A primeira vez que vi uma destas arvorezinhas carregadas tinha dezessete anos, a União Soviética havia caído e ser ateu já estava fora de moda. Parada na entrada de uma igreja na rua Reina, não me decidia a chegar perto do Nascimento e das bolas de cristal que ficavam penduradas nos galhos. As histórias do que aconteceu com quem foi excluído por ter uma crença religiosa me mantinham na porta. Boquiaberta em frente ao enorme abeto, deixei o medo e me aproximei do afetuoso presépio.
Com a abertura das lojas e o auge do turismo, as enfeitadas árvores se espalharam por todas as partes e o hotel Habana Libre chegou a ter a maior árvore da cidade. Os pais levavam os filhos para passear em volta do verde resplandecente iluminado pela estrela que o coroava. Mas alguns obstinados - pelo poder - consideravam cada árvore uma derrota que deveria ser revertida. Assim, tentaram nos devolver aquela paisagem aborrecida dos dezembros de 70 e 80, mas o gosto por pendurar as guirlandas já tinha contaminado algumas pessoas.
Depois de ver o piscar das luzes nos locais públicos, este fim de ano nos surpreende com o grato regresso de um bosque conhecido. Embaixo dos seus galhos, dorme uma mulher e seu bebê que ainda não conhece proibições, árvores banidas e nem cruzes escondidas embaixo das camisetas.
Tradução: Carol.
(Yoani Sánchez é filóloga e blogueira em Havana, Cuba. Recentemente, pela
popularidade de seu blog - Generacion Y - foi considerada pela Time uma das 100
pessoas mais influentes do mundo).
Acessem: www.desdecuba.com/generaciony
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