segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
INVASÃO DE FAVELA (Por: Eduardo Marinho)
Trabalho executado sob forte comoção, durante uma série de operações policiais em várias comunidades pobres. Na ocasião, mais de uma centena de pessoas foram mortas, todas sob alegação policial de resistência, grande parte delas sem nenhum envolvimento com atividades criminosas. O aparato de segurança do Estado é atirado contra a população das favelas, enquanto a mídia criminaliza a pobreza cotidianamente, ligando a pobreza ao tráfico de drogas, à bandidagem e à violência, sem lembrar a omissão do próprio Estado em relação às populações em áreas de exclusão social, onde faltam saneamento básico, escolas que ensinem de verdade, condições de formação profissional, atendimento de saúde com recursos e qualidade, noção de cidadania, informações, urbanidade.
Durante essas operações, milhões de pessoas vivem o inferno da conflagração, tiros de fuzil varando paredes, atingindo qualquer um, homens, mulheres, crianças, idosos. O medo de ter familiares e amigos mortos ou feridos é uma constante absurda, o pavor na hora de ir à escola e ao trabalho, o temor dos que ficam em casa esperando a volta dos que saíram, o coração aos saltos ao ouvir tiros nestes horários, mais que em outros, é uma injustiça imperdoável com essa coletividade já tão sacrificada.
Senhoras se juntam em orações para que Deus proteja seus filhos e netos, senhores silenciosos permanecem com olhares sombrios, calados e ausentes. A polícia invade essas áreas entrando em qualquer casa, de armas apontadas, escorados no instrumento jurídico "mandato de busca coletivo", criado especialmente para comunidades pobres. Nestas ocasiões, um espirro pode decretar a morte de alguém, pois os policiais estão em estado de tensão máxima e atiram sob qualquer pretexto, pois têm a garantia da impunidade. O histórico de mortes de crianças, adolescentes e jovens é avassalador, embora ignorado pela mídia, e faz pensar em processo de extermínio intencional de pobres, já que os verdadeiros donos do tráfico de drogas e do crime organizado estão longe das favelas, têm empresas legalizadas e transitam facilmente entre os poderes constituídos, em ligações com políticos e autoridades do Estado e gozando de todos os privilégios das elites. A grande maioria das favelas nada tem a ver com o crime, embora seja obrigada a conviver com armas e o tráfico que, na ausência do Estado, impõe suas leis a essas comunidades abandonadas à própria sorte. Ali, só se conhece ações do governo pelo seu braço armado, pela repressão.
Esta pintura é expressão de solidariedade do autor com essa massa de pessoas sabotada, excluída, empobrecida e criminalizada por um Estado feito refém de elites, das grandes empresas nacionais e multinacionais, posto a seu serviço, contra a maioria de sua população, roubada em seus direitos fundamentais enquanto estas elites gozam imensos privilégios, egoístas e insensíveis, mutilados na melhor parte de sua humanidade, sem solidariedade ou senso de justiça.
(Eduardo Marinho é arteiro, penseiro e escrevinhador)
Fonte: www.observareabsorver.blogspot.com
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