segunda-feira, 24 de agosto de 2009

FORA AS TROPAS BRASILEIRAS E INTERNACIONAIS DO HAITI



Após uma revolta escrava ocorrida no final do século XVIII, o povo preto haitiano, escravizado pelos colonizadores franceses e seus descendentes, conseguiu libertar-se. O Haiti foi o primeiro país da América a se tornar independente. A partir de 1971 começava as revoltas do povo preto haitiano contra o exército francês e a burguesia colonialista. O ex-escravo Toussaint Louverture liderou a revolução que em 1804 tornou livre, pela força do povo, a nação haitiana. Os brancos que sobreviveram a essa rebelião foram obrigados a fugir para a França e reconhecer a independência daquele país. Esse processo de independência diferencia-se dos outros ocorridos na américa-latina que geralmente foram comandados pela burguesia, esse representa a força do povo contra a dominação e a escravidão. O exemplo de uma nação emancipada em decorrência de uma rebelião da classe subalterna não poderia se espalhar pelo resto da América, que ainda vivia sob o sistema escravista. Desde então, esse pequeno país da América Central, é vítima de ataques constantes, velados ou declarados, dos países imperialistas, principalmente dos EUA, até os dias atuais. Hoje a população haitiana vive na miséria. O Haiti é considerado o país mais pobre da América, onde 75% da população vive com menos de US$ 2,00 por dia e 80% está desempregada. Apesar da revolução dos escravos, o Haiti foi alvo de vários golpes de Estado e de intervenções militares em defesa da manutenção de interesses estrangeiros associados às classes dominantes locais.

Entre latifundiários e grandes burgueses, 3% da população, representada essencialmente por grandes empresários, forma a elite econômica que manda no país e submete à miséria o restante da população. Novamente o povo do Haiti se revoltou em defesa de sua sobrevivência, foi às ruas em grandes protestos, saques, fazendo até greves gerais. No início de 2004, aconteceu uma intervenção do governo dos Estados Unidos, forçando o então presidente (Aristide) a renunciar e deixar o país. O fato de o governo Lula estar interessado em ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU faz com que esteja pronto a atender qualquer pedido daquela organização. E se aproveitando disso, a ONU pede para que o Brasil envie tropas para sufocar a revolta popular. A missão, chamada de Minustah (Missão para Estabilização do Haiti da ONU, na sigla em francês) vem massacrando a população do país caribenho. Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru, Bolívia, Benin, Canadá, Turquia, Portugal, Chade, Jordânia, França, Croácia e Nepal, formam a missão que tem o comando do Brasil. A Minustah conta com 6.800 soldados e 2.000 policiais, mas pode aumentar seu efetivo, pois a Colômbia estuda a possibilidade de enviar suas tropas. Os interesses estrangeiros com a ocupação são representados pelos USA, que sempre acompanhou de perto os acontecimentos e exigiu que se adequasse o Haiti à receita imperialista subordinando-o aos organismos dos banqueiros internacionais. Um dos objetivos é controlar um país que está estrategicamente situado entre Cuba e Venezuela. E além disso, é muito interessante para o governo estadunidense a criação de mais um pólo de indústrias, onde corporações como Nike e Adidas possam produzir seus artigos esportivos pagando um salário de miséria aos trabalhadores. Além do imperialismo ianque, empresas brasileiras também estão se aproveitando da situação miserável a que vem sendo submetido o povo haitiano. A construtora OAS (acusada de causar o famoso buraco do metrô em São Paulo, que matou sete pessoas), obteve licitação de uma rodovia no Haiti por US$ 145 milhões. Além da OAS, a empresa da família do vice-presidente do Brasil, José de Alencar, está prestes a se instalar no Haiti. Em 2005 a SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), sob o comando da então ministra Matilde Ribeiro – aquela que gastou R$ 171.000 do nosso dinheiro em futilidades como salão de beleza, free-shoop, entre outras – convidou organizações de Hip-Hop de integridade negociável para preparar em conjunto a Campanha Pense no Haiti, Zele pelo Haiti, com shows, seminários e arrecadação de material escolar. Os grupos de Hip-Hop comprometidos com a luta dos povos oprimidos entenderam que essa campanha, assim como o jogo da seleção brasileira de futebol, pretendia maquiar o verdadeiro caráter da invasão. Não vemos verdade nas intenções pacificadoras de uma Organização das Nações Unidas que permitiram a invasão do Iraque pelos EUA, e apesar dos apelos, se negou a enviar suas tropas para Ruanda, permitindo os Htus matarem 800.000 tutsis em 100 dias (8.000 assassinatos por dia). No momento em que uma delegação haitiana viaja o Brasil, estado por estado, para denunciar as atrocidades cometidas pelas forças de ocupação da ONU, lideradas pelos militares brasileiros, o rapper MV Bill apareceu no Domingão do Faustão propagando as “benesses” da invasão militar naquele país. Em seu Site MV Bill e CUFA também dizem-se favoráveis a ocupação dos morros cariocas pelo B.O.P.E. De nosso lado, estamos dispostos a cooperar com qualquer iniciativa de solidariedade ao povo haitiano, desde que ela respeite a sua luta, a sua autodeterminação. Não caímos no engodo de que as tropas brasileiras lá estão para controlar a desenfreada violência das gangues marginais locais. Para isso basta entendermos que todo individuo ou grupo que luta contra uma classe dominante está sujeito a esses rótulos desqualificantes como no caso das FARC - taxada de quadrilha de traficantes – ou mesmo nossos heróis e heroínas que deram suas vidas lutando contra a ditadura civil-militar brasileira, mas que as autoridades e as grandes corporações de comunicação à eles se referiam como assaltantes, seqüestradores e terroristas. Nós pensamos no Haiti e defendemos que zelar pelo Haiti é, também, através da nossa arte, gritarmos pela retirada das tropas brasileiras daquele país.

E por esse manifesto, convidamos grupos, posses, crews, organizações, B. Boys/Girls, graffiteiros/as, MCs e DJs, Movimentos Sociais para, juntos, construirmos uma campanha de mobilização para exigir do governo brasileiro a desocupação do Haiti, retirando já o seu exército de lá.

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