Edson de Carvalho O Artesão...
Na dança, na poesia, no grafite, no artesanato, Mano Edo, como é mais conhecido, dribla as dificuldades para moldar a própria vida. Há exatos 27 anos atrás, nascia nos braços do Porto Meira (uma das regiões mais populosas de Foz), esse mano de estatura mediana e cor de pele negra. É na região do Porto Meira que se concentra a maior população negra da cidade, em sua maioria habitando as favelas do Queijo, Morenitas, JK e Jd. das Flores. Mano Edo foi mais um que nasceu no meio de toda a desigualdade social de Foz do Iguaçu, uma cidade que encanta visitantes do mundo todo com suas belezas naturais transformadas em pontos turísticos, mas deixa seu próprio povo abandonado nas favelas, passando as maiores dificuldades para tentar sobreviver.
Quando criança vivia andando pelas ruas do Porto Meira, bairro em constante expansão na época, e parava na frente das construções. Como a maioria das crianças de periferia, não tinha condições de comprar brinquedos, então construía os seus. Nessas obras ele pegava os restos e sobras de forros para começar a fazer seus brinquedos. Começou aí sua paixão pelo artesanato. Com muitos anos de prática e aperfeiçoamento, Edo começou a ensinar artesanato para crianças do Porto Meira em um projeto que trabalhou como arte-educador. Começaram a construir uma favelinha, onde cada aluno fazia um barraco. Enquanto as crianças construíam a favela, Edo se ocupou em construir várias mansões com o intuito de montar uma Mini-Cidade. “Isso é uma forma da gente se expressar, né, num meio que envolve a desigualdade. A gente ta com um projeto em mente, que já ta passando de década, de ta montando uma Mini-Cidade com o nome do quadro dessa arte de 'A Desigualdade Social que a Gente Vive'. De um lado as mansãozinha, a burguesia, e do outro lado da rua a favelinha”. “Então eu construo tudo ao mesmo tempo, ao mesmo tempo que eu to mexendo numa grande eu mexo numa pequena, conforme as condições do material. As vezes tem cola e não tem palito, as vezes tem palito e não tem cola”. O projeto já passa de uma década e a principal barreira para a concretização é a questão financeira. A favelinha já está pronta, num total de 30 barracos, mas as mansões envolvem mais material. Uma casa grande demora em média 7 meses para terminar e são gastos de 200 a 300 reais de material para fazer.
Questionado sobre o porquê se construir uma cidade, Edo diz: “Na verdade essas casas representam amor a arte. Pra mim, construir essa cidade, é eu mostrar a arte que existe aqui na terra iguaçuense. É uma cultura, mas essa cultura é difícil de ser reconhecida”. Ele fala do descompromisso que a prefeitura tem com os artesãos e da falta de incentivo à cultura. Tentou expor suas casas na Fartal e na Fernartec, mas nunca conseguiu espaço. Ele não queria vender as casas, só expor, mostrar sua arte e explicar para o povo o porquê de gastar horas e horas do seu dia fazendo artesanato. “Eu acredito que o lado comercial que envolve o turismo dá mais lucro. No meu caso que a gente é favela, que é periferia, a gente não tem essa condição de tá pagando, de ta patrocinando eles ao invés de eles ta patrocinando a gente. Então essas vezes que a gente tentou expor a gente só ganhou decepção. Se eu não tenho pra comprar material, como eu vou ta pagando pra expor?”.
Atualmente Edo cursa letras, mas pretende fazer arquitetura, quando tiver oportunidade. Foi através do curso de letras que ele lançou seu primeiro livro de poesias em 2009. O livro “Líricas e Satíricas do Iguaçu”, traz uma coletânea das centenas de poesias que ele tem escritas sobre a cidade de Foz do Iguaçu. Se envolveu com a poesia há mais de 10 anos atrás, e de lá pra cá vem registrando poeticamente o seu cotidiano e o do povo iguaçuense. “A minha poesia no caso relata isso né, a vida do iguaçuense, ou seja, pode ser pessoas que até vieram de outros estados, regiões e países, mas especificamente eu escrevi deles aqui em Foz, não de onde eles vieram, simplesmente da vivência daqui de Foz mesmo”. O Rap influenciou-o bastante para que começasse a escrever poesia. Quando ouviu pela primeira vez a música 'Homem na Estrada' do grupo de rap paulista Racionais Mc's, a poesia da música o agradou. “A música deles diz que o homem vivenciou o mundo do crime e ele não queria mais aquilo né, ao mesmo tempo ele faz a critica social, política e econômica na música e isso foi o que mais me agradou nessa música que é uma verdade, né, que o homem buscou recomeçar a sua vida e não querer olhar mais pra trás. É a mesma coisa que as águas depois que elas passam, jamais vão passar de novo no mesmo lugar”.
Em 1993, Edo conheceu um doido que veio de São Paulo e começaram a treinar capoeira. Daquela amizade, por ambos gostarem muito de Rap, nasceu a vontade de dançar Break (um dos elementos do movimento Hip-Hop). Alguns anos depois conheceu o professor Michael, que coordena a CIA de RUA, e ministrava oficinas de Break na Casa do Teatro. Começou a treinar junto e passou a integrar essa Crew. Mais pra frente conheceu o Mano Adão, morador do Porto Meira e começaram a treinar junto. Os dois passaram a colar com o Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap e formaram a crew Cartel do Break, que hoje integra o Coletivo. Através da Crew ministrou várias oficinas de Break no Porto Meira. A respeito da arte-educação Edo diz que: “Ser arte educador é você gostar do que você faz. A gente tem que dar o amor primeiro às crianças pra gente começar a disciplinar elas. Porque a partir do momento que você tenta educar elas sem dar carinho, sem dar atenção você vai ter muita dificuldade. Tem criança que vem de uma estrutura que vem de casa péssima, né, dorme ruim e já fica ruim pra gente educar”.
Além de desenvolver o elemento Break, dentro do Movimento Hip-Hop, Edo se arrisca no Grafite. Junto com seu parceiro Woloco já grafitou alguns muros pela cidade. A capa de seu livro foi um desenho de sua autoria onde ele mostra a Ponte da Amizade, e lá em baixo o Rio Paraná e a Mata.
Apoio Cultural:
“A prefeitura, na verdade ela esquece da gente, ela não ajuda, e a gente ta tentando se ajudar, sem eles, porque se a gente for esperar por eles a gente morre de fome. No caso seria interessante eles olharem por todos pra tentar fortalecer os grupos de cultura, que creio eu que muita gente viveria melhor, né e tiraria muita gente do crime, da cadeia. Muitos escritores aí estão presos que não tem oportunidade, artesãos, pintores, músicos, capoeiristas. Se a prefeitura ou a Fundação Cultural ajudasse teria mais cultura e poderia influenciar mais gente, novos aprendizes aí que não conheceriam o mundo do crime”.
Sonho:
“É tentar tirar o pessoal da rua, tirar eles, né. E viver de uma forma, eu não queria mais passar sono, passar fome, frio, essas coisas assim. Não ter aquele máximo de conforto, mas apenas me alimentar na hora certa, me vestir um pouco bem, e não passar frio, essas coisas. Ter um estudo e o pessoal que anda comigo que estão a minha volta, ter uma ideologia como a minha, né, não fazer mal a ninguém e tentar viver aí, sobreviver”.
(Mansãozinhas que integrarão a Mini-Cidade)
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