sexta-feira, 6 de março de 2009

NOVELA DA VIDA REAL (Por Lizal)

Mais um Cidadão José Cap. 36

A loira colocou o dinheiro na bolsa e devolveu a carteira no bolso de José, com muito cuidado, pra ele não acordar. Saiu do quarto, deixando-o ali cochilando. Ele havia pagado o programa adiantado, assim como o combinado. Lá embaixo no salão os malucos esperavam por José. Ele só despertou quando tocou uma campainha avisando que esgotou seu tempo de 2 horas de aluguel do quarto. Acordou assustado e correu para lavar o rosto. Antes de sair viu uma garota entrar no quarto e começar a dar uma geral rápida, trocar lençóis e recolher as embalagens vazias de bebidas. Não conferiu sua carteira. Desceu as escadas e avistou os malucos no balcão ainda bebendo. Todos eles tinham saído com alguma garota. Pegaram uma garrafa de Uísque e chamaram José pra dar linha na pipa.

- Quem vai dirigir? Eu to sem condições. – disse Mano Gê.

Os malucos ficaram se olhando, José estava muito chapado e ainda meio dormindo. O Mano Branco assumiu a boléia. O litro de Uísque passeava de mão em mão enquanto o loco pisava fundo no acelerador. Ligaram o som e a coletânea de Rap iguaçuense ainda estava no toca cd do carro. Começou a rolar o som do Mano Santiago de Foz do Iguaçu, mas os malucos já estavam pra lá de Bagdá, estavam muito chapados pra prestar atenção na música. “Nos fizeram inimigos, nos tornamos rivais / é o ser humano em conflito, sempre em busca de paz / dividiram as classes, preconceito de raças / é o estúpido esquema, do sistema covarde (...) Ricos e pobres nesse conflito / do lado nobre os edifícios (...) Guerra entre nobres e plebeus / vários revólveres cadê o meu? (...) Que Deus proteja o povo pobre / porque os ricos vão ao psicólogo (...) Olha em volta dor e revolta / tem diferença, fome e pobreza / tem desperdício a classe burguesa (...)”.

- Maluco!!! Pensa numa morena. Ahahahhaha.... – disse o Mano Branco olhando pro banco de trás.

- Cês não viram nada rapaziada. – falou o Mano Gê todo orgulhoso.

Os paraguaios começaram a falar em guarani entre si. Eles haviam alugado o mesmo quarto pra economizar dinheiro e foram com duas brasileiras. Mas no final ficou até mais caro, porque as minas cobraram um preço mais alto.

- A mais filé foi eu que catei. – disse o Mano Pio com empolgação.

- É que você não viu a loirona que o Zé levou pra grupo, meu irmão. – rebateu o Mano Branco.

- Conta aí Zé.

José estava calado, no seu canto.

- Fala aí maluco. – começaram a insistir.

- Então, eu dormi.

- Ahahahahah.

A gargalhada foi geral e chegou a abafar o som do carro. Começaram a fazer piadinha e tirar um barato da cara de José.

- Depois da fita malandro. Eu dormi depois. Ehehehehhe.

José tentou corrigir, mas não teve jeito, os malucos continuaram zuando. Um dos paraguaios bolou um baseado e começou a fumar. O beque passou de mão em mão até chegar em José.

- To sossegado tio, não gosto de baseado.

- Você já fumou alguma vez?

- Não, nunca fumei.

- Então como você diz que não gosta de uma parada que você nunca provou?

- É...

Antes de José se explicar o maluco emendou:

- Faz um teste-drive aí malandro, se você não gostar você nunca mais fuma.

- É isso aí Zé, vai na fé.

Os malucos continuaram a insistir. José estava chapado e mais vulnerável. Não raciocinava direito. Pensou em seguir o conselho do maluco, dar uma bola e falar que não gostou, aí deixariam ele em paz. E quando outras pessoas o colocassem nessa situação ele poderá falar que já fumou e não curtiu.

- Cheu dá um dois nessa parada então.

Os malucos aplaudiram, gritaram e assoviaram como se José fosse o camisa dez de seu time do coração fazendo um gol de placa. Na primeira tragada ele achou estranho, tossiu um monte e passou rapidamente o baseado pro maluco ao lado. José não sabia que depois daquela tragada o beque o acompanharia por toda a sua vida; e que por muitas vezes tentaria romper essa relação em vão; e que muitas vezes apanharia da polícia por estar portando maconha; e que muitas vezes ficaria nervoso e um pouco agressivo pela falta da erva; e que muitas vezes, nas horas de solidão e momentos de depressão o baseado seria seu único companheiro presente, fiel, e que em momentos de crise só a erva o acalmaria.

O carro já estava chegando. Balançava bastante por causa dos buracos na rua de terra. José tinha bebido muito e a mistura de bebida com maconha não estava fazendo muito bem pra ele.

- Para o carro tio. Rápido, vai. – disse José todo apavorado.

O Mano Branco parou e ele desceu correndo, assim que pisou no chão começou a vomitar. Foi até a beirada da estrada e ficou alguns minutos vomitando. Os malucos aproveitaram pra tirar uma água do joelho.

- Cê ta fei na foto, hein Zé.

Chegando na casa os malucos se ajeitaram pra tirar um ronco, uns nos sofás, outros nas redes. Já estava amanhecendo. José ainda estava mal e foi algumas vezes no banheiro para tentar vomitar. Estava tudo escuro, tropeçava nas coisas, caía no chão. Os malucos resmungavam diziam que queriam dormir. José acordou meio dia, alguns malucos ainda estavam dormindo. Sua cabeça doía muito e uma tontura fazia ele sentar novamente logo após levantar. Depois de uns quinze minutos saiu pra fora. O Mano Branco estava sentado em um banco de madeira fumando um baseado. Um dos paraguaios vinha com uma jarra cheia de leite e convidou José para tomar um café, para curar a ressaca. O cheiro de café feito na hora invadia a casa. Dali José conseguia ver os bois, o chiqueiro dos porcos e a granja. Ao longe centenas de pássaros pousavam sobre a plantação. O cheiro do café estava convidativo mas antes ele foi até o Mano Branco e pediu pra dar um dois no baseado. Isso entraria na rotina da sua vida, fumar um baseado toda vez que acordar.

(Lizal, na próxima edição mais um capítulo)

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