domingo, 2 de agosto de 2009

RAJADA MC'S – O Tempo não para. (Por: Lizal)



“Daqui de cima eu observo tudo
E bem de longe vejo as luzes de mercúrio
Centro, veneno, tretas, enquadros
Bebidas, cigarros, vadias, que chato
Não me alegro mais com isso, não me contenta
Falar a real vocês nem notaram a falta da minha presença
Eu não to mais colando, mas pode saber que enquanto
Vocês tão chapando, por vocês eu to orando
To ligado mano, eu sei o que cada um quer pra si
Quando todos vocês chegaram eu já tava aqui
Acompanhei um por um, desde o primeiro momento
As primeiras letras, todo o desenvolvimento
É claro, que o tempo passa e as coisas mudam
Vocês podem até não querer, mas ainda são meus trutas
Nessa luta tenho aqui meu time, Rajada
Tamo junto, envolvido, grudado, nada separa”...

Parte da música O Tempo não Para de Rajada Mc's).

É difícil falar de Rap no Paraná hoje sem citar o grupo Rajada Mc's. É lógico que o cenário paranaense está forte e bem representado com nomes como Thiagão e os Kamikazes do Gueto, Aliados da Periferia, Federação Repúbli-k, Resistência, Pensamento Racional, Quinto Naipe, Atitude Consciente e dezenas de outros grupos que compõem a diversidade musical desse estado e que leva o Hip-Hop Paranaense para a esfera nacional, para o palco da visibilidade. O próprio Thiagão e os KG traz em seu álbum mais recente essa discussão de que no Paraná também tem rap do bom. Geralmente as homenagens às pessoas ou grupos que gostamos vêm postumamente após a morte dessas pessoas ou a aposentadoria desses grupos. O rapper GOG foi homenageado em vida com uma biblioteca comunitária que ganhou o seu nome e disse que é muito bom receber as flores em vida enquanto podemos sentir seu cheiro.

Uma das razões da realização desse texto foi a notícia que chegou até mim de que o grupo de rap de Campo Mourão, Rajada Mc's, pendurava suas chuteiras. Eu que sou um torcedor assíduo, sempre acompanhei de perto a trajetória desse grupo e que me tornei um grande amigo e parceiro de correria dos integrantes do mesmo, fiquei muito triste com tudo isso, sabendo que o Hip-Hop paranaense e nacional perderia muito. Conversei com um dos integrantes, o mano Careca – conhecido na cena como Poeta Loko –sobre a idéia do fim do grupo. Ele admitiu que o grupo passa por problemas, mas que isso não significa que o grupo tenha acabado. “Mano... eu não digo fim e não digo acabou... são palavras muito pesadas. Simplesmente paramos de produzir devido às circunstâncias do momento em que cada um vive. O Rajada é eterno, enquanto nossa música tocar no rádio dos manos o grupo vive. Apenas não estamos fazendo shows e nem músicas novas. Não gosto de dizer que acabou... para mim não acabou”.

O mano Careca foi um dos fundadores do grupo. A primeira formação se deu no ano de 1997 e contava também com sua prima Lílian e seus amigos Morcego e Dj Papa-léguas. Após o fim do grupo MDR o qual o Mano Neguinho fazia parte e o fim do grupo do Robinho, os dois vieram a juntar-se ao Rajada que já estava no processo de gravação do seu primeiro álbum. O CD foi lançado em 2004 com o título RJD Respeito Justiça Dignidade Ativa e alavancou o grupo para uma projeção no cenário paranaense. Com um trampo na rua o grupo passou a viajar por diversas cidades fazendo shows, entre elas: Umuarama, Cianorte, Maringá, Paysandu, Iporã, Foz do Iguaçu, Curitiba, Brasília entre muitas outras. Sempre focados nas questões sociais o grupo começou sua militância além da música com a organização do Movimento Hip-Hop da sua cidade criando o MH2O (Movimento Hip-Hop Organizado). “O MH2O foi a alavanca do Rap Mourãoense e uma organização importante no interior. Acredito que a partir do MH2O os grupos da região pensaram em se organizar, passaram a acreditar. Muitos nos julgavam malucos, até nós mesmo nos perguntávamos, será que é isso memo? Será que tamo fazendo o certo? Ninguém ajuda ninguém hoje em dia” – disse o Poeta loko em conversa pela internet.

