sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

QUE LIVRO VOCÊ ESTÁ LENDO?

A CAMINHADA CONTINUA



Salve, salve amigos e amigas.

2010 chegou e a caminhada continua.

Apesar de todas as dificuldades do ano que se foi, 2009 foi produtivo pro Hip-Hop de Foz. Vários eventos, tanto nos bairros como no centro, não deixaram a chama do Hip-Hop se apagar nesse ano de maior dificuldade do movimento na cidade. Mas, é nas dificuldades que o movimento mostra a sua força. Em um evento intitulado Pião de Vida Loka, realizado nas sextas feiras na Praça do Mitre, a galera do Hip-Hop passou a se encontrar semanalmente. O evento foi inédito na cidade, com break e freestyle na praça e se mostrou muito importante, pois reivindica a praça como um bem público a ser ocupado pelo povo como espaço de lazer, entretenimento e manifestação cultural. É uma forma de sairmos da favela e irmos pro centro da cidade mostrar que na periferia também se pratica e se produz cultura e que as culturas praticadas na periferia também é merecedora de atenção por parte do poder público e de investimento da Fundação Cultural.

Avaliamos que nesse ano houve também um engajamento maior do Cartel do Rap politicamente. Primeiro na organização do Ato em Solidariedade ao Povo Haitiano. Esse foi um Ato unificado com vários coletivos de Hip-Hop de todo o Brasil e entrou para a história como o 1° Ato político unificado organizado pelo hip-hop brasileiro com conjuntura internacional. Participamos da organização direta da Semana da Consciência Negra em parceria com outras organizações culturais e sociais de Foz. Tivemos participação na organização da Conferência de Cultura. Tivemos participação na organização da Conferência de Comunicação e participamos da mesa de práticas de mídias alternativas. A Carol foi pra Conferência Estadual em Curitiba e pra Conferência Nacional em Brasília. Militantes do Cartel participaram de eventos no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Toledo e Assis.

2010 promete muito mais.

Estamos na caminhada.

E todo bom caminhante sabe que não existe um caminho, o caminho se faz ao caminhar.

O Rap do Bambú foi Cancelado



O Rap do Bambú foi Cancelado

Em breve divulgação do próximo Show...

O Rap do Bambú foi Cancelado

Em breve divulgação do próximo Show...

O Rap do Bambú foi Cancelado

Em breve divulgação do próximo Show...

O Rap do Bambú foi Cancelado

Em breve divulgação do próximo Show...

19 num é 20 (Por: Santiago)

Fim de semana corrido, todos unidos, menos o inimigo.

Algumas horas antecedem o evento do Cartel do Rap que fecharia com chave de ouro o ano de 2009 após criarmos varias expectativas e uma canelada de 40 minutos com o mano Z, o evento rolou como sempre: na paz de só quem é e com a presença de como Sabota dizia: “respeito é pra quem tem”.

Apresentaram-se na ocasião no Otroplano Bar o coletivo de cultura hip-hop Cartel do Rap com os grupos Mano Zeu, Fernando Nègre, Santiago e também cantou no mesmo local o Themer. Vários passos de Break foram frisados de quem participou o ano todo de nossos eventos: Cartel do Break. Para inicio e fim desse ano que passou, contamos também com os freestyles que já há quase uma década foram aprimorados e os primeiros rabiscos do coletivo de intervenção urbana Cartel da Arte. As camisas Nègre foram lançadas como bomba na cabeça do sistema capitalista e vestidas no coração dos militantes combatentes de veias pulsantes; deixando esse evento e o número de 2009 pra trás com a promessa que a milhar 2010 será melhor.

Já na madrugada do dia 20 a correria foi total; enquanto algumas pessoas corriam pra suas camas, outras corriam da policia, várias contra o tempo; o Woloco corria da EmBrasil; grupo de segurança privada que o privou e interveio na sua intervenção arteira. Foram contadas algumas mentiras e outras verdades até a vinda do proprietário da residência querendo satisfações do porque seu muro tinha sido escolhido; aprendendo seu spray e os papeis de rascunho como prova do crime e cadastrados os números que o identificam nesse sistema: CPF, RG e carteira de motorista. Deixamos na cena do crime 1 viatura 3 motos da EmBrasil e um suposto promotor em seu veículo com 1 promessa de que o desenho seria apagado na segunda-feira, dia 21, pela manhã.



Mas, recém estávamos no começo da manhã do dia 20 e o Sol durante a travessia da Ponte Internacional da Amizade nos prometia um belo domingo de céu de brigadeiro; e o tempo não mente, foi batata; uma pequena pausa para descansar as pernas e se abastecer com uma deliciosa chipa e 2 pasteis. Já estávamos em Ciudad Del Este indo rumo a 7º Batalha de Break Dance com os melhores B.Boys del Paraguay. O cartaz do evento dizia assim: Si te gusta la cultura Hip-Hop – Preparate; uma batalha de duplas de Break e de Freestyle de MC`S com “Prêmios em efectivo al ganador”(GRANA); o local exato da disputa era na Seccional N 1(em frente al Parque Chino).

Nesse parque com muitas árvores um pequeno lago com uma ponte e de linda paisagem, há uma estatua em homenagem a “AL Generalismo” Chiang Kai – Shek presidente da republica da China (1947-1975) com os seguintes dizeres: “queremos uma paz justa no uma paz fundada em la sumision al agresor. Com el agresor no cabe la coexistência ni mucho menos el apaciguamiento”.



Esse general lutou a favor dos nacionalistas, contra os movimentos populares chineses e contra os camponeses comunistas. Obteve por algum tempo um certo êxito, mas a população urbana e rural se uniu e quando o povo se une já viu né; hoje em dia o general esta morto e a China é comunista. Mas persistem grupos anti-comunistas que homenagearam o militar com a praça do chinês (Chino)no Paraguay e por todo o mundo grupos se articulam contrários a uma vitória que é certa. Inclusive no Brasil em eventos como no do Otroplano, dia 19 de dezembro, também tem pessoas contrárias aos movimentos sociais de esquerda. Voltando para o evento do Paraguay dia 20 de Dezembro as 15:00; o evento rolou como sempre na paz de “só quem é” e com a presença de como Sabotagem dizia “respeito é pra quem tem”. Repetitivo né; bom, depois de participar de dois eventos, um no Brasil outro no Paraguay, ver vários B.Boys ótimos no que fazem e MC`S de vários elogios; ajudar a limpar; cantar; fazer amizade; ganhar inimigos; correr; caminhar; conversar com pessoas de Assunção, Alto Paraná, Cildad Del Este, Foz do Iguazu, Brasileiros, Brasiguayos e Paraguayos; tenho uma única certeza: Assim como o general militar e presidente da China criminalizava e depois se aliou aos movimentos sociais comunistas no momento oportuno durante a invasão japonesa ao “seu” país para não perder seu poder; ganhou aliados e venceu os inimigos e depois foi deposto; pois era contrário a paz que ele mesmo pregava. Assim como às vezes parecemos fracos e abatidos. Assim como há eventos onde cometemos falhas; a esperança NÃO MORRE .

E assim que de igual aos chineses camponeses populares comunistas se uniram e assim que os países da América Latina se unirem; assim como os Paraguayos, Brasilguayos e brasileiros se identificam nas derrotas e nas vitórias, e assim que o povo se unir já viu né. -- vamos mostrar que 19 não é 20 .


(Santiago só ta ai, na contenção... e perdeu um pouco a noção do tempo).

Nègre, Nova Coleção, Verão de Vida Loka 2010









Verão de Vida Loka 2010









Lançamento da Nova Coleção da Nègre

Verão de Vida Loka 2010









Para os Gigantes a Sociedade Civil Organizada (Por: Carol)


Bancada do Paraná participando da Conferência.

E foi assim que entre os dias 14 e 18 de Dezembro do falecido ano de 2009 que aconteceu em Brasília a etapa nacional da CONFECOM – Conferencia de Comunicação. O evento foi palco para discursos polidos dos nossos representantes com a participação entusiasmada da sociedade civil que mostrou que não estava ali para jogar bola e depois comer pizza. A abertura contou com participações importantes como o vaiado ministro Hélio Costa que teve que engolir a seco a insatisfação demonstrada pelos participantes que representavam entidades e movimentos sociais. Ainda esteve presente o Sr. Saad que teve um discurso neoliberal que foi interrompido por um grito de guerra que dizia “O povo não é bobo! Abaixo a rede Globo!”. E para finalizar os desastres ainda tivemos uma brilhante leitura do Sr. Presidente Luís Inácio Lula da Silva que enaltecia a luta pela organização da Conferencia mas se fez de despercebido quando questionado sobre as rádios comunitárias.
A briga entre crachás azuis (empresários), vermelhos (sociedade civil) e verdes (poder público) teve inicio na tarde seguinte quando os participantes foram divididos em GT´s (Grupo de Trabalho) para discutir e deliberar quais propostas seriam encaminhadas para a plenária final. As discussões dos GT´s ocorrerão em torno de três eixos temáticos “Produção de Conteúdo”, “Meios de distribuição” e “Cidadania: Direitos e Deveres”. Com um discurso conservador e autoritário os empresários estavam certos de que sairiam dali com muitas vitórias já que pagaram hora extra para que vários funcionários participassem da atividade e votassem no que favoreceria os grandes latifundiários da comunicação.



