sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Trocando Idéia no Beco




O Cartel do Rap desceu até o Beco (Jd. América) onde trocou idéia com os manos do Clan do Beco que está desenvolvendo o cursinho pré-vestibular “O Estudo é o Escudo / Contra o Opressor isso é Tudo”. O Curso é na faxa e serve como preparação para os manos e minas que vieram de escolas públicas tentarem a UNIOESTE.

Trocando Idéia com Ademir (Clan do Beco).

Z - Você faz parte do Clan do Beco. Poderia explicar pra gente que organização é essa?

Ademir: O Clan do Beco é uma organização informal. Surgiu na rua no lugar onde a gente mora, no início foi mais pra participar dos eventos e com o tempo foi se organizando e hoje promove algumas coisas que trazem benefícios pra comunidade.

Z - É um grupo de jovens, né? Quais atividades vocês estão desenvolvendo?

Ademir: Atualmente estamos desenvolvendo o cursinho pré-vestibular e também uma parceria com a Casa do Teatro onde o pessoal vem passar filmes pra comunidade.
Z - Ano passado vocês já desenvolveram esse cursinho. Teve algum resultado? Alguém conseguiu passar no vestibular através do cursinho?

Ademir: O ano passado foi uma experiência, começou com bastante alunos, alguns foi desistindo. Terminou o ano com vinte alunos e dois conseguiram ingressar na faculdade pública, que é o objetivo, eles não estão estudando pra entrar na faculdade particular, o cursinho almeja a UNIOESTE.

Z - Eu noto que vocês acompanham o Movimento Hip-Hop do Brasil. Como vocês vêem o movimento aqui de Foz, comparando com outras cidades?

Ademir: Eu vejo uma organização muito grande aqui dentro da cidade. Falta recurso, da pra notar isso, mas apesar de tudo os manos do rap aqui de Foz levam a sério essa idéia de fazer hip-hop e essa luta constante que é feita nas periferias mesmo com pouco incentivo de empresários e até da própria prefeitura.

Z - Você que ta em um grupo de jovens grande, como vê a influencia da música rap na vida das pessoas? Quem escuta segue a ideologia, o rap tem esse poder de mudar a atitude e melhorar a vida das pessoas?

Ademir: Com certeza, quem escuta a letra e leva a sério... igual o 5° Naipe disse no show “esquece o batidão, escuta a letra”. Então eu acho que aquele que escuta a letra com certeza ele vai pra rua com outros pensamentos, vai pra escola com outros pensamentos, ele tem outra atitude diante dos pais, dos amigos... mas, todo movimento tem os que não vê por esse lado, né. Você vê aí nas apreensões da polícia tem bastante mano com camisa de Rap, que vê por outro lado a nossa ideologia. Ela foi construída com muito trabalho, está sendo contada a história, mas tem gente que está levando por água abaixo isso aí.

Z - Nesse período eleitoral você tem uma idéia pra essa rapaziada nova, que ta tirando o título de eleitor agora e que em outubro vai às urnas participar desse processo?

Ademir: Política é uma coisa complicada. Eu já me decidi e tal e peço pra essa galera que ta tirando o título agora pra olhar ao redor pra ver o que ta certo, o que ta errado. Você não votar em branco é muito importante, procurar ver se as propostas são viáveis e se tem cabimento.

Z - Pra finalizar você podia deixar uma idéia pros irmãos.

Ademir: Primeiramente eu queria deixar uma idéia do nosso cursinho, a gente ta com escassez de alunos, fizemos o projeto, corremos muito atrás disso imaginando que teria bastante alunos e tem pouco. Quem quiser vir estudar com a gente aqui, tem vaga ainda. Quem realmente estudar vai ter oportunidade de competir de igual pra igual com qualquer um, vai do interesse da pessoa. Pra finalizar eu vou deixar um salve pra rapaziada do rap. Na verdade esse cursinho surgiu numa palestra do Mv Bill, a gente se encontrou tudo lá, a idéia surgiu lá com a rapaziada do rap. Eu fiz uma pergunta lá pro Mv Bill, perguntei se lá no Rio de Janeiro eles tinham um projeto ou alguma solução pro jovem de periferia ingressar na faculdade e perguntei se ele era formado em alguma coisa. Eu lembro que ele falou “não sou formado, aconselho que não siga meus passos com relação à escola, incentivo vocês a estudar”... Ele respondeu essa pergunta e não respondeu a outra, se lá tinha algum projeto. Aí no final da palestra veio um mano conversar com a gente, perguntou onde a gente morava e tal e conversou com a gente a respeito de um cursinho e na hora a gente já aderiu a idéia. Eu queria deixar uma idéia pra rapaziada do rap pra cada vez levar mais a sério o movimento, não jogar por água a baixo o que pessoas começaram a muitos anos atrás. Vocês sabem que o único órgão governamental que chega até o moleque de periferia é a polícia, dando soco, às vezes derrubando porta de barraco. A gente ta querendo levar um outro órgão que seria a educação.


Trocando idéia com João Augusto (Casa do Teatro)




Z - O que você acha dessa iniciativa do Clan do Beco?

João Augusto: É uma iniciativa ótima, né, desde o ano passado que eles estão aí na luta. E não é só isso, estão fazendo várias outras coisas, e é uma idéia muito boa porque tem a necessidade de todos ta estudando. A concorrência que existe às vezes é muito desigual porque muitos vêm de escola pública e não tem condições de entrar numa faculdade pública também e acaba indo pra uma faculdade particular. O que falta na verdade é investimento, né, tem que ter mais melhorias, porque a comunidade mais carente fica sem ter acesso ao curso superior.

