Nos dias 10 e 11 de Maio aconteceu na cidade uma etapa seletiva do Campeonato de Basquete de Rua organizada pela CUFA-Pr. No evento embalado ao melhor do Rap Nacional pude trocar uma idéia com Júlio Santana, coordenador da Cufa de Londrina, um dos organizadores do evento e saber um pouco mais sobre o Basquete de Rua e a Cufa.
Guillerme, Carol, Wmc e Julio Santana)
Carol: Fala um pouco pra gente sobre como funcionam os projetos da Cufa e o que vocês pretendem alcançar com eles.
Julio Santana: A Cufa começou no Rio de Janeiro depois dali começou a se transformar em várias cidades em 26 estados. Cada cidade tem a sua forma de trabalhar, sabe da sua necessidade. Cada coordenador da Cufa sabe como movimentar a Cufa dentro da sua cidade. Se vamos movimentar só com o hip-hop, se vamos movimentar com o meio ambiente, saneamento básico, se vamos movimentar com o esporte. Isso quem sabe realmente como fazer é quem realmente mora na cidade. É aí que a Cufa acaba absorvendo tudinho o que a cidade tem. Nós somos uma central única das favelas, aonde agente busca a integração entre a favela, a comunidade com a sociedade. Normalmente isso não acontece. Acontece que agente fica exposto a várias coisas ao invés de ficar exposto a cultura, esporte, ação social. Agente fica exposto a droga, fica exposto a tudo que é ruim que uma comunidade pode trazer se não tiver esses elementos pra trabalhar com uma criança ou um jovem. Então a Cufa é uma participação na comunidade que dentro dela, as pessoas que moram nela trabalhar com esse tipo de situação. Não só chegar lá e envolver um projeto e deixar que as pessoas só recebam. Não, elas têm que realmente trabalhar pra que elas mesmas consigam seu próprio desenvolvimento. Indo pra dentro da escola, depois faculdade, aquilo que ela pode ter a Cufa tenta trazer pra dentro da comunidade. Não somos salvadores da pátria, não tem como ser salvador da pátria. Mas sabemos que trabalhando dentro da comunidade é muito mais favorável do que agente chegar lá com muito dinheiro e “é do jeito que eu quero!”. Isso não funciona, na comunidade tem que ser do jeito que ela pode nos dar. Se existe quadra, ótimo, se existe uma escola que pode abrir as portas, ótimo, tem que começar pela comunidade, se não é da sociedade pra lá. E agente quer da comunidade pra sociedade.
Carol: E como surgiu essa história do Basquete de Rua?
Julio Santana: Bom, o basquete de rua começou em 2004, 2003, com uma brincadeira no Festival Hutuz o maior da América Latina, e de lá pra cá tomou um tamanho tão grande que virou uma liga internacional de Basquete de Rua. Ninguém imaginava que isso fosse acontecer. E só virou internacional por que os americanos chamaram a própria LIBRA pra tentar fazer uma liga que começasse no Brasil e terminasse nos EUA.
Carol: E o que é a LIBRA?
Júlio Santana: A LIBRA é uma liga internacional de basquete. Ela é tipo uma confederação onde agente coloca todos os times da cidade onde agente passa como foi em Londrina, Guarapuava e Foz são três cidades que não estavam no ciclo de basquete de rua, mas existe! Tanto que hoje agente viu algumas equipes aí realmente exercendo a liberdade do basquete de rua, fazer malabarismo brincar com o cara e o próprio cara do outro time receber isso na esportiva, não como uma falta de respeito ou outra coisa. Então a LIBRA é hoje, pra nós, um dos elementos da Cufa que mais fica transparente entre a comunidade e aquilo que agente quer.
Carol: E vocês têm mais algum projeto sendo desenvolvido?
