quarta-feira, 8 de outubro de 2008

NOVELA DA VIDA REAL

Mais um Cidadão José Cap. 31

O Soldado Farias bem que tentou sacar sua arma, mas não deu tempo. Um maluco estava com uma Doze pressionada contra sua nuca. O suor começou a descer pelo seu rosto. De cada peça da casa começou a sair malucos de arma em punho, como ratos saindo da toca. Mas nessa história o rato era ele. Um maluco começou a revistá-lo, pegou a 357 que estava em seu coldre e achou mais uma PT, mocada dentro da roupa do gambé. Nesse momento dois malucos entram na sala, trazendo o outro coxinha. Por um instante descuidaram-se do Farias, que agarrou um maluco pelo pescoço e tentou tomar sua arma. Estava conseguindo, mas um maluco foi ajudar e conseguiu contê-lo. Levaram os dois para fora da casa e pediram para que se encostassem na parede. Cada maluco descarregou a arma nos dois gambé que caíram sem vida no chão de terra, misturando o sangue à poeira. O Japão pegou uma faca foi até o Farias e cortou sua orelha. Pediu pra um rapaz ir buscar a viatura e outro para buscar um envelope de carta e uma caneta. Jogaram os corpos dos gambé no porta-malas da viatura e seguiram em destino à quebrada do Mano Gê. Deixaram a viatura na entrada da Favela e depois deram fuga em outros veículos.

José ainda dormia em seu barraco, nem sonhava com o que estava acontecendo nesse momento; nem o Pio, nem o Mano Gê imaginava. A favela estava vazia, iam ficar de férias por 15 dias. Tinham esse tempo pra executar o serviço. O gambé Farias foi a primeira baixa da lista. Mas os malucos estavam agindo. Numa quebrada não muito longe dali dois malucos passaram de moto algumas vezes em determinada rua. Numa dessas passagens viu um rapaz sair de casa, de bermuda e chinelo em direção a uma Lan House. O carona olhou pra uma fotografia e confirmou pro motoca:

“- É esse.

Aproximaram-se e descarregaram a arma, fugindo em seguida. Esse foi o segundo.

Essa hora algumas viaturas estavam em volta da viatura abandonada na entrada da favela. Tentaram entrar em contato com os policiais, mas as chamadas caíam na caixa postal dos celulares. Era muito estranho a viatura ali abandonada com chave e tudo. Um gambé pegou a chave e abriu o porta-malas. Ali estavam os corpos dos dois soldados todo furado de balas e um deles com a orelha decapitada. Num canto um envelope amarelo. Dentro do envelope uma orelha e um bilhete:

“Isso é o que vai acontecer com todos os que atrapalharem nossos negócios”.

O policial pediu reforço pelo rádio e em questão de minutos dezenas de viaturas haviam cercado a favela. Começou uma operação para capturar os criminosos. Sem mandado de busca eles começaram a invadir os barracos. Crianças assustadas corriam para dentro de casa, cachorros latiam sem parar e os malucos que ainda estavam na quebrada conseguiram atravessar de barco pro outro lado antes da polícia chegar até a barranca.

Em um bairro, do outro lado da cidade, alguns jovens jogavam futebol. Dois malucos pararam de carro e sentaram-se na grama. Ficaram olhando os jogadores e identificaram a pessoa que estavam procurando.

- É esse maluquinho ali, né?

- Sim, é ele mesmo.

O rapaz era um bom jogador, driblava, fintava, e só marcava golaços. Abraçava os companheiros, sorria, seus olhos brilhavam. Ele gostava do que fazia, concentrado dava ordem aos outros jogadores para posicionarem-se no lugar certo e como um capitão impulsionava o time. Poderia ser um profissional um dia. Findo o jogo, após a goleada, caminhou lentamente para a lateral do campo enxugando o suor do rosto com o braço. Um dos malucos entrou no carro e ficou preparado para a fuga. O outro maluco sacou o revólver e seguiu até o mano perguntando:

- Você é o Dequinha?

