemos a origem desses conflitos nas disputas imperialista, ou ainda, nas demandas do sistema capitalista.

Bom, para muitos esse é um discurso esquerdista e ultrapassado, no entanto poderíamos pensar. Quantos milhões de reais são movimentados pela economia do tráfico? Como a matéria prima das drogas, que não são produzidas nas favelas, chega lá? De que forma as armas importadas e de alta tecnologia entram no país e vão parar nas mãos dos traficantes, que disputam entre si o mercado das drogas? Parece-me que nem o Caveirão nem o blindado Águia são capazes de responder a essas perguntas. No entanto, são eles que estão sendo arduamente defendidos pela política de segurança pública de nosso estado. Por que o grampo telefônico que captou a conversa de um traficante ensinando ao outro como usar uma arma, não captou também os nomes e endereços de seus fornecedores? Após perder o apetite, resolvi reler alguns textos e acho que encontrei uma resposta plausível. Está no livro do O longo Século XX do doutor em Economia e professor de sociologia Giovanni Arrighi. Ao falar sobre o final da Segunda Guerra Mundial e a situação econômica do período ele diz:

Esse impasse acabou sendo resolvido pela invenção da Guerra Fria. O medo conseguiu o que os cálculos de custo-benefício não tinham como conseguir, nem haviam conseguindo. (p. 305)

A Guerra contra o tráfico movimenta a economia. O medo libera recursos públicos que poderiam ser investidos em saúde, educação, transportes para compra de Caveirões e Águias, e assim optamos por uma guerra que não é nossa, e sim do capital. Em uma de minhas últimas aulas sobre a Primeira Guerra Mundial utilizei o seguinte fragmento de um soldado de trincheira: “O odor fétido nos penetra a garganta a dentro ao chegarmos na nossa nova trincheira... Chove torrencialmente e nos protegemos com o que tem de lonas e tendas de campanha afiançadas nos muros da trincheira. Ao amanhecer do dia seguinte constatamos estarrecidos que nossas trincheiras estavam feitas sobre um montão de cadáveres...”

Este soldado dormiu sobre humanos mortos por uma guerra que não era deles. A cada dia que se passa nessa guerra propagandeada, mães, tias, sobrinhos, filhos, avós, amigos recolhem os corpos dos seus, e nos becos, ruas e vielas desta cidade ficam as marcas de uma opção pela morte.

Por isso, declaro: Esta Guerra não é minha! Desejo uma paz pela vida e por outra política de Segurança Pública.

Sem Distinção de Cor (Por: Santiago)

O homem forte resiste ao tempo
Em meio a adversidades sobrevivendo
Aprendeu a se manter com poucos mantimentos
A tatuagem principal do seu corpo, escrito resistência
De sua natureza ele faz, cria e se transforma
Deixando suas sementes, que como ele, é de tronco forte
Raízes fixas que se espalham por todo lado
Na sombra dele quem se abrigou conheceu a amizade
Muita força de vontade, grandes sonhos, simplicidade
Humildade desde os pequenos feitos ao grande ato
E de fato ele não entende tanta maldade
E se pergunta, será que só ele busca a felicidade
De suas coisas simples o valor é alto
Em seu rosto o brilho e o sorriso farto
Não pratica a concorrência e prega o cooperativismo
E diz pra todos que, com fé, outro sistema é possível

Dia sem carro (Por: Luiz Henrique)

Amigos, passei a semana toda vendo aquelas plaquinhas nas esquinas da Avenida Jorge Schimmelpfeng que diziam "no dia 22 de setembro esta avenida vai estar fechada para o tráfego de veículos particulares". Apesar de achar apenas "simbólico" fechar uma avenida (poderiam fechar todo o centro), fiquei feliz com a ação e me preparei para o grande dia. Como morador da Avenida, não estava disposto a quebrar regra nenhuma e, antes de dormir, arrumei minha bicicleta, ajustei o capacete e deixei tudo pronto para o amanhecer do dia 22 de setembro! Durante o sono sonhei com crianças das escolas do município andando pela avenida vazia, com faixas dizendo "agora a rua é nossa" ou "aqui carro não entra"! Sete da manhã acordo. Corro à janela, a fim de ver a rua vazia, só com pessoas andando sem o medo de um atropelamento e o que vejo? Um monte de carros particulares acelerando, parando, virando, manobrando... terrível! Desci imediatamente e falei com um policial que estava por ali. Ele disse "só depois das oito". Achei razoável. Às oito em ponto, fecharam a rua. Foi um horror. Vi motoristas resmungando e reclamando. Credo. Depois choveu e os policiais resolveram liberar a rua... Acabou o tal "dia sem carro" em nossa cidade. Só ficaram as faixas (penduradas lá, até hoje) e a certeza de mais uma ação desastrosa pra tentar educar essa gente que cultua seu automóvel e faz dele a razão de seu viver.