Julio Santana: Temos também o Cine Cufa que é uma coisa muito grande. Também temos informações que vai chegar até o sul do Brasil, mas por enquanto ainda ta no circuito São Paulo e Rio porque lá o cinema é muito mais trabalhado, lá liberam milhões pra fazer o projeto enquanto aqui se agente fizer um projeto dentro da minha cidade, que é Londrina, é 100 mil pra fazer um filme. Enquanto lá no Rio de Janeiro são 170, 200, 300, 400 mil que eles liberam porque é cultura. Infelizmente aqui no sul do Brasil não pegou ainda essa vontade de liberar verbas, nem por parte das prefeituras, nem dos órgãos públicos e nem do primeiro setor, que são as empresas. Trabalhamos muito com os três setores, o primeiro, o segundo e o terceiro. Mas sabemos que o terceiro setor é a nossa meta. Melhorar as comunidades de uma forma que seja conjunta. Em Foz do Iguaçu, tá vindo uma Cufa prá cá, depende muito mais da cidade do que da própria Cufa do Rio ou de Curitiba. Por que a de Curitiba é onde nós prestamos conta do que agente faz, temos nossas comunicações, nossos parceiros, se é prefeito, se é vereador. E Curitiba absorve isso pra jogar pra nacional. Mas mesmo assim nós temos liberdade pra jogar pra nacional que é o que realmente agente quer. Se é mentira ou não agente acaba descobrindo, por que querendo ou não o Paraná é pequeno numa viagem agente já sabe o que ta acontecendo de certo ou errado. Já a LIBRA acontecendo aqui em Foz do Iguaçu pra mim é novidade por que não imaginava fazendo em Londrina também, porque em Londrina é uma cidade que tem basquete, mas tinha pouco basquete de rua, então agente ficou “vamos fazer ou não”, “vamos fazer ou não”, e quando agente fez um cronograma que atingia Londrina, Guarapuava, Foz e Curitiba (onde vai ser a final), agente viu que poderia fazer nem que fosse num ginásio público, nem que fosse numa praça, mas agente ia fazer de qualquer jeito. Com ou sem patrocinador, levamos sorte que encontramos a UNILIVRE que é uma Universidade do Meio Ambiente. Mas tudo foi no cronograma que agente imaginou, nada saiu daquilo que agente queria. Hoje o evento foi sensacional, no primeiro dia agente acabou vendo duas equipes se destacando no basquete de rua mesmo. Por que existe, tem que existir isso aí na cabeça deles. E acabamos de crer que a vinda das seletivas tanto pra Londrina, quanto pra Foz e Guarapuava foi acertada na escolha.
Carol: O que diferencia realmente o Basquete “convencional” do Basquete de Rua?
Julio Santana: No basquete normal existem regras muito severas, faltas, andar, não da liberdade de drible e sim de finta. Então é uma finta pro cara sair da sua frente. Já o basquete de rua ele te dá liberdade até de dançar dentro da quadra, de você usar o próprio adversário pra fazer uma tabela com um drible diferente. De você até tirar o calção do jogador e não ser punido por causa disso. Então é uma liberdade. O basquete de rua é uma liberdade. Agente sabe que até se adaptar, principalmente pra nós aqui do sul, não vai demorar muito não. Agora com a LIBRA fazendo isso acontecer vai ter muito mais retorno. Mas basicamente o que diferencia os dois é isso. O basquete é muito mais cadenciado. Fora que agente imagina que o basquete de rua se transformando numa liga muito mais forte que o basquete, vai criar jogadores de basquete. Que nem todo mundo sabe fazer drible como é o basquete de rua, mas todo mundo sabe jogar basquete. Então talvez acabe ajudando nosso basquete brasileiro que está tão carente de título e carente de jogador.
Carol: E dá onde saiu a idéia de fazer uma etapa das seletivas aqui?
