domingo, 5 de julho de 2009

O PRÓXIMO FRANKENSTEIN (Por: Yoani Sanches, Cuba).



Permutou um relógio de grife para obter o microprocessador; a placa mãe foi deixada pelo irmão que se foi do país. Só lhe faltam as memórias RAM para montar o próximo Frankenstein, com que se unirá a intranet que foi feita por vários jovens de seu edifício. Com apenas trinta anos, tem construído seus próprios computadores desde há uma década, graças ao mercado negro de peças de informática. No princípio eram verdadeiros abortos - cheios de inovações - porém com o tempo suas máquinas tornaram-se mais apresentáveis e competitivas. Agora está montando uma nova “criatura” para iniciar-se no negócio de ripar DVDs e deixar seu aborrecido trabalho numa dependência estatal. Um complexo programa de edição de vídeos lhe permitirá anunciar-se como “especialista em filmar casamentos e festas de quinze”, ocupação informal muito bem remunerada. Entre os sonhos que acaricia está o de plugar-se na Internet e buscar nos chats uma noiva que o tire daqui. Fantasia que ela o presenteia - no dia de seu casamento - com um computador que não necessite nem de um parafuso.

Quando se anunciou que Raúl Castro permitiria a venda de computadores à cubanos, este técnico alternativo se alegrou de não haver tido que esperar tanto. Com o preço de um laptop vendido hoje nas lojas em pesos conversíveis, ele poderia adquirir - de maneira informal - peças para construir ao menos três PCs. Com certeza, no seu Frankenstein falta o mais importante, a possibilidade de sair afora e dar seus primeiros passos na web. Para deixar de ser um simples acúmulo de circuitos, necessita do relâmpago da conectividade, essa corrente de energia que o fará despertar para a vida.

(Yoani Sanches é filóloga e blogueira em Havana, Cuba. Recentemente pela popularidade de seu blog Generacion Y foi considerada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo)

Fonte: www.desdecuba.com/generaciony

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