Z - Como você começou a participar desse projeto?

João Augusto: Na verdade eu sabia que no ano passado já tinha, né, e nesse ano me convidaram pra ajudar, pra dar uma ajuda aí. Com a Casa do Teatro já tem o cinema que eu tava passando com o pessoal do Clan do Beco, aí vai rolar essa parceria pra ta ajudando a melhorar o cursinho, né.

Z - E como está sendo essa ajuda de vocês?

João Augusto: A gente vai trazer o cinema, trazer filmes temáticos, né, falando de história, filmes que tem dentro da literatura, né, que está sendo exigido pela UNIOESTE e também outros filmes, documentários pra ajudar na redação e em outras matérias.

Z- Geralmente nos cursos pré-vestibular não tem cinema, você acha que é uma novidade, o pessoal ta assistindo esses filmes e adquirindo uma informação extra pra ta aplicando no dia da prova do vestibular?

João Augusto: É, vai ta ajudando. Na verdade o cinema já é distante da comunidade faz muito tempo, né, ta se fechando salas de cinema cada vez mais, o acesso ao cinema está ficando cada vez mais caro. E as escolas públicas também não têm essa parceria, não vê o cinema como algo pedagógico, pra ta ajudando. Acho uma iniciativa muito legal do Clan do Beco e da Casa do Teatro fazendo esse trabalho em conjunto porque isso só vai ampliar o conhecimento da galera e vai melhorar muito.

Z- São só filmes nacionais?

João Augusto: A intenção é passar só filmes nacionais, mas não necessariamente, né. A intenção é que sejam filmes nacionais para a valorização do cinema nacional, né. Mas de repente trazemos outros filmes para estar aplicando no cursinho porque ele é mais direcionado, né, pro cursinho pré-vestibular.


Trocando idéia com Professor Gustavo
(Disciplina de Química)





Z - Qual a importância desse cursinho pra comunidade carente que não tem condições de pagar uma escola particular?

Professor Gustavo: Olha o nosso ensino público, né, ele ta um pouco atrás do ensino particular, das escolas particulares, então esse tipo de iniciativa que o pessoal aqui da vila fez é muito válido, é muito importante porque tenta suprir essa falta que às vezes o Estado tem no nosso dia a dia, pra dar oportunidade a essa rapaziada sem acesso ao ensino de qualidade. A maioria aqui quer tentar a UNIOESTE então eu acho que isso é a principal importância; e no meu caso eu como acadêmico de escola pública, de ensino superior público, eu me sinto na obrigação de tentar passar um pouco do que eu aprendo lá pro pessoal. Tentar não ser egoísta, de estudar e depois sair fora fazer meu dinheiro, mas sim passar isso pro pessoal, tentar dar a oportunidade que eu to tendo pra outras pessoas.

Z - Inverteram-se os valores? As pessoas que têm condições de pagar a faculdade particular estão estudando na pública de graça e as pessoas sem condições fazem o ENEM e tem que pagar meia bolsa.

Professor Gustavo: É esse o reflexo do ensino estadual mediano. Eu acho que a falta de apoio que os professores estaduais têm, a falta de apoio ao jovem porque o jovem não pode só estudar tem que trabalhar também, e essa questão financeira de não poder pagar um cursinho particular, esse tipo de coisa também dificulta. Então iniciativas como essas tentam suprir a falta que às vezes o governo faz, a falta de dinheiro que às vezes a pessoa pode ter, tenta igualar, tornar a luta justa.


Trocando idéia com Júlio
(Aluno do Cursinho)



Z - Com esse cursinho você acha que tem mais chances de passar no vestibular? Ta aprendendo bastante coisas que não aprendeu durante o ensino médio?

Júlio: Claro, aqui a gente ta aprendendo muita coisa que a gente nem chegou a estudar no colégio, entendeu. Aqui são todos os professores voluntários e são todos acadêmicos. Então estão todos com vontade. Tem matérias que está passando no quadro que a gente nunca viu no colégio porque o ensino em si é fraco. Então esse curso veio pra ajudar mesmo o pessoal que não tem condições de estudar, de fazer uma faculdade tentar sonhar e tentar entrar numa universidade pública.

Z - O Estudo é O Escudo, como diz o slogan do cursinho?

Júlio: Existem duas formas hoje do Favelado sair da miséria, ou ele sendo jogador de futebol ou é pelo estudo mesmo. O lema do cursinho é O Estudo é o Escudo Contra o Opressor isso é tudo, acho que é uma grande verdade. A única coisa que a pessoa não pode tirar de você é o conhecimento, hoje a classe rica não tem interesse de que o pobre tenha conhecimento, porque a partir do momento que o pobre começar a conhecer, a entender as coisas, vai começar a saber de seus direitos e começar a protestar. E isso não interessa a eles, entendeu? Eles querem estar sempre manipulando como se fôssemos marionetes. A partir do momento que esse povo souber de seus direitos vai começar a cobrar por isso.




Se você quer participar do Cursinho entre em contato:

Ademir: 9934-4148
Binho: 3027-0076
Júlio: 3028-3268

As aulas estão acontecendo no colégio Elenice Melhorança, no Jd. América.

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