Através do MH2O organizaram junto ao SESC local oficinas de Hip-Hop com os quatro elementos (Break, Grafitti, Dj e Mc) e a partir dessas oficinas o evento Rap é o Som Festival. Com essas oficinas surgiram diversos grupos de Rap, Djs, Grafiteiros e B.boys amplificando o Movimento Hip-Hop da cidade. Foram lançadas coletâneas com os grupos do interior e o Dj Papa-léguas formou um projeto chamado 44bpm que reunia alguns dj´s do interior num coletivo. As oficinas eram desenvolvidas no Espaço da Cultura Popular, com o apoio da prefeitura. Desses encontros surgiu também a Banca MPC 288, a junção de vários Mc's de grupos diferentes em um grupo só, no estilo Wu Tang Clan com o propósito de montar um selo para lançar os álbuns solo desses manos. Com a mudança da administração pública na cidade as oficinas foram canceladas.

O SESC de Campo Mourão realizava todo ano um evento chamado SESC Rock. Num desses eventos o grupo Rajada Mc's foi convidado a participar da abertura do show. O público rap das favelas de Campo Mourão colaram em peso, então o grupo pensou em bolar um projeto semelhante para o Hip-Hop. Cria-se o evento Rap é o Som em 2002, com estrutura pequena, que foi crescendo a cada ano. Até então o evento era local, para a apresentação dos grupos da própria cidade, mas em 2007 toma a proporção de Festival. Através de um projeto escrito pelo Dj Papa-léguas viabilizaram verba para um evento com maior estrutura que abrangesse várias cidades do interior paranaense. A dose foi repetida com sucesso em 2008 com a presença de grupos de Foz do Iguaçu, Paysandu, Rolândia, Umuarama, Ponta Grossa e diversas outras cidades. Questionado sobre a importância de eventos como esse Careca diz que: “Um evento dessa proporção pro rap paranaense é de enorme importância porque incentiva os grupos a trabalharem melhor, se dedicar nas músicas, ter idéias... e os mano que colam curtem de graça um evento de qualidade, com som bom, iluminação. E é aquilo, a favela merece, né meu querido. Acredito que muitos grupos passaram a acreditar em subir num palco para estar no palco do Rap é o Som Festival. A importância de se organizar é aquilo né irmão, unindo agente fica em pé, dividindo agente cai”.

Em entrevista para o Fanzine do Cartel do Rap em 2007 o grupo foi questionado sobre a identidade do Rap Paranaense, o porque de o Rap do nosso estado não ter uma identidade própria. O Dj Papa-légua respondeu que: para se criar essa identidade, primeiro o Hip-Hop daqui precisaria ser visto. E o que o Rap é o Som Festival, assim como o evento que rolou em Toledo para gravação de um DVD ao vivo faz, é colocar em evidência os grupos que estão se destacando por aqui, já que estamos tão “distante” do eixo Rio/São Paulo e Prêmio Hutuz. O trampo que veio para cravar definitivamente o nome Rajada Mc's na cena do Hip-Hop foi gravado em 2006. Intitulado O Tempo é Rei o álbum trouxe um teor de desabafo para calar os boatos de que o grupo havia acabado. O álbum trouxe sucessos como Batidas Rotineiras, Mil Fitas, Respostas e a música título O Tempo é Rei. O CD faz jus ao nome e mostra o amadurecimento do grupo depois de todos esses anos de correria pelo Rap.

Pra quem vive de cultura hoje no Brasil vive de forma precária, ainda mais quando é uma cultura alternativa de contestação social e não de entretenimento. Raras exceções conseguem viver do Hip-Hop no Brasil. O rapper underground Slim Rimografia ilustrou muito bem isso no refrão de uma de suas músicas: “Eu não vivo de Hip-Hop, mas é pelo Hip-Hop que eu vivo / E vou rimando sem fins lucrativos”. Como o grupo Rajada Mc's nunca abraçou a indústria fonográfica, não jogou o jogo do mercado e nunca compôs suas músicas de acordo com a exigência das gravadoras, seus integrantes nunca conseguiram sobreviver de sua arte. Devido o forte desemprego na cidade de Campo Mourão, no ano de 2007 viajaram para Santa Catarina em busca de melhoria de vida. O grupo acabou não ficando muito por lá, pois o custo de vida era muito alto em relação ao salário que recebiam. Depois foi a vez de Curitiba. O Mano Careca foi pra capital paranaense para acompanhar o nascimento de seu filho e resolveu ficar por lá morando com sua esposa. Depois de um tempo convidou os demais integrantes a morar por lá. Apesar de Curitiba ser uma cidade mais desenvolvida e com maior facilidade para se conseguir um emprego do que Campo Mourão, o mano ainda não se adaptou: “A vida na metrópole é outra coisa, essa cidade deixa qualquer um maluco, depressivo. Vixi eh mó veneno, sem palavras pra citar”. Ali em Curitiba o Poeta Loko conheceu o Dj Kuruja com quem preparou um trampo solo. A mix-tape está disponível somente na internet para download.

