quinta-feira, 21 de maio de 2009

As muitas faces de Foz do Iguaçu (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli)

Aluízio Palmar e a sua trajetória de luta



Aluízio Ferreira Palmar nasceu em 1943, em São Fidélis, região norte do Estado do Rio de Janeiro. Em sua juventude estudou jornalismo na Universidade Federal Fluminense e, devido à sua militância revolucionária, foi preso e banido do país. Dissidente do PCB fluminense liderou a primeira tentativa de luta armada contra o regime no final dos anos 1960. Em suas palavras ele expõe o que viveu naquele período. “Na época eu era quase dirigente do Partido Comunista Brasileiro e nós abrimos uma dissidência... nacional contra o partido, por que eles tinham adotado uma linha pacífica, conciliadora, e nós decidimos pegar em armas contra a ditadura, devido a uma série de situações, fizemos uma análise do momento político até uma análise da realidade nacional das contradições de classe do País, ou seja não foi uma decisão temperamental, foi uma decisão pensada, foram meses, noites de estudos e reuniões, debates, foi assim que chegamos a decisão de fazer a luta armada”. “Devido a nossa prática a gente adotava práticas de resistência como manifestações públicas, passeatas, pichações, panfletagens, mas já estava ficando mais difícil fazer isso de forma desarmada, então começamos a fazer a propaganda contra a ditadura, armada, por que nós tínhamos que resistir diante da atrocidade que havia.

Sobre a prisão ele explica: “Em 1969 fui preso, na região e em 1971 depois de passar por varias prisões, vários quartéis desde aqui no Paraná até o Rio de Janeiro, saí da Ilha Grande algemado fui para um batalhão colocado em um Boeing da Varig e mandado pro Chile, de 1971 até a anistia tive uma vida assim esquisita, meio complicada, uma vida clandestina. Foram 8 anos de clandestinidade, eu só emergi da clandestinidade em 1979, por que já estava muito difícil a minha situação, aí voltei pro Rio, fiquei em Cabo Frio, em maio de 1979, cheguei ali, poderia ser preso a qualquer momento, mas o País já estava passando por um período de transição para a democracia, o projeto da anistia já estava sendo discutido na câmara dos deputados, e em setembro foi prorrogada a anistia.

Nesse processo ele ficou com uma vida dúbia entre Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu como ele explica: “Eu tinha que ficar lá no Rio de Janeiro, eu precisava ficar lá, as coisas aconteciam no Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Ali as coisas aconteciam, o País estava emergindo de uma ditadura, passamos por um momento de transição e as coisas tinham que acontecer naquele momento, o surgimento dos partidos a legalidade, táticas de luta, ou a gente ia por uma transição lenta ou uma mais radical, eu estava ali no meio daquela confusão, e minha família em Foz do Iguaçu. Eu casei com uma mulher daqui e ela ficou aqui, eu queria ficar lá, que lá as coisas estavam acontecendo, mas a minha mulher me pôs contra a parede “ou a revolução ou eu”, aí eu fiquei naquele dilema do cacete, vou pra Foz do Iguaçu, e vou fazer minha revolução lá”.

Com a anistia voltou ao Brasil e se radicou em Foz do Iguaçu. Sobre a historia da cidade ele faz um desabafo contra os arquivos que estão presos na sede da polícia federal da cidade: “A história não de Foz do Iguaçu, mas do Oeste do Paraná, tudo que a gente sempre quis saber dessas cidades, estão ali, no arquivo você tem todos os documentos da ditadura, por que todo mundo foi investigado pelo estado policial. Esses documentos gerados pelas investigações eram difundidos pro exército, marinha, os documentos do serviço da inteligência da ITAIPU era difundido pra polícia federal. Havia entre esses serviços uma troca de documentos e de fusão nacional, então ali tava tudo. Muitos documentos, muita coisa, documentos que você não tem acesso no Rio, São Paulo, estão aqui, por que queimaram. A ITAIPU, por exemplo, queimou tudo, não sobrou nada. O Neísmo, que vêm de Ney Braga, quando entregou a ITAIPU em 1985, queimou tudo. Esse arquivo é muito especifico, não só a questão política, mas também o social, ali você encontra documentos de investigação, sobre possíveis células nazistas aqui em Foz do Iguaçu, na década de 1940, um rastreamento feito do Mengele mostrando que ele passou em Foz, documentos de tráfico de armas, drogas, então são documentos históricos que você começa a garimpar. Tem documentos de presos árabes, coreanos, e outras nacionalidades de pessoas que entraram aqui de forma clandestina ou semi-clandestina, isso gerou uma série de inquéritos, a história complexa de Foz do Iguaçu, a investigação de políticos, corrupção, que a PF investigava ta tudo aqui dentro”. Sobre o exílio e a profissão de jornalista ele argumenta: “Eu quando voltei da anistia, fui trabalhar na imprensa, no jornal hoje que era um jornal muito bom que funcionava ali na Vila Yolanda, eu já recebia do exílio esse jornal, um jornal comercial, mas bom, posteriormente esse jornal foi vendido a um grupo que pertencia ao antigo regime, aí eu e o Juvêncio Mazarollo fomos mandados embora”.

Aluízio é conhecido por sua linha editorial rebelde e alternativa. Atuou ainda em outros meios de comunicação do estado do Paraná. Ele fala um pouco desse processo: “Eu e o Juvêncio fomos montar um novo jornal, e eu tinha uma tarefa que era procurar os desaparecidos políticos, aí eu fui procurar aqui os desaparecidos do meu universo, meu mundo que era Foz do Iguaçu, aí desde aquela época eu vinha pesquisando, analisando e revirando o grupo de Seis pessoas que desapareceram aqui nessa região, o grupo da VPR”. Dessa pesquisa lançou seu primeiro livro Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Aonde retrata sua obsessão que perdurou por 26 anos de busca de companheiros da VPR, que foram mortos no parque nacional.


Aluízio exerceu os cargos de secretário de Comunicação Social e de Meio Ambiente na Prefeitura de Foz do Iguaçu. Atualmente ocupa o cargo de chefe de Gabinete da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.

(Continua na próxima edição)

3 comentários:

Anônimo disse...

merecida homenagem ao Aluizio, um grande homem, um exemplo...
valeu moçada, força sempre...

Robson Laverdi disse...

merecida homenagem ao Aluizio, um grande homem, um exemplo...
valeu moçada, força sempre...

FANZINE CARTEL DO RAP disse...

Com Certeza...

Grande Aluízio!!!

Temos muito o que aprender
com a sua história de luta...

Saudações Revolucionárias!!!