segunda-feira, 24 de agosto de 2009

FORA AS TROPAS BRASILEIRAS E INTERNACIONAIS DO HAITI



Após uma revolta escrava ocorrida no final do século XVIII, o povo preto haitiano, escravizado pelos colonizadores franceses e seus descendentes, conseguiu libertar-se. O Haiti foi o primeiro país da América a se tornar independente. A partir de 1971 começava as revoltas do povo preto haitiano contra o exército francês e a burguesia colonialista. O ex-escravo Toussaint Louverture liderou a revolução que em 1804 tornou livre, pela força do povo, a nação haitiana. Os brancos que sobreviveram a essa rebelião foram obrigados a fugir para a França e reconhecer a independência daquele país. Esse processo de independência diferencia-se dos outros ocorridos na américa-latina que geralmente foram comandados pela burguesia, esse representa a força do povo contra a dominação e a escravidão. O exemplo de uma nação emancipada em decorrência de uma rebelião da classe subalterna não poderia se espalhar pelo resto da América, que ainda vivia sob o sistema escravista. Desde então, esse pequeno país da América Central, é vítima de ataques constantes, velados ou declarados, dos países imperialistas, principalmente dos EUA, até os dias atuais. Hoje a população haitiana vive na miséria. O Haiti é considerado o país mais pobre da América, onde 75% da população vive com menos de US$ 2,00 por dia e 80% está desempregada. Apesar da revolução dos escravos, o Haiti foi alvo de vários golpes de Estado e de intervenções militares em defesa da manutenção de interesses estrangeiros associados às classes dominantes locais.

Entre latifundiários e grandes burgueses, 3% da população, representada essencialmente por grandes empresários, forma a elite econômica que manda no país e submete à miséria o restante da população. Novamente o povo do Haiti se revoltou em defesa de sua sobrevivência, foi às ruas em grandes protestos, saques, fazendo até greves gerais. No início de 2004, aconteceu uma intervenção do governo dos Estados Unidos, forçando o então presidente (Aristide) a renunciar e deixar o país. O fato de o governo Lula estar interessado em ocupar uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU faz com que esteja pronto a atender qualquer pedido daquela organização. E se aproveitando disso, a ONU pede para que o Brasil envie tropas para sufocar a revolta popular. A missão, chamada de Minustah (Missão para Estabilização do Haiti da ONU, na sigla em francês) vem massacrando a população do país caribenho. Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru, Bolívia, Benin, Canadá, Turquia, Portugal, Chade, Jordânia, França, Croácia e Nepal, formam a missão que tem o comando do Brasil. A Minustah conta com 6.800 soldados e 2.000 policiais, mas pode aumentar seu efetivo, pois a Colômbia estuda a possibilidade de enviar suas tropas. Os interesses estrangeiros com a ocupação são representados pelos USA, que sempre acompanhou de perto os acontecimentos e exigiu que se adequasse o Haiti à receita imperialista subordinando-o aos organismos dos banqueiros internacionais. Um dos objetivos é controlar um país que está estrategicamente situado entre Cuba e Venezuela. E além disso, é muito interessante para o governo estadunidense a criação de mais um pólo de indústrias, onde corporações como Nike e Adidas possam produzir seus artigos esportivos pagando um salário de miséria aos trabalhadores. Além do imperialismo ianque, empresas brasileiras também estão se aproveitando da situação miserável a que vem sendo submetido o povo haitiano. A construtora OAS (acusada de causar o famoso buraco do metrô em São Paulo, que matou sete pessoas), obteve licitação de uma rodovia no Haiti por US$ 145 milhões. Além da OAS, a empresa da família do vice-presidente do Brasil, José de Alencar, está prestes a se instalar no Haiti. Em 2005 a SEPPIR (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), sob o comando da então ministra Matilde Ribeiro – aquela que gastou R$ 171.000 do nosso dinheiro em futilidades como salão de beleza, free-shoop, entre outras – convidou organizações de Hip-Hop de integridade negociável para preparar em conjunto a Campanha Pense no Haiti, Zele pelo Haiti, com shows, seminários e arrecadação de material escolar. Os grupos de Hip-Hop comprometidos com a luta dos povos oprimidos entenderam que essa campanha, assim como o jogo da seleção brasileira de futebol, pretendia maquiar o verdadeiro caráter da invasão. Não vemos verdade nas intenções pacificadoras de uma Organização das Nações Unidas que permitiram a invasão do Iraque pelos EUA, e apesar dos apelos, se negou a enviar suas tropas para Ruanda, permitindo os Htus matarem 800.000 tutsis em 100 dias (8.000 assassinatos por dia). No momento em que uma delegação haitiana viaja o Brasil, estado por estado, para denunciar as atrocidades cometidas pelas forças de ocupação da ONU, lideradas pelos militares brasileiros, o rapper MV Bill apareceu no Domingão do Faustão propagando as “benesses” da invasão militar naquele país. Em seu Site MV Bill e CUFA também dizem-se favoráveis a ocupação dos morros cariocas pelo B.O.P.E. De nosso lado, estamos dispostos a cooperar com qualquer iniciativa de solidariedade ao povo haitiano, desde que ela respeite a sua luta, a sua autodeterminação. Não caímos no engodo de que as tropas brasileiras lá estão para controlar a desenfreada violência das gangues marginais locais. Para isso basta entendermos que todo individuo ou grupo que luta contra uma classe dominante está sujeito a esses rótulos desqualificantes como no caso das FARC - taxada de quadrilha de traficantes – ou mesmo nossos heróis e heroínas que deram suas vidas lutando contra a ditadura civil-militar brasileira, mas que as autoridades e as grandes corporações de comunicação à eles se referiam como assaltantes, seqüestradores e terroristas. Nós pensamos no Haiti e defendemos que zelar pelo Haiti é, também, através da nossa arte, gritarmos pela retirada das tropas brasileiras daquele país.

E por esse manifesto, convidamos grupos, posses, crews, organizações, B. Boys/Girls, graffiteiros/as, MCs e DJs, Movimentos Sociais para, juntos, construirmos uma campanha de mobilização para exigir do governo brasileiro a desocupação do Haiti, retirando já o seu exército de lá.

UMA CHARGE. (Por: Latuff)

Ato em Solidariedade ao povo Haitiano

O Coletivo de Hip-Hop Cartel do Rap convida a todos para juntar-se a essa luta e pedir a retirada imediata das Tropas Brasileiras e Internacionais do Haiti.



29 DE AGOSTO / 20:00 HS / Praça da Bíblia

Haverá apresentações de Rap, Break, Grafite e Teatro


********************************

O Ato é unificado com Coletivos de Hip-Hop Militante de vários estados:

Resistência Cangaço Urbano (CE), Coletivo de Hip Hop LUTARMADA (RJ), Movimento Hip Hop Organizado do Maranhão Quilombo Urbano (MA), Cartel do RAP (PR), Liberdade e Revolução (SP), Ministério das Favelas (MA), Atividade Interna (PI)

O QUE ACONTECE NO HAITI?





domingo, 2 de agosto de 2009

PRECISA-SE

ABAIXO A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA



Salve amigos e amigas, fechamos mais uma edição do fanzine nadando contra a maré. O tráfico de informação continua e denuncia as atrocidades desse sistema de governo que só beneficia as elites. Esse Estado que criminaliza quem está na pobreza, que protege os ricos e assassina os pobres. Essa política de extermínio está mais visível no Rio de Janeiro onde estão cercando as favelas, construindo muros e segregando mais ainda a população dos morros e favelas. Além dos Caveirões entrar nas favelas mandando bala para todos os lados, agora são os Helicópteros Urubus que atiram de cima e assim como os blindados jogam contra os direitos humanos. A Agencia de Notícia das Favelas publicou uma matéria onde diz que: “Se o "Caveirão" é hoje o grande emblema do modelo militarizado de segurança pública que vem encharcando de sangue favelas do Rio de Janeiro, o recentemente anunciado projeto de levantamento de 11 quilômetros de barreiras de concreto no entorno de 11 comunidades é um sintoma claro do processo de criminalização da pobreza que vem permitindo afirmar a figura legitimadora da "vida descartável".”.

Em Foz do Iguaçu uma lei proíbe os bares de periferia de trabalharem após as 22:00hs, mas descarta essa proibição aos bares do centro da cidade. A Carol estava na Câmera e escreveu em texto publicado aqui no fanzine que diz: “Os bares grandes como a Hórus, a Ono, o Capitão Bar e o Pizza Park não estavam no esquema, como não poderia deixar de ser partindo daqueles mafiosos. Os mafiosos alegam que estes são pontos turísticos e não podem entrar neste esquema. Eles estão ali servindo aos turistas mais uma das maravilhas hipócritas dessa cidade tão maldita”.

Vamos nos juntar e lutar contra esse sistema que nunca foi bom para a população pobre.

Saudações Socialistas!!!

Assassinatos de adolescentes



Em uma análise entre 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes, Foz do Iguaçu (PR) aparece em primeiro lugar com 9,7 homicídios para cada mil adolescentes de na faixa etária dos 12 aos 18 anos. Com base no levantamento, estima-se que, num período de sete anos, ocorreram 446 homicídios de adolescentes em Foz do Iguaçu. Entre as 267 localidades analisadas, a expectativa é de que, entre 2006 até 2012 sejam contabilizados 33,5 mil assassinatos de meninos e meninas. Os dados constam de um índice de homicídios na adolescência (IHA) elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República e a ONG Observatório de Favelas.

O cálculo segue a lógica dos índices de mortalidade e aplica taxas específicas de homicídio por idade entre mil adolescentes na faixa inicial de 12 anos, e mostra quantos deles serão mortos antes de completar 19 anos.

Além de revelar a incidência dos assassinatos contra adolescentes no ano considerado, o IHA também estima o número de homicídios durante sete anos, caso a situação nesses municípios não seja alterada. As fontes para o cálculo são o Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde e os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O estudo mostra, ainda, que a probabilidade de o adolescente ser vítima de homicídio é quase doze vezes superior para o sexo masculino, em comparação com o feminino, e mais do dobro para os negros em comparação com os brancos. Outra informação importante é que a maior parte dos homicídios é cometida por arma de fogo.

(Fonte: Revista Carta Capital, Gilberto Nascimento – 21/07/2009)

NA CÂMARA DE VEREADORES (Por: Carol)

Estavam todos eles lá discutindo a possibilidade de fechar os bares das vilas as 22h por causa da violência, dos índices de homicídio, dos ferimentos com armas brancas, das brigas e toda merda do mundo que eles sempre jogam em cima dos bairros de quebrada. Os bares grandes como a Hórus, a Ono, o Capitão Bar e o Pizza Park não estavam no esquema, como não poderia deixar de ser partindo daqueles mafiosos. Os mafiosos alegam que estes são pontos turísticos e não podem entrar neste esquema. Eles estão ali servindo aos turistas mais uma das maravilhas hipócritas dessa cidade tão maldita. Já era triste estar lá. Ouvindo aquelas asneiras sobre a Moral e os Bons Costumes da sociedade capitalista. Falar sobre geração de emprego, melhores condições de vida, melhoria no sistema de saúde e no sistema educacional, ninguém fala. Ninguém nem fala sobre o hipotético assalto do dinheiro da Fartal.