Julio Santana: Na verdade agente fez uma pesquisa e ficamos sabendo que aqui não se envolve só o basquete, mas também se envolve os elementos do hip-hop. Há 4 anos atrás elementos de Londrina fizeram um workshop aqui. Então agente já sabia que há 4 anos atrás as idéias já existiam. Aí agente começou a se comunicar muito mais e vimos que os elementos do hip-hop em Foz ainda estavam forte e se misturando com outras coisas como teatro também, dança de rua, que são coisas pra nós que são os elementos do hip-hop. Então agente trouxe pra cá pra quê? Primeiro fortalecer e trazer a Cufa pra eles pra aumentarem suas expectativas dentro de câmaras de vereadores. Nós temos liberdade agente é Central Única das favelas por causa disso. Agente representa a favela. Mas a favela não pode ser representada se ela não vier junto com essa turma que mexe com hip-hop, que mexe com teatro, pedagogia, etc... Dentro de Londrina agente mexe com quase 30 áreas, então são 16 secretarias, que nós estamos abertos pra trabalhar com eles que são Meio Ambiente, Ação Social, Saneamento Básico, Esporte, e até coisa que ninguém imagina que agente mexe, como Informática e Tecnologia. Pra que vai servir pra uma favela isso? Agente tenta achar uma forma de ajudar agente lá dentro. Londrina ainda é uma cidade que tem 15 faculdades e aqui não pesquisei totalmente aqui. Mas agente sabe que aqui também tem faculdade e que muito mais alunos deveriam trabalhar dentro da comunidade. Lá em Londrina agente ta até vendo uma forma pra que isso vire lei. Que pelo menos 30% dos alunos de cada faculdade entrem pra trabalhar em ONG´s. Não faz mal que não seja pra trabalhar na Cufa, que seja outra, mas que comece a dar mais visão e mais visibilidade àquilo que acontece na cidade, ao que acontece com o hip-hop. Querendo ou não, o hip-hop é uma linguagem que só nós que moramos na periferia sabe qual que é.
Carol: Então vocês já tinham algum contato?
Julio Santana: Agente pegou contato direto com a secretaria e lá eles me passaram o contato do Michael e dele saiu a transformação de pelo menos ter o evento. Agora vai ter dele dar continuidade ao projeto. Agente sabe que tem que montar uma equipe, não é tão simples trazer uma Cufa pra cidade. Tem que colocar elementos na sua equipe, um coordenador que todos respeitem a idéia dele, pra que seja um todo. Não precisa ter só a idéia dele, sim de todo mundo, pra que todo mundo vá pro mesmo lugar. Por que há uma fusão de idéias. Pra mim foi muito difícil. Por que eu mexo com pedagoga, ação social, secretário executivo, hip-hop, esporte, tudo isso com a chapa da Cufa em Londrina. Então imagina cada um querendo uma coisa. Então tem que ser muito frio e muito amigo, pra não machucar e não magoar alguém que queira alguma coisa. Pra evitar aquele: “Pô, então você não olha prá nós...”. Não, agente olha, só que tem que ter paciência. Eu acho que a Cufa aqui por ter aqui umas comunidades muito grande, agente foi visitar aqui uma comunidade aonde tem um centro, tem salas, tem ginásio. Quer dizer, existe tudo perto da comunidade, mas falta alguém pra direcionar. E é isso que o MV Bill é, assim que o Davi Black é em Curitiba, assim como o Julio Santana é em Londrina, e assim em Guarapuava é também. E é assim que agente espera de quem for trazer a Cufa pra cá. Agente tem que pensar num todo. Não só em uma favela, ou em uma comunidade. Em Londrina tem 76, eu tenho 76 pra pensar. Pra pensar desse jeito o que eu tenho que fazer? Eu prefiro chamar o presidente do bairro e aquelas pessoas que já trabalham no bairro pra que aquilo de certo. Agente acaba fazendo o quê? Unindo o útil ao agradável e respeitando aqueles que estão a anos trabalhando. Essa é a forma de trabalho da Cufa-Londrina. Como vai ser aqui? Aí com o futuro agente vai saber...
domingo, 5 de julho de 2009
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