Em 1964 morreu Ary Barroso, Nelson Nobre, Cole Porter e Antônio Maria. Morreu também a democracia. Um golpe na noite de 31 de março, arquitetado pelos militares e financiado pelos Estados Unidos transformou os próximos 21 anos num dos capítulos mais tristes da história brasileira.
Noite de 31 de Março
* reproduzido do fascículo 01 da revista Caros Amigos sobre a ditadura militar.
A terça-feira transcorreu sem novidades para a imensa maioria do povo. Nem comunistas nem esquerdistas em geral acreditavam em golpe – eles, os “inimigos internos”, principais alvos dos golpistas. Tão despreocupados estavam que, no fim daquele dia e madrugada afora do 1° de abril, seriam surpreendidos em seus lares por policiais civis e militares e cairiam presos sem resistência alguma.
Até nas redações, aonde já chegavam notícias de um general rebelado em Minas Gerais, o grosso dos jornalistas considerava aquilo “uma quartelada” que o “esquema militar de Jango” sufocaria. Assim, no 31 de março de 1964, a quase totalidade dos 80 milhões de brasileiros recolheu-se sem sobressalto. Mas as 24 horas seguintes marcariam suas vidas para sempre.
“OS LIVROS, UM MONTE JOGADO NA RUA, AÍ TOCARAM FOGO”.
Max Moura, que se tornaria artista plástico, tinha 14 anos e fazia parte do grêmio, no Instituto de Educação de Florianópolis. Foi para a cama cedo, estudava de manhã. Assistiria a cenas medievais no dia seguinte.
[Eu morava no morro do Tico-Tico, atrás da praça XV, e à tarde ouvi que estava havendo um rolo, falavam: “É a revolução!” Desci e vi aqueles cavalos descendo pelas ruas de paralelepípedos. Só fui entender depois por que tanta rolha espalhada pelo chão: era para os cavalos escorregar. Ao lado da padaria Brasília, havia a casinha onde ficava a livraria do Salim Miguel. Invadiram! Porque tinha livros da Editora Vitória, filosofia, política, sociologia, marxismo. Era só livro voando! Juntou gente, uns ajudando a jogar os livros, outros catando. Fui feliz, peguei dois: Os Doze Trabalhos de Hércules e A Chave do Tamanho, do Monteiro Lobato. E os livros, um monte jogado na rua, aí tocaram fogo. Foi o que me marcou na “revolução”].
“Onde se queimam livros, cedo ou tarde homens serão queimados”
(Heinrich Heine (1797-1856) poeta alemão).
quinta-feira, 2 de abril de 2009
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