Até que um tal fulano fardado disse com todas as letras que era preocupante a situação da cidade, já que esta perdendo toda sua força de trabalho. Que toda sua mão de obra estava sendo dizimada pelos marginais que habitam nossa cidade. Não tive mais estomago pra ficar ali. Maldito sistema onde o índice de homicídio só começa a preocupar quando não se tem mais homens para vender sua mão de obra.

UM DESENHO (Por: Latuff)

DNA DO RAP AO VIVO EM TOLEDO

PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO

“O Estudo é o Escudo, Contra o Opressor isso é Tudo” (GOG)

O "Clan do Beco", do Jardim América em Foz do Iguaçu abre a 3ª Edição do “Cursinho na faixa para a Comunidade". As aulas começam na primeira semana de agosto, na Escola Municipal Elenice Melhorança. A expectativa dos organizadores é abrir 25 a 30 vagas de estudo para estudantes que visam às faculdades públicas.

Os alunos e professores são da própria comunidade. A primeira experiência do cursinho do Jardim América foi realizada há três anos. Desde então, o cursinho colabora com a preparação de alunos da rede pública de ensino. Caso você queira participar ou colaborar com o cursinho, entre em contato pelos telefones:

Julio (45) 3028-3268 ou 9934-4148.

João 35731956

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George)

Vida nossa de todos os dias

Anísio era mais um criança que cresceu sonhadora, essa era a principal forma de manifestação de uma criança suja de terra que vivia entre brinquedos de plástico, árvores, tijolos e cachorros de estimação num quintal de uma casa humilde nos idos dos anos 80 na região periférica do PORTO-MEIRA em Foz do Iguaçu. Anísio não sofria simplesmente pelo fato de ter sido criado em uma favela que não contava com posto de saúde, água encanada e espaços de lazer, sofria também pela sua nacionalidade; era zoado na escola por ser de família Paraguaia, assim teve uma vivência cheia de conflitos. No colegial se sentava no fundo da sala de aula por ter vergonha da sua nacionalidade e de seu tênis encardido e da barba precoce e de não poder freqüentar as mesmas festas e namorar as mesmas meninas que a maioria dos seus colegas almejavam. Sonhar se tornara uma necessidade maior quando seu pai então Missionário falecera e deixara com Anísio uma grande responsabilidade: o de sobreviver com mais quatro irmãos naquela vida dura, assim ele trabalhou com jardinagem podando e regando plantas na casa de bacanas, mas ele queria algo mais para a sua vida do que ficar juntando folhas secas, e mais uma vez recomeçara a sonhar. Carregava em sua memória as histórias contadas pelo pai missionário, visualizando as experiências de viagens vividas por ele.

Toda vez que Anísio andava com sua bicicleta Barra forte pelas ruas embarradas do PORTO-MEIRA, sonhava que estava viajando pela América-latina e prometia para si mesmo que um dia realizaria seu sonho, quando dizia aos amigos que queria conhecer melhor países como Paraguai, Venezuela, Cuba, mais uma vez era vitima de piadas e chacotas, pois os outros sonhavam com o EUA, Paris, Alemanha “paises desenvolvidos” de cultura dominante e achavam que esses paises não possuíssem nada de interessante. O tempo passou e sua paixão pela cultura sul-americana se aflorou ainda mais, assim começou a cursar História querendo estudar os incas, astecas, maias, mas, para sua infelicidade a matéria de América só seria trabalhada no terceiro período, assim ficara frustrado mas, mais uma vez começou a sonhar com o contato com o povo latino e foi seguindo em frente. Durante a graduação discutiu ferrenhamente com os professores da universidade para que a guerra do Paraguai fosse vista de outra maneira, que não fosse reproduzida a historia oficial Brasileira, pois por ele pertencer a uma família paraguaia sabia como ninguém como aquela guerra foi cruel e covarde, lutou mais uma vez para que os historiadores revissem a historiografia e buscassem uma outra realidade para a historia do povo latino-Americano, infelizmente ele não conseguiu, mas hoje se orgulha por ter conseguido mudar a sua própria realidade.

Seu grande patrimônio acumulado fora um monte de livros do seu autor preferido Eduardo Galeano, um violão e diversos discos de Mercedes Sosa, Violeta Parra, e o som dos músicos cubanos do Buena Vista Social Club, após terminar sua graduação teve dois diplomas: o de historiador e o de ter conquistado amizades sinceras em seu tempo de faculdade, entre elas a de Rosa, uma professora também apaixonada pela América – Latina que se sensibilizou com aquele jovem que passava muita dificuldade e levava os estudos tão a sério, e sonhava simplesmente em ser um viajante. Assim Rosa começara a dar força para que Anísio investisse em seu sonho e começasse a viajar pelos paises próximos de Foz do Iguaçu (Paraguai e Argentina) ao iniciar sua trajetória pelo Paraguai ele encontrou sua identidade, conseguiu ver o que o seu pai o dissera: um pais agrário pouco moderno, com um povo fanático pela música Brasileira, e muito receptivo.

Anísio andou pelas praças, freqüentou as populares feiras, se banhou nas águas cristalinas das cachoeiras Paraguaias, se hospedou na casa de diversas famílias e lembrou o quanto fora tirado, zoado por seus amigos que viam naquele País uma barbárie. Ao retornar emocionado e com a alma satisfeita pela grande experiência, sentindo que seu sonho começara a se realizar, dizia para os amigos debochados: “não vão ao Paraguai lá não tem nada de mais”.

Assim ele guarda as belas fotografias e as boas historias para os quem ele julgue que sejam merecedores de ouvi-las, pois ele aprendera que o que a vida lhe traria de melhor fora os sonhos sonhados e compartilhados com os amigos verdadeiros, sinceros e eternos como Rosa. Dessa maneira Anísio soube avaliar que sonhar coletivamente é sonhar ainda melhor.

“Danilo George Ribeiro – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.

POESIAS E PENSAMENTOS

De todas as mortes que carrego,
marcadas em minha alma feito cicatrizes,
de todos os crimes da ditadura
um me dói de forma especial.

Não é a multidão de mortos
com seus corpos dilacerados.
Não são os ossos perdidos
que buscam por seus nomes.
Não é o tiro
o choque
o murro.

É o poema que não foi feito,
a música inacabada,
aquela melodia presa na mente
soterrada pelo medo.
Os dedos inúteis longe das cordas,
o acorde que nunca foi desperto,
os olhos secos das lágrimas justas,
a voz calada.

Que requinte mais perverso de crueldade:
matar alguém e deixar seu corpo vivo
como testemunha da morte inacabada.

(Mauro Iasi)

============================

MENINA LINDA

Não foi amor a primeira vista porque já te conhecia
Rosto de revista das capas que não conhecia
Das transas que embalam o puro desejo
Do corpo da mente da pinta do beijo
Passado, presente e recomeço
Meu gesto humildade e resistência
Tua pose, seu cheiro, minha sobrevivência
Dou a face não espero e faço
Equando precisar conte com meus braços fortes.

(Santiago, Foz).

============================

Para alguns

São tantas lágrimas derramadas
Pelas terras desejadas
A consideração foi a decepção
E a palavra não vale nada

Um meio de interesse
Ideologia é solidária
Estou doente hoje
Pois, amanhã sara

Ascensão de degraus
Vida muita louca
Angústia na boca

Coração ferido
Atual e pequeno doente
Dor no presente sente

(Edson de Carvalho, Foz)

=========================

INTIMIDADE

Sonhamos juntos
Juntos despertamos
O tempo faz ou desfaz
Enquanto isso
Quero que me relates
A pena que te calas

De minha parte te ofereço
Minha última confiança
Estás sós
Estou só
Mas às vezes
Pode a solidão
Ser uma chama.

(Mario Benedetti).

=====================

ACARI-SUPRAEMERGENTE
(ou entregando a favela a cidade)


Quem sabe na próxima enchente
a favela submerge no Rio Acari
duma vez... só de vez

E emerge na Avenida Sernambetiba
frente a barraca do Pepê...
Vái daí que para o gáldio dos emergentes...

dá até pra acreditar que só assim
nós da favela sejamos entregados

saco na cabeça e algemas nos pulsos
favelabairranamente á cidade...

Zé Gabiolé: ói nós da favela
supraemergentes da Barra.

(Deley de Acari)

=======================

Desejo

Desejo aquilo que não vejo
aquilo que nunca comi
que gosto tem?... É bom?
E por que?
Me atrai quem não conheço
então esqueço
ou não?
Devo seguir adiante
ir ate o fim, se molhar
e viver...

(Mysk, Foz)

=======================

Comportamento Geral

Você deve aprender a baixar a cabeça,
E dizer sempre muito obrigado.
São palavras que ainda te deixam dizer,
Por ser homem bem disciplinado.
Deve, pois, só fazer pelo bem da nação
Tudo aquilo que for ordenado.
Pra ganhar um fuscão no juízo final,
E diploma de bem comportado,
Você merece, você merece.
Tudo vai bem, tudo legal.
Cerveja, samba e amanhã, Seu Zé,
Se acabarem com teu carnaval?

(Gonzaguinha)

========================

ESTÁDIO CHILE

Ah, canto,
Que mal me sai
Quando tenho que cantar espanto.
Espanto como o que vivo
Como que morro, espanto.

De ver-me entre tantos e tantos
Momentos de infinito
Em que o silencio e o grito
São as metas desse canto.

O que vejo nunca vi,
O que senti e o que sinto
Fará brotar o momento...

(Victor Jara).

=====================

Não confie nas sombras após escurecer
Então meu amigo,
eu desejo que você possa ver.
Como um pássaro numa árvore
Os prisioneiros devem ser libertos.

(Bob Marley)

========================

ENTREVISTA DEXTER - MANOS E MINAS

As muitas faces de Foz do Iguaçu (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli)

Luk e as Raízes do Hip-Hop Iguaçuense



Luciano Antonio Zanella, mais conhecido como Luk tem 33 anos e é natural de Toledo-Pr. Veio pra Foz em 1979 e sempre morou na Vila C, região norte da cidade. Teve uma infância como as demais crianças de periferia da época e relembra isso com entusiasmo: “Minha infância foi muito bem vivida, no meu tempo era futebol, pipa, bulita, entendeu, não era igual hoje internet, televisão. Antigamente você vinha do colégio loco pra jogar uma bola, vinha pro campinho, você se divertia, chegava em casa e tomava um banho. Hoje não, chegou em casa é computador, internet, então o sedentarismo tomou conta. Eu agradeço muito a infância que eu tive porque a minha infância foi boa e vivida, não foi uma infância fechada na frente de uma tela”.

