O Natal ainda demora a chegar. No entanto, as pessoas já correm umas atrás das outras, apressadas, carregando sacos, caixas, plásticos. As luzes já são múltiplas na cor, no tamanho e na quantidade. Piscam sem parar nas lojas, nas ruas, nas varandas...
À noite, o entusiasmo pelos passeios a pé aumenta. Porque as ruas já não são as mesmas de antes. As pessoas olham-se com mais ternura, as crianças brincam com mais alegria, o som e a cor dominam os nossos sentidos... Ainda se sente o calor do Verão de São Martinho e já as lojas têm pinheiros made in China, enfeites, gambiarras, bolas...
Estamos em Outubro e já há festa nas lojas e nos grandes centros comerciais, quando o sol ainda chama para os últimos dias de praia. É urgente despachar a mercadoria e iludir aquele que compra. Dar a idéia de que os acautelados não vão andar na confusão das compras. Pura Ilusão. Quem cedo começa, tarde acaba. Arrastado pelos outros, pelo espírito da época e pelo 13º mês. Pois o comércio entrou na guerra do comprar e vender. E assim garantir que ninguém se esquece de gastar o subsídio de Natal.
E tudo isto num autêntico delírio que quase nos faz desejar passar à frente e "saltar" o 25 de Dezembro e o Fim de Ano. Com as compras, vão chegar os jantares e os almoços. Dos amigos, dos colegas de trabalho, da família mais afastada. Uns a seguir aos outros, sem tempo para a digestão. Nos festejos e nas compras o ritmo é sempre o mesmo. Faz-se porque sim, porque é tradição. O Natal é tempo de estar com os outros e de dar presentes. Por isso começa-se cedo a comprar para a festa. Em prevenção, enche-se o carrinho de compras, troca-se as bolas vermelhas pelas azuis. Compra-se, compra-se. A consciência, os sentimentos de culpa, as nossas faltas, as nossas ausências... tudo muito bem embrulhado numa linda caixa dourada, com um grande laçarote vermelho. Sinto saudades do tempo com outras medidas. Esse em que os dias eram compridos, o Natal era Dezembro e demorava a chegar. E, quando entrava no calendário, vinha cheio de pequenos acontecimentos. Sinto saudades dos brinquedos, do pinheiro, do presépio, do meu vestido novo, do cheirinho a tinta fresca na casa, da fruteira abarrotada na sala de jantar...
Nesses tempos não se vivia por antecipação, por cautela, por conta do que ainda não tinha acontecido. No São Martinho comia-se bacalhau, castanhas e vinho novo. Porque para o resto havia muito tempo. Dias atrás de dias e tudo a seu tempo. Mas isso são coisas de quando o mundo era apenas o mundo e não uma grande máquina de consumo.
Fonte:
cacharel-confidencias.blogspot.com
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
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