Questões como o controle público e social sobre os meios de comunicação, a abertura para a pluralidade de produção de empresas e entidades para ampliar e diversificar o mercado, a discussões sobre rádios e tevês comunitárias e a criminalização desses meios recheou o momento de luta.

Por Trás do Palco

Depois das vaias que o ministro Hélio Costa recebeu, algumas coisas ficaram mais visíveis ali. Enquanto nosso presidente lia um discurso sobre a importância da liberdade de expressão, e alguns militantes da ala esquerda da plenária pediam algumas explicações aos gritos, um senhor que estava filmando levantou-se para continuar a filmar. Foi quando o segurança aproximou-se e ordenou em tom mais que áspero que ele desligasse a filmadora.... Que liberdade em Mr. President!


Pessaol de Minas da radio comunitária Radio Favela


E o Hip-Hop?

Tive a oportunidade de conhecer militantes do movimento Hip-Hop de algumas partes do Brasil. E quem acha que maloquero só usa a cabeça pra segurar o boné se deu mal.
O movimento hip-hop esteve bem representado com os manos DJ Branco (Estação Hip-Hop), Mano Paulo e Mina Fernanda de Salvador, Rogério Beiçudo e Nelson de Belo Horizonte, Mano Marcos de Aracajú, Alex Street do GNA (Grupo Nacional Armado) da grande São Paulo e não posso esquecer da participação do GOG.
Entre os intervalos os militantes

conseguiram se organizar de forma a trocar endereços eletrônicos para que se possa estabelecer uma conexão entre os manos e as minas do país.
O mano Rogério da rádio Fala favela falou um pouco sobre a questão da inserção da mulher no movimento hip-hop e a divida que o homem possui com elas. “Machista? Não, não podemos ser! Não podemos excluir a mulher, não podemos deixar que ela se cale. O homem já explorou demais, não só o corpo, agente tem uma dívida histórica com as mulheres e temos que dar um jeito de pagar”.
E quando questionados sobre a CUFA, a má impressão é meio que geral. Em uma conversa o Mano Alex Street afirmou que “começou com uma meta, começou a dar certo mas acabou se tornando mais um manipuladinho da vida”. Com uma visão otimista sobre a participação dos locos nas decisões Alex ainda fala “a periferia ta se organizando, os manos tão invadindo, mas de pouco em pouco agente ta descobrindo que o poder não está só em letra tá no pensamento também, essa porra é nossa e agente tem que estar aqui” e ainda manda um salve pros maloqueros da tríplice fronteira:
“Aê Foz, manda na voz, cê ta ligado que é nóis o pesadelo do sistema o terror de vários algoz, mano nunca duvide, diretamente de São Paulo Alex Street, rimador maloquero sofredor lá em S.P. corintiano um beijo pras minas um abraço pros meus manos, aê Foz é nóis que ta falô!”

Nesse clima de protesto e de luta tivemos mais uma etapa vencida. Mais uma de muitas outras que ainda estão por vir.

Carol é estudante de letras em Foz e faz parte do grupo Teatral Arte em Si e do Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap)

Óleo de Peroba_ O Caso de Casoy “É uma Vergonha”. (Por: Lizal)

Boris Casoy é daquelas pessoas que quando faz a barba sai pó-de-serra, de tão cara-de-pau que é. Na televisão ele vende a falsa imagem de jornalista sério, responsável e compromissado com a população. Sempre foi um moralista e esses dias foi pego em flagrante 'no alto do seu preconceito e arrogância'. Em uma vinheta no Jornal da Band, dois garis desejavam feliz 2010 pra rapa. Boris, achando que o áudio do seu microfone estava desligado, fez um comentário: “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades... do alto das suas vassouras... aahhaha... dois lixeiros, o mais baixo da escala do trabalho”.




O vídeo foi parar no Youtube e foi bombardeado com comentários. Entre críticas e xingamentos cobraram do apresentador respeito aos trabalhadores. Em um dos recados lemos: “fique 1 mês sem garis pra ver no que da!! agora fique 1 ano sem boris!”.

Com a repercussão do vídeo, no dia seguinte Casoy pediu desculpas no ar, com poucas palavras: “Ontem durante o intervalo do Jornal da Band, num vazamento de áudio eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis. Por isso eu quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do Jornal da Band”.



Nem a rima o salvou e a galera não perdoou. Os comentários continuaram nesse novo vídeo. Em um dos comentários podemos entender bem a tal “escala do trabalho”: “pode ter certeza de que quem vai ser demitido vai ser o rapaz do áudio que vazou, infelizmente este é o nosso BRASIL”.

(Já passou da hora de revermos as concessões públicas).

POESIAS E PENSAMENTOS

Um Tempo para Digerir

A Cidade sem o homem não é nada
O homem sem a cidade parece não ter casa
A cidade tão grande tão maltratada
A cidade com tantas construções
A cidade mais que planejada
Uma cidade não almejada.

Um espaço para respirar

Pelas ruas crianças com latas em punho
Armas na cinta
E a crença no velho de vermelho
Pelos viadutos escuros prostituição as claras
Homens com fome de corpos violentados
Pelos viadutos casa lares de papel
E tijolos de sonhos destruídos

Um espaço para não chorar

Pelos prédios homens injustos engravatados
Pelos prédios deputados e suas putas
Senadores em suas cenas
Pelos ministérios os mistérios que deus duvida
Pelos prédios a ruína de um sistema

Um espaço pra que eu possa vomitar

Que a vida não queira
que eu seja como o homem da gravata florida.
Quero ser o homem da língua de trapo
O homem com furo no sapato
O homem digno e de luta
Que vê e entende que a história do panetone
não é a única
E que ela não pode se repetir

(Carol, Foz).

---------------------------

Informações

Quem eu sou?
Porque estou aqui...
Papo besta,
Mas todo mundo
Pelo menos uma vez na vida
Pensa nisso...
Às vezes penso que flutuo,
Suspensa no mar de informações,
Às vezes agarro uma
Pra juntar com outra
Que ta no bolso do casaco
E der repente
Ela escorrega das mãos,
E volta rápida a flutuar
No imenso vazio
Todos os dias criar metas,
Buscar resultados
Fazer objetivos...
Ser alguém,
Pra que ser alguém?
E por quem...vale a pena?
Não sei!
Se soubesse
Não estaria aqui escrevendo,
Ainda busco resposta
Acho que preciso
De um barco maior.

(Mysk, Foz)

--------------------------

A pequena idéia,
É o alicerce
Do grande conhecimento.

A estrada se torna mais imensa,
Quando o homem passa
A utilizar todos seus momentos.

(Edson de Carvalho, Foz)

-----------------------

Amor Revolucionário

Aquela mulher é revolucionária

Roubou minha paz
E disse que era uma expropriação
Me ensinou a cozinhar
A arrumar a casa
A me arrumar
Disse com firmeza,
Mas sem perder a ternura:
“Hoje eu dirijo”
Invadiu meu coração
E disse que era uma ocupação
Retirou os arames farpados
Que o cercavam
Capinou, rastelou,
Acabou com todas as ervas daninhas
E semeou as sementes
Regou, cuidou, deu carinho

Nasceu o Amor.

(Lizal, Foz)

----------------------------

Querida Foz do Iguaçu,
Que a cada verso dessa cidade
Carregamos recordações,
Aqui tem um povo cheio de esperança,
De varias idades idosos, adultos e crianças
Todos acreditam na conquista
De uma vida melhor,
Uma fronteira tri-nacional
Diversas nações temos por aqui,
Por todos os cantos dessa terra
Escutamos as línguas,
Português, Espanhol e Guarani,
Paisagens exuberante e bela temos,
Vários condôminos e favelas vemos
A terra é fértil e fenomenal,
Com tanta miséria
E um grande parque nacional
A concentração é forte em águas,
Que passa por onde a pedra canta
Também nas cataratas por baixo da ponte,
As águas passam até chegar ao limite,
No Marco das três fronteiras
Que acaba no Porto Meira,
Onde eu me criei, onde eu não moro hoje
Mas é aonde eu pretendo viver”.

(Edson de Carvalho, Foz).

-------------------

INIMIGO DO ARCO-ÍRIS
À Russa e a Winnie Mandela

Inimigo das raças, Inimigo das nações
Inimigo dos povos, Inimigo do mundo
Inimigo de sua própria raça
Pois com sua ira racista
Impede que seus irmãos de etnia desfrutem
Das belezas e riquezas
Que os irmãos de outras raças possuem.
Todo racista precisa ser combatido,
Vencido e destruído
Pois desprezará e pisará os jardins floridos
E sempre odiará as multicores
De um arco-íris alindando a Terra.