Ele estudou no colégio Anglo Americano na Vila C. Acredita que a Itaipu, no quesito educação, foi muito importante para o povo da Vila C, bancando colégio de qualidade na época para os filhos dos funcionários. E a questão da violência ele relembra: “A Itaipu fazia a segurança do bairro, com a PM piorou a segurança no bairro”. Mas ele vê a criação das vilas A, B e C, como um planejamento para a divisão social feita pela Itaipu. A vila B que é um condomínio fechado destinado aos engenheiros, a vila A de classe média e a Vila C onde fica os trabalhadores e que continua sendo uma vila operária e muitos moradores de hoje já habitavam essa vila na época da construção da barragem. “Só comparar as casas de cada bairro que você já vai saber”. Luk não critica as ocupações urbanas, muitas delas nas imediações da Vila C, pois sabe da necessidade de cada cidadão de ter seu lugar para morar. “Foi uma falta de planejamento. A Itaipu e a prefeitura podiam dar uma força pra esse pessoal pra não acontecer o que aconteceu de o pessoal chegar e tomar conta. A prefeitura falou muito de construir casa pra população e só ficou no papel”. Como todo morador de periferia, Luk já trabalhou em diversos lugares: em bares, no Paraguai, como segurança, em hotel, vendedor de gelinho, chapeiro e atualmente trabalha de recepcionista na Academia do Oeste Paraná Clube.

Começou seu envolvimento com o Hip-Hop em 1994. Estava participando de uma gincana com um grupo de jovens da Vila C e precisou escrever uma música falando sobre Preconceito. Fez a letra e passou para o grupo Garotos do Rap que fazia parte do grupo de sua gincana: “Antigamente o Brasil era uma beleza / ninguém reclamava, não havia tristeza / só tinha o que na época era normal / uma espécie de preconceito racial / onde o negro é conhecido como animal / um escravo da época comandado pelo 'maioral' / Mas, agora voltemos ao normal / a um Brasil diferente, mas onde o negro ainda leva pau / principal suspeito do crime, mesmo sem estar local / o negro sempre é o culpado por aquilo que não fez / mas foi acusado, por um cara tapado / que ainda não sabe que preconceito é coisa do passado...”. Cantou a música junto com o grupo e depois se tornou um integrante do mesmo. Tinha músicas próprias falando sobre preconceito e falando da realidade, política, cotidiano. O grupo fez uma turnê pela Rádio 97 FM passando por diversos bairros de Foz, Três Lagoas, Porto Meira, Vila C, Petrópolis, Floresta Clube na Vila A, Gramadão. Luk teve uma grande influência em Thaíde e Dj Hum. A primeira música de Rap que ouviu foi Corpo Fechado de Thaíde e Dj Hum, através de um amigo que veio de São Paulo e trouxe uma fita cassete. “Eu sinto saudade das músicas antigas. Porque o Thaíde no Corpo Fechado, o Pepeu em Nome de Meninas, são músicas que qualquer idade poderia chegar e escutar e gostar desse estilo. Hoje não, hoje já fala mais da realidade nua e crua, né, então não é qualquer adolescente que pode ta escutando. Porque muita gente se espelha no rap e muita gente se esconde no rap. Tem esse detalhe também. Hoje narra mais a violência, o tráfico, as mortes, né, tudo é retratado na letra de rap”, relembra com saudade. O grupo Garotos do Rap pegou a fase osso do rap em Foz, sem dj, sem toca-discos, muita dificuldade de conseguir uma base (instrumental) para cantar. Escrevia suas músicas, mas geralmente cantavam no beat box (a batida feita com a boca). Nunca tiveram equipamentos para ensaiar, mesa de som, microfone.

O Hip-Hop surgiu como um movimento negro, de afirmação e luta contra o racismo e preconceito. Vários grupos de Rap traz essa discussão em suas músicas questionando se a inserção de pessoas brancas no Rap não pode tirar dele esse caráter de movimento negro. O grupo Alternativa C gravou uma música de nome Porque a Cor Incomoda?, onde convidou rappers negros e brancos pra discutir sobre esse assunto. A rapper carioca Nega Gizza fez polêmica em um de seus refrões onde canta: “O rap não é perfeito / assumo o meu preconceito / é som de preto...”. Luk diz que já sofreu preconceito por ser branco e cantar Rap. Era o único branco do grupo. Em uma apresentação na Vila C quando desceu do palco um rapaz negro lhe disse: “Rap é coisa de negro”. Luk disse pra ele que o Rap não se define pela cor e sim pela atitude da pessoa. O rapaz insistiu em dizer que rap é de negro e ele disse: “Então o sangue que corre na minha veia é sangue de negro”.

Com 3 anos de grupo fizeram o jingle da campanha para o prefeito Hary Daijó. Na época Daijó estava construindo uma pista de skate na cidade buscando uma aproximação e um diálogo com a juventude. “Ele chamou mais visando o público mesmo. O Rap naquela época estava no auge, estava tocando nas rádios, Gabriel, Racionais. Ele pensou em fazer uma vinheta pra chamar a atenção do jovem, tanto que na Vila C ele teve o maior percentual de votos, pelo nosso conhecimento e pelo rap, eles se incentivaram pelo rap.”. Acredita que pra juventude de Foz o rap veio em boa hora, pois a juventude está se envolvendo na criminalidade e muitos jovens que conheceram o rap fizeram disso um estilo de vida, muitos sem o rap hoje estariam meio perdidos. Diz que o Rap incentiva as pessoas para seguirem em frente. Mas está preocupado com o rumo que o Rap Nacional tomou. “O Rap é pra você escutar, refletir e pensar, não é pra você se espelhar”. Diz que bater toda hora na tecla da polícia prejudica. Cita Facção Central. “Antigamente o Rap era mais bem visto pela sociedade por não falar muito de violência, de criminalidade. Hoje em dia muita gente pensa que quem canta e quem escuta rap é vagabundo”. Diz também que o Movimento na cidade já está instalado, bem mais divulgado, bem mais conhecido, e antigamente não se conseguia apoio, patrocínio, locais para expor sua arte, salão para a organização de eventos etc... Acredita que seu grupo foi importante e fez parte do movimento da cidade pela influência que causou em outros grupos. Conta a dificuldade que era pra conseguir um instrumental, antigamente não conseguia nenhuma base, tinha que improvisar encima da base que tinha. Sobre os outros elementos ele diz que naquela época já existia o break, a galera da Vila C já dançava nos shows.

No ano de 2003 para 2004 quando o grupo Racionais Mc's anunciou que gravaria um DVD, o público rap da época estranhou, porque na favela poucas pessoas tinham aparelho de DVD em casa e não tinham acesso a discos de DVD. Hoje o Hip-Hop ta no museu, no teatro, no You Tube, na Internet, nos Jornais, Revistas, Televisão e ocupando muitos espaços da mídia. Sobre a relação Rap e Mídia Luk pensa que “O Rap ta tendo a vez dele, ele ta tendo a oportunidade de mostrar pra todo mundo o que é periferia. Antigamente você vinha visitar Foz do Iguaçu e não vinha pra periferia, você ia pras Cataratas, ia pra Itaipu, ia pro centro da cidade, só da média pra alta, a periferia você não conhecia. Através da música o pessoal começou a conhecer um pouco também da periferia. Um clipe de Rap hoje, o que que mostra? Não mostra o centro da cidade, não mostra o ponto turístico, ele mostra a periferia, ele mostra a favela. Na favela todo mundo é feliz, não é porque é de periferia que não vai sorrir, não vai brincar, não vai se divertir. Então mostra pro Brasil e pro mundo que a felicidade não ta só na média e na alta, ta em qualquer lugar, né, basta você querer ser feliz”.

Incentivo à Cultura:

“Na minha opinião o incentivo é escasso, eles só mostram o que querem mostrar, não o que você quer que as pessoas vêem. Um exemplo é o Movimento Hip-Hop, se a gente não faz por nós mesmos ninguém vai fazer pela gente. Você vai na Fundação Cultural hoje: 'A gente queria um espaço pra um grupo de Dança de Rua, um ensaio de um Grupo de Rap'... 'Ah, mas não é assim que funciona'... Você nunca consegue o que você quer, só consegue o que eles querem que aconteça. Então o incentivo aqui é escasso, é cada um por si, você tem que se virar porque por eles você não pode depender não”. “Foz não tem incentivo nenhum pra população, ao invés de chamar o pessoal ta mandando o pessoal embora, a população não tem pra onde correr aqui em Foz. Então você não tem opção, você quer trabalhar, quer ter uma vida digna, trabalhar decentemente e você não consegue”. “Muita gente aqui depende do Paraguai, acredito que 80% depende de lá e não de Foz do Iguaçu. Então se analisa de que o Paraguai dá mais incentivo pro iguaçuense do que a própria cidade. Se você não tem um cargo público trabalha no Paraguai”.

Integração Latino Americana:

“Isso aí é a mais pura falsidade, isso aí é o Caô mais absurdo, MERCOSUL, cara. Só quem ta aqui sabe que MERCOSUL não existe, na minha opinião não existe. Tudo o que você vai fazer entre Brasil, Argentina e Paraguai você não consegue fazer. Por exemplo você não pode comprar nada do lado de lá que tenha aqui. Isso é MERCOSUL?”.

Esperança?

“Esperança eu tenho que as coisas mudem, mas por enquanto eu acho difícil, só tende a piorar. É o começo do caos. Aos poucos cada um vai perdendo o respeito por si mesmo e pelos outros, entendeu, e a união vai acabando”. (...) “Onde é que está os políticos honestos? Você não acha, quero ver você achar. Me fala um político que você se espelha. Eu prefiro me espelhar no Mano Brown, no Thaíde, que tem experiência de vida”.

QUE TEMPO BOM - THAÍDE E DJ HUM

Tinha um anjo em meu portão batendo palmas (Por Carol)

Dia de entrevista. Há algum tempo ela está desempregada. Sai de casa perfumada e bem vestida. Passa pela cozinha abre a porta e dá de cara com um menino no portão da sua casa. O menino olha pra ela, assovia e faz um gesto olhando para a esquina. A mulher para e fica olhando. Não estava com medo, estava apenas prestando atenção. O menino aproxima-se do seu portão e diz:

-O tia, não tem alguma coisa pra comer?

-Peraí vou ver que aqui também não ta fácil...

A mulher entra e caça alguma coisa pra entregar para aquele menino. Em alguns minutos ela volta trazendo nas mãos um pacote de bolacha.

-Olha o que eu posso te dar ta aqui. Um pacote de bolacha. Pode ser?

-O tia ta firmão! Mas não tem um pacote de arroz?

-Xi, cara! Aqui também ta complicado... Vou ficar te devendo essa...

A mulher sai de casa e o menino a acompanha até a esquina.

-Aquele mano ta te esperando?

-É, é meu irmão. Ele veio pra me ajudar a levar o carrinho que tava pesado.

-Hum... E a chuva zico o trampo de vocês hoje, né?

-Xi, tia nem me fala. E lá em casa ta embaçado. Mó treta.

-Boto fé.

-O tia, mas você bonita e cherosa desse jeito não podia falar assim comigo...

-Ué?! Por que?

-Sei lá! Ninguém fala...

-O cara, nem conta pra ninguém que me viu assim. É que hoje to disfarçada de robozinho do sistema.

Os dois caem na gargalhada.

-Sabe qual é? É que hoje vou ver um trampo. Mas e aí! E já ta de férias?

-O que?

-Você não estuda?

-Ah... Não estudo não. Faz pouco tempo que vim pra cá. Lá onde eu morava tava mó ruim. A minha mãe não tinha nem emprego. Aí agente veio pra cá. Olha tia, vou ficar por aqui pra ver se eu consigo mais alguma coisa.