O Menino do Cyber

Estava eu em viagem de trabalho. Passei um dia em Corbélia (30 km de Cascavel) e, por necessidade, fui até um Cyber Café que, como outros espalhados por todo o país, é cheio de adolescentes jogando games assassinos e gritando palavrões enquanto matam, degolam, esfaqueiam e explodem os adversários, quando um menino, ao meu lado, de aproximadamente uns 10 anos de idade, aos gritos, entrou em um “local virtual” onde os inimigos eram homens negros. Ele ativou sua metralhadora e começou a carnificina enquanto gritava “morram macacos! Morram pretos safados!”. Sempre ouvi pais dizendo que os filhos só aprendem violência nesses jogos. Concordo. Agora, preconceito, este eu sei bem, eles trazem de casa.

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

NOVELA DA VIDA REAL

Mais um Cidadão José Cap. 44

- E essa aqui? - Perguntou Luci.

Na fotografia aparecia os dois encima do palco, as viaturas encostadas na lateral, os policiais olhando com ódio.

- Essa vai pro encarte do CD. - Disse o Mano Guina.

- É verdade!!! Imaginem só na capa do CD “Facção do Crime – Fragmentos do Ódio”. Vai ficar muito doido.

- Boto fé!!! O sistema vai tremer.

Os três se abraçaram e começaram a cantar desafinadamente o refrão da música de Geraldo Vandré “Vem vamos embora que esperar não é saber / quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

A música de Vandré foi gravada na década de 60 e ficou em segundo lugar no III Festival Internacional de Cultura, em São Paulo. A música que já era conhecida pelo nome de "Caminhando" logo tornou-se um hino da resistência contra a ditadura militar. Os estudantes presentes no festival dirigiram vaias para os jurados em descontentamento com o segundo lugar. Geraldo Vandré na época era militante do movimento estudantil e fazia parte do CPC (Centro Popular de Cultura), uma organização que defendia a arte engajada e militante, que valorizasse a cultura nacional e que tivesse junto ao povo trabalhador. A música não demorou muito para ser proibida pela censura e em pouco tempo Vandré foi preso, torturado, e partiu para o exílio no Chile. O golpe militar de 64 foi tramado pela burguesia brasileira, com o apoio dos Estados Unidos, e visava dizimar a tendência revolucionária do povo, que crescia muito nessa época.

Nos primeiros anos a ditadura conseguiu sufocar o levante popular e o movimento operário e estudantil. A cultura do final da década de 60 acompanhou essa pira revolucionária. A arte estava a serviço da população, artistas usavam de sua criatividade para protestar contra aquele regime. Já em 64 a censura era forte encima dos artistas que tinham que usar de artifícios como parábolas e metáforas para driblar a censura. Em 1968 o movimento de massas tenta se reorganizar, o movimento estudantil reagia e era constante os conflitos entre o povo e o governo. Em 1973 Geraldo Vandré grava seu último álbum. Nesse ano grava também alguns programas de televisão que são censurados. Depois disso ele silencia-se por muitos anos e só volta a se apresentar em 1982, no Paraguai.

Atualmente, Geraldo Vandré continua no isolamento. A galera das antigas estranhou quando no início dos anos 90 ele gravou uma canção chamada “Fabiana” onde ele homenageia a FAB (Força Aérea Brasileira). Mais estranho ainda foi quando ele foi questionado sobre sua militância política, e negou ter feito músicas políticas de protesto. Afirmou ainda que nunca teve nenhuma richa com os militares. Alguns afirmam que isso deve ser alguma reação às torturas que ele sofreu na época, quando foi preso pelos militares. Mas ele nega que tenha sido torturado e que tenha sido forçado a deixar o país.