(Deley de Acari)

---------------------

Morra Utopia

mato você todos os dias
mato com amor
mato com ódio
mato sem querer matar
mato numa ânsia infernal
mas você sabia
aproveita a linha tênue
que separa o amor
do
ódio
e renasce insistente
como a grama
que cresce no quintal

(Carol, Foz).

-------------------------

ENTRE A APARÊNCIA E A ESSÊNCIA.

A Nova Face De Mano Brown? (Por: Danilo Georges)



Após três anos de negociação a revista Rolling Stones conseguiu entrevistar Mano Brown, líder do grupo Racionais mc´s. Na capa da última revista do ano, Mano Brown pousa com estilo que lembra alguns astros do Hip-Hop norte americano. Camiseta regata, músculos amostra e uma larga corrente de prata. Nela pendurada uma cruz. De novo está o chapéu com uma fita preta com estilo ligado a velhos sambistas.

Vocês devem estar se perguntando o porquê de se discutir a capa? A capa é a embalagem da mercadoria, com o papel fundamental do marketing da revista, que tem todo um trabalho para lançar a imagem adequada. Vale lembrar que nessa revista a capa sempre foi destinada a grandes astros da música como: John Lennon, Madonna, etc.

A imagem está ligada ao público alvo da revista Rolling Stones que têm como leitores, jovens de classe média, em sua maioria fãs de músicas pop. Talvez aí esteja uma das principais explicações de como uma imagem de um rapper tido por muitos como símbolo de uma geração da periferia, seja importante para a revista. Dialogar com outro público é essencial, para se expandir no mercado. A indústria do Hip-Hop já produz grandes cifrões para muita gente com roupas, coturnos, jóias, bebidas alcoólicas, etc.

Ainda na capa ao lado da foto, a manchete “Mano Brown entre as novas idéias e o velho radicalismo”. Nesse sentido o jornalista André Camarante parece provocar os leitores com a chamada das novas idéias, mas quem acompanha a trajetória do Brown percebe que essas idéias não são tão novas assim. Pode conter nessa manchete um certo tendencionismo na provocação ao “velho radicalismo”, dessa forma a entrevista parece Apontar para novos caminhos do Racionais e talvez conseqüentemente do Rap nacional. Percebe um certo desconforto da grande imprensa enquanto se fala em “radicalismo” ser radical para eles é ser arcaico, o negócio de hoje é esquecer princípios e ideologias e tirar proveito do que se pode. Enriquecer, aparecer, vender, comercializar é o ideal na atual conjuntura. O Audi a3 preto de Brown é citado três vezes pelo repórter André Camarante. O que ele quer provocar com isso?

As novas idéias de Brown reverenciada na entrevista parece ser seu lado mais empresarial. O sonho de montar uma grande gravadora, produzir grupos e fortalecer a indústria fonográfica do Rap. De positivo na entrevista, achei que apareceu pela primeira vez o lado mais musical de Mano Brown e de suas influências. Seu rap hoje vem sendo misturado com a formação clássica de Wiliam Magalhães e da marcante presença da banda Black Rio. O soul se faz presente nas novas faixas disponibilizadas na internet. Assim penso que a questão do negro e do estilo ser “black' voltará com força total no próximo álbum. Entre a citação de bailes e as quebradas acho que aquela ênfase na critica social não será tão persistente nesse novo álbum.

Essa nova entrevista de Brown talvez tenha sido a primeira em que as polêmicas perderam espaço para a discussão das novas músicas. Isso foi positivo, sempre se cobra muito da predisposição do rapper de ser engajado, mas pouco se discute da formação musical do rapper.

Brown frisa o seu novo jeito de escrever, as letras estão mais subliminares. Uma poesia que mescla gírias com metáforas. E aparece uma nova preocupação: o de não mapear a favela pros inimigos. Coincidência ou não, Ferrez em entrevista a caros amigos, no mês de outubro mostra a mesma preocupação que o rap vem mapeando demais a favela e aponta para a busca de uma nova escrita em 2010.

O hip-hop tem um público geralmente fanático, os que gostam de rap vão ler matérias, entrevistas, fotos de Browm e companhia, seja na veja, na caras, na caros amigos. O hip-hop para muitos está acima de qualquer ideologia política, pois o dialogo que esse som tem com o povo é muito consistente para essa população favelada; e talvez seja por isso que o hip-hop transcorra hoje outros caminhos. A entrevista caminha para o mais do mesmo quando divulga a marca de vendagem de 1,5 milhões de cd´s vendidos do Racionais Mc´s. Assim desde o estouro do álbum Sobrevivendo no Inferno lançado em 1997. Essa marca é sempre citada e dessa forma tenta se medir a fama e a popularidade dos Racionais. Assim Mano Brown desde esse álbum foi uma figura desejada por jornalistas e pela imprensa.

Agora só o tempo para revelar a nova essência do Racionais Mc´s ou a nova aparência do mesmo.

(Danilo Georges é historiador em Foz do Iguaçu e no Rio de Janeiro).

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Fotos: Iolanda Macedo - Texto: Lizal



Um rolê de bicicleta nos sábados a tarde em Marechal Cândido Rondon já faz parte da rotina de Iolanda Macedo, historiadora que estuda o Hip-Hop Paranaense. Quando esse passeio é num sábado pós-natal nem tudo o que se vê pelo caminho é agradável. Nesse ensaio fotográfico ela traz imagens de sacolas e mais sacolas de lixo produzidos pelo consumo desenfreado embalado pelas propagandas de fim de ano da mídia. Garrafas de refrigerante, de cerveja, embalagens de presentes, panetone, chocolate, suco, decorando a frente das casas.



Segundo o Dicionário Michaelis “lixo é aquilo que se varre para tornar limpa uma casa, rua, jardim etc.”. Mas nos dias atuais o lixo suja as ruas, praças e jardins, lota os aterros sanitários, polui rios e causa enchentes mundo a fora.



A mídia e os empresários capitalistas adoram as datas comemorativas, onde deixam de lado o significado real das datas e promovem o consumo de mercadorias. Recentemente a ênfase foi encima do Dia do Amigo, muito divulgado e promovido pelas marcas de cerveja. “Dia do amigo é dia de ir pro bar pra beber com os amigos”. Dão muita ênfase ao Natal, Ano Novo, Páscoa e pouca importância ao dia do Trabalhador, dia da Consciência Negra, etc.



Já faz alguns anos que deixei de me reunir com a família nessas datas comemorativas. Esse ano deixei meu orgulho de lado e resolvi descer na favela do Jd. Paraná para compartilhar com os familiares. O Natal na favela é muito doido. A rua parecia um formigueiro. Som alto, bebidas, paqueras, sorrisos, abraços. É impressionante, o povo todo entrando um na casa do outro, compartilhando junto. Ganhei abraços fortes, olhares sinceros, apertos de mão. Ouvi muitos dizendo: “É isso aí, tamo junto, sempre!!!”. Como eu gostaria de acreditar nisso. Chega segunda-feira e a rotina vai ofuscando e esgotando essa vontade toda de união e de sociabilidade. Uma semana inteira de trabalho, de exploração da força de trabalho, acaba com isso. Os corpos estão cansados demais e nós notamos que não estamos tão juntos assim. As grades e os cadeados nas casas, os portões fechados, a televisão ligada, a rua vazia, quase deserta.



O que resta é esperar a próxima festa, para consumir, consumir e consumir. É o que o sistema prega e quem foge a isso, quebra esse padrão, é taxado de miserável, de louco. “Como que não vai fazer uma ceia de natal?”, “Não vai comprar presentes ?”. Lembro que minha sobrinha me perguntou: “Onde você vai passar o Natal Tio?”. E eu respondi: “No mesmo lugar que eu passo o Dia do Trabalhador, O Dia Internacional da Mulher, O dia da morte de Zumbi...”. E ela me perguntou: “Quem que é Zumbi, Tio?”.



Compartilho do pensamento da Iolanda que registrou o flagrante e mandou uma idéia por e-mail:

“O natal se tornou a festa do consumismo, mas as pessoas não têm consciência das conseqüências disso. Não adianta a gente só reclamar do aquecimento global, das mudanças do tempo, mas senão olharmos pro lixo que produzimos...”.



A nossa sociedade precisa urgentemente mudar o rumo, a cultura do consumo, pois está caminhando para uma alto-destruição. Ainda mais depois do fracasso do Tratado de Quioto e da Conferência de Copenhague. O modo de produção capitalista se intensifica cada vez mais e suas fábricas detonam o meio ambiente sem pensar nas conseqüências. Enquanto os governos apóiam, investem e financiam a destruição, trata com descaso os movimentos de luta pelo meio ambiente e os nossos guerreiros catadores de materiais recicláveis. Fica a pergunta: Sobreviveremos ainda a quantos natais?