-Tá certo! Boa caminhada...

A mulher senta-se na cadeira amarela da padaria e acende um cigarro enquanto o ônibus não vem. Dali a pouco percebe que o menino vai até seu irmão e entrega o pacote de bolacha. Os dois sentam-se na esquina, comem um pouco e guardam o restante na sacolinha que continha um pacote de feijão e um pacote de sal.

O ônibus veio. Os meninos ficaram. Ela se foi. Talvez nunca mais os veja... Antes de dormir ainda lembra da risada que tirou daquele pequeno homem.


(Carol é estudante de letras em Foz)

óIA Só (Por: Lizal)

Dentro do Busão no Rio de Janeiro



Algum policial será denunciado?

-------------------------------------

Transporte Coletivo – Foz do Iguaçu

Que Foz do Iguaçu tem um péssimo transporte coletivo todos nós sabemos. E sabemos também que é um dos mais caros do Brasil. Mas ninguém se manifesta. A não ser o protesto solitário do meu mano pichador/grafiteiro que usa o pseudônimo Woloco que começou a escrever em folhas de caderno e colar na parede do Terminal de Transporte Urbano. Fez questão de colar bem ali onde a galera vê os horários dos ônibus, mas mesmo assim, nenhuma manifestação. Uma das suas reivindicações era que colocassem um bebedouro de água ali no terminal. Ninguém merece no calor de 40 e tantos graus de Foz ter que tá comprando uma garrafinha de água mineral por R$ 1,50, ainda mais numa cidade de desempregados igual a nossa. Reivindicação justa já que as empresas de ônibus lucram tanto com propagandas dentro e fora dos veículos, nos pontos de ônibus e as dezenas de comércios instalados dentro do Terminal. Se ainda não bastasse, agora tem ainda a TV Bus, cuspindo propaganda pra cima do povo que volta pra casa cansado nos ônibus superlotados da nossa Terrinha. Apesar das reivindicações dos Movimentos Estudantis pelo Brasil que lutam pelo passe livre, que é um direito constitucional, nada acontece de efetivo, assim como muitos outros direitos constitucionais que acabam ficando só no papel. Não sei se por insistência do incansável Woloco, mas dias atrás apareceu um bebedouro de água no Terminal. Mas, como dos nossos governantes só vem presepada, a passagem subiu de preço novamente. Uma leitora da coluna óIA sÓ se deparou com o bebedouro no terminal e teve a inspiração para escrever alguns versos que publica aqui na forma de interferência. Todas as pessoas que quiserem interferir nessa coluna pode mandar o escrito pro e-mail do fanzine, mas não pode esquecer de colocar nome e sobrenome pra isso aqui não virar o Bico do Corvo. O nome da nossa poeta urbana é Ana Carolina, uma das colunistas do Fanzine, que assina como Carol.

Aí vai:

R$ 2,20
o aumento da pasagem / me surpreendeu, não foi em vão
colocaram um bebedouro no terminal / pra calar o povo no verão...
Eita bebedorzinho caro, sô!

--------------------------------------

Óia sÓ

No mês da morte de Michael Jackson a maioria de jornais e revistas fizeram matéria de capa sobre sua morte e sua vida. Não faltaram revistas para publicarem edições especiais sobre o maluco. A Revista Piauí foi na contramão e colocou num cantinho da capa a frase: “Exclusivo!!! Nenhuma linha sobre Michael Jackson”.

(É o contra-marketing).

-------------------------------------

Paulo Freire:

“Ninguém liberta ninguém
Ninguém se liberta sozinho
As pessoas se libertam em comunhão”.

--------------------------------------

Choque de Ordem no Rio de Janeiro:

“Porque afinal de contas, essa política é estremamente covarde: primeiro baixamos o cacete nos informais, nos malditos camelôs, nos biscateiros ilegais que atravancam o progresso do país... depois, se der tempo, podemos desconcentrar a renda, fazer reforma agrária, prender os corruptos e fazê-los devolver o dinheiro, essas coisas. Depois. Agora não. O valente só é valente em relação ao mais fraco. Qual é o choque? ”.

(Heraldo HB, do cineclube Mate com Angu).

-------------------------------------

A Crise Atinge o Modo de Produzir Capitalista na Agricultura

Essa crise, que envolve todo sistema capitalista, tem reflexos imediatos no modo dos capitalistas produzirem na agricultura. Chamamos esse modo de agronegócio. E como sabemos, esse modo se baseia em grandes lavouras extensivas. Cada fazenda se especializa num produto, na forma de monocultivo, da cana, café, soja, milho, algodão, cacau... Todo o processo é muito mecanizado. Expulsam a mão de obra e agridem o meio ambiente com a utilização de agrotóxicos para manter a escala de produtividade. É uma agricultura sem agricultores uma agricultura que está preocupada apenas em produzir lucros enão comida. E assim o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos na agricultura.

(Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – maio de 2009).

--------------------------------

O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu certa vez: “Chama-se Paz e Justiça o grupo paramilitar que, em 1997, metralhou pelas costas quarenta e cinco camponeses, quase todos mulheres e crianças, no momento em que rezavam numa igreja da aldeia de Acteal, em Chiapas”.

(No Rio de Janeiro as ocupações policiais nos morros chamam-se Unidades Pacificadoras e semelhante ao Paz e Justiça também mandam bala pra cima da população).

----------------------------------

Antonio Abujamra no Programa Provocações:

“Família é sintonia.
Dizem os poetas urbanos sobreveviventes do inferno
para aquelas mentes tristes, porém fascinadas
fascinadas com as ilusões carnavalescas de um país que luta
luta por seus times de futebol
mas não luta pela sua dignidade”.

---------------------------------

DJ Alpiste em Foz.



O cantor de rap gospel Dj Alpiste fará show em Foz na noite de quinta feira, 06 de agosto. O show de lançamento de seu mais novo álbum chamado “Arrebatador” acontecerá na ONO Teatro Bar e os ingressos antecipados custam 12 reais. Dj Alpiste é pioneiro no Hip-Hop nacional e adotou esse pseudônimo no tempo que trabalhava de dj em equipes de som em São Paulo, hoje ele é cantor e conta com uma grande discografia. O show tem a organização do grupo 5º Naipe de Foz do Iguaçu que também se apresentará, além de Tiago Mattos e outras Bandas. DJ Alpiste já realizou um show em Foz do Iguaçu, no Gramadão da Vila A.

Discutindo Participação (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Quando se debate o planejamento da cidade, não se deve discutir apenas o sentido das ruas, o zoneamento dos bairros e as áreas que serão protegidas pelo poder público. Na pauta dos estudos e negociações se deve incorporar, também, os pequenos detalhes que mudam substancialmente a vida das pessoas, dos cidadãos, que serão os verdadeiros beneficiados (ou prejudicados) pelas intervenções feitas no espaço urbano. O técnico (ou não) que propõem uma mudança deve ser coerente e conhecedor da sociedade que vive e, quando não for, deve procurar ajuda de tal para agir de forma coerente com décadas de estudos e experiência que a humanidade produziu sobre temas diversos que, interligados, explicam e orientam as intervenções na cidade.

Há oito anos, surge uma Lei Federal chamada Estatuto da Cidade, que nos fornece mecanismos coerentes e avançados que dão suporte às adequações das cidades brasileiras. O Estatuto prevê, por exemplo, audiências públicas com participação efetiva das camadas populares na discussão de projetos de interesse social. Prevê formas de se cumprir o caráter social (previsto na constituição) do solo urbano e dá suporte legal às ações de caráter comum como onerar o especulador de terras urbanas e punir quem não executa uma concessão pública de forma correta. Não se pode esperar, no entanto, somente que a máquina pública brasileira (Federal, Estadual e Municipal) comece a agir para implementar as mudanças que nossas cidades necessitam. Estas instituições são, em diferentes escalas que podem variar de lugar para lugar, viciadas ou geridas por pessoas inseridas em contextos atrasados ou que ainda renegam partes ou a totalidade destas novas leis inclusivas e avançadas.

O cidadão deve exercer seu papel transformador através de suas atribuições democráticas: o voto, a voz, a comunicação e a exposição da sua insatisfação. Participar de seminários, grupos de discussão nos bairros, discussões e decisões participativas, sessões do poder legislativo e movimentos comunitários e populares, tornam o cidadão cada vez mais preparado para discutir o espaço em que vive e monitorar as ações dos governantes e legisladores. Além disso, pequenas atitudes diárias ajudam a construir uma cidade justa e sustentável.

Com estas Leis avançadas nas mãos, cabe a todos nós (cidadãos, profissionais liberais, estudantes, gestores públicos e trabalhadores) colocarmos em prática a construção de um espaço urbano mais justo e acessível, entendendo o direito à cidade não como favor ou caridade, mas como um direito constitucional e de extensão a todos. A Cidade é um organismo vivo e precisa de oxigênio. Isto é uma constatação importante para o entendimento do que é estar em sociedade urbana e de como tornar nossa cidade acessível a toda população, sem restrição.

LUIZ HENRIQUE DIAS DA SILVA é escritor, estudante de Arquitetura e Urbanismo e comunista (convicto). Ele é daqueles caras que costumas dar opinião para tudo que acontece. Certas vezes é visto na Câmara de Vereadores tentando entender o que se vota por lá e depois sai por aí orientando as pessoas a fazerem o mesmo. Dia desses ele foi até a casa de leis acompanhar uma votação sobre um projeto muito interessante, mas ficou chateado porque o vereador intitulado “secretário” da sessão pediu “permissão para não ler o texto da lei”, apenas falou o título e todos os vereadores deram seus votos. O Luiz saiu de lá com a impressão de ter sido enganado. De vez em quando ele tem esta impressão mesmo. É normal. Já faz parte do seu cotidiano se sentir assim.

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

ENTIDADES REPUDIAM CONSTRUÇÃO DE MUROS EM FAVELAS

Entidades de Direitos Humanos e FAFERJ lançam nota de repúdio ao apartheid social representando pela construção de muros em favelas cariocas:

Foi na década de setenta do século passado, durante o apartheid racial na África do Sul, que nasceu a idéia de utilizar veículos blindados para gerir o controle de populações urbanas. Chamado de "Yellow Mellow", este blindado, que hoje se encontra no Museu do Apartheid, se tornou referência mundial para as estratégias de militarização de áreas urbanas segregadas, inspirando, em conseqüência disso, a ascensão da atual "política caveirão" por parte das autoridades públicas brasileiras. Se o "Caveirão" é hoje o grande emblema do modelo militarizado de segurança pública que vem encharcando de sangue favelas do Rio de Janeiro, o recentemente anunciado projeto de levantamento de 11 quilômetros de barreiras de concreto no entorno de 11 comunidades é um sintoma claro do processo de criminalização da pobreza que vem permitindo afirmar a figura legitimadora da "vida descartável". Além de muros de 3 metros de altura, o Governo do Estado pretende erguer muros "virtuais": um sistema de monitoramento com imagens de satélite para fiscalizar os espaços populares. O argumento oficial é a contenção da devastação da Mata Atlântica pela expansão das favelas, com os muros recebendo o nome de "ecolimites" - uma jogada macabra que utiliza uma bandeira ambiental para legitimar estratégias que reforçam a atual lógica do apartheid social.

