
NÓS PREFERIMOS A UNIÃO
“Eu to fazendo o que o sistema quer”. Facção Central.
O rapper Kamal deixou muitos malucos confusos quando gravou sua música Numtointendendu: “Se o culpado é o sistema, então me explica / quem é esse tal de sistema que não se identifica?”.
Após a pergunta ele deixa os manos pensarem um pouco e depois continua cantando: “Não sabe, né? Como eu pensei”. A grande maioria dos ativistas do movimento hip-hop se afirmam como “anti-sistema”, mas nem todos põem em prática. Facção Central foi categórico na música: Eu to fazendo o que o sistema quer.
“Trocaram minha caneta pela escopeta (...) me ensinaram que conforto só com o doutor morto (...) vim cobrar com juros meu sonho de formatura (...) mas infelizmente o que o sistema quer / sou eu com fome atirando na madame de chofer”.
A resposta pra pergunta do Kamal é: “O Sistema Capitalista”. Esse é o sistema que criticamos em nossas músicas. Mas ao ouvir a música do Facção cria-se uma confusão: Porque o sistema vai querer o ladrão de escopeta na mão, invadindo mansões, atirando na madame de chofer?
- Porque a violência é muito lucrativa. Assim eles continuam fabricando e vendendo armas e munições. Vendem coletes à prova de bala, algemas, veículos, combustível para abastecer os carros da polícia e dos ladrões. Lucram milhões com os sistemas de segurança, câmera, cerca elétrica, blindagem, seguranças particulares, condomínios fechados. Vendem jornais e revistas mostrando as vítimas e vendem centenas de produtos durante os programas policiais e os jornais da televisão. Vendem seguros de vida, cursos para segurança, cursos para instalação de alarmes e cercas elétricas e milhares de outras formas de lucrarem com a violência. A pessoa que segura um revólver está fazendo exatamente o que o sistema quer. Porque a elite não sofre com a violência. A elite nem mora no Brasil, sente nojo de países do “terceiro mundo”. A elite nem pisa no chão, vive de lá pra cá andando de helicóptero. Quem lucra com a violência não sofre com ela, a violência não os amedronta, o lucro advindo da violência lhes dá luxo e uma vida a pampa, segura.
Na música Discurso ou Revólver, Facção Central dá o diagnóstico:
“Tá na hora de parar de mofar no presídio / de estar no necrotério com uma par de tiros / de ser o analfabeto comendo resto / o viciado que o denarc manda pro inferno (...) te dão crack, fuzil, cachaça no buteco / esse é o campo de concentração moderno (...) não adianta ser milhões se não somos um (...) Sem união é impossível a Revolução”.
“Sem União é Impossível a Revolução”. Há oito anos atrás, uma galera se uniu e formou a Banca CDR, para juntos ajudarem a construir o movimento hip-hop na cidade de Foz. Construir por construir? Não!!! Unir forças para espalhar a consciência e ideologia revolucionária e para se opor ao capitalismo que lucra com a nossa morte, com a morte das pessoas que gostamos, com a morte de centenas de jovens.
A Banca CDR não apóia a competitividade e sim o Coperativismo, trabalhar junto por uma causa. O Hip-Hop não é campeonato pra ver quem vende mais cd, quem faz mais shows, quem grafita mais muros, quem dança mais, Hip-Hop é união. Essa é a nossa concepção. Essa é a nossa bandeira. Somos milhares de formiguinhas nesse universo gigante, mas não podemos pensar pequeno, nunca. Nos dias de hoje o capitalismo seduz, abraça e afaga os irmãos, desde que eles tenham dinheiro para gastar. O capitalismo joga mano contra mano: “Uma fatia do bolo? / se orienta doidão!!!”. Não são todos que querem trabalhar coletivamente. É isso que o sistema quer: “Dividir pra conquistar”, separados somos mais fracos. Assistam ao filme Bug's Life (Vida de Inseto). As formiguinhas se uniram e derrotaram os gafanhotos gigantes!!!
É por essa e por outras que NÓS PREFERIMOS A UNIÃO!!!
Eu nasci no dia 11 de abril, mas faço aniversário no dia 15 de setembro. Essa é minha homenagem à Banca CDR, que foi criada no dia 15 de setembro de 2000, o dia do meu renascimento, quando eu acordei pra vida e flagrei qual que é a desse sistema.
A favela chora a morte do Mano Everton Luiz Fernandez, 17 anos, assassinado dia 10 de setembro no Cidade Nova. Descanse em paz mano.
Boa leitura pra todos e tentem ficar na paz.
Ta difícil.