A música de Vandré ficou conhecida entre a galera do Hip-Hop através do grupo Face da Morte, que usou o refrão e fez uma colagem em uma de suas músicas. Os três companheiros desciam cantando alegremente pela rua de calçamento em destino às vielas escuras que vão sair em suas casas. O canto é interrompido por uma trilha sonora nada desejável por moradores de favelas. Uma viatura vinha em sua direção e a luz alta quase lhe cegaram. Os três tiveram que colocar o braço sobre a testa para poder enxergar. O carro parou em sua frente obstruindo a passagem. Quatro policiais desceram da viatura com armas em punho. Era a viatura da Rone Preta.

Há algumas semanas começou na cidade mais uma edição da 'Operação Foz Tranquilha' e a cidade ta cheia de policiais vindo de outras cidades. Apesar do repúdio da população local, a administração pública municipal insiste em investir nesse projeto. Dezenas de denuncias foram feitas, pois muitos desses policiais que vieram de outras cidades estavam agindo em desacordo com a lei. Não que os policiais da cidade também não agem, mas como esses gambés ficam pouco tempo na cidade e depois voltam para suas casas, esses abusos se intensificam. Houve denuncias de abuso de autoridade, execuções, roubos, tráfico de drogas e armas, extorsão e até estupro, praticados por alguns soldados.

- Não precisa nem falar nada, né, seus vagabundo.

Os três ficaram parados olhando para os policiais, tentando identificar se eram os mesmos policiais que tizoraram o evento.

- Mas, cês tão de brincadeira mesmo. Vamos lá, todo mundo com as mãos na viatura.

O Guina e o Bira colocaram a mão sobre a viatura, a Luci se negou.

- Vocês não vão encostar a mão em mim não.

Só nesse momento que os gambé perceberam que era uma mulher. A Luci estava vestida com roupas largas, o cabelo escondido dentro do boné e nesse momento estava usando óculos escuros.

- O que nós temos aqui, uma vagabunda. Ta vestida igual homem porque, você é sapatão?

- Eu me visto do jeito que eu quero e eu não sou vagabunda. Me respeite.

- Cala a sua boca.

O policial tirou o seu boné e segurou-a pelos cabelos, levando ela até a viatura, junto dos parceiros. Jogou-a com tudo de encontro com a viatura, machucando a sua mão. O Mano Bira não agüentou ver o gambé fazer aquilo com sua mina e pulou pra cima dele. Conseguiu acertar um soco no peito do policial, mas outro gambé segurou seus braços e o policial devolveu um soco na cara que lhe tirou sangue do nariz. Chegou mais um e deu um soco na barriga, deixado-o quase sem ar. Voltou a encostá-lo na viatura, deu uns bicudos nas suas pernas e esfregou seu rosto no carro. O Mano Guina tentou reagir, mas sentiu o cano do revólver encostado na sua nuca. Enquanto um policial pegava suas carteiras e a bolsa da Luci, eles perceberam que dentro da viatura estava tocando uma música do Racionais. A música Homem na Estrada soava baixinho dentro da viatura. A letra faz duras críticas ao aparelho repressivo do Estado.

“A justiça criminal é implacável, tiram sua liberdade, família e moral, mesmo longe do sistema carcerário te chamarão pra sempre de ex-presidiário / não confio na polícia raça do caralho / se eles me acham baleado na calçada, chutam minha cara e cospem em mim / eh, eu sangraria até a morte, já era, um abraço / por isso a minha segurança eu mesmo faço”.

(Lizal. Na próxima edição mais um capítulo)

Nosso racismo é um crime perfeito

Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria

Kabengele Munanga denuncia a farsa da democracia racial, defende o sistema de cotas e discute o espaço do negro na sociedade.

Fórum - O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?
Kabengele - Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.

Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram.

A partir daí você começa a buscar uma explicação para saber o porquê e se aproxima da literatura e das aulas da universidade que falam da discriminação racial no Brasil, os trabalhos de Florestan Fernandes, do Otavio Ianni, do meu próprio orientador e de tantos outros que trabalharam com a questão. Mas o problema é que quando a pessoa é adulta sabe se defender, mas as crianças não. Tenho dois filhos que nasceram na Bélgica, dois no Congo e meu caçula é brasileiro. Quantas vezes, quando estavam sozinhos na rua, sem defesa, se depararam com a polícia?

Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer. Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão... A geografia do seu corpo não indica isso.