No último sábado, dia 25 de abril, foi realizado um plebiscito pela associação de moradores da Rocinha para consultar a opinião da população sobre o projeto dos muros nas favelas. Na votação, a obra foi rejeitada por 1.056 pessoas. Apenas 50 votaram a favor e cinco anularam o voto. Ao tomar conhecimento da pesquisa, o prefeito Eduardo Paes não titubeou em classificar o resultado como "suspeitíssimo", buscando deslegitimar o plebiscito usando a velha tática de criminalizar as organizações populares das favelas. Assim também foi a repercussão dada à correta deliberação da FAFERJ - Federação das Associações de Favela do Estado do Rio de Janeiro - que rechaça a suspensão dos muros. As entidades de Direitos Humanos, militantes sociais e pessoas preocupadas com os claros indícios e sinais de cristalização de segregação social, vem a público se manifestar em apoio à posição da FAFERJ e se comprometem em lutar, juntos, contra toda forma de criminalização da pobreza e dos movimentos de resistência.

CONTRA O APARTHEID CARIOCA: NÃO AOS MUROS!

Fonte: www.anf.org.br
Agencia de Notícias das Favelas

Manifestoon, Manifesto Comunista - Legendado em Português

RAJADA MC'S – O Tempo não para. (Por: Lizal)



“Daqui de cima eu observo tudo
E bem de longe vejo as luzes de mercúrio
Centro, veneno, tretas, enquadros
Bebidas, cigarros, vadias, que chato
Não me alegro mais com isso, não me contenta
Falar a real vocês nem notaram a falta da minha presença
Eu não to mais colando, mas pode saber que enquanto
Vocês tão chapando, por vocês eu to orando
To ligado mano, eu sei o que cada um quer pra si
Quando todos vocês chegaram eu já tava aqui
Acompanhei um por um, desde o primeiro momento
As primeiras letras, todo o desenvolvimento
É claro, que o tempo passa e as coisas mudam
Vocês podem até não querer, mas ainda são meus trutas
Nessa luta tenho aqui meu time, Rajada
Tamo junto, envolvido, grudado, nada separa”...

Parte da música O Tempo não Para de Rajada Mc's).

É difícil falar de Rap no Paraná hoje sem citar o grupo Rajada Mc's. É lógico que o cenário paranaense está forte e bem representado com nomes como Thiagão e os Kamikazes do Gueto, Aliados da Periferia, Federação Repúbli-k, Resistência, Pensamento Racional, Quinto Naipe, Atitude Consciente e dezenas de outros grupos que compõem a diversidade musical desse estado e que leva o Hip-Hop Paranaense para a esfera nacional, para o palco da visibilidade. O próprio Thiagão e os KG traz em seu álbum mais recente essa discussão de que no Paraná também tem rap do bom. Geralmente as homenagens às pessoas ou grupos que gostamos vêm postumamente após a morte dessas pessoas ou a aposentadoria desses grupos. O rapper GOG foi homenageado em vida com uma biblioteca comunitária que ganhou o seu nome e disse que é muito bom receber as flores em vida enquanto podemos sentir seu cheiro.

Uma das razões da realização desse texto foi a notícia que chegou até mim de que o grupo de rap de Campo Mourão, Rajada Mc's, pendurava suas chuteiras. Eu que sou um torcedor assíduo, sempre acompanhei de perto a trajetória desse grupo e que me tornei um grande amigo e parceiro de correria dos integrantes do mesmo, fiquei muito triste com tudo isso, sabendo que o Hip-Hop paranaense e nacional perderia muito. Conversei com um dos integrantes, o mano Careca – conhecido na cena como Poeta Loko –sobre a idéia do fim do grupo. Ele admitiu que o grupo passa por problemas, mas que isso não significa que o grupo tenha acabado. “Mano... eu não digo fim e não digo acabou... são palavras muito pesadas. Simplesmente paramos de produzir devido às circunstâncias do momento em que cada um vive. O Rajada é eterno, enquanto nossa música tocar no rádio dos manos o grupo vive. Apenas não estamos fazendo shows e nem músicas novas. Não gosto de dizer que acabou... para mim não acabou”.

O mano Careca foi um dos fundadores do grupo. A primeira formação se deu no ano de 1997 e contava também com sua prima Lílian e seus amigos Morcego e Dj Papa-léguas. Após o fim do grupo MDR o qual o Mano Neguinho fazia parte e o fim do grupo do Robinho, os dois vieram a juntar-se ao Rajada que já estava no processo de gravação do seu primeiro álbum. O CD foi lançado em 2004 com o título RJD Respeito Justiça Dignidade Ativa e alavancou o grupo para uma projeção no cenário paranaense. Com um trampo na rua o grupo passou a viajar por diversas cidades fazendo shows, entre elas: Umuarama, Cianorte, Maringá, Paysandu, Iporã, Foz do Iguaçu, Curitiba, Brasília entre muitas outras. Sempre focados nas questões sociais o grupo começou sua militância além da música com a organização do Movimento Hip-Hop da sua cidade criando o MH2O (Movimento Hip-Hop Organizado). “O MH2O foi a alavanca do Rap Mourãoense e uma organização importante no interior. Acredito que a partir do MH2O os grupos da região pensaram em se organizar, passaram a acreditar. Muitos nos julgavam malucos, até nós mesmo nos perguntávamos, será que é isso memo? Será que tamo fazendo o certo? Ninguém ajuda ninguém hoje em dia” – disse o Poeta loko em conversa pela internet.

Através do MH2O organizaram junto ao SESC local oficinas de Hip-Hop com os quatro elementos (Break, Grafitti, Dj e Mc) e a partir dessas oficinas o evento Rap é o Som Festival. Com essas oficinas surgiram diversos grupos de Rap, Djs, Grafiteiros e B.boys amplificando o Movimento Hip-Hop da cidade. Foram lançadas coletâneas com os grupos do interior e o Dj Papa-léguas formou um projeto chamado 44bpm que reunia alguns dj´s do interior num coletivo. As oficinas eram desenvolvidas no Espaço da Cultura Popular, com o apoio da prefeitura. Desses encontros surgiu também a Banca MPC 288, a junção de vários Mc's de grupos diferentes em um grupo só, no estilo Wu Tang Clan com o propósito de montar um selo para lançar os álbuns solo desses manos. Com a mudança da administração pública na cidade as oficinas foram canceladas.

O SESC de Campo Mourão realizava todo ano um evento chamado SESC Rock. Num desses eventos o grupo Rajada Mc's foi convidado a participar da abertura do show. O público rap das favelas de Campo Mourão colaram em peso, então o grupo pensou em bolar um projeto semelhante para o Hip-Hop. Cria-se o evento Rap é o Som em 2002, com estrutura pequena, que foi crescendo a cada ano. Até então o evento era local, para a apresentação dos grupos da própria cidade, mas em 2007 toma a proporção de Festival. Através de um projeto escrito pelo Dj Papa-léguas viabilizaram verba para um evento com maior estrutura que abrangesse várias cidades do interior paranaense. A dose foi repetida com sucesso em 2008 com a presença de grupos de Foz do Iguaçu, Paysandu, Rolândia, Umuarama, Ponta Grossa e diversas outras cidades. Questionado sobre a importância de eventos como esse Careca diz que: “Um evento dessa proporção pro rap paranaense é de enorme importância porque incentiva os grupos a trabalharem melhor, se dedicar nas músicas, ter idéias... e os mano que colam curtem de graça um evento de qualidade, com som bom, iluminação. E é aquilo, a favela merece, né meu querido. Acredito que muitos grupos passaram a acreditar em subir num palco para estar no palco do Rap é o Som Festival. A importância de se organizar é aquilo né irmão, unindo agente fica em pé, dividindo agente cai”.

Em entrevista para o Fanzine do Cartel do Rap em 2007 o grupo foi questionado sobre a identidade do Rap Paranaense, o porque de o Rap do nosso estado não ter uma identidade própria. O Dj Papa-légua respondeu que: para se criar essa identidade, primeiro o Hip-Hop daqui precisaria ser visto. E o que o Rap é o Som Festival, assim como o evento que rolou em Toledo para gravação de um DVD ao vivo faz, é colocar em evidência os grupos que estão se destacando por aqui, já que estamos tão “distante” do eixo Rio/São Paulo e Prêmio Hutuz. O trampo que veio para cravar definitivamente o nome Rajada Mc's na cena do Hip-Hop foi gravado em 2006. Intitulado O Tempo é Rei o álbum trouxe um teor de desabafo para calar os boatos de que o grupo havia acabado. O álbum trouxe sucessos como Batidas Rotineiras, Mil Fitas, Respostas e a música título O Tempo é Rei. O CD faz jus ao nome e mostra o amadurecimento do grupo depois de todos esses anos de correria pelo Rap.

Pra quem vive de cultura hoje no Brasil vive de forma precária, ainda mais quando é uma cultura alternativa de contestação social e não de entretenimento. Raras exceções conseguem viver do Hip-Hop no Brasil. O rapper underground Slim Rimografia ilustrou muito bem isso no refrão de uma de suas músicas: “Eu não vivo de Hip-Hop, mas é pelo Hip-Hop que eu vivo / E vou rimando sem fins lucrativos”. Como o grupo Rajada Mc's nunca abraçou a indústria fonográfica, não jogou o jogo do mercado e nunca compôs suas músicas de acordo com a exigência das gravadoras, seus integrantes nunca conseguiram sobreviver de sua arte. Devido o forte desemprego na cidade de Campo Mourão, no ano de 2007 viajaram para Santa Catarina em busca de melhoria de vida. O grupo acabou não ficando muito por lá, pois o custo de vida era muito alto em relação ao salário que recebiam. Depois foi a vez de Curitiba. O Mano Careca foi pra capital paranaense para acompanhar o nascimento de seu filho e resolveu ficar por lá morando com sua esposa. Depois de um tempo convidou os demais integrantes a morar por lá. Apesar de Curitiba ser uma cidade mais desenvolvida e com maior facilidade para se conseguir um emprego do que Campo Mourão, o mano ainda não se adaptou: “A vida na metrópole é outra coisa, essa cidade deixa qualquer um maluco, depressivo. Vixi eh mó veneno, sem palavras pra citar”. Ali em Curitiba o Poeta Loko conheceu o Dj Kuruja com quem preparou um trampo solo. A mix-tape está disponível somente na internet para download.

O Rajada Mc's em Curitiba começou a gravação do novo álbum e lançou em 2008 um single com o nome Vários Lados em um Só. Com todas as barreiras enfrentadas, a mudança para outra cidade, vivendo longe dos familiares, a situação financeira, o desemprego, as dificuldades pelo que passa o Hip-Hop nacional hoje, o grupo se desentende e resolve dar um tempo para que as coisas se acertem. O Robinho e o Neguinho pretendem lançar um trampo em parceria, o Dj papaleguas prepara uma coletânea com grupos convidados produzidos por ele, e o Mc Careca começou a trabalhar com o grupo Plena Atitude que em breve lançará um single. É notável que esses manos têm o Rap no sangue (ou o sangue no Rap igual diz uma de suas canções) e não abandonarão o movimento. E mesmo se eles chegarem a sair do Rap, o Rap nunca sairá deles. Mas o público está apreensivo, com tantos grupos se acabando, se separando, seria uma enorme perda para o Movimento Hip-Hop do Paraná.

