segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O Favelês x Intelectualês

Um debate lingüístico da crise do capitalismo. (Por Danilo George)

Esse texto tem por objetivo provocar um debate acerca da linguagem teórica e acadêmica da esquerda, uma vez que o comunismo, socialismo são ideologias formuladas e materializadas para impulsionar a classe trabalhadora para a superação da ordem burguesa do capitalismo. Mas há tempos tenho reparado a distância da linguagem marxista do seu povo, isso já era algo notável desde que eu começara a pesquisar na periferia de Foz do Iguaçu, quando percebi que muitos jovens da favela tinham receio em ouvir e dialogar com pessoas ligadas a Universidade devido as suas formas de se impor e principalmente de se expressar.

O que parecia ser um problema local de Foz do Iguaçu, ficou evidente em minha experiência ser algo mais complexo, há quatro meses andando e pesquisando em algumas favelas do Rio de Janeiro venho notando como os militantes de esquerda tentam dialogar com a favela, e vejo que esse dialogo, às vezes, caminha para uma torre de babel. Um debate central feito nas periferias hoje é o da crise do capitalismo, algo muito relevante de ser debatido na favela, pois eles são os que sofrem mais nesse processo, são penalizados ainda mais pela crise. O problema é que muitas vezes as falas feitas para essa camada da população é totalmente descolada da realidade periférica, operária, camponesa e toda esfera que se compõem a classe trabalhadora. Analisarei aqui um discurso feito por um intelectual renomado da esquerda que falava em um curso popular sobre a crise, a maioria do público era alunos de Cursinhos pré-vestibulares comunitários, pessoas oriundas de favelas. Vejamos “a crise atual é uma crise de superacumulação que se combina de forma explosiva com manifestações de superprodução e subconsumo”.

A cara dos ouvintes era de dúvida, espanto, alguns aplaudiram desconfiados, outros continuaram ali sentados aparentemente sem dar muita importância. Sai meio encabulado da aula, pensando na armadilha que os discursos das complexas teorias nos amarram, conversando com dois militantes do hip-hop eles disseram que não entenderam nada do que o professor quis dizer. Passado alguns dias, participo de um ato contra violência nas favelas, no ápice da manifestação um líder comunitário faz uma analise interessante da crise “O que significa a crise? Significa menos educação, menos saúde, menos alimentação pro povo das favelas, o trabalhador não pode pagar pela crise, ela só é comentada hoje no mundo inteiro porque chegou aos poderosos. A gente já vive a crise desde que nascemos dentro de uma favela, o capitalismo para o pobre não serve”.

Quanto ao intelectual que discursou pelo intelectualês deixou que percebemos como a esquerda hoje tem a prática de falar para si mesmo, foi um ótimo discurso "academicista" para economistas e universitários que também estavam lá, para os favelados aquele discurso infelizmente não serviu de nada.

O que se comunicou com o Favelês representou uma voz que é compreendida na favela, cumpriu o seu papel de formador mostrando que a crise não é instalada hoje, a população favelada já nasce na crise e a maioria vive com uma crise social permanente.

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