Então, essa coisa de pensar que a diferença é simplesmente social, é claro que o social acompanha, mas e a geografia do corpo? Isso aqui também vai junto com o social, não tem como separar as duas coisas. Fui com o tempo respondendo à questão, por meio da vivência, com o cotidiano e as coisas que aprendi na universidade, depoimentos de pessoas da população negra, e entendi que a democracia racial é um mito. Existe realmente um racismo no Brasil, diferenciado daquele praticado na África do Sul durante o regime do apartheid, diferente também do racismo praticado nos EUA, principalmente no Sul. Porque nosso racismo é, utilizando uma palavra bem conhecida, sutil. Ele é velado. Pelo fato de ser sutil e velado isso não quer dizer que faça menos vítimas do que aquele que é aberto. Faz vítimas de qualquer maneira.

Revista Fórum - Quando você tem um sistema como o sul-africano ou um sistema de restrição de direitos como houve nos EUA, o inimigo está claro. No caso brasileiro é mais difícil combatê-lo...

Kabengele - Claro, é mais difícil. Porque você não identifica seu opressor. Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger.

Revista Fórum - Aqui no Brasil há mais dificuldade com relação ao sistema de cotas justamente por conta do mito da democracia racial?

Kabengele - Tem segmentos da população a favor e contra. Começaria pelos que estão contra as cotas, que apelam para a própria Constituição, afirmando que perante a lei somos todos iguais. Então não devemos tratar os cidadãos brasileiros diferentemente, as cotas seriam uma inconstitucionalidade. Outro argumento contrário, que já foi demolido, é a ideia de que seria difícil distinguir os negros no Brasil para se beneficiar pelas cotas por causa da mestiçagem. O Brasil é um país de mestiçagem, muitos brasileiros têm sangue europeu, além de sangue indígena e africano, então seria difícil saber quem é afro-descendente que poderia ser beneficiado pela cota. Esse argumento não resistiu. Por quê? Num país onde existe discriminação antinegro, a própria discriminação é a prova de que é possível identificar os negros. Senão não teria discriminação.

Em comparação com outros países do mundo, o Brasil é um país que tem um índice de mestiçamento muito mais alto. Mas isso não pode impedir uma política, porque basta a autodeclaração. Basta um candidato declarar sua afro-descendência. Se tiver alguma dúvida, tem que averiguar. Nos casos-limite, o indivíduo se autodeclara afrodescendente. Às vezes, tem erros humanos, como o que aconteceu na UnB, de dois jovens mestiços, de mesmos pais, um entrou pelas cotas porque acharam que era mestiço, e o outro foi barrado porque acharam que era branco. Isso são erros humanos. Se tivessem certeza absoluta que era afro-descendente, não seria assim. Mas houve um recurso e ele entrou. Esses casos-limite existem, mas não é isso que vai impedir uma política pública que possa beneficiar uma grande parte da população brasileira.
Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.

O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.

Fórum - Que é o argumento do Demétrio Magnoli.

Kabengele - Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, "negro, volta pra senzala". Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir.

Fórum - Agora o DEM entrou com uma ação no STF pedindo anulação das cotas. O que motiva um partido como o DEM, qual a conexão entre a ideologia de um partido ou um intelectual como o Magnoli e essa oposição ao sistema de cotas? Qual é a raiz dessa resistência?

Kabengele – Tenho a impressão que as posições ideológicas não são explícitas, são implícitas. A questão das cotas é uma questão política. Tem pessoas no Brasil que ainda acreditam que não há racismo no país. E o argumento desse deputado do DEM é esse, de que não há racismo no Brasil, que a questão é simplesmente socioeconômica. É um ponto de vista refutável, porque nós temos provas de que há racismo no Brasil no cotidiano. O que essas pessoas querem? Status quo. A ideia de que o Brasil vive muito bem, não há problema com ele, que o problema é só com os pobres, que não podemos introduzir as cotas porque seria introduzir uma discriminação contra os brancos e pobres. Mas eles ignoram que os brancos e pobres também são beneficiados pelas cotas, e eles negam esse argumento automaticamente, deixam isso de lado.

Fórum – Mas isso não é um cinismo de parte desses atores políticos, já que eles são contra o sistema de cotas, mas também são contra o Bolsa-Família ou qualquer tipo de política compensatória no campo socioeconômico?