O Rajada Mc's em Curitiba começou a gravação do novo álbum e lançou em 2008 um single com o nome Vários Lados em um Só. Com todas as barreiras enfrentadas, a mudança para outra cidade, vivendo longe dos familiares, a situação financeira, o desemprego, as dificuldades pelo que passa o Hip-Hop nacional hoje, o grupo se desentende e resolve dar um tempo para que as coisas se acertem. O Robinho e o Neguinho pretendem lançar um trampo em parceria, o Dj papaleguas prepara uma coletânea com grupos convidados produzidos por ele, e o Mc Careca começou a trabalhar com o grupo Plena Atitude que em breve lançará um single. É notável que esses manos têm o Rap no sangue (ou o sangue no Rap igual diz uma de suas canções) e não abandonarão o movimento. E mesmo se eles chegarem a sair do Rap, o Rap nunca sairá deles. Mas o público está apreensivo, com tantos grupos se acabando, se separando, seria uma enorme perda para o Movimento Hip-Hop do Paraná.

Chegaram boatos até mim de que semana passada os manos se reuniram em Campo Mourão para discutir o futuro do grupo.

Será que o grupo volta a produzir? Só o tempo pra nos responder. O tempo é Rei.

“É por você que acreditou, que aqui a gente está
4 louco é nois di novo, RAJADA está no ar
Tem que ter fé e acreditar, os sonhos sempre sonhei
Aos poucos tô realizando, mano, o tempo é rei”

(Trecho da música O tempo é Rei)

3 comentários:

Unknown disse...

Salve... Oloku mano a Reportagem fiko sem palavras mais ao mesmo tempo é triste . eu ajudei o caréca como foi possivel produzindo o mixtape no jogo que se enconta pra baixar no WWW.PRUSMANO.COM. Eu ainda acredito ki um dia o R.J.D volte mais inquanto isso eu curto os som deles pq igual o careca diz .´Enquanto o som ta tocando o grupo não acabou. Mais é isso ai seu trampo é da hora . Os mano tudu agradece

Unknown disse...

No mês de Março desse ano eu Emidê do Plena Atitude fiquei sabendo que o Rajada MCS estavam pela capital e marquei com o Careca da gente troca ideia um dia pra pode fecha um som que fizemos em parceria a um temo atrás, ai quando falei com ele comentamos sobre a situação de cada grupo e ambos passavam por muitas dificuldades, a do Plena era a divisão do grupo que a muitos anos vinha com a mesma formação e o Rajada estava com o problema de distância e tempo mesmo, como temos o rap na nossa vida estavamos abalados pelas situações em que nos encontravamos, ai resolvemos unir forças e fazer alguns trabalhos juntos, Plena Atitude e Poetaloko, foram produzidas 5 músicas daonde sera lançado um single com as mesmas. Tenho muito a agradecer o Careca, pois se não fosse ele talvez o Plena teria seu fim decretado. Agora as coisas estão caminhando ceto pro Plena e estamos na torcida pra que o Rajada volte a ativa logo. Quem tiver o interesse em ouvir alguns sons que foram feitos nessa parceria e só conferir no www.myspace.com/plenaatitude
E não posso deixar de parabenizar o Lizal pela reportagem, fico di mil mesmo e como disse o Kuruja, Os mano tudu agradece. Muita paz respeito entre nós. Tamo junto !!!

Unknown disse...

''tristeza ake em maringá só de pensar ke o rjd pod acaba isso nunca mano enquanto deus por ar nos pulmões eu vo táh ake passando a idéia e mostrando o som do grupo ke me ajudou até a enfrentar obstáculos salve de coração irmãozinhos do rajada mc's humilde até o osso voces ke deus abençoe éssa reportagem não só relata a vida dos manos como tambéim valoriza a importancia do grupo'' sempre ''