sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ENTRE A APARÊNCIA E A ESSÊNCIA.

A Nova Face De Mano Brown? (Por: Danilo Georges)



Após três anos de negociação a revista Rolling Stones conseguiu entrevistar Mano Brown, líder do grupo Racionais mc´s. Na capa da última revista do ano, Mano Brown pousa com estilo que lembra alguns astros do Hip-Hop norte americano. Camiseta regata, músculos amostra e uma larga corrente de prata. Nela pendurada uma cruz. De novo está o chapéu com uma fita preta com estilo ligado a velhos sambistas.

Vocês devem estar se perguntando o porquê de se discutir a capa? A capa é a embalagem da mercadoria, com o papel fundamental do marketing da revista, que tem todo um trabalho para lançar a imagem adequada. Vale lembrar que nessa revista a capa sempre foi destinada a grandes astros da música como: John Lennon, Madonna, etc.

A imagem está ligada ao público alvo da revista Rolling Stones que têm como leitores, jovens de classe média, em sua maioria fãs de músicas pop. Talvez aí esteja uma das principais explicações de como uma imagem de um rapper tido por muitos como símbolo de uma geração da periferia, seja importante para a revista. Dialogar com outro público é essencial, para se expandir no mercado. A indústria do Hip-Hop já produz grandes cifrões para muita gente com roupas, coturnos, jóias, bebidas alcoólicas, etc.

Ainda na capa ao lado da foto, a manchete “Mano Brown entre as novas idéias e o velho radicalismo”. Nesse sentido o jornalista André Camarante parece provocar os leitores com a chamada das novas idéias, mas quem acompanha a trajetória do Brown percebe que essas idéias não são tão novas assim. Pode conter nessa manchete um certo tendencionismo na provocação ao “velho radicalismo”, dessa forma a entrevista parece Apontar para novos caminhos do Racionais e talvez conseqüentemente do Rap nacional. Percebe um certo desconforto da grande imprensa enquanto se fala em “radicalismo” ser radical para eles é ser arcaico, o negócio de hoje é esquecer princípios e ideologias e tirar proveito do que se pode. Enriquecer, aparecer, vender, comercializar é o ideal na atual conjuntura. O Audi a3 preto de Brown é citado três vezes pelo repórter André Camarante. O que ele quer provocar com isso?

As novas idéias de Brown reverenciada na entrevista parece ser seu lado mais empresarial. O sonho de montar uma grande gravadora, produzir grupos e fortalecer a indústria fonográfica do Rap. De positivo na entrevista, achei que apareceu pela primeira vez o lado mais musical de Mano Brown e de suas influências. Seu rap hoje vem sendo misturado com a formação clássica de Wiliam Magalhães e da marcante presença da banda Black Rio. O soul se faz presente nas novas faixas disponibilizadas na internet. Assim penso que a questão do negro e do estilo ser “black' voltará com força total no próximo álbum. Entre a citação de bailes e as quebradas acho que aquela ênfase na critica social não será tão persistente nesse novo álbum.

Essa nova entrevista de Brown talvez tenha sido a primeira em que as polêmicas perderam espaço para a discussão das novas músicas. Isso foi positivo, sempre se cobra muito da predisposição do rapper de ser engajado, mas pouco se discute da formação musical do rapper.

Brown frisa o seu novo jeito de escrever, as letras estão mais subliminares. Uma poesia que mescla gírias com metáforas. E aparece uma nova preocupação: o de não mapear a favela pros inimigos. Coincidência ou não, Ferrez em entrevista a caros amigos, no mês de outubro mostra a mesma preocupação que o rap vem mapeando demais a favela e aponta para a busca de uma nova escrita em 2010.

O hip-hop tem um público geralmente fanático, os que gostam de rap vão ler matérias, entrevistas, fotos de Browm e companhia, seja na veja, na caras, na caros amigos. O hip-hop para muitos está acima de qualquer ideologia política, pois o dialogo que esse som tem com o povo é muito consistente para essa população favelada; e talvez seja por isso que o hip-hop transcorra hoje outros caminhos. A entrevista caminha para o mais do mesmo quando divulga a marca de vendagem de 1,5 milhões de cd´s vendidos do Racionais Mc´s. Assim desde o estouro do álbum Sobrevivendo no Inferno lançado em 1997. Essa marca é sempre citada e dessa forma tenta se medir a fama e a popularidade dos Racionais. Assim Mano Brown desde esse álbum foi uma figura desejada por jornalistas e pela imprensa.

Agora só o tempo para revelar a nova essência do Racionais Mc´s ou a nova aparência do mesmo.

(Danilo Georges é historiador em Foz do Iguaçu e no Rio de Janeiro).

Um comentário:

a disse...

Parabéns aí pelo artigo...Deu até vontade de comprar uma rolling stones pra ver qual que é da matéria...