Mais um Cidadão José Cap. 35
O carro cortava a escuridão e levantava poeira da estrada de terra. Os malucos iam alegres e sorridentes naquele rolê pela noite paraguaia. O som alto ofuscava o canto dos grilos e demais animais noturnos. Os malucos cantavam em coro acompanhando a música que tocava no som do carro: “O movimento aqui é loco, então bate cabeça / se for chapar o coco, tenha consciência”. Os batidão da música do grupo Eloqüentes, de Foz do Iguaçu, deram um clima chapado e animado pro rolê. “é som pesado, contagiando os irmão / se tem rap na quebrada truta é só curtição (...) Vários guerreiros lutando por um futuro melhor / se adiantar sem atrasar o de ninguém, veja só”.
Chegando no centro de Hernandárias foram procurar um barzinho para tomar uns goles e azarar umas minas. O centrão estava movimentado, centenas de pessoas e carros transitando. Bares e mais bares abarrotados de gente.
- Olha isso aí. Os paraguaios sabem curtir. – Disse o Mano Branco, tirando um barato.
- Em qual função que você curte tio?
- Vamos no bar de um truta, um pouco mais pra frente. Lá dá pra jogar uma sinuca e tem várias gatas lá também.
- Demorô!!!
Chegaram num bar chamado Sconderijus. O dono do bar é brasileiro. O Mano Branco tinha amizade com o maluco e diz que ele colocou esse nome no bar porque veio fugido do Brasil e ta se escondendo da polícia. Ali é seu esconderijo. Conseguiu fazer os documentos de identidade paraguaio e pegou uma migração pra 10 anos de permanência no país vizinho. Mas não pensa em voltar nunca mais.
- Aqui eu vivo igual um rei. – disse o maluco que aparentava ter uns 38 anos de idade.
Os dois paraguaios fizeram dupla para jogar um bilhar contra o Mano Gê e o Mano Pio. José foi jogar contra o Mano Branco em outra mesa. As cervejas não paravam de descer. Vez ou outra pediam uma porção de calabresa e batata frita. O bar estava cheio, do lado de fora tinha dezenas de mesas, todas ocupadas. O som que tava rolando no aparelho de som do bar era um reggaeton. Num canto do bar algumas garotas ensaiavam uma dança, olhando pros malucos que jogavam sinuca. Era o dia da caça. O bar era conhecido pelas minas de esquema que colavam. Mas ultimamente, tinha umas minas que armavam casinha pros malucos. Começavam a beber com eles e depois os levavam pra uma quebradinha onde tinha uns malucos esperando pra assaltar.
O mano Pio ofereceu cerveja pra uma das minas e o Mano Branco coçou a camisa como que dizendo: “essas minas são cascão”. Uma hora depois ele e os dois paraguaios já estavam envolvidos, dançando um reggaeton com as minas. Elas pediram uma garrafa de uísque, mas quase não bebiam, queriam chapar os malucos. O Mano Branco avisou o Mano Gê de qual que era a fita e ele chamou os malucos num canto.
- As minas tão de casinha pra cima de vocês. Vamu num rolê mais loco.
- Mas cês são estraga prazeres memo!!!
- Bora lá.
O Mano Branco levou eles pra um quilombo, a meia hora dali. O lugar era um imponente casarão de dois pisos. Os seguranças revistaram os malucos antes de entrarem, mas eles haviam deixado as armas no carro. No piso de baixo havia uma pista de dança e um enorme bar. Mais pra frente havia uma porta de vidro que dava passagem para um quintal onde havia muitas árvores e uma piscina. No piso de cima ficava os quartos e tinha também uma grande sala cheia de sofás. Um projetor estava montado e dezenas de garotas estavam nos sofás com alguns malucos assistindo filme pornô e tomando uns goles. Havia luzes de neon em toda parte, igual nas danceterias.
- Isso aqui é um paraíso. Cinco estrelas!!! Cê sabe curtir hein Mano Branco. -Disse o Mano Pio, todo empolgado.
Dezenas de garotas quase sem roupa desfilavam pra lá e pra cá à procura de clientes. Muitas paraguaias e muitas brasileiras trabalhavam ali. Muitas delas, menor de idade. O Mano Gê e o Mano Pio arrastaram duas garotas pra piscina. Pediram uma garrafa de uísque e ficaram tomando com as minas. Os dois paraguaios foram pro andar de cima assistir filme pornô com as garotas. José e Mano Branco sentaram no Bar pra tomar cerveja e observar as garotas transitando. Dez minutos depois já estavam acompanhados. As garotas ganham uma porcentagem encima das bebidas que elas vendem, então são elas que buscam as bebidas pros caras que estão acompanhando. Tudo ali é pago na hora que pede, então nem sempre elas devolvem o troco. Quando percebem que os malucos estão muito chapados emborssam o dinheiro. Vez ou outra levam umas porradas de algum maluco que percebe a malandragem, aí os seguranças agem e expulsam o maluco do local. As minas que arrumam esquema com os malucos ficam com todo o dinheiro do programa e o aluguel do quarto vai pro dono do quilombo. Isso dá pra elas a vantagem de negociar diretamente com os clientes. Dos malucos mais idosos ou feiosos elas cobram mais caro. Tem história de mina que foi até de graça com um rapaz que ela gamou. Elas também amam.
O Mano Branco e o José já estavam chapados e as minas pareciam estar começando a beber agora. Eles não percebiam, mas as minas jogavam todo o gole dentro de um vaso de planta que ficava no chão próximo ao lixeiro. Havia dezenas desses vasos espalhados pelos cantos. Todas as minas faziam essa malandragem com os malucos, dificilmente sairiam dali chapadas. A grande maioria delas eram viciadas em cocaína e o entra e sai no banheiro feminino era constante. A morena que estava do lado do Mano Branco sentou em seu colo e começou a adulá-lo para conseguir um programa. Era paraguaia e tinha um sotaque engraçado. A loira que estava do lado de José era brasileira, mas devido ao tempo que mora no Paraguai, herdou o sotaque das amigas. Meia hora depois a morena pediu a chave de um quarto pro copeiro e o Mano Branco pagou adiantado os 40 reais pelo aluguel de duas horas. Como ele era jovem a mina cobrou 80 reais pelo programa. Pegaram algumas bebidas e subiram, deixando o José ali com a loira. Alguns minutos depois era o José que estava subindo com a loira. Ele estava muito chapado. Há alguns meses atrás José repudiava garotas de programa e agora estava ali levando uma pro fight.
Depois do ato consumado a mina abriu a bolsa e tirou uma buchinha. Foi até a pia do banheiro e esticou uma carreira. Deixou a porta aberta e percebeu que José estava olhando. Ofereceu, mas ele recusou. Ela fechou a porta e ligou o chuveiro pra tomar um banho gelado.
Quando retornou, José estava cochilando sobre a cama, chapado. A loira tirou lentamente a carteira do seu bolso e pegou quase todo o dinheiro.
(Lizal, na próxima edição mais um capítulo)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
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