Kabengele - É interessante, porque um país que tem problemas sociais do tamanho do Brasil deveria buscar caminhos de mudança, de transformação da sociedade. Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. "Ah, é só mudar a escola pública." Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.
E tem esse argumento legalista, "porque a cota é uma inconstitucionalidade, porque não há racismo no Brasil". Há juristas que dizem que a igualdade da qual fala a Constituição é uma igualdade formal, mas tem a igualdade material. É essa igualdade material que é visada pelas políticas de ação afirmativa. Não basta dizer que somos todos iguais. Isso é importante, mas você tem que dar os meios e isso se faz com as políticas públicas. Muitos disseram que as cotas nas universidades iriam atingir a excelência universitária. Está comprovado que os alunos cotistas tiveram um rendimento igual ou superior aos outros. Então a excelência não foi prejudicada. Aliás, é curioso falar de mérito como se nosso vestibular fosse exemplo de democracia e de mérito. Mérito significa simplesmente que você coloca como ponto de partida as pessoas no mesmo nível. Quando as pessoas não são iguais, não se pode colocar no ponto de partida para concorrer igualmente. É como você pegar uma pessoa com um fusquinha e outro com um Mercedes, colocar na mesma linha de partida e ver qual o carro mais veloz. O aluno que vem da escola pública, da periferia, de péssima qualidade, e o aluno que vem de escola particular de boa qualidade, partindo do mesmo ponto, é claro que os que vêm de uma boa escola vão ter uma nota superior. Se um aluno que vem de um Pueri Domus, Liceu Pasteur, tira nota 8, esse que vem da periferia e tirou nota 5 teve uma caminhada muito longa. Essa nota 5 pode ser mais significativa do que a nota 7 ou 8. Dando oportunidade ao aluno, ele não vai decepcionar.

Foi isso que aconteceu, deram oportunidade. As cotas são aplicadas desde 2003. Nestes sete anos, quantos jovens beneficiados pelas cotas terminaram o curso universitário e quantos anos o Brasil levaria para formar o tanto de negros sem cotas? Talvez 20 ou mais. Isso são coisas concretas para as quais as pessoas fecham os olhos. No artigo do professor Demétrio Magnoli, ele me critica, mas não leu nada. Nem uma linha de meus livros. Simplesmente pegou o livro da Eneida de Almeida dos Santos, Mulato, negro não-negro e branco não-branco que pediu para eu fazer uma introdução, e desta introdução de três páginas ele tirou algumas frases e, a partir dessas frases, me acusa de ser um charlatão acadêmico, de professar o racismo científico abandonado há mais de um século e fazer parte de um projeto de racialização oficial do Brasil. Nunca leu nada do que eu escrevi.

A autora do livro é mestiça, psiquiatra e estuda a dificuldade que os mestiços entre branco e negro têm pra construir a sua identidade. Fiz a introdução mostrando que eles têm essa dificuldade justamente por causa de serem negros não-negros e brancos não-brancos. Isso prejudica o processo, mas no plano político, jurídico, eles não podem ficar ambivalentes. Eles têm que optar por uma identidade, têm que aceitar sua negritude, e não rejeitá-la. Com isso ele acha que eu estou professando a supressão dos mestiços no Brasil e que isso faz parte do projeto de racialização do brasileiro. Não tinha nada para me acusar, soube que estou defendendo as cotas, tirou três frases e fez a acusação dele no jornal.

Fórum - O senhor toca na questão do imaginário da democracia racial, mas as pessoas são formadas para aceitarem esse mito...

Kabengele - O racismo é uma ideologia. A ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.

Há negros que introduziram isso, que alienaram sua humanidade, que acham que são mesmo inferiores e o branco tem todo o direito de ocupar os postos de comando. Como também tem os brancos que introjetaram isso e acham mesmo que são superiores por natureza. Mas para você lutar contra essa ideia não bastam as leis, que são repressivas, só vão punir. Tem que educar também. A educação é um instrumento muito importante de mudança de mentalidade e o brasileiro foi educado para não assumir seus preconceitos. O Florestan Fernandes dizia que um dos problemas dos brasileiros é o “preconceito de ter preconceito de ter preconceito”. O brasileiro nunca vai aceitar que é preconceituoso. Foi educado para não aceitar isso. Como se diz, na casa de enforcado não se fala de corda.

