quinta-feira, 21 de maio de 2009

FAVELA Lugar de Trabalhador!!! (Por: Eliseu Pirocelli)

O Morro do Estado se levanta contra o capitalismo.

1° de Maio, 9 horas da manhã, um carro de som percorre as ruas do Morro do Estado, o maior morro de Niterói - Rj, em contingente habitacional. No microfone um antigo militante, Sebastião José de Souza de 51 anos de idade. Conhecido como TÃO, chegou ao Rio de Janeiro em 1962, com 01 ano de idade. Foi um dos fundadores do PT e há seis anos faz parte do Psol. TÃO faz parte do MTL (Movimento Terra e Liberdade) que é um movimento de luta pela terra e reforma agrária. O MTL está há seis anos com uma ocupação em Uberlândia, no Triângulo Mineiro onde trabalham a terra coletivamente. Nessa fazenda a terra não pode ser revendida pelos ocupantes e o trabalho funciona de forma coletiva. Como Rousseau pregava: “A terra não é de ninguém, mas os frutos são de todos”. TÃO faz parte ainda do SINDSPREV (Sindicato Saúde Previdência e Trabalho) que na sua opinião sinaliza o novo sindicalismo do século XXI com ideologia revolucionária de trabalho de base sendo gerenciado pelos trabalhadores mundiais buscando uma nova sociedade. Criaram o SINDSPREV Comunitário como uma forma de levar os sindicatos pra dentro das favelas, estruturar as periferias e discutir uma nova ordem mundial.

O carro de som transita pelas ruas do morro, o discurso é eloqüente e bate na tecla da atual crise mundial e da falência do capitalismo: “O que significa a crise? Significa menos educação, menos saúde, menos alimentação pro povo das favelas (...)
O trabalhador não pode pagar pela crise (...) Ela só é comentada hoje no mundo inteiro porque chegou aos poderosos. A gente já vive a crise desde que nascemos dentro de uma favela”. O ato foi organizado pelo MTL, AMME (Associação de Moradores do Morro do Estado), SINDSPREV Comunitário e DCE da UFF. Os organizadores fizeram questão de deixar bem claro que não se tratava de um dia de comemorações ou festividades e sim um dia de luta porque os trabalhadores brasileiros não têm muito o que comemorar. Enquanto o carro de som subia o morro convocando o povo pra se reunir no campo (que fica localizado no alto da favela) os militantes subiam entregando panfletos informativos pra população, pedindo a unificação de todos os trabalhadores contra o sistema capitalista. O informativo do Dia do Trabalhador diz que com o aprofundamento da atual crise capitalista mundial, os governos (federal, estadual e municipais) e as empresas privadas estão cortando direitos dos servidores e verbas dos serviços públicos de saúde, educação, e saneamento com gravíssimos prejuízos à população.

O panfleto falou ainda sobre as práticas discriminatórias que vem acontecendo por parte do governo. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) começou a construção de muros cercando as favelas cariocas. Essa postura segregacionista está indignando os habitantes. Outra atrocidade foi o chicoteamento de passageiros – a maioria negros e pobres – no trem da Supervia, na estação de Madureira, durante a greve de ferroviários ocorrida em abril. No morro do Estado, como nas demais favelas do Brasil, a maioria da população é negra e numa das teclas que a manifestação bateu foi a questão racial. Os organizadores do ato trouxeram á tona a triste realidade de que os negros e pobres das favelas têm sido os maiores prejudicados pelo desemprego decorrente da crise do capitalismo no mundo. “Não podemos aceitar que as favelas de hoje sejam tratadas como as senzalas da escravidão”, dizia no panfleto.

O povo se reuniu no campo onde aconteceria em instantes um torneio de futebol masculino e feminino. Algumas pessoas usavam camisetas com os dizeres: “Antes Senzala, Hoje favela”. As camisetas foram confeccionadas para um protesto pela morte de 05 jovens. No ano de 2005 a PM assassinou esses jovens com a desculpa de inibir o tráfico na favela. Isso impulsionou também as manifestações do dia 20 de Novembro que chama a atenção para a discriminação que a favela sofre por parte das ‘autoridades’. O estado do Rio de Janeiro conta hoje com um feriado do dia 20 de novembro em memória a Zumbi do Palmares, o herói negro que lutou até a morte pela liberdade dos escravos. No campo o discurso continuou, agora sobre o comando de Madureira, um exímio militante e um dos organizadores do ato. Madureira nasceu em Belo horizonte e chegou ao Rio há 11 anos. Cursa geografia na UFF e vive há dois anos no Morro do Estado. “Eu não nasci aqui, mas eu moro aqui e considero o Morro do Estado a minha casa”, disse Madureira. Desde que chegou ao morro envolveu-se na militância e desenvolve trabalhos sociais junto à Associação de Moradores. Recentemente trouxe para a favela o curso de soldador. É muito querido pela população e como trabalha na Universidade faz essa ponte da Academia com a Favela. Conseguiu 10 vagas de emprego para moradores do Morro trabalharem na Universidade.

Outro organizador do manifesto é o militante Fábio Silva, 38 anos, que ficou responsável pela macarronada que foi servida aos participantes do ato. Fábio, além de cozinheiro, é carnavalesco e trabalha há muito tempo com escolas de samba. Foi integrante por 04 anos da GRES Acadêmicos do Sossego de Niterói, por 01 ano da Portela - Rj, por 01 ano da Boi da Ilha – Rj. Entrou para a escola Bafo do Tigre do Morro do Estado em 2007 e com o enredo 1001 noites de boemias, ficou empatado em 1º lugar com a Acadêmicos Novo México no carnaval niteroiense. Em 2008 veio com o enredo aguardente- cachaça, da cana de açúcar ao líquido precioso e ficaram em 2º lugar. “O meu sonho é trazer o título de campeão pra Bafo do Tigre no próximo desfile”, falou Fábio, que deixou a família de classe média para morar no morro e lutar em prol do povo da favela. Na Escola Airton Senna (que fica dentro do Morro do Estado) ele desenvolve o curso de Adereços e Fantasias Artísticas para crianças e adolescentes. O curso visa a inclusão dos adolescentes formados, na Escola Bafo do Tigre, com trabalho remunerado.

Além de todo o manifesto, o torneio de futebol e a macarronada, aconteceu ainda o concurso de Funk e Rap. Com a apresentação do grande MC Guelo, os funkeiros e rappers mostraram suas músicas e composições. Guelo vive no Morro do Estado, é Mc de Funk e faz parte da APA FUNK. A APA Funk é uma organização que luta contra a criminalização do Funk no Rio de Janeiro. Com o Movimento Funk é Cultura organiza debates e shows onde resgatam o Funk de Raiz. O vencedor do concurso foi Du B, seguido por 2 D e Mano Zeu. O jovem Du B ofereceu o troféu ao seu avô falecido há uma semana.

O Morro do Estado é o único morro de Niterói que organiza o ato do 1º de maio. É de suma importância que os movimentos sociais e a população estejam organizados para lutar por seus direitos. A carta que foi entregue à população deixa isso bem claro: “A única forma de todos nós, moradores de comunidades carentes, resistirmos a esses ataques é nos unirmos e organizarmos para a defesa dos nossos direitos (...) Por tudo isso é que o 1º de maio de luta tem que ser feito dentro da favela, onde os trabalhadores sofrem a verdadeira opressão promovida pelo Estado”.


(Mano Zeu, 2 D, Mc Guelo e Du B)

Nenhum comentário: