sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Fotos: Iolanda Macedo - Texto: Lizal



Um rolê de bicicleta nos sábados a tarde em Marechal Cândido Rondon já faz parte da rotina de Iolanda Macedo, historiadora que estuda o Hip-Hop Paranaense. Quando esse passeio é num sábado pós-natal nem tudo o que se vê pelo caminho é agradável. Nesse ensaio fotográfico ela traz imagens de sacolas e mais sacolas de lixo produzidos pelo consumo desenfreado embalado pelas propagandas de fim de ano da mídia. Garrafas de refrigerante, de cerveja, embalagens de presentes, panetone, chocolate, suco, decorando a frente das casas.



Segundo o Dicionário Michaelis “lixo é aquilo que se varre para tornar limpa uma casa, rua, jardim etc.”. Mas nos dias atuais o lixo suja as ruas, praças e jardins, lota os aterros sanitários, polui rios e causa enchentes mundo a fora.



A mídia e os empresários capitalistas adoram as datas comemorativas, onde deixam de lado o significado real das datas e promovem o consumo de mercadorias. Recentemente a ênfase foi encima do Dia do Amigo, muito divulgado e promovido pelas marcas de cerveja. “Dia do amigo é dia de ir pro bar pra beber com os amigos”. Dão muita ênfase ao Natal, Ano Novo, Páscoa e pouca importância ao dia do Trabalhador, dia da Consciência Negra, etc.



Já faz alguns anos que deixei de me reunir com a família nessas datas comemorativas. Esse ano deixei meu orgulho de lado e resolvi descer na favela do Jd. Paraná para compartilhar com os familiares. O Natal na favela é muito doido. A rua parecia um formigueiro. Som alto, bebidas, paqueras, sorrisos, abraços. É impressionante, o povo todo entrando um na casa do outro, compartilhando junto. Ganhei abraços fortes, olhares sinceros, apertos de mão. Ouvi muitos dizendo: “É isso aí, tamo junto, sempre!!!”. Como eu gostaria de acreditar nisso. Chega segunda-feira e a rotina vai ofuscando e esgotando essa vontade toda de união e de sociabilidade. Uma semana inteira de trabalho, de exploração da força de trabalho, acaba com isso. Os corpos estão cansados demais e nós notamos que não estamos tão juntos assim. As grades e os cadeados nas casas, os portões fechados, a televisão ligada, a rua vazia, quase deserta.



O que resta é esperar a próxima festa, para consumir, consumir e consumir. É o que o sistema prega e quem foge a isso, quebra esse padrão, é taxado de miserável, de louco. “Como que não vai fazer uma ceia de natal?”, “Não vai comprar presentes ?”. Lembro que minha sobrinha me perguntou: “Onde você vai passar o Natal Tio?”. E eu respondi: “No mesmo lugar que eu passo o Dia do Trabalhador, O Dia Internacional da Mulher, O dia da morte de Zumbi...”. E ela me perguntou: “Quem que é Zumbi, Tio?”.



Compartilho do pensamento da Iolanda que registrou o flagrante e mandou uma idéia por e-mail:

“O natal se tornou a festa do consumismo, mas as pessoas não têm consciência das conseqüências disso. Não adianta a gente só reclamar do aquecimento global, das mudanças do tempo, mas senão olharmos pro lixo que produzimos...”.



A nossa sociedade precisa urgentemente mudar o rumo, a cultura do consumo, pois está caminhando para uma alto-destruição. Ainda mais depois do fracasso do Tratado de Quioto e da Conferência de Copenhague. O modo de produção capitalista se intensifica cada vez mais e suas fábricas detonam o meio ambiente sem pensar nas conseqüências. Enquanto os governos apóiam, investem e financiam a destruição, trata com descaso os movimentos de luta pelo meio ambiente e os nossos guerreiros catadores de materiais recicláveis. Fica a pergunta: Sobreviveremos ainda a quantos natais?

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