Quando você está diante do negro, dizem que tem que dizer que é moreno, porque se disser que é negro, ele vai se sentir ofendido. O que não quer dizer que ele não deve ser chamado de negro. Ele tem nome, tem identidade, mas quando se fala dele, pode dizer que é negro, não precisa branqueá-lo, torná-lo moreno. O brasileiro foi educado para se comportar assim, para não falar de corda na casa de enforcado. Quando você pega um brasileiro em flagrante de prática racista, ele não aceita, porque não foi educado para isso. Se fosse um americano, ele vai dizer: "Não vou alugar minha casa para um negro". No Brasil, vai dizer: "Olha, amigo, você chegou tarde, acabei de alugar". Porque a educação que o americano recebeu é pra assumir suas práticas racistas, pra ser uma coisa explícita.

Quando a Folha de S. Paulo fez aquela pesquisa de opinião em 1995, perguntaram para muitos brasileiros se existe racismo no Brasil. Mais de 80% disseram que sim. Perguntaram para as mesmas pessoas: "você já discriminou alguém?". A maioria disse que não. Significa que há racismo, mas sem racistas. Ele está no ar... Como você vai combater isso? Muitas vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: "você que é complexado, o problema está na sua cabeça". Ele rejeita a culpa e coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum problema.

Revista Fórum - O humorista Danilo Gentilli escreveu no Twitter uma piada a respeito do King Kong, comparando com um jogador de futebol que saía com loiras. Houve uma reação grande e a continuação dos argumentos dele para se justificar vai ao encontro disso que o senhor está falando. Ele dizia que racista era quem acusava ele, e citava a questão do orgulho negro como algo de quem é racista.

Kebengele - Faz parte desse imaginário. O que está por trás que está fazendo uma ilustração de King Kong, que ele compara a um jogador de futebol que vai casar com uma loira, é a ideia de alguém que ascende na vida e vai procurar sua loira. Mas qual é o problema desse jogador de futebol? São pessoas vítimas do racismo que acham que agora ascenderam na vida e, para mostrar isso, têm que ter uma loira que era proibida quando eram pobres? Pode até ser uma explicação. Mas essa loira não é uma pessoa humana que pode dizer não ou sim e foi obrigada a ir com o King Kong por causa de dinheiro? Pode ser, quantos casamentos não são por dinheiro na nossa sociedade? A velha burguesia só se casa dentro da velha burguesia. Mas sempre tem pessoas que desobedecem as normas da sociedade.

Essas jovens brancas, loiras, também pulam a cerca de suas identidades pra casar com um negro jogador. Por que a corda só arrebenta do lado do jogador de futebol? No fundo, essas pessoas não querem que os negros casem com suas filhas. É uma forma de racismo. Estão praticando um preconceito que não respeita a vontade dessas mulheres nem essas pessoas que ascenderam na vida, numa sociedade onde o amor é algo sem fronteiras, e não teria tantos mestiços nessa sociedade. Com tudo o que aconteceu no campo de futebol com aquele jogador da Argentina que chamou o Grafite de macaco, com tudo o que acontece na Europa, esse humorista faz uma ilustração disso, ou é uma provocação ou quer reafirmar os preconceitos na nossa sociedade.

Fórum - É que no caso, o Danilo Gentili ainda justificou sua piada com um argumento muito simplório: "por que eu posso chamar um gordo de baleia e um negro de macaco", como se fosse a mesma coisa.

Kabengele - É interessante isso, porque tenho a impressão de que é um cara que não conhece a história e o orgulho negro tem uma história. São seres humanos que, pelo próprio processo de colonização, de escravidão, a essas pessoas foi negada sua humanidade. Para poder se recuperar, ele tem que assumir seu corpo como negro. Se olhar no espelho e se achar bonito ou se achar feio. É isso o orgulho negro. E faz parte do processo de se assumir como negro, assumir seu corpo que foi recusado. Se o humorista conhecesse isso, entenderia a história do orgulho negro. O branco não tem motivo para ter orgulho branco porque ele é vitorioso, está lá em cima. O outro que está lá em baixo que deve ter orgulho, que deve construir esse orgulho para poder se reerguer.