Chegaram boatos até mim de que semana passada os manos se reuniram em Campo Mourão para discutir o futuro do grupo.

Será que o grupo volta a produzir? Só o tempo pra nos responder. O tempo é Rei.

“É por você que acreditou, que aqui a gente está
4 louco é nois di novo, RAJADA está no ar
Tem que ter fé e acreditar, os sonhos sempre sonhei
Aos poucos tô realizando, mano, o tempo é rei”

(Trecho da música O tempo é Rei)

Rajada Mc's




O TEMPO É REI - RAJADA MC'S

ORGULHO SE OFENDE, HUMILDADE APRENDE. (Por: Eduardo Marinho)



Por que sentir humilhação ao deparar com os próprios erros? Alguém não erra? Errar não é próprio da natureza humana? Quem tenta acertar tem direito ao erro. Por certo variam os graus de gravidade e responsabilidade, mas quem estará em condições de julgar, senão a si mesmo? Como julgar erros alheios, sem conhecer todas as circunstâncias íntimas, as histórias, os pensamentos, os sentimentos, as razões e os relacionamentos envolvidos?

A cada um cabe melhorar a si mesmo, reconhecendo erros e atentando às próprias falhas. Os julgamentos alheios – apesar da prepotência – podem servir à lapidação, desde que recebidos com humildade e peneirados dos seus elementos negativos. Quem luta com falhas próprias não comete a arrogância de julgar falhas alheias. Estamos todos envolvidos em nossos erros; colhemos, todos, os frutos que plantamos. Reconhecer os próprios erros é honrado e dá clareza para compreender e assimilar os acontecimentos e as lições da vida.

(Eduardo Marinho é arteiro, penseiro e escrevinhador).

DE COMO CANDEIA E MIKE GÉKISON ENEGRECERAM ÍNDA MAIS OS CORPOS E ALMAS DE ACARI E ALFA BLONDY DEU UMA FORÇA

Eu tava lá no Santa Marta num dos dias que Mike Gékison tava gravando lá. Fui lá justamente para não vê-lo. Nessa época meu nível de detestamento de pretos embranquecidos estava no ápice e Mike seu principal nivelador. Pra dizer a verdade queria vê-lo o bastante pra poder provar por a + b e pra mim mesmo que ele estava mesmo embranquecendo por que queria, que então era mesmo um traidor da raça. Mas eu tava adorando Spike Lee e fui lá com um cartaz do "faça a coisa certa" disposto a voltar com ele autografado. Eu já conhecia um pessoal do racismo lá e também já tinha trocado umas idéias com o Marcinho. No meio de um "mulão" estava no camarim improvisado de Spike esperando o intervalo das filmagens. Logo que deu o intervalo, Spike foi conferir algumas coisas pro recomeço da filmagem e Mike com um montão de seguranças passou no camarim dele pra discutir alguma idéia. Um dos assessores de Spike disse a ele que Spike não estava e Mike deixou um recado que se encontrassem no hotel. Mike estava com a blusa aberta até quase a altura do umbigo, coisa que ele só fazia quando estava na sombra. Foi por isso que quem estava ali pode ver a pele de seu peito totalmente branca com algumas pequenas quase imperceptíveis pintinha pretas. Mais tarde, almoçando num pé sujo da Voluntários da Pátria, um amigo me cobrou:
- viu é vitiligo mesmo, viu? Falou que ele tava passando pasta pra ficar branco...

Quanto a Spike a gente conversou rápido com ele, depois ficamos de ir a uma entrevista coletiva e o pôster autografado acabou virando presente de aniversário de um chefe do tráfico, fã de Tina Tunner e Alfa Blondy. Somos muito mais da metade dos negros do bairro de Acari, segundo estatísticas oficiais, 53ª do negros de Acari, vivemos em uma das três favelas. Se contarmos com negros que moram nos três conjuntos habitacionais, então somos esse "bem mais que a metade". Os corpos e as almas de acari já eram pretas muito antes do Tio Candeia e Mike Gékison chegarem em Acari. Tinha muito candomblé, folia de reis. A vinda dos grandes quilombos pro complexo de Acari deu as mãos de tinta definitivas nas almas acarienses. A "vinda" de Mike enegreceu de vez nossos corpos. Tio Candeia nos ensinou o orgulho de ter alma negra, Mike nos ensinou o orgulho de termos corpos negros, e vestir nossos corpos negros com roupas de negros. Fui um dos militantes negros e chefe de ala do quilombo que brigou com Tio Candeia quando ele autorizou a meninada dos grupos de dança do quilombo a fazer uma festa black na sede do Vega em 26 de Novembro de 1978. Ele liberou a festa 20 dias antes de morrer. Eu e Carlinhos Saci tivemos uma discussão feia com ele e com o resto do pessoal do grupo de dança. Na favela, Lílian, uma das lideres defendeu com veemência a decisão do "velho": Poxa! é ele mesmo que fala que os black de hoje em dia serão os sambistas de amanhã.

Na verdade o que tinha mudado a cabeça do velho sobre o black rio foi que ele tinha visto o documentário wattstak, sobre um festival de musica negra, na ilha de watts. Durante muito tempo e, até os dias de hoje, pelo menos no complexo de Acari, os chefes do tráfico, e seus amigos de firma, tem sido os principais "ditadores" de modas e modos pra nossa juventude acariense. Cý, Tunicão e Jorge Luis eram negros e cresceram se entendendo como gente, com orgulho de serem, de terem a alma negra massificada pelo pensamento candeiano quilombola. Também eram fãs de Mike Gékison. As armas, mesmo as negras são invisíveis aos olhos mortais, mas as cabeças black pawel, os corpos negros vestidos a moda Mike eram bem visíveis e bem vistas. Tão bem vistas que já não se sabiam se a juventude se vestia na moda Mike Gékison porque os jovens chefes do tráfico se vestiam também, ou se os jovens chefes do tráfico se vestiam a moda Mike Gékison porque eram jovens de Acari como qualquer jovem de Acari. Uma coisa ou outra, seja lá o que for, pra mim o fato é que a moda e o modo Mike Gékison deu visibilidade a alma negra acariense enegrecida por candeia.O mais interessante nisso é que, justamente quando o vitiligo começou a tomar de vez o corpo de Gékison é que ele teve mais proximidade com artistas negros americanos conscientes. Ele já tinha sido dirigido musicalmente por Quincy Jones, um maestro negro militante, num filme musical estrelado por Diana Ross.

Depois liderou a gravação do não sei o que lá worde wolds. Até ver Mike no Santa Marta eu era um dos imbecis que fazia brincadeiras racistas sobre o suposto embranquecimento de Mike, até ler um comentário de Sara Volgham: por mais que este menino fique branco ele será sempre um dos negros mais importantes pra os negros na história da humanidade. Muitos negros militantes brasileiros e nem tanto, também fizeram muitas piadas e criticas nada engraçadas.Gilberto Gil até disse: porque Mike Gékison além de branco ficou triste. Jorge Luis do Acari, além de fã de Mike também gostava de reggae. Uma de suas alfas, a mais branca dela, Marcinha, que tinha todo o 2º grau, falava inglês traduzia todas as letras de Bob Marley pra ele. JL gostava de ficar na piscina de madrugada vendo disco laser de Mike e Marley. Um dia um puxa saco lhe deu um disco lazer de Alfa Blondy de presente. Daí então ele não queria saber de outra coisa. Era só Alfa Blondy, um regueiro de raiz, já que era africano de verdade.

Marcinha deve ter traduzido uma 20 letras de Alfa Blondy pra ele. Acari viveu um período brabo de turbulência após a morte de César Boi, um dos traficantes mais cabeça de Acari. Pra acalmar seus "braços" de fé JL costumava entupi-los de maconha e passar ene vezes o disco lazer de Alfa Blondy pra eles. Foi catando coisas de Alfa Blondy que descobri Salif keita. Salif Keita, é um músico do Mali, descendente direto da Dinastia de Sundiata Keita, unificador do Império do Mali, lá por o ano 1260, da idade média ocidental. Só que Salif Keita caiu em desgraça, ou melhor, já nasceu em desgraça, nasceu albino, tal doença é sinal de maldição em boa parte das nações tradicionais africanas. Como desgraça pouca é bobagem Salif cismou de botar guitarras elétricas sintetizadores nas musicas tradicionais e sagradas malienses. Datadas da época de seu nobre antepassado, Sundiata Keita, Mike e Salif Keita foram vitimas de doenças que embranqueceram suas peles. Julgando suas aparências exteriores julgamos que suas almas embranqueceram juntas.

Curioso é que Gilberto Gil, como muitos de nós somos fãs adordorosos de Salif keita, e por muito tempo detestamos Mike. Mas isso é "história" pra outro texto que esse tá grande demais e o tempo na Lan House já acabou.

(Deley de Acari)

Fonte: www.deleydeacari.blogspot.com

Lançamento do livro "Líricas e Satírica do Iguaçu"‏




No dia 21 de maio nas dependências da faculdade UDC, no Anfiteatro Elias H. Prado houve um evento do curso de Letras Português/Inglês e Pedagogia. O evento promovido pelos cursos citados acima fizeram uma abertura e destinaram um pouco do tempo para o lançamento do livro de poesias de Edson de Carvalho - Mano Edo, da Banca CDR - com o titulo "Líricas e Satíricas do Iguaçu". Foram chamadas algumas pessoas para compor a mesa do evento o Professor Mestre de Literatura Norte-Americana Aissa; a Coordenadora do Curso de Pedagogia Professora Mestre Luciana Gomes; a professora de Literatura Inglesa Paula Domingues e o Poeta Marginal Mano Edo, autor do livro. O evento teve seguimento com linhagem em "Monstros da Literatura" que até hoje é constante em nossas vidas.

Momentos

Todo dia, toda hora e momentos há
Desprezo nos povos atuais
Alegrias às crianças
As regras do exército da paz

Há homicídios, genocídios e suicídios
Pela ignorancia do cruel filho
Nesta terra de melancolias
Na busca da terra prometida

O sangue circula nas artérias
A preocupação da matéria
Com escassos pensamentos vem a miséria

O labirinto está à vista
Problemas na conquista
E o ignorante homem não compreende.

(Edson de Carvalho)

Além de poeta, Mano Edo é B.Boy, arte-educador e estudante de letras em Foz. O livro pode ser encontrado na livraria da UDC Empresarial e na livraria Kunda.

ENTRE ASPAS: OS CONTOS DO ERA UMA VEZ... (Por: Carol).