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo Georges)

Vida nossa de todos os dias

Graziele é uma moça aparentemente frágil. SeuS 1,60m e seus 44 kg, escondem uma fortaleza de pessoa. A vida áspera que herdou da herança de ser pobre, a criação severa que obteve, e a violência social transformou essa menina em uma pessoa forte. Sempre observou o cotidiano da favela da Maré, e demorou a entender como um povo tão sofrido insistia em sorrir. Pois percebia que seus únicos direitos garantidos pela sociedade burguesa era o de sofrer e amar a Deus. E entendeu que seu pai cresceu entre a cruz e a espada por ter podido estudar só até a 4ª série primária. Buscou estudar, conseguiu com muito sacrifico uma bolsa de estudos e financiar um curso de jornalismo em uma das escolas mais tradicionais do Rio de Janeiro.

Ela aprendeu desde cedo a não abaixar a cabeça, a olhar nos olhos das pessoas e mandar o papo reto. Seu primeiro dia de aula se apresentou a turma e se posicionou como favelada, e disse em bom tom: “Moro na favela da Maré na comunidade Mandacaru, estou aqui por uma bolsa financiada, meu objetivo como jornalista é escrever a voz da minha comunidade, pois estou cansada em ver e ouvir o que esses shownarlistas escrevem”. “Não acho que só a favela da Maré deve mudar, a mudança tem que ocorrer em toda parte da cidade, ou na zona sul não há problemas?”. Alguns alunos se assustaram, outras fizeram cara de deboche, e desde então ela causa estranhamento na turma. Suas opiniões e posições costumam ser contrárias a da maioria das pessoas, que reforçam a lógica de criminalização da pobreza. Muitos da turma ainda não se conformaram em ter que dividir a sala com uma favelada.
O jeito simples de Graziele,causa asco nas patricinhas da Gávea, que por costume repudiam quem repete a mesma roupa. Mesmo num ambiente desfavorável, ela conquistou alguns professores progressistas e na turma de 40 alunos, conseguiu a amizade de duas meninas que tiveram sensibilidade para aprender e entender coisas com Graziele que a universidade não ensina. Mas o debate na faculdade é pouco, perto da sua luta particular; pois Graziele se sente discriminada até pelos movimentos sociais da esquerda. Quando ela chega em reuniões e atos, vê um monte de intelectuais acadêmicos falarem de hegemonia e contra-hegemonia , dizerem que a tão classe subalterna ainda não atingiu a consciência. Mas ela não vê aqueles intelectuais pisarem em favelas, ocupações urbanas, muitos não aparecem nem para prestar solidariedade em atos de protesto contra a violência do Estado nessas comunidades.

Quando sai dessas reuniões seu desespero aumenta pois vê que os movimentos sociais estão abarrotados de pessoas de classe média que em sua maioria são jovens universitários que não são capazes de renunciar os “ismos” e “istas” da boca para sequer se sensibilizar de fato com a dor dos pobres.

Dessa forma se sente excluída dentro de movimentos que pregam a inclusão. Assim, sente na pele a desilusão de militar dentro de uma comunidade, tendo que disputar atenção das pessoas com a televisão e lidar às vezes com a repressão da policia e dos traficantes; dessa forma ela luta cotidianamente para um dia seu povo se libertar, se unir e garantir que os mínimos direitos como o de viver em paz, o de ir e vir, seja respeitado.

A jovem Graziele segue bravamente remando contra a Maré, mas sabe que se mais braços não remarem juntos, o barco da revolução não vai navegar.

(Danilo Georges é historiador e contador de histórias, garante que 99% das suas narrativas são verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação).

UM GRAFITE



Liberdade

Não ficarei tão só no campo da arte,
E, ânimo firme, sobranceiro e forte,
Tudo farei por ti para exaltar-te,
Serenamente, alheio à própria sorte.

Para que eu possa um dia contemplar-te
Dominadora, em férvido transporte,
Direi que és bela e pura em toda parte,
Por maior risco em que essa audácia importe.

Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma,
Que não exista força humana alguma
Que esta paixão embriagadora dome.

E que por ti, se torturado for,
Possa feliz indiferente à dor,
Morrer sorrindo a murmurar teu nome.

(Marighella, São Paulo, Presídio Especial, 1939).

2010, QUE OS FAVELÓLOGOS NÃO LUZEM MAIS QUE AS MÃES CORAGEM! (Por: Deley de Acari).

Em homenagem a D. Aparecida, MC Betinho e Pâmella Passos.

No Inverno de 1987 foi realizado em Petrópolis o 3º Encontro Nacional de Poetas e Ficcionistas Negros. Dos 57 participantes, a maioria, 29, eram de mulheres negras, poetas e ficcionistas. Profissão de necessidade: mais de 90% éramos funcionários públicos. Dentre todos, o único poeta e escritor negro favelado: eu.

Na verdade havia uma mulher negra, escritora favelada, que em momento algum deixou de estar presente no nosso encontro, se bem que nas falas e nos debates... nas reflexões de todas, todos participantes do Encontro: Carolina Maria de Jesus, escritora negra favelada de Sampa, falecida 10 anos antes, 1977. Passados 23 anos daquele histórico encontro, não há registros de poetas e escritoras negras faveladas no Coletivo de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros, 32 anos depois da morte da Carolina de Jesus e, no limiar das comemorações dos 60 anos de lançamento do seu primeiro livro: Quarto de Despejo. As mulheres negras de uma maneira geral, e as da favela e da roça, em especial, são hábeis historiadoras e memorialistas de seu povo.

Carolina de Jesus e Geni Guimarães são provas disso. Geni tá bem vivinha aí entre a gente pra falar melhor que eu. Ambas viveram a experiência de serem mulheres, meninas negras na roça, e na cidade. E souberam, e sabem como poucas, por no papel, escrever em verso e prosa escrita, arte literária escrita. Arte negra. Em 1987, não havia muitas mulheres negras de favela e da periferia nas Universidades, as que lá estavam cursavam, a maioria, comunicação, letras, história... Hoje, mulheres negras de favela e periferia, e até da roça, são em bem maior número nas universidades, pelo menos nas públicas, que eu conheço. Claro, se bem em menor número que deveriam. As que lá conseguiram chegar, como há 22 anos passados, estão em grande número, cursando as mesmas cadeiras. Porque, ou por que? Nunca sei, sobre esses quês... Saem da universidade, a maioria imensa, como professoras, pesquisadoras, ongueiras, em bem pouco, como poetas e escritoras? Historiadoras da história de seu povo afrodescendente... Mas, das mulheres que afrodecendentes, personagens importantes na história da Diáspora Africana nas Américas?

Durante a ocupação do movimento estudantil, na UERJ, conheci e conversei com algumas estudantes de letras, ficamos de marcar um tricô pra conversarmos sobre isso. Agulhas, linhas e vontade não faltaram. Faltou tempo, e prioridade para deixar vir a lume a palavra linguagem poética escrita e oral, não só das mulheres negras da favela e da periferia que estão nas faculdades, e das que estão na pista.

Em 2010, é um ano histórico pras mulheres negras de favela e periferia: 60 anos do lançamento do livro Quarto de Despejo, da Carolina de Jesus, 180 anos de nascimento do poeta, jornalista e advogado Luis Gama, filho de Luiza Main, africana-brasileira revolucionaria de umas seis revoluções populares no Séc. 19 e 20, na morte dos filhos das Mães de Acari. Ao contrário do que se possa pensar, há pelos menos três mulheres negras de favela e periferia prontas a por a lume, as trágicas histórias de suas vidas, mais que história de tragédias pessoais. Histórias da vida coletiva do povo negro da favela e da periferia. A história de vida de D. Penha, mãe do pequeno Maicon, D. Maria Aparecida, mãe do MC Betinho, da Força do Rap e de Marilene Lima, estão lá em suas gavetas, em cadernos amarelados e folhas de papel oficio amarrotadas, prontas, não a virar objetos de estudos e pesquisas de favelologos de plantão, mas diários, crônicas, poesias e ensaios de próprio punho e própria voz delas mesmas.

Vocês devem estar se perguntando porque Pâmella Passos está sendo homenageada neste texto. Tudo bem, eu digo, mas não digo tudo agora... só digo que: Pâmella Passos e MC Betinho da Força do Rap fazem aniversário, dia 30 de Dezembro, Pâmella, não sei quantos anos... MC Betinho, faria 31 anos, se não tivesse sido assassinado covardemente por policiais do 09º BPM em 17 de Dezembro de 2001, 13 dias antes de fazer 23 anos. MC Betinho é filho de D. Aparecida, ávida e desesperada pra contar a verdadeira história de seu filho, que ficou para a historia das páginas policiais, como um bandido morto em confronto, em auto-de-resistência... Não satisfeitos? Pâmella Passos é mulher negra, historiadora, ensina história para jovens da periferia. As vidas de D. Penha, D. Aparecida e de Pâmella se enlaçam: MC Betinho foi morto pelos PMS em represália ao apoio que a Força do Rap deu a família Maicon quando o pequeno foi morto.

Na verdade, a vida de Pâmella só se enlaçará com a dessas mulheres, se ela se quiser enlaçada.