Fórum - O senhor tocou no caso do Grafite com o Desábato, e recentemente tivemos, no jogo da Libertadores entre Cruzeiro e Grêmio, o caso de um jogador que teria sido chamado de macaco por outro atleta. Em geral, as pessoas – jornalistas que comentaram, a diretoria gremista – argumentavam que no campo de futebol você pode falar qualquer coisa, e que se as pessoas fossem se importar com isso, não teria como ter jogo de futebol. Como você vê esse tipo de situação?

Kabengele - Isso é uma prova daquilo que falei, os brasileiros são educados para não assumir seus hábitos, seu racismo. Em outros países, não teria essa conversa de que no campo de futebol vale. O pessoal pune mesmo. Mas aqui, quando se trata do negro... Já ouviu caso contrário, de negro que chama branco de macaco? Quando aquele delegado prendeu o jogador argentino no caso do Grafite, todo mundo caiu em cima. Os técnicos, jornalistas, esportistas, todo mundo dizendo que é assim no futebol. Então a gente não pode educar o jogador de futebol, tudo é permitido? Quando há violência física, eles são punidos, mas isso aqui é uma violência também, uma violência simbólica. Por que a violência simbólica é aceita a violência física é punida?

Fórum - Como o senhor vê hoje a aplicação da lei que determina a obrigatoriedade do ensino de cultura africana nas escolas? Os professores, de um modo geral, estão preparados para lidar com a questão racial?

Kabengele - Essa lei já foi objeto de crítica das pessoas que acham que isso também seria uma racialização do Brasil. Pessoas que acham que, sendo a população brasileira uma população mestiça, não é preciso ensinar a cultura do negro, ensinar a história do negro ou da África. Temos uma única história, uma única cultura, que é uma cultura mestiça. Tem pessoas que vão nessa direção, pensam que isso é uma racialização da educação no Brasil.

Mas essa questão do ensino da diversidade na escola não é propriedade do Brasil. Todos os países do mundo lidam com a questão da diversidade, do ensino da diversidade na escola, até os que não foram colonizadores, os nórdicos, com a vinda dos imigrantes, estão tratando da questão da diversidade na escola.

O Brasil deveria tratar dessa questão com mais força, porque é um país que nasceu do encontro das culturas, das civilizações. Os europeus chegaram, a população indígena – dona da terra – os africanos, depois a última onda imigratória é dos asiáticos. Então tudo isso faz parte das raízes formadoras do Brasil que devem fazer parte da formação do cidadão. Ora, se a gente olhar nosso sistema educativo, percebemos que a história do negro, da África, das populações indígenas não fazia parte da educação do brasileiro.
Nosso modelo de educação é eurocêntrico. Do ponto de vista da historiografia oficial, os portugueses chegaram na África, encontraram os africanos vendendo seus filhos, compraram e levaram para o Brasil. Não foi isso que aconteceu. A história da escravidão é uma história da violência. Quando se fala de contribuições, nunca se fala da África. Se se introduzir a história do outro de uma maneira positiva, isso ajuda.
É por isso que a educação, a introdução da história dele no Brasil, faz parte desse processo de construção do orgulho negro. Ele tem que saber que foi trazido e aqui contribuiu com o seu trabalho, trabalho escravizado, para construir as bases da economia colonial brasileira. Além do mais, houve a resistência, o negro não era um João-Bobo que simplesmente aceitou, senão a gente não teria rebeliões das senzalas, o Quilombo dos Palmares, que durou quase um século. São provas de resistência e de defesa da dignidade humana. São essas coisas que devem ser ensinadas. Isso faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro têm que conhecer essa história porque é aí que vão poder respeitar os outros.

Voltando a sua pergunta, as dificuldades são de duas ordens. Em primeiro lugar, os educadores não têm formação para ensinar a diversidade. Estudaram em escolas de educação eurocêntrica, onde não se ensinava a história do negro, não estudaram história da África, como vão passar isso aos alunos? Além do mais, a África é um continente, com centenas de culturas e civilizações. São 54 países oficialmente. A primeira coisa é formar os educadores, orientar por onde começou a cultura negra no Brasil, por onde começa essa história. Depois dessa formação, com certo conteúdo, material didático de boa qualidade, que nada tem a ver com a historiografia oficial, o processo pode funcionar.

Fórum - Outra questão que se discute é sobre o negro nos espaços de poder. Não se veem negros como prefeitos, governadores. Como trabalhar contra isso?

