terça-feira, 11 de novembro de 2008

“ELES NÃO SÃO MONSTROS” (Por: Eliandro Avancini)

Essa foi a frase da mãe de dois meninos de 15 e 16 anos, acusados de terem participado de um assalto na cidade. O fato, acontecido com um Bombeiro que teve seus filhos expostos a toda crueldade possível, é repugnante por si só, crueldade essa que penso não advir de garotos drogados, mas sim, de uma sociedade decadente, falida cuja moral e os princípios são corrompidos em seu próprio seio. O caso televisionado e com uma grande repercussão local, principalmente em um programa policial. O interessante neste caso é como as pessoas que formam opinião nessa cidade trataram o tema, de um lado o Delegado da Polícia Civil sendo entrevistado ao vivo, de outro o apresentador, duas opiniões divergentes. O apresentador rogando pragas ao ECA, Estatuto da Criança e Adolescente, de outro o Delegado, homem de seriedade por sinal, comedido e apaziguando as pragas ali expostas. O que ficou evidenciado é como a falta de informação, ou melhor, a informação desqualificada e imprópria possa induzir as pessoas ao erro, pois o ECA é uma lei que não protege marginais, como afirma alguns, ela protege sim, menores jogados a sorte, milhares de crianças que são expostas diariamente a todos os tipos de crimes, como exploração sexual, violência de todos os tipos, exploração de trabalho infantil etc. Nesses casos ninguém lembra do ECA, infelizmente. Compactuar com a opinião de que o ECA é uma lei que protege marginais, é compactuar com o retrocesso de políticas que visam pelo menos, diminuir, e não acabar infelizmente, com a violência a qual são expostas nossas crianças diariamente, mas isso é um avanço para nossa sociedade, que vê desmoronar em cada jovem que perdemos ao crime seu sonho de justiça e qualidade de vida. O que mais entristece é saber e ter certeza que casos como o desses adolescentes serão recorrentes em nossa cidade e nosso país. Ainda veremos cenas de mães acuadas e impotentes perante repórteres, e principalmente perante uma sociedade que condena suas vítimas sem julgamento. É triste saber que isso vai acontecer enquanto o sistema perverso de acumulação de capital, que prima o lucro ao ser humano ainda vigorar. É evidente que os atos cometidos pelos adolescentes são repugnáveis e passível de condenação justa e qualificada. Mas esses meninos não são monstros, monstros são aqueles que tiraram suas perspectivas de outro tipo de vida, monstros são aqueles que permitem o acesso de jovens as drogas e as armas, monstros são aqueles que roubaram seus sonhos, monstros são aqueles que transformaram esses jovens em monstros.

(Eliandro Avancini é professor e colaborador do MEGAFONE)

Fonte: www.megafone.inf.br

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