Fonte: www.deleydeacari.blogspot.com

Derrotas... (Por: Carol)



Abriu o portão de casa e se assustou quando viu. Todas as roupas jogadas no quintal, a televisão que foi atirada para fora de casa, as duas caixas com os livros revirados pelo chão. Entre os estilhaços da louça que foi lançada pela porta da cozinha ela pôde perceber o sangue que secava no assoalho da sala. Olhou para os carrinhos no pátio, as roupas que estavam no varal e agora estão despejados em cima dos potes de mudas que a senhora da frente cultivava...

A cena era de destruição total.

A primeira coisa que lhe veio a cabeça “ela se matou”.
A casa estava vazia. Seu filho não estava ali. Sua mãe não estava ali.
Quando resolveu pegar o telefone na tentativa de falar com alguém.
Foi quando a porta da casa da frente foi aberta e a outra veio contar o que aconteceu...

Pasme com o que ouvira, olha para os estilhaços da história de todos e prende as lágrimas... De novo... Vai até a lavanderia, pega a vassoura e começa a limpar toda aquela sujeira.

Recolhe a televisão, a sanduicheira, o liquidificador, recolhe os três pratos que sobraram, uma xícara do jogo de porcelana e os copos de plástico. Não é a primeira vez que faz isso. De abrir as portas do armário e despejar toda sua vida no chão. E dessa maneira, quis jogar também sua história. E quis jogar também seu passado. E quis jogar acima de tudo seus erros e sua incapacidade de se perdoar.

As pessoas falam que os valores não são baseados em bolsa de valores. As pessoas falam que os novos valores não têm nada a ver com poder de compra. As pessoas falam que o sistema capitalista não adoece o ser humano.

Tive certeza que todas essas pessoas estão erradas.

O jovem não envelhece na cidade (Por:Eliandro Avancini)

O jornalista Carlos Luz mantém em seu blog uma espécie de lembrete de crimes contra a vida de adolescentes, ocorridos em Foz do Iguaçu. O seu painel eletrônico está quase sempre desatualizado. A quantidade de jovens com idade entre 12 e 29 anos, mortos de forma violenta, é tão espantosa que os números do blog de Luz teriam de ser atualizados a cada 2,5 dias. Entre o dia 1º de janeiro até o dia 21 de dezembro de 2009, 227 jovens haviam morrido de forma violenta. E, desses, uma boa parte assassinada com armas de fogo. Algo muito próximo à barbárie. Com isso, Foz do Iguaçu ostenta o terceiro lugar entre as cidades mais violentas do país, em homicídios de jovens de12 a 29 anos, além de ocupar a primeira posição entre os municípios do Paraná.

Um estudo acadêmico observou o discurso da imprensa local com relação a mortes de jovens. A imprensa escrita trata estas tragédias apenas como números e estatísticas, sem qualquer reflexão sobre a gravidade do problema. Um jogo de futebol, por exemplo, recebe mais atenção que a morte de uma criança de 15 anos. Pior tratamento ao caso oferece o rádio e a tevê. As abordagens não passam do senso comum, criando uma amálgama muitas vezes “justificadora” dos crimes: “era marginal”, “tinha cinco passagens pela polícia”. Assim, se transfere uma sensação mais confortável para os setores de maior prestígio social, que tendem a enxergar a violência como um fenômeno das camadas populares.
Esta realidade deve preocupar a todos. É necessário se descobrir as causas deste processo que toma tantas vidas. Obviamente, o sistema econômico cruel como é o capitalismo é a resposta mais certa e lógica. Um levantamento feito com jovens cariocas apontou que a ascensão e reconhecimento social é o fator predominante para o envolvimento da juventude com a criminalidade. O fato é que não se pode enfrentar a violência que vitimiza a juventude sem ações capazes de oferecer a esta população espaços saudáveis para a prática da convivência social e comunitária, voltada para a tolerância, o respeito e a solidariedade.
Por sua geografia e peculiaridades, Foz do Iguaçu precisa de mais atenção do setor público, tanto municipal, quanto estadual. É preciso ir além das atuais políticas pífias, principalmente, nas áreas de cultura e esporte.

A juventude, com a sua criatividade, diversidade e ousadia precisa de canais que expressem toda a sua dimensão social. Caso contrário, prevalecerá a barbárie contida em cada jovem morto. Além é claro, do fato de que Carlos Luz terá mais dificuldades em continuar registrando a perda de vidas em seu blog.

Eliandro Avancini é professor do ensino médio em Foz do Iguaçu, Pr.

Fonte: www.guata.com.br

Máquinas Digitais (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Quando era pequeno (e nem faz tanto tempo assim), nos reuníamos na sala ou perto do Ipê Amarelo da frente de casa para tirar fotos. Em seguida, era necessário se terminar como filme todo (12, 24 ou 36) para deixar até uma semana no laboratório fotográfico. Podíamos ver, então, o resultado, nem sempre agradável, daqueles momentos parados para a eternidade finita das fotografias. Era muito poético, romântico e emocionante.

Até que um dia, apareceram as máquinas digitais. As pessoas tem agora modernas câmeras, com visores diversos, funções múltiplas e memórias infinitas! Nossos momentos eternos tornaram-se fáceis, banais. São milhões de fotos arquivadas em computador. O antigo gesto de olhar os álbuns na casa de um amigo ou parente foi extinto. Acabou. Frente a acontecimentos, fatos ou amigos, agora deixamos de apreciar as cenas para tirar mil fotos. E quando as poderosas máquinas de vários M.Ps não estão por perto, os celulares fazem o serviço de guardar milhões de imagens que pouquíssimas vezes serão vistas novamente. Não vemos mais com nossos próprios olhos e, as fotos que produzimos, muito raramente são reveladas e quase nunca ganham um porta-retratos. A estante da sala não tem mais fotografias. As revistas de decoração já não recomendam mais aquelas fotos de famílias unidas sobre o mobiliário. Não devemos ser contra a tecnologia (faço este texto agora em um computador, por exemplo, e não gostaria de estar em uma máquina de escrever, é fato.), mas acredito ver exageros no uso das máquinas digitais.

Faço um desafio a você, amigo leitor, tente ir a um local onde acontecerão fatos inesquecíveis e deixe sua máquina de última geração em casa. Leve apenas seu coração e grave as imagens em sua memória. Você não poderá colocar as fotos no orkut, mas certamente aproveitará de verdade seu passeio.

Luiz Henrique Dias da Silva é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e comunista (convicto). Ele escreve diariamente no seu blog acasadohomem.blogspot.com. (Luizharq@gmail.com).

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por Danilo Georges e Eliseu Pirocelli)

Edson de Carvalho O Artesão...



Na dança, na poesia, no grafite, no artesanato, Mano Edo, como é mais conhecido, dribla as dificuldades para moldar a própria vida. Há exatos 27 anos atrás, nascia nos braços do Porto Meira (uma das regiões mais populosas de Foz), esse mano de estatura mediana e cor de pele negra. É na região do Porto Meira que se concentra a maior população negra da cidade, em sua maioria habitando as favelas do Queijo, Morenitas, JK e Jd. das Flores. Mano Edo foi mais um que nasceu no meio de toda a desigualdade social de Foz do Iguaçu, uma cidade que encanta visitantes do mundo todo com suas belezas naturais transformadas em pontos turísticos, mas deixa seu próprio povo abandonado nas favelas, passando as maiores dificuldades para tentar sobreviver.

Quando criança vivia andando pelas ruas do Porto Meira, bairro em constante expansão na época, e parava na frente das construções. Como a maioria das crianças de periferia, não tinha condições de comprar brinquedos, então construía os seus. Nessas obras ele pegava os restos e sobras de forros para começar a fazer seus brinquedos. Começou aí sua paixão pelo artesanato. Com muitos anos de prática e aperfeiçoamento, Edo começou a ensinar artesanato para crianças do Porto Meira em um projeto que trabalhou como arte-educador. Começaram a construir uma favelinha, onde cada aluno fazia um barraco. Enquanto as crianças construíam a favela, Edo se ocupou em construir várias mansões com o intuito de montar uma Mini-Cidade. “Isso é uma forma da gente se expressar, né, num meio que envolve a desigualdade. A gente ta com um projeto em mente, que já ta passando de década, de ta montando uma Mini-Cidade com o nome do quadro dessa arte de 'A Desigualdade Social que a Gente Vive'. De um lado as mansãozinha, a burguesia, e do outro lado da rua a favelinha”. “Então eu construo tudo ao mesmo tempo, ao mesmo tempo que eu to mexendo numa grande eu mexo numa pequena, conforme as condições do material. As vezes tem cola e não tem palito, as vezes tem palito e não tem cola”. O projeto já passa de uma década e a principal barreira para a concretização é a questão financeira. A favelinha já está pronta, num total de 30 barracos, mas as mansões envolvem mais material. Uma casa grande demora em média 7 meses para terminar e são gastos de 200 a 300 reais de material para fazer.