Kabengele - O que é um país democrático? Um país democrático, no meu ponto de vista, é um país que reflete a sua diversidade na estrutura de poder. Nela, você vê mulheres ocupando cargos de responsabilidade, no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, assim como no setor privado. E ainda os índios, que são os grandes discriminados pela sociedade. Isso seria um país democrático. O fato de você olhar a estrutura de poder e ver poucos negros ou quase não ver negros, não ver mulheres, não ver índios, isso significa que há alguma coisa que não foi feita nesse país. Como construção da democracia, a representatividade da diversidade não existe na estrutura de poder. Por quê?

Se você fizer um levantamento no campo jurídico, quantos desembargadores e juízes negros têm na sociedade brasileira? Se você for pras universidades públicas, quantos professores negros tem, começando por minha própria universidade? Esta universidade tem cerca de 5 mil professores. Quantos professores negros tem na USP? Nessa grande faculdade, que é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), uma das maiores da USP junto com a Politécnica, tenho certeza de que na minha faculdade fui o primeiro negro a entrar como professor. Desde que entrei no Departamento de Antropologia, não entrou outro. Daqui três anos vou me aposentar. O professor Milton Santos, que era um grande professor, quase Nobel da Geografia, entrou no departamento, veio do exterior e eu já estava aqui. Em toda a USP, não sou capaz de passar de dez pessoas conhecidas. Pode ter mais, mas não chega a 50, exagerando. Se você for para as grandes universidades americanas, Harvard, Princeton, Standford, você vai encontrar mais negros professores do que no Brasil. Lá eles são mais racistas, ou eram mais racistas, mas como explicar tudo isso?

120 anos de abolição. Por que não houve uma certa mobilidade social para os negros chegarem lá? Há duas explicações: ou você diz que ele é geneticamente menos inteligente, o que seria uma explicação racista, ou encontra explicação na sociedade. Quer dizer que se bloqueou a sua mobilidade. E isso passa por questão de preconceito, de discriminação racial. Não há como explicar isso. Se você entender que os imigrantes japoneses chegaram, nós comemoramos 100 anos recentemente da sua vinda, eles tiveram uma certa mobilidade. Os coreanos também ocupam um lugar na sociedade. Mas os negros já estão a 120 anos da abolição. Então tem uma explicação. Daí a necessidade de se mudar o quadro. Ou nós mantemos o quadro, porque se não mudamos estamos racializando o Brasil, ou a gente mantém a situação para mostrar que não somos racistas. Porque a explicação é essa, se mexer, somos racistas e estamos racializando. Então vamos deixar as coisas do jeito que estão. Esse é o dilema da sociedade.

Revista Fórum – como o senhor vê o tratamento dado pela mídia à questão racial?

Kabengele - A imprensa faz parte da sociedade. Acho que esse discurso do mito da democracia racial é um discurso também que é absorvido por alguns membros da imprensa. Acho que há uma certa tendência na imprensa pelo fato de ser contra as políticas de ação afirmativa, sendo que também não são muito favoráveis a essa questão da obrigatoriedade do ensino da história do negro na escola.

Houve, no mês passado, a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Silêncio completo da imprensa brasileira. Não houve matérias sobre isso. Os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo. Porque se falar sobre isso abertamente, as pessoas vão buscar saber, se conscientizar, mas se ficar no silêncio a coisa morre por aí. Então acho que o silêncio da imprensa, no meu ponto de vista, passa por essa estratégia, é o não-dito.

Acabei de passar por uma experiência interessante. Saí da Conferência Nacional e fui para Barcelona, convidado por um grupo de brasileiros que pratica capoeira. Claro, receberam recursos do Ministério das Relações Exteriores, que pagou minha passagem e a estadia. Era uma reunião pequena de capoeiristas e fiz uma conferência sobre a cultura negra no Brasil. Saiu no El Pais, que é o jornal mais importante da Espanha, noticiou isso, uma coisa pequena. Uma conferência nacional deste tamanho aqui não se fala. É um contrassenso. O silêncio da imprensa não é um silêncio neutro, é um silêncio que indica uma certa orientação da questão racial. Tem que não dizer muita coisa e ficar calado. Amanhã não se fala mais, acabou.

Essa matéria é parte integrante da edição impressa da Fórum de agosto. Nas bancas.
Camila Souza Ramos e Glauco Faria