Primeiro foi a guerra no Iraque. Apareceu o Bin Laden com o atentado contra as Torres Gêmeas. Quem não se lembra? Era 11 de Setembro, eu tinha acabado de chegar no Colégio e estavam todos lá. Uau! A maior polêmica! Todos começaram a pirar que seria o inicio da 3ª Guerra Mundial. As torres tinham sido destruídas pelos kamikazes liderados pelo logo descoberto Osama Bin Laden. Esse foi o estopim para que fosse iniciada a “busca pelos terroristas”. E mandaram milhares de soldados para o Iraque, e armamentos, e mantimentos, e bombas, e dinheiro, e o porquinho dos EUA engordando paulatinamente. E nada do Bin Laden aparecer. Quem assistiu o documentário Fahrenheit-11 de Setembro, de Michael Moore, pode comprovar que a “inocência” do gatuno George W. Bush não era tão inocente assim. O World Trade Center já não gerava tanto lucro como antes. Qual a melhor forma de desativar o prédio e ainda poder lucrar com uma guerrinha pra vender armamento e ainda levar de brinde alguns barris de petróleo?

Tudo bem...

Passou o tempo e o Sadam começou a incomodar. Lembram-se? Sadam Hussein aquele que foi caçado impiedosamente pelos yankees e depois foi submetido a tortura física, ficou todo detonado e depois executado. E não acabou por aí... Eles tinham que “redemocratizar” o país que não tinha condições de se reerguer sozinho e para isso indicaram um militar conceituado para organizar a redemocratização. Muito espertinho... Exploração do petróleo correu solta... Mas a imprensa não noticiou. Quando as especulações começaram a ficar demais, apareceu quem para salvar os EUA? Adivinha? Adivinha? Quem se lembra daquele pozinho que os “terroristas” enviavam nas correspondências para dizimar a população mais democrática do mundo... Huahauhau... Me desculpem... Mas chega até ser engraçado...O Antrax acalmou a guerra e deixou todo mundo em pânico. Correios, pessoas, o fim da humanidade e o tal pó. Ainda na época apareceram uns sacanas que enviavam trigo dentro das cartas só pra tirar uma onda ... Apareceu gente morta e tudo. Mas até hoje desconfio se esse Antrax existiu mesmo...

Mas as coisas não param por aí...

Os “kings of the world” estavam lá entediados e o cinto começou a apertar. Oh, God! Que fazer agora? Lembraram que os palestinos e os israelenses não tinham assim uma relação muito amigável. Uhú! Diversão!!! Os senhores do império mexeram tanto os pauzinhos que a treta dos vizinhos foi vendida para o mundo inteiro. E para que ficar do lado dos falidos? Eles tinham que lucrar um pouquinho na destruição e depois na reconstrução de algum país, né? E assim se aliaram com os israelenses para dizimar os palestinos. E mandaram armas, mandaram a ONU calar a boca, gastaram milhões de dólares em mais um conflito, mais vidas se foram. Mas isso não é problema para o Tio Sam! Os “yankees de mierda” como diria Chavez, só se acalmaram quando a bomba estourou pro lado deles. O fantasma da crise começou a soprar nos ouvidos mais temidos do mundo. Nesse instante o financiamento as guerras foi diminuindo. O poder e o carisma idiota do querido presidente George W. Bush estavam cada vez mais em baixa.

Era tempo de eleição, a galera não estava mais curtindo aquela “war" non sense. Preocupação... Que fazer agora? As eleições estavam aí. Nas finais ficaram um democrata e um republicano. O democrata acabou tendo o apoio da gata loira cujo sobrenome não me era estranho... Clinton. Hillary Clinton. Tá... Passou apertado mas o preto, pobre e muçulmano conseguiu vencer. A população fascista estava mesmo cansada do branquelo de sorriso irônico. Foi o negão assumir que as pressões com relação a crise financeira aumentaram. Ele tinha que dar um jeito nisso. No mundo não se falava mais em outra coisa que não fosse a crise, as demissões, as fábricas indo a falência, fechando os portões... A grande crise que poderia ser a destruição do capitalismo. O desespero foi grande... O mundo todo sentiu a “marolinha” da crise (imagina se fosse um furacão, né Sr. Presidente Lula?).

Mas não podia ficar assim... O império não podia ser desmoralizado dessa forma. E foi então que ela apareceu, linda, loira e alta e seduziu a indústria farmacêutica. Era ela que diziam ter aparecido no México... A gripe suína! Mudou o foco. Esquece a crise... É a gripe suína, que não é mais suína, que está aí. Todo mundo começou a discutir a tal gripe. Quem saiu lucrando foram as indústrias Roche e a Novartis. Encontrei até uma matéria em um sítio que o título era “Roche e Novartis aliviam efeitos da crise econômica através da gripe suína”. Bom, eu só sei que nessa história os mexicanos que morreram não tinham nome, só cidade e estado. Mas pode ter certeza que não eram ricos. Qualquer tipo de gripe pode matar se não for bem tratada. Se o corpo estiver fraco e se a pessoa não tiver um bom acompanhamento e tratamento.

Eu só sei que não acredito muito nestas histórias fantásticas. Agora o pânico está tomando conta da sociedade enquanto as duas empresas negociam parte das vendas com o império para se reerguer economicamente. Quem garante que essa não é mais uma história como a do Antrax? Quem garante que não foram os yankees mesmo que elaboraram essa tal gripe e soltaram por ai? Especulações não faltam... Mas como diz o velho ditado espanhol “no creo em las brujas, pero que las hay, hay” estou indo comprar uma roupa de mergulho, uma máscara e alguns tubos de oxigênio para me proteger... Sem deixar de pensar nos interesses econômicos que estão por trás de todo esse lindo “Eráse una vez un pais muy bueno que se llamava EEUU...”

P.S.: Qualquer semelhança com a realidade a culpa não é minha.

MST - PRA SOLETRAR A LIBERDADE - LECI BRANDÃO

IDÉIA PRA PERIFERIA

Idéia do Bairro (Por: Mano Edo)

X – Peço para ajudar.

Muita lama ainda há no meio das ruas que fora inundadas pela enchente do rio Ouro Verde. Diversas pessoas se voluntariando para solucionar os problemas causados pela forte chuva. Famílias ficaram desesperadas pela perda e danos materiais, alguns perderam móveis como cama; guarda-roupa; armários (com materiais matilde) e sem contar com roupas que caracterizaram também constantemente no mesmo processo.Teve vizinhos que se ajudavam e outros que nem aí com o acontecimento registrado nas últimas horas. Os moradores obtiveram de edificar um outro buraco na rua - extenso, ou seja, uma valeta para a água escorrer mais de pressa. Solidariamente Gustavo fez questão de se oferecer para seus vizinhos da rua de baixo para voluntariar com os demais membros do serviço comunitário sem CNPJ e sem reconhecimento. Gustavo disse a um senhor que teve mais perda em sua casa, se ele aceitaria uma oferta de ajuda:

- O senhor! Estou sem nada a fazer no momento quer que eu ajude você a remover esta lama que esta sobre o piso de sua casa?

Mas Gustavo teve uma frustração sem tamanho: ficou fodido com o que o senhor de idade lhe disse:

- Muito obrigado! Você veio olhar se restou algo ainda para roubar. Com licença seu moleque, aqui não Jacaré!

O senhor equivocado suspeitou de Gustavo por andar com Gugu: certo dia Gugu quebrou o vidro do barraco e atingiu uma relíquia que também quebrou. Sendo que o senso de Gustavo era mostrar carinho com o povo que vê ele crescer. Gustavo ficou exclamativo e imaginou, - Se um não gosta tem outro que irá gostar. Deslocando ao vizinho deste senhor que não foi grato, Gustavo fala:

- O senhor posso te ajudar?

- Em que?

O vizinho do senhor estúpido perguntou e Gustavo firmemente fixionou os olhos na cara e disse:

- Em puxar a lama; remover os móveis que estão puxando e ajudar limpar a casa. O que quiser de ajuda...

- Certo ! Então pega aquela enxada e vem aqui.

- Certeza!

Gustavo replicou. Com alguns minutos chegou a defesa civil e ordenou que estariam em risco se permanecessem em seus domicílios. Então, as famílias prejudicadas foram receitadas a irem até a Escola Municipal José de Alencar - Ensino Fundamental para esperarem que os problemas passem. Gustavo foi para sua casa após ter voluntariado forças braçais para ajudar seu povo, de coração e vontade espontânea.

Gugu no bar sorridente jogava sinuca; num bar que se localizava na última rua da favela. Ao seu redor alguns manos dele disputavam no jogo de sinuca quem permanecia na mesa, no caso, chamado de "tira pato" se divertiam...

(...)

Na mesa pequena havia doses de bebidas destiladas e copos com cerveja, dos outros que bebiam socialmente: A mesa estava ocupada de pessoas idosas e velhas que estavam jogando baralho. Por volta da mesa sentava cinco ou seis para jogarem canastra. Na mesa verde, de sinuca, na beira o copo dos jogadores e na mesa onde a garrafa do conteúdo se localizava havia garrafas "não todas mais milhares" mais de uma dúzia já vazia, que as crianças e adolescentes ingeriam licitamente...

NOVELA DA VIDA REAL (Por: Lizal)

Mais um Cidadão José Cap. 41

Tudo isso era muito novo para José. O bairro novo, muita gente na rua, pessoas diferentes, novos amigos, reuniões. Outra mudança foi no seu trampo, agora não precisava mais trampar na madrugada carregando caixas de cigarro. Ficava no seu barraco onde recebia as mercadorias e guardava no galpão. Não tinha hora certa pros malucos descarregar e nem pra buscar essas mercadorias, na maioria das vezes foi acordado no meio da noite. A sua casa transformou-se numa espécie de quartel general, onde os malucos colavam pra buscar e levar informações sobre a firma. Outras pessoas da vila, próximas de Mano Dé e de Marina começaram a freqüentar a casa de José, ainda mais depois que ele comprou um aparelho de som bem potente no Móveis Usados da quebrada.

José estava revirando sua mala de roupas, depois da sua viagem para o Paraguai e achou os 3 mil reais que ganhou do Mano Gê. Ele achou que o dinheiro tinha sido roubado junto com a outra quantia que desapareceu da sua carteira. Com todo aquele dinheiro foi até o mercado e fez o rancho pro mês. Comprou também roupa nova numa loja de Hip-Hop que tem na quebrada e alguns cds de Rap. Além do aparelho de som, comprou no Móveis Usados uma televisão, um aparelho de DVD e um ventilador. Só quando as paradas já estavam em casa que ele percebeu que estava abandonando a idéia de ir embora da cidade e tentar vida nova. Em uma semana José já estava conhecendo uma galera, dando um rolê na vila com o Mano Dé. Por conta do Movimento Hip-Hop e os trabalhos que desenvolve junto à juventude e por seu carisma, o maluco é conhecido e muito querido no bairro. A galera da quadrilha também colavam muito na casa por causa da segurança, o muro era bem alto, e era a última casa da viela; em caso de fuga era só subir por uma escada e descer por uma árvore, saindo num matagal que dava acesso ao outro lado da cidade. Junto com os malucos sempre vinham algum irmão que era chegado numa erva e ali mesmo fumavam a vontade e tomavam altos goles ouvindo rap.