Questionado sobre o porquê se construir uma cidade, Edo diz: “Na verdade essas casas representam amor a arte. Pra mim, construir essa cidade, é eu mostrar a arte que existe aqui na terra iguaçuense. É uma cultura, mas essa cultura é difícil de ser reconhecida”. Ele fala do descompromisso que a prefeitura tem com os artesãos e da falta de incentivo à cultura. Tentou expor suas casas na Fartal e na Fernartec, mas nunca conseguiu espaço. Ele não queria vender as casas, só expor, mostrar sua arte e explicar para o povo o porquê de gastar horas e horas do seu dia fazendo artesanato. “Eu acredito que o lado comercial que envolve o turismo dá mais lucro. No meu caso que a gente é favela, que é periferia, a gente não tem essa condição de tá pagando, de ta patrocinando eles ao invés de eles ta patrocinando a gente. Então essas vezes que a gente tentou expor a gente só ganhou decepção. Se eu não tenho pra comprar material, como eu vou ta pagando pra expor?”.

Atualmente Edo cursa letras, mas pretende fazer arquitetura, quando tiver oportunidade. Foi através do curso de letras que ele lançou seu primeiro livro de poesias em 2009. O livro “Líricas e Satíricas do Iguaçu”, traz uma coletânea das centenas de poesias que ele tem escritas sobre a cidade de Foz do Iguaçu. Se envolveu com a poesia há mais de 10 anos atrás, e de lá pra cá vem registrando poeticamente o seu cotidiano e o do povo iguaçuense. “A minha poesia no caso relata isso né, a vida do iguaçuense, ou seja, pode ser pessoas que até vieram de outros estados, regiões e países, mas especificamente eu escrevi deles aqui em Foz, não de onde eles vieram, simplesmente da vivência daqui de Foz mesmo”. O Rap influenciou-o bastante para que começasse a escrever poesia. Quando ouviu pela primeira vez a música 'Homem na Estrada' do grupo de rap paulista Racionais Mc's, a poesia da música o agradou. “A música deles diz que o homem vivenciou o mundo do crime e ele não queria mais aquilo né, ao mesmo tempo ele faz a critica social, política e econômica na música e isso foi o que mais me agradou nessa música que é uma verdade, né, que o homem buscou recomeçar a sua vida e não querer olhar mais pra trás. É a mesma coisa que as águas depois que elas passam, jamais vão passar de novo no mesmo lugar”.

Em 1993, Edo conheceu um doido que veio de São Paulo e começaram a treinar capoeira. Daquela amizade, por ambos gostarem muito de Rap, nasceu a vontade de dançar Break (um dos elementos do movimento Hip-Hop). Alguns anos depois conheceu o professor Michael, que coordena a CIA de RUA, e ministrava oficinas de Break na Casa do Teatro. Começou a treinar junto e passou a integrar essa Crew. Mais pra frente conheceu o Mano Adão, morador do Porto Meira e começaram a treinar junto. Os dois passaram a colar com o Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap e formaram a crew Cartel do Break, que hoje integra o Coletivo. Através da Crew ministrou várias oficinas de Break no Porto Meira. A respeito da arte-educação Edo diz que: “Ser arte educador é você gostar do que você faz. A gente tem que dar o amor primeiro às crianças pra gente começar a disciplinar elas. Porque a partir do momento que você tenta educar elas sem dar carinho, sem dar atenção você vai ter muita dificuldade. Tem criança que vem de uma estrutura que vem de casa péssima, né, dorme ruim e já fica ruim pra gente educar”.

Além de desenvolver o elemento Break, dentro do Movimento Hip-Hop, Edo se arrisca no Grafite. Junto com seu parceiro Woloco já grafitou alguns muros pela cidade. A capa de seu livro foi um desenho de sua autoria onde ele mostra a Ponte da Amizade, e lá em baixo o Rio Paraná e a Mata.



Apoio Cultural:

“A prefeitura, na verdade ela esquece da gente, ela não ajuda, e a gente ta tentando se ajudar, sem eles, porque se a gente for esperar por eles a gente morre de fome. No caso seria interessante eles olharem por todos pra tentar fortalecer os grupos de cultura, que creio eu que muita gente viveria melhor, né e tiraria muita gente do crime, da cadeia. Muitos escritores aí estão presos que não tem oportunidade, artesãos, pintores, músicos, capoeiristas. Se a prefeitura ou a Fundação Cultural ajudasse teria mais cultura e poderia influenciar mais gente, novos aprendizes aí que não conheceriam o mundo do crime”.

Sonho:

“É tentar tirar o pessoal da rua, tirar eles, né. E viver de uma forma, eu não queria mais passar sono, passar fome, frio, essas coisas assim. Não ter aquele máximo de conforto, mas apenas me alimentar na hora certa, me vestir um pouco bem, e não passar frio, essas coisas. Ter um estudo e o pessoal que anda comigo que estão a minha volta, ter uma ideologia como a minha, né, não fazer mal a ninguém e tentar viver aí, sobreviver”.






(Mansãozinhas que integrarão a Mini-Cidade)

óIA Só (Por Lizal)

Internacional Socialista



Uma das paradas que mais me alegraram no ano de 2009 foi ver numa bandeira do Internacional de Porto Alegre o logotipo do time com a foice e o martelo. Eu fui torcedor fanático do Inter até a minha adolescência. Faz muito tempo que eu parei de acompanhar futebol, a última copa do mundo que assisti foi a de 1994. Um dos motivos de meu desânimo foi o fato dos clubes se transformarem em empresas de lógica mercadológica capitalista e fecharem patrocínio com qualquer empresa, mesmo que ela escravize os trabalhadores e utilize mão-de-obra infantil em suas fábricas. O trabalho de base nos clubes ficaram para segundo plano, a cena é conseguir um patrocinador forte e montar um super-time com super-craques que estão ali jogando por amor ao dinheiro e não mais por amor à camisa. Vinte anos após a queda do Muro de Berlin, vemos um esvaziamento da politização em quase todos os setores da sociedade.

Na década de 80 ouve um grande movimento de torcedores que se envolveram politicamente e lutaram pelas Diretas Já e pela redemocratização. Um desses movimentos foi a 'Democracia Corintiana' formada por torcedores e por jogadores, que além de lutar por direitos trabalhistas, lutavam contra a ditadura militar no Brasil. Junto com a comemoração da conquista do Brasil em sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo no Rio de Janeiro vem um programa de segurança pública que criminaliza os pobres. A tal “limpeza social” que vem junto com a fachada de pacificação das favelas já está deixando um rastro de sangue pelas comunidades. Vem acontecendo várias chacinas promovidas pela polícia do Rio de Janeiro em suas ações nas favelas. Além da tentativa de pacificar o povo favelado com as ocupações, estão tentando pacificar as torcidas. Isso é visível na fila de compra de ingressos, policiais usando cacetetes e sprays de pimenta contra os torcedores mais exaltados. Uma das “autoridades” cariocas foi à televisão e disse que o problema da violência nos estádios são as torcidas organizadas. Eu torço pra um dia as torcidas organizadas se transformarem em movimentos sociais organizados e velos lutar e cantar por um mundo melhor com a mesma força que cantam por seus times. Eu continuo sem acompanhar muito o futebol, mas continuo com um carinho especial pelo internacional. Pela sua história, sua formação, e pela bandeira com a foice e o martelo.

Eu só tenho uma sugestão para os torcedores do Inter: Quem torce pro Internacional não pode ser chamado de Colorado. No Paraguai o Partido Colorado é um Partido de direita e ficou no poder por 61 anos, submetendo os hermanos paraguaios à miséria total. Quem torce pro Internacional tem que ser Internacionalista.

******************
Nesse ano eleitoral os políticos não me pegarão nem com churrasco...
Ainda mais agora que eu to vegetariano...

*******************

Guilherme Scalzilli:

“Pouquíssimos correntistas de um banco ou bebedores de refrigerante sabem que ajudam a manter panfletos reacionários como a Revista Veja”.

****************

Gilberto Felisberto Vasconselos:

“O adubo químico, extraído do petróleo, universalizou a agricultura agroquímica. (...). Imagine quando acabar a última gota de petróleo, o que será da comida no mundo?”.

(Por isso eu sou mais o MST)

*********************

“To na Paz, mas não to pacificado”

(Disse o veio deitado).

*******************

“O importante é ser feliz
O resto é luta de classes”.

(Disse um historiador loco).

*******************

Renato Pompeu:

“As origens da gripe suína são mais um dos males causados pelo neoliberalismo”.

****************

Sem Terrinha.

Participei no Rio de Janeiro do Ato organizado pelo MST 'Somos Todos Sem Terra', Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais. No final do Ato ganhei uma bombeta do MST, um jornal Sem Terra e uma revista Sem Terrinha. Já no editorial da revista nós lemos: “Brilha no céu a estrela do Che / somos Sem Terrinha do MST”. A revista é destinada às crianças e possui belas ilustrações feitas por crianças Sem Terrinha de todo Brasil.

Essa edição, a n° 2, traz um artigo sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, escrito com uma linguagem bem acessível: “Tudo isso é muito importante! Ver se o Estado está cumprindo o que prometeu e denunciar o que está errado é uma forma de lutarmos pelos nossos direitos. A participação dos Sem Terrinha é fundamental para isso”.

