Nossos heróis não morreram de overdose, muito menos nossos inimigos deixaram o poder. Os heróis da televisão em Foz do Iguaçu falam, com sangue nos olhos, de mortes e violência. Eles gritam, esperneiam, alardeiam, conjugam de forma errada os verbos e adoram as gírias. Usam e abusam do poder da mídia eletrônica e televisiva com influência direta e certeira nos lares da cidade e da região. Manipulam o pensamento coletivo, tocam terror e pavor em meio à sociedade, com o claro objetivo de manter inertes as reações, popularizando o drama geral e atraindo a atenção de todos, a fim de preservar a inabalável audiência. Outro dia, em um evento relacionado à literatura, o apresentador de um programa policialesco da cidade brilhou em meio às crianças presentes no local. Na ocasião, pequenos infantes se apressavam a pedir autógrafos, prestar homenagens e destinar calorosos abraços ao “comunicador” de catástrofes. Vejamos o nível em que chegamos. As referências da televisão viraram os profetas do Apocalipse. As crianças, presente e futuro da sociedade, espelham-se em declarações, encenações, caretas e bizarrices difundidas por tais apresentadores de sangue, morte e crueldade. Crescem assistindo e ouvindo sobre a violência, sobre a falta de segurança e sobre a falência da sociedade e o seu modo de vida. Apresentadores e programas desta natureza prestam, sim, um desserviço de ordem social e pública.
Eles não apresentam caminhos, soluções ou alternativas à sociedade. Vivem das tragédias e precisam delas. Por isso, não constroem nada, apenas desconstroem e deturpam a sanidade social das pessoas com agressões psicológicas ao imaginário coletivo. Mas a responsabilidade precisa ser dividida. Os exemplos precisam partir de dentro de casa, seguir para as questões governamentais, terceiro setor e desbocar nas escolas. É aquela velha história: como querer que um filho goste de ler se eu, o pai, não abro um jornal, uma revista, um livro de cruzadinhas em sua frente. Aos pais, atenção aos ídolos (politeísmo televisivo) adorados pelos filhos. Às crianças, uma melhor sorte e o desejo de que não assimilem ou pouco assimilem essa escandalização do ridículo na TV. E, aos apresentadores e seus programas, desejo, sinceramente, uma overdose de moralidade e respeito às famílias.
(Pedro Lichtnow é jornalista e editor do Megafone.
Fonte: www.megafone.inf. br).
terça-feira, 3 de novembro de 2009
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