Em poucos dias a casa se tornou o point da galera maluca da favela onde se trocavam altas idéias e arquitetavam suas ações. Algumas pessoas não fumavam, outras não eram envolvidas, outras não bebiam, mas gostavam de estar ali no meio daquele monte de maluco. Sem falar que ali também começou a colar várias minas loca e começou a rolar várias festas. Numa dessas festas colou a prima de Marina, Alice. Ela mora em outro bairro e estava visitando os parentes naquele fim de semana. José se encantou com a beleza da moça e não conseguiu tirar os olhos dela. Alice também se simpatizou e os dois conversaram até a madrugada. A mina também dá um dois no baseado e toma uns goles, mas não gosta muito de ouvir rap. Disse pra José que seus sons preferidos é MPB, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia. Prometeu voltar pra conversar mais com José e trazer alguns cds pra eles ouvirem. José dormiu com aquela mina na sua cabeça, não conseguiu tirar ela da cuca o restante da semana. Percebeu que estava mudando o rumo da sua vida, há alguns meses atrás queria levar a Preta e o Neguinho pra morar com ele em outra cidade e agora está a fim de outra mina e não voltou mais pra tentar ver seu filho.

O bairro estava movimentado com a divulgação do Ato contra a violência de Estado que estava sendo organizado pela Associação de Moradores e alguns movimentos sociais. O carro de som passava pelas ruas do bairro chamando o povo a participar. “Segurança Pública é respeitar os direitos humanos e afirmar a vida”, falava no microfone um dos organizadores do manifesto. “Segurança não é polícia, segurança é educação de qualidade pra todos, moradia, saúde, alimentação, emprego digno...”. “Junte-se a nós nessa luta contra esse Estado que trata o povo pobre como bandido”. “Abaixo a Criminalização da Pobreza”. Simultâneo ao carro de som uma galera distribuía panfletos e conversava com os moradores. No panfleto dizia: “A Associação de Moradores, os Movimentos Sociais, Defensores de Direitos Humanos e outras organizações da nossa cidade críticos ao atual modelo de segurança buscam alternativas coletivas para fortalecer seus processos de luta e de resistência. A repressão não é o caminho para se obter uma sociedade mais segura. A orientação para invadir com armas as comunidades pobres, a censura às manifestações da cultura popular, a perseguição aos movimentos sociais organizados e, as prioridades adotadas pelos governos evidenciam uma lógica de apartheid que criminaliza a pobreza e acarreta em graves violações dos direitos humanos cometidas pelo Estado” (...) “A promoção de novas estratégias de resistência ao controle repressivo dos setores populares são passos fundamentais em nossa luta”.

Muita gente estava reunida na rua em frente a Associação de Moradores. Muitos com as bandeiras de seus movimentos, outros com camisas do Che Guevara, Zumbi dos Palmares, MST. Os manos do Hip-Hop também colaram em peso na manifestação. Num varal de poesias organizado pela galera do colégio estadual tinha poemas de Brecht, Mauro Iasi, Patativa do Assaré, Cora Coralina, entre outros. O grupo de samba da quebrada cantava sons das antigas de Jorge Aragão, Almir Guineto, Leci Brandão, Ratinho, Bezerra da Silva, Aluízio Machado, Jovelina. Nos intervalos o microfone era ocupado por representantes dos Movimentos Sociais onde se discutia a questão da segurança pública, a criminalização da pobreza e a crise mundial do capitalismo.

Um militante chamado Mazinho falou com eloqüência para as centenas de pessoas presentes: “O desemprego, a fome, a falta de dinheiro, os baixos salários já existem e já é grande antes que se anuncie a crise. Quando se vai pra mídia pra alertar a população a respeito da crise é porque ela chegou aos bolsos da elite, porque está afetando os capitalistas. Quando se vai pra televisão é para tentar convencer ideologicamente o povo a aceitar as medidas que o governo ta tomando. Essa parada de 'logo após a tempestade vem a bonança' é um caô', pra favela nunca veio bonança. Quem nasce na favela já nasce na crise”.

(...)

“Sempre procuram um setor, um bode expiratório para que seja o culpado, o causador da crise. A especulação imobiliária e blá blá blá blá... Mas na verdade é o próprio sistema que é o culpado. Se quisermos acabar com a crise temos que acabar com o sistema capitalista”.

(Lizal. Na próxima edição mais um capítulo)

A CURA PARA AS DEMISSÕES: DEMITAM O PATRÃO!”.

Modelo argentino de controle de fábricas pelos trabalhadores ganha força pelo mundo

Naomi Klein e Avi Lewis

Em 2004, fizemos um documentário chamado “The Take” sobre o movimento argentino de empresas dirigidas pelos trabalhadores. Depois do dramático colapso econômico do país em 2001, milhares de trabalhadores ocuparam suas fábricas fechadas e voltaram a produzir por meio de cooperativas. Abandonados por chefes e políticos, recuperaram salários e indenizações não pagas, ao mesmo tempo em que recuperavam seus postos de trabalho.

Quando viajamos pela Europa e América do Norte com o filme, cada sessão de perguntas e respostas terminava com o questionamento: “Tudo isso está indo muito bem na Argentina, mas poderia chegar a ter êxito aqui?”

Bem, agora que a economia mundial se assemelha em muito com a da Argentina em 2001 (e por muitas das mesmas razões) há uma nova onda de ação direta entre os trabalhadores dos países ricos. As cooperativas voltam a emergir como uma alternativa prática contra mais demissões. Trabalhadores nos EUA e na Europa começam a formular as mesmas perguntas que seus homólogos latino-americanos: por que tivemos que ser despedidos?, por que não podemos despedir nossos chefes?, por que se permite que um banco dirija nossa empresa enquanto recebem bilhões de dólares do nosso dinheiro?

No dia 15 de maio, na Cooper Union na Ciudad de Nueva York, participamos de um painel acerca deste fenômeno chamado “Demita seu chefe: a solução de controle pelos trabalhadores de Buenos Aires a Chicago.”

O encontro contou com a presença de representantes do movimento na Argentina, assim como de trabalhadores da famosa luta de "Republic Windows and Doors" em Chicago.

Foi uma boa maneira de escutar diretamente aqueles que tratam de reconstruir a economia desde a base e que necessitam de um apoio significativo do público, assim como dos responsáveis políticos e todos os níveis do governo. Para os que não puderam ir a Cooper Union, segue um breve resumo dos recentes acontecimentos no mundo das fábricas controladas por trabalhadores.

Argentina:

Na Argentina, inspiração direta para muitas ações dos trabalhadores, tem havido mais formas de tomada de fábrica nos últimos 4 meses do que nos últimos 4 anos.

Um exemplo:
A Arrufat, fabricante de chocolates com uma história de 50 anos, foi bruscamente fechada no final de 2008. Trinta empregados ocuparam a planta e, apesar da imensa dívida com o poder público deixada pelos antigos proprietários, estão produzindo chocolates a luz do dia, utilizando geradores.

Com um empréstimo de menos de 5 mil dólares do The Working World, uma ONG de fundo financeiro iniciada por um admirador do "The Take", puderam produzir 17 mil ovos de Páscoa para o maior feriado do ano. Obtiveram um lucro de 75 mil dólares, cada um levou 1 mil dólares para casa e destinaram o restante para a produção futura.

Reino Unido

A Visteon é uma fabricante de autopeças que foi descartada pela Ford no ano 2000. Centenas de trabalhadores receberam um aviso-prévio de 6 minutos. Duzentos trabalhadores em Belfast sentaram-se sobre o teto de sua fábrica, outros duzentos seguiram este exemplo no dia seguinte.

Durante as seguintes semanas, a Visteon aumentou seu pacote de indenização em até 10 vezes mais que sua oferta inicial, mas a companhia se nega a colocar este dinheiro nas contas bancárias dos trabalhadores até que estes abandonem as plantas da fábrica, e eles, por sua vez, se negam a sair até que recebam o valor.

Irlanda:

Uma fábrica na qual os trabalhadores produzem o lendário cristal de Waterford, foi ocupada durante sete semanas no início deste ano quando a matriz Waterford Wedgewood declarou falência depois de ser adquirida por uma empresa privada de investimentos dos EUA.

A companhia estadunidense tem colocado até agora 10 milhões de euros em um fundo de indenização e realiza negociações para conservar alguns dos postos de trabalho.

Canadá:

Com o colapso das três grandes da indústria automotiva estadunidense, tem havido, até agora, quatro ocupações de plantas pela Canadian Auto Workers durante este ano. Em cada caso, as fábricas estavam fechando e os trabalhadores não recebiam a compensação que tinham direito. Ocuparam as fábricas para impedir que as máquinas fossem retiradas e o fizeram como meio de pressão para obrigar que as companhias voltassem à mesa de negociações – precisamente na mesma dinâmica adotada pelos trabalhadores argentinos.

França:

Na França, está acontecendo uma nova onda de "sequestro de chefes" durante este ano, nos quais os empregados enfurecidos detêm seus chefes em fábricas que seriam fechadas. As companhias em questão até agora incluem a Caterpillar, 3M, Sony e Hewlett Packard.

Levaram um prato de mexilhões e batatas fritas ao executivo da 3M, durante sua dura experiência de uma noite.

Uma comédia de êxito na França durante esta primavera foi um filme chamado "Louise-Michel," na qual um grupo de trabalhadoras contrata um assassino para que mate o seu chefe depois de este ter fechado sua fábrica sem aviso-prévio.

Um dirigente sindical francês disse em março: “os que semeiam a miséria colhem violência. A violência é cometida por aqueles que fecham postos de trabalho, não pelos que os defendem”.

Em maio, mil trabalhadores da siderurgia interromperam a reunião anual de acionistas da ArcelorMittal, a maior companhia siderúrgica do mundo. Ocuparam a central da companhia em Luxemburgo, romperam portas, quebraram janelas e enfrentaram a polícia.

Polônia:

Também em maio, no sul da Polônia, no maior produtor avícola da Europa, milhares de trabalhadores bloquearam a entrada do QG da companhia em protesto contra os cortes de salários.

EUA:

E, em seguida, há a famosa história da Republic Windows and Doors: 260 trabalhadores ocuparam sua planta durante seis dias que estremeceram o mundo em Chicago, em dezembro passado. Com uma habilidosa campanha contra o maior credor da empresa, o Bank of America ("vocês foram resgatados e nós fomos vendidos!"), e uma massiva solidariedade internacional, obtiveram as indenizações que lhes deviam. E, além disso – a planta reabriu sob nova direção, produzindo janelas de energia solar e todos os trabalhadores foram reintegrados aos seus antigos postos, com os mesmos salários.

Recentemente, Chicago se converteu numa tendência. Hartmarx é uma companhia de 122 anos que produz trajes de executivos, incluindo o azul marinho que Barack Obama usou na noite da eleição e o smoking e sobretudo que usou em sua posse.

A empresa está em bancarrota. Seu maior credor é o Wells Fargo, que recebeu uma ajuda de 25 bilhões de fundos públicos. Ainda que haja duas ofertas para comprar a companhia e mantê-a em operação, a Wells Fargo quer liquidá-la. Em maio, 650 trabalhadores votaram pela ocupação da fábrica em Chicago se o banco seguir em frente com a liquidação.

Naomi Klein é jornalista, escritora e ativista canadense e Avi Lewis é documentarista canadense.

Fonte: Brasil de Fato.