sexta-feira, 6 de março de 2009

Deusas do Cotidiano (Por: Sérgio Vaz)

O nome dessas mulheres eu não sei,
Não lembro e nem preciso saber.

São nomes comuns em meio a tantos outros
Espalhados por esse chão duro chamado Brasil.

Mas a maioria delas eu conheço, e conheço bem,
São donas de um mesmo destino:
As miseráveis que roubam remédios para aliviar as angústias dos filhos.
É quando a pobreza não é dor, é angústia também.

São as ladras de Victor Hugo.

Donas da insustentável leveza do ser, as infantes guerreiras enfrentam a lei da gravidade. Permanecem de pé ante aos dragões comedores de sonhos que escondem na gravidade da lei. Das trincheiras do ninho enfrentam moinhos de mós afiadas para protegerem a pança dos pequeninos.

São as Quixotes de Miguel de Cervantes.

Místicas, não raro, estão sempre nuas em sentimentos.
Quando precisam, cruas, esmolam com o corpo, e se postam à espera do punhal do prazer que cravam no seu ventre. É quando o prazer humilha.

São as habitantes do inferno de Dante.

Rainhas de castelos de madeiras, sustentam os filhos como príncipes, e os protegem da fome, do frio, e da vida dura e cruel que insiste em bater na porta dessas mulheres de panela vazia. Quanto aos reis, também são os mesmos:

Os covardes dos vinhos da ira.

Mágicas, esses anjos se transformam em rochas, quando a vida pede grão de areia.
Em flores quando rastejam e espinhos quando protegem.
Essas mulheres são aquelas que limpam tapetes, mas não admitem serem pisadas.
São domésticas, mas não aceitam serem domesticadas.

Sim, são as deusas do dia a dia.

Fonte: colecionadordepedras.blogspot.com

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