Vida nossa de todos os dias
Anísio era mais um criança que cresceu sonhadora, essa era a principal forma de manifestação de uma criança suja de terra que vivia entre brinquedos de plástico, árvores, tijolos e cachorros de estimação num quintal de uma casa humilde nos idos dos anos 80 na região periférica do PORTO-MEIRA em Foz do Iguaçu. Anísio não sofria simplesmente pelo fato de ter sido criado em uma favela que não contava com posto de saúde, água encanada e espaços de lazer, sofria também pela sua nacionalidade; era zoado na escola por ser de família Paraguaia, assim teve uma vivência cheia de conflitos. No colegial se sentava no fundo da sala de aula por ter vergonha da sua nacionalidade e de seu tênis encardido e da barba precoce e de não poder freqüentar as mesmas festas e namorar as mesmas meninas que a maioria dos seus colegas almejavam. Sonhar se tornara uma necessidade maior quando seu pai então Missionário falecera e deixara com Anísio uma grande responsabilidade: o de sobreviver com mais quatro irmãos naquela vida dura, assim ele trabalhou com jardinagem podando e regando plantas na casa de bacanas, mas ele queria algo mais para a sua vida do que ficar juntando folhas secas, e mais uma vez recomeçara a sonhar. Carregava em sua memória as histórias contadas pelo pai missionário, visualizando as experiências de viagens vividas por ele.
Toda vez que Anísio andava com sua bicicleta Barra forte pelas ruas embarradas do PORTO-MEIRA, sonhava que estava viajando pela América-latina e prometia para si mesmo que um dia realizaria seu sonho, quando dizia aos amigos que queria conhecer melhor países como Paraguai, Venezuela, Cuba, mais uma vez era vitima de piadas e chacotas, pois os outros sonhavam com o EUA, Paris, Alemanha “paises desenvolvidos” de cultura dominante e achavam que esses paises não possuíssem nada de interessante. O tempo passou e sua paixão pela cultura sul-americana se aflorou ainda mais, assim começou a cursar História querendo estudar os incas, astecas, maias, mas, para sua infelicidade a matéria de América só seria trabalhada no terceiro período, assim ficara frustrado mas, mais uma vez começou a sonhar com o contato com o povo latino e foi seguindo em frente. Durante a graduação discutiu ferrenhamente com os professores da universidade para que a guerra do Paraguai fosse vista de outra maneira, que não fosse reproduzida a historia oficial Brasileira, pois por ele pertencer a uma família paraguaia sabia como ninguém como aquela guerra foi cruel e covarde, lutou mais uma vez para que os historiadores revissem a historiografia e buscassem uma outra realidade para a historia do povo latino-Americano, infelizmente ele não conseguiu, mas hoje se orgulha por ter conseguido mudar a sua própria realidade.
Seu grande patrimônio acumulado fora um monte de livros do seu autor preferido Eduardo Galeano, um violão e diversos discos de Mercedes Sosa, Violeta Parra, e o som dos músicos cubanos do Buena Vista Social Club, após terminar sua graduação teve dois diplomas: o de historiador e o de ter conquistado amizades sinceras em seu tempo de faculdade, entre elas a de Rosa, uma professora também apaixonada pela América – Latina que se sensibilizou com aquele jovem que passava muita dificuldade e levava os estudos tão a sério, e sonhava simplesmente em ser um viajante. Assim Rosa começara a dar força para que Anísio investisse em seu sonho e começasse a viajar pelos paises próximos de Foz do Iguaçu (Paraguai e Argentina) ao iniciar sua trajetória pelo Paraguai ele encontrou sua identidade, conseguiu ver o que o seu pai o dissera: um pais agrário pouco moderno, com um povo fanático pela música Brasileira, e muito receptivo.
Anísio andou pelas praças, freqüentou as populares feiras, se banhou nas águas cristalinas das cachoeiras Paraguaias, se hospedou na casa de diversas famílias e lembrou o quanto fora tirado, zoado por seus amigos que viam naquele País uma barbárie. Ao retornar emocionado e com a alma satisfeita pela grande experiência, sentindo que seu sonho começara a se realizar, dizia para os amigos debochados: “não vão ao Paraguai lá não tem nada de mais”.
Assim ele guarda as belas fotografias e as boas historias para os quem ele julgue que sejam merecedores de ouvi-las, pois ele aprendera que o que a vida lhe traria de melhor fora os sonhos sonhados e compartilhados com os amigos verdadeiros, sinceros e eternos como Rosa. Dessa maneira Anísio soube avaliar que sonhar coletivamente é sonhar ainda melhor.
“Danilo George Ribeiro – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.
domingo, 2 de agosto de 2009
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