Quando a questão é música como resistência um dos movimentos musicais mais lembrados é o Hip-Hop, que se caracteriza por ser um movimento integrado por práticas juvenis construídas no espaço das ruas, e assim ele é reconhecido como uma “cultura de rua”: a rua é referência não somente como expressão, mas de produção da arte juvenil.
Esse movimento passa a abrir possibilidades para a expressão e inclusão de jovens com baixo poder econômico. No Brasil, o Hip-Hop começa a criar proporções maiores na cidade de São Paulo na década de 1980, com diálogos com outros grupos urbanos como os Punks (que já trazia uma herança de cultura de subúrbio, produzindo músicas de protestos pregando principalmente o Anarquismo e a derrubada do capitalismo). A atuação do Hip-Hop se expande para os grandes centros urbanos de quase todo o mundo, propiciando assim, a formação de uma expressão cultural contemporânea, por se tratar de um movimento que nasceu no território das “bordas” urbanas, onde a questão da segregação racial se faz presente, a diferença social também é algo evidente na contextualização do movimento a problemática da exclusão/inclusão. O Rap possui varias influências musicais no território Brasileiro, essas influências vão desde sambistas antigos como Cartola, Jovelina a artistas mais atuais, como Tim Maia e Jorge Ben.
No Brasil o grupo que mais se destacou foi o Racionais Mc`s, que, desde o início dos anos 1990, passou a pautar temas que logo se tornariam modelares para o movimento como um todo, como violência policial, racismo, desemprego, desestrutura familiar, entre outros. Constituindo-se como uma referência quase que obrigatória para os demais grupos que surgiam no cenário do hip-hop nacional, bem como de outros movimentos.
Embora na atualidade seja muito comum associar a gênese do movimento à presença sempre marcante dos Racionais Mc's, ou, mais comumente, sua crítica social como “a voz da favela”, é importante ressaltar que dentro e fora de São Paulo assistia-se nesse mesmo período à emergência de outros grupos artístico-musicais que também se dedicavam à leitura e interpretação do cotidiano periférico desses grandes centros urbanos. Apenas a título de exemplo, podemos citar o Rap do GOG em Brasília; o Mangue-beat de Chico Science, na cidade de Recife; o Funk oriundo dos morros cariocas, além de outros artistas que lançaram músicas com cunho social e reivindicatório que surgiram no Brasil.
O Rap, Funk e Maracatu, ente outros gêneros, não são músicas e expressões que estão acima das transformações urbanas, ou dos sujeitos que o elaboram, como se fossem movimentos artísticos deslocados da realidade que o constitui; a música ao seu modo, também são frutos das transformações operadas e vividas no espaço urbano, e possibilidades que essas transformações sejam elaboradas e interpretadas por pessoas que, de outra forma, dificilmente teriam como expressar suas concepções acerca da experiência de morar na cidade.
Esses movimentos estão nas áreas consideradas periféricas da cidade, nas quais sua população é acentuadamente constituída por pessoas de pouca instrução escolar, baixo poder aquisitivo, e condições de moradia precárias, e cujos índices de pobreza e violência parecem fazer parte da vida cotidiana. Como exemplo desse processo citado acima, o Funk “ta tudo errado” da dupla de Mc´s Junior e Leonardo.
“Comunidade que vive a vontade com mais liberdade tem mais para colher
pois alguns caminhos para a felicidade são paz, cultura e lazer
comunidade que vive acuada tomando porrada de todos os lados
fica mais longe da tal esperança, os menor vão crescendo tudo revoltado
Não se combate crime organizado mandando blindado para beco e viela
pois só vai gerar mais ira, para os que moram dentro da favela
Sou favelado e exijo respeito, são meus direitos que peço aqui
pé na porta sem mandado, tem que ser condenado não pode existir...
A música acima pauta noções de direitos negados e reivindicados para a camada subalterna da população, lembrando que a população oriunda de favela não tem voz nos grandes meios de comunicação, a música de protesto aparece como uma grande possibilidade de ouvir os que os jovens marginalizados tem a dizer e deve ser vista como uma forma de resistir a esse mundo tão desigual.
Como diria o poeta russo Wladimir Maiakovski “A arte não é um espelho para refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo”.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
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