Em um texto intitulado 'Porque Somos Sem Terra?', algumas perguntas: Já aconteceu de você estar andando na rua e ver muitas pessoas dormindo na calçada? Ou quando você anda pela cidade e alguma criança vem pedir comida? Dá uma sensação ruim, né?! Mas por que tem tanta gente morando na rua, vivendo de pedir esmolas?”. Depois vem a explicação de todo o processo de colonização no Brasil, a escravidão, o extermínio do povo nativo, a falsa abolição da escravatura. O texto fecha assim: “Para garantir que fossem donos de quase todas as terras, em 1850 os homens ricos fizeram uma lei: a Lei de Terras, onde dizia que as terras eram suas e que os pobres não poderiam ter terra. Então, os indígenas, os negros e os brancos pobres tinham que trabalhar para os ricos, e ainda continuar sem terra”.

Além de textos sobre a reforma agrária, sobre alimentação saudável, citação de livros, tem um jogo da memória com desenhos feitos por sem Terrinhas.

Vendo um material tão bom, feito para as crianças, me deu uma vontade de ser pai.

********************

ENTREVISTA COM RENATO CINCO SOBRE A LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS

Realizada por Eliseu Pirocelli e Danilo Georges em dezembro de 2009, na Tijuca, RJ.



Renato Ataíde Cinco, mais conhecido como Renato Cinco tem 35 anos, carioca, nasceu e cresceu no bairro da Tijuca. Cinco foi militante por onze anos do Movimento Estudantil desde a 8º série do colégio, de 1988 a 1999. Se formou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Ciências Sociais. Na universidade começou a fazer militância partidária, com o grupo REFAZENDO, uma corrente do PT. A partir de 2004, a sua militância passou a ser prioritariamente sobre as denúncias de guerra às drogas, como um instrumento da criminalização da pobreza.

Em 2004 já fora do PT, com um grupo de 12 companheiros militantes, fundou o Movimento Nacional pela Legalização das Drogas. A primeira ação pública foi uma oficina no Fórum Social Mundial em 2005, a oficina teve como tema 'baixa de guerra as drogas', e foi distribuído no Fórum um material que historicizava a criminalização das drogas. O ato contou com a participação de professor universitário da Bahia e líder comunitário do Rio de Janeiro aonde começou o debate da ilegalidade das drogas como estratégica da criminalização da pobreza.

“Nós fomos procurar movimentos e possíveis parceiros, aí descobrimos uma ONG importante que é a Psicotrópicos. Essa ONG já trabalhava com o slogan de 'baixa a guerra as drogas' esse é um slogan internacional que surgiu como “Stop in the drug war” War and drugs é um conceito do Richard Nixon, no EUA o debate em torno desse conceito é mais avançado. Aí, posteriormente resolvemos participar da Marcha da Maconha, ajudamos a organizar a Marcha em 2005. Em 2006, nós decidimos não fazer mais a marcha pela legalização da maconha, nós fizemos a Marcha Rio Pela legalização das Drogas, Baixa de violência. Fizemos no centro da cidade, mas tivemos primeiro um revés por que a marcha de 2005 teve mais de 400 pessoas, e a de 2006 de legalização das drogas teve 150 pessoas. Em 2007, sem a gente saber enquanto organizávamos a marcha, nossa idéia era seguir o calendário mundial que acontece desde 1999 em outros países, que se inicia sempre no começo do mês de maio. Então nossa idéia é que aqui no RJ não seria só pela maconha, mas pelas drogas. Nossa intenção era essa, mas em 2007 sem agente saber teve uma organização pela legalização da maconha, então teve dois movimentos: o nosso “MLD” Movimento de Legalização das Drogas que teve 30 pessoas no nosso ato, na legalização pela maconha dois dias depois, teve mais de 700 pessoas. Então com isso o MLD se esvaziou, eu e algumas pessoas queríamos aderir a Marcha da Maconha, mas não parar de lutar pela legalização das drogas, por que entendemos que a Marcha da Maconha é um movimento de massa, em que ela afirma uma identidade, são dezenas de milhões em todo mundo que fumam maconha, muito mais do que usuários de todas as outras drogas, aonde essas pessoas já não aceitam mais a discriminação, a ilegalidade da sua conduta. O movimento pela legalização da maconha tem um potencial muito parecido com outros movimentos de identidade cultural, como movimento das mulheres, homossexuais, negros, essa galera foi à luta por que quer que a maconha não seja mais criminalizada.
Em 2007 participei da Marcha da Maconha, e desde então ajudo a organizar o movimento aqui no RJ, mas tento ajudar a organizar em outras cidades dando apoio.
Hoje nós estamos com 12 ou 14 cidades com esse movimento, em maioria capitais e na grande maioria delas o movimento ainda está proibido pela justiça. Em 2009 a marcha foi liberada em 8 capitais, e proibida em 4, hoje Salvador conseguiu derrubar na justiça e liberar a marcha, pegaram um habeas corpus e aconteceu no dia 5 de dezembro. E estamos discutindo a construção das marchas do ano de 2010”.

Z – Você pode explicar qual a diferença entre a legalização, a liberação e a descriminalização das drogas.

Cinco – Normalmente quando se fala em descriminalização está se falando em descriminalização do uso. Mas a descriminalização ela pode ser do uso ou do comércio também, você tirar da lei a definição de que é crime. Agora, a legalização significa a descriminalização e a regulamentação. Então legalização pode significar descriminalizar e regulamentar o uso ou descriminalizar e regulamentar o comércio e a produção. Mas normalmente quando se fala em legalização está se falando em legalização de tudo, né, tanto da produção quanto do consumo. Agora a liberação, eu não conheço ninguém que defenda a liberação das drogas. Porque liberar significa descriminalizar e não regulamentar. Isso significaria o cara, sei lá, poder fumar maconha e pilotar um avião, por exemplo, isso é totalmente irrealizável. O que os movimentos defendem em geral é a legalização porque entendem que as drogas tem que ter normas e regulamentos tanto pra produção, como pra distribuição, quanto pro uso.

Z - A legalização das drogas, são de todas as drogas, a cocaína, o crack, tudo?

Cinco: Eu entendo a coisa da seguinte maneira, se eu for pensar no ideal, na utopia anti-proibicionista, no meu socialismo, no meu comunismo seria nós termos uma legislação que trate das drogas, e não uma legislação que temos hoje que é esquizofrênica aonde algumas drogas são proibidas e outras permitidas, algumas controladas outras não controladas. Algumas tem publicidade outras não. Então a sociedade têm uma relação hoje com as drogas que ela não entende o que é droga. Muitos acham que droga têm esse nome por que é uma “droga” é ruim é uma droga, mas as pessoas não lembram que vão comprar remédios em uma drogaria, comprar medicamento. Se eu entendo que drogas são todas as substâncias que interferem no funcionamento de nosso organismo, então isso faz que as drogas sejam confundidas às vezes com os próprios alimentos. Existe uma discussão de que o açúcar é a droga que mais prejudica a saúde em todo o mundo e mais causa dependência. A publicidade da cafeína, por exemplo, está liberada e uma das maiores empresas publicitárias do mundo é a que vende o vício da cafeína, que é a coca-cola, cafeína ta no mate, guaraná, coca-cola, no café. Essa substância é viciante, causa dependência, a cafeína interfere no humor inclusive e as famílias dão isso para as crianças de 2,3 anos de idade achando que é só um refresco.

Então é importante entender o que é droga, perceber que a legislação precisa tratar a respeito do que é droga e não punir apenas algumas. A legislação tem que ter mais informação, a sociedade precisa saber dos efeitos de todas as drogas, seja da natureza ou da produzida pelo homem, sabendo das conseqüências do uso da droga. Então eu não acho legal que tenha publicidade de drogas, que sejam estimuladas a tomar coca-cola, melhoral, doril, qualquer medicamento ou substância que possa causar vicio. Acho que nesses produtos deviam conter informações dos efeitos e conseqüências dos seus usos, acho que o uso recreativo das drogas deve ser permitido e regulamentado em função das características de cada substância. Eu não sei te responder agora o que eu acho que deve acontecer com cada uma das drogas, mas acho que possamos considerar que a maconha, ecstasy, segundo estudiosos apontam, que essas duas são menos prejudiciais que o tabaco e o álcool. Então acho que essas deveriam ter uma regulamentação menos dura do que o tabaco e o álcool. Cocaína, heroína, crack, são drogas mais pesadas neh. É um debate muito novo, por que ta saindo da marginalidade do campo das idéias, e está ganhando força na sociedade, mas ele ainda carece de muito debate e tem uma estrada ai na construção dessas propostas.

Existe ainda uma série de propostas reformistas, muitas pessoas da esquerda que criticam a marcha da maconha, falam que a marcha interessa só a playboizada, essa critica tem dois graves problemas. Primeiro é que a economia das drogas mudou nas últimas décadas, então aquela situação de que maconha é barato e cocaína é caro, então dizem que vender cocaína dá mais dinheiro, não sei até que ponto isso é real. Hoje no Rio de Janeiro é possível um usuário desembolsar até 150 reais pra comprar 20g de maconha, é evidente que a coca é mais cara, mas tem coca encontrada barata, têm essa questão. A segunda questão é a seguinte, as drogas não é só a forma do tráfico ganhar dinheiro, mas é de desmontar a máquina da criminalização da pobreza e para isso a proibição da maconha é mais importante do que a da cocaína. Porque a maioria dos jovens presos por tráfico de drogas no Brasil são presos vendendo maconha, essa pesquisa foi feita pelo Ministério da Justiça e indicou no RJ e SP que mais de 60% estavam vendendo maconha. Os playboys não sofrem com a ilegalidade da maconha, sofrem no máximo com o achaque, você não vai ver um usuário rico sendo preso.

Z – Quando a maconha foi proibida no Brasil, ela foi proibida por lei, quem criou essa lei, você sabe explicar?

Cinco – Olha, a maconha foi proibida a primeira vez, até onde eu sei, em 1830, em uma postura da Câmara Municipal do Rio de Janeiro que proibiu a venda do 'Pito do Pango', como era conhecida. Mas essa lei, até onde eu sei, ela nunca foi efetivamente aplicada. Depois a proibição da maconha ela surge, se eu não me engano, em 1932 quando se estabelece uma série de elementos de perseguição da cultura negra, não só da maconha, como da capoeira, do candomblé, isso tudo ainda persistia naquele período. Você tem que lembrar que os anos 30 do século XX foi o ano da ascensão do nazismo, o fascismo estava no poder na Itália em 1922, o nazismo chegou ao poder na Alemanha em 1933. Então era um ambiente político e social muito diferente do de hoje, e as teses racistas, as teses eugenistas de purificação das raças, dos povos, etc. norteavam políticas públicas, definiam leis. E no Brasil a repressão a maconha ela aparece como uma das práticas eugenistas, né, onde inclusive os relatórios que fizeram a justificação científica, com muitas aspas, da proibição maconha acusavam que a introdução da maconha na cultura brasileira era a vingança dos escravos, né, pela escravidão. “Em troca de terem submetidos a escravidão, os negros introduziram a maconha na nossa sociedade”. Agora essa legislação vem de fora a partir dos Estados Unidos, da Europa, principalmente a partir dos Estados Unidos que se impõe ao mundo a política proibicionista.

Z – Num país como o Brasil, de desigualdade social gritante, os movimentos sociais deixam a questão da legalização das drogas como uma bandeira secundária. Como você avalia isso?

Cinco – Eu acho que esse é um dos grandes equívocos que a esquerda brasileira precisa corrigir. Porque a gente precisa entender que essa estratégia de criminalização da pobreza ela é fundamental pra manutenção da desigualdade social no país. O que garante que os movimentos sociais não explodam nesse país? Que não exista uma nova onda de greves e de mobilizações como aconteceu nos anos 70 e 80. Tudo bem, existem outros instrumentos de legitimação, os próprios meios de comunicação estão aí, a própria virada política do PT e da CUT ajudam a acalmar os movimentos etc. Agora a permanência da violência no coração das comunidades pobres do nosso país tem sido um elemento dificultador muito grande da possibilidade de organização e luta das classes populares (...).


Continua na Próxima edição do Fanzine.

ENTREVISTA COM RENATO CINCO



Entrevista com o Sociologo Renato Cinco. Discussão relacionada a criminalização das drogas, legalização e liberação. dentre outras cositas mais... POR: DANILO GEORGES E ELISEU PIROCELLI.

NOVELA DA VIDA REAL

Mais um Cidadão José Cap. 46

Os policiais colocaram o Guina, Bira e Luci dentro da viatura e se dirigiram para a quebrada do Japão. Os três estavam atônitos, tentando imaginar o que os policiais fariam com eles, já que estavam pertos de morrer e os gambé decidiram esperar um pouco mais. A tortura psicológica se mostrava tão cruel quanto a tortura física. Ficavam pensando nos parentes, nos amigos, que poderiam nunca mais voltar a ver. Os sonhos não realizados. O CD que nunca foi gravado, a música nova que estavam escrevendo e que ficou pela metade. Os shows, os rolê na vila, a escola, o acampamento no fim de ano...

A segurança na favela estava impecável, com a ameaça de invasão por parte da quadrilha rival, o Japão e seus comparsas investiram em câmeras escondidas, microfones, e uma central que investiga as imagens coletadas, os vídeo e os áudios. Montaram ainda uma central que grampeia telefones celulares. O exército também se reforçou e foram contratados dezenas de novos moleques para trampar na quebrada. O Japão também estava envolvido com Máfias internacionais e almejava o controle total do tráfico internacional de drogas e armas na fronteira.

A viatura parou na entrada da favela e o gambé bateu um fio pro Japão. Em seguida apareceu um moleque e guiou-os até o QG. O Japão foi direto ao assunto, disse que precisava que eles fizessem algumas pessoas. Dentro de um envelope, Estavam as fotos, possíveis endereços e lugares onde poderiam ser encontrados. Ele abriu e começou a olhar as fotos.

- São todos da quadrilha do Mano Gê?

- Pode crê, esses são alguns. Tamo na bota de mais informações, investigando outros malucos.

- Eu acho que hoje é seu dia de sorte, camarada.

- Qual que foi?

- To com três verme ali na viatura. São da quadrilha do Mano Gê. Peguei eles aqui por perto. Eles tava campanando a quebrada de vocês. Peguei cagando.

- Demorô, traz os verme aqui.

Enquanto os gambé foram buscar os malucos, o Japão já ficou arquitetando os planos. “Vamos colocar cada um dentro de um microondas, tacar gasolina e riscar o fósforo, vamos filmar tudo e mandar o vídeo pros loke. Eles não vão mais querer se meter no nosso caminho”. O microondas é um monte de pneus que são colocados em volta da vítima, que fica lá dentro amarrada. Os algozes jogam gasolina na pessoa e risca um fósforo. A fogueira é alta e muitos fazem questão de não amordaçar a vítima só pra ouvir os gritos de dor e desespero.

A ditadura militar no Brasil usou muito desse artifício de queimar pessoas, assim sumia com as pistas dos corpos. Durante os 20 anos do regime autoritário, acumulou-se centenas de denuncias de pessoas desaparecidas que nunca mais foram encontradas. A repressão da ditadura militar no Brasil, fez com que milhares de pessoas se exilassem em outros países. Só com o fim do Ato Institucional n° 5 (o AI5) que caiu em janeiro de 1979, que começou a se abrir caminho para a volta dos exilados. Movimentos Sociais lutavam pela Anistia, que anularia a punição e o fato que a causa. Vários setores da sociedade brasileira reivindicava a Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. Mulheres, homens, artistas, advogados, Intelectuais, estudantes, religiosos, trabalhadores de praticamente todos os setores, familiares e amigos de presos políticos e dos mortos e desaparecidos políticos, todos se manifestavam a favor da Anistia. A Anistia devia ser pra todas as pessoas que resistiram ao autoritarismo e a repressão. Todos os que se rebelaram, de todas as formas de enfrentamento ao regime. A Anistia veio, mas não veio só para os torturados, veio também para os torturadores. Todos os participantes das atrocidades de 20 anos de ditadura militar também foram anistiados de seus crimes. A lei de anistia já teve alguns de seus artigos revogados após ser promulgada. O que causou indignação nos movimentos pró-anistia é que a lei isentou de punição os carniceiros dos porões da ditadura, eles que mataram, que torturaram, que privaram de liberdade milhares de pessoas. Sabemos que o governo só cedeu e aprovou a Lei de Anistia, enviando ele mesmo o projeto para o congresso, porque a pressão popular era grande. Ao ver aflorar tantos movimentos saindo às ruas, fazendo passeatas, atos, protestos, o governo agiu rápido e criou a lei, evitando assim que sofressem futuras punições.

Os gambés entraram com os três malucos dentro da sala. O Mano Japão olhou demoradamente para eles e percebeu o desespero contido em seu olhar. Ali estavam como gados sendo vendidos e indo direto para o matadouro.
- Como que a gente fica? – Perguntou o Japão.
- Olha, como vocês nos deram mais uns trampinhos, me paga os dois e pode ficar com um de preza.
- Então, vamos fazer o seguinte. Já que daqui pra frente quem vai fazer esses malucos somos nós, me faz os três, por preço de um.

- Então, vamos rachar a diferença e ta tudo certo.

- Fechado.

O Japão passou 7 mil e quinhentos reais pros gambés que saíram em disparada. Não apertaram a mão. A diplomacia entre policiais e traficantes não é feita através de apertos de mão. Assim que os policiais saíram o Japão ficou olhando para os três malucos ali, ensangüentados, com o corpo todo quebrado pelas torturas e pancadas dos gambé. Ele soltou um sorriso de canto de boca. Chamou um de seus funcionários e pediu para ele buscar um vinho e 4 copos.

(Lizal. Na próxima edição mais um capítulo)