Mas, antes que ele pudesse responder, efetuou um disparo acertando a sua testa. Quando o jovem caiu no chão ajoelhou-se ao lado dele e ficou procurando o coração para acertar mais um tiro. Deu ainda um tido na barriga, entrou no carro e foi embora. Se tivesse esperado o rapaz responder ouviria:

“Não. O Dequinha é meu irmão”.

Haviam matado o rapaz errado, ele tinha um irmão gêmeo que se envolveu com o crime fazia pouco tempo. Nem a família sabia de seu envolvimento.

José dormiu o dia inteiro. Acordou assustado, já estava escurecendo. Estava fraco, desanimado, preocupado. Precisava sair da cidade urgentemente. Pegou suas roupas, que não eram muitas e começou a arrumar em uma sacola de muambeiro. Estava cabreiro, torcendo pra que ninguém viesse lhe procurar. Em seguida tomou um banho gelado, demorado, e isso baixou um pouco a tensão. Olhou sobre uma mesinha a foto onde estava ele a Preta e o Neguinho. Pegou o porta-retrato e ficou relembrando o tempo em que era feliz. O Neguinho ainda era bebê de colo, hoje deve ta um piazão grandão, faz muito tempo que José não o vê. Não pode ir embora e deixar o Neguinho ali em perigo, resolveu ir até a casa da Preta novamente e dessa vez só sair dali quando encontrá-la. Para prevenir-se pegou 2000 reais para pagar a pensão atrasada e deixar um dinheiro para as passagens se caso queiram ir com ele. Talvez aceitem ir, mas não assim encima da hora. Assim José pode ir primeiro e eles viajarem depois.

José pensou em levar o canhão, depois decidiu que não. Fechou a porta e olhou pra fora. A vila já estava escura, iluminada apenas por alguns postes que a luz não estava quebrada. Tomou um fôlego, pensou, pensou e abriu a porta novamente. Foi até a gaveta e pegou o trezoitão, olhou para ele, colocou na cinta e saiu. José não se reconhecia mais, há alguns meses atrás abominava as armas e agora esta ali andando armado. Aquilo era muito estranho pra ele.
Viu um farol ao longe e dispensou o canhão na grama. Continuou
andando, o carro passou por ele e não era a viatura da polícia. Voltou pra pegar o calibre. Até chegar na quebrada onde a Preta mora dispensou o canhão sete vezes ao todo e nenhuma dessas vezes era a viatura da polícia. Começou a ficar confiante e o próximo farol que viu resolveu não dispensar o canhão. O carro vinha em alta velocidade. Era uma viatura, mas passou a milhão sem ao menos olhar pra ele. O coração de José acelerou, ele ficou branco de susto e depois achou graça.

Mais uma vez estava parado ali na frente da casa da Preta. Nessa hora seu coração voltou a acelerar, sentiu medo novamente. As luzes da casa estavam apagadas, como da outra vez. Pensou em voltar pra trás, mas precisava muito falar com ela. Bateu palmas, mas ninguém atendeu. Insistiu e continuou batendo palmas. Uma vizinha saiu na janela.

- Você ta procurando a Preta?

- Sim. Ela não ta?
-
José perguntou, mas ficou temendo a resposta. Vai que a Preta ta casada e a mulher diz que ela saiu com o marido.

- Ela foi viajar hoje, um tio dela faleceu em Santa Catarina, ela só volta na outra semana.

- E o Neguinho foi com ela?

Novamente José temeu a resposta. Vai que aconteceu alguma coisa com o Neguinho e ele, devido a sua ausência, não tenha ficado sabendo.
- Sim, foi com ela. Eles não se separam.

- A senhora tem uma caneta e um papel pra me arrumar?

- Sim, vou buscar.

José anotou o endereço da casa da Preta para mandar uma carta outro dia. Pediu pra senhora deixar um recado avisando que ele esteve ali.

(Lizal, na próxima edição mais um capítulo)

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