terça-feira, 11 de novembro de 2008

Questão de classe (parte 1) (Por André Gomes)

“Não é questão de luxo, não é questão de cor, é questão que fartura alegra o sofredor”
(Racionais MC's).

Há anos já se fala no Hip-Hop em revolução, fala-se também que precisamos lutar contra o sistema e contra aquilo que ele nos oferece. Mas pensando bem, que revolução é essa? Como funciona esse sistema que combatemos? A quem serve esse sistema? E principalmente se derrotarmos o sistema, como iremos substituí-lo por outro e qual o outro? Pois é parceiro a caminhada não é fácil não, em primeiro lugar é preciso que os guerreiros e as guerreiras identifiquem que esse sistema que ai está, tem nome, tem dono e tem endereço. O nome é Capitalismo, os donos são as elites econômicas e o endereço central é a Casa Branca nos EUA, a filial brasileira se concentra quase toda nos grandes edifícios luxuosos da Avenida Paulista em São Paulo. Acredito que todos no Hip-Hop já enxergaram que existem dois lados, o da elite que tem acesso a tudo, que tem tudo a seu serviço, e o do proletariado que não tem acesso a nada e que só pode vender sua força de trabalho para aumentar a riqueza do lado de lá, isso sem contar o exército de excluídos que não encontram compradores para sua força de trabalho e vivem o drama do desemprego e do crime. O problema é que muitos dos nossos ainda lutam não para derrotar o lado de lá e sim para passar para o lado de lá, ter os mesmos carros, as mesmas casas, as mesmas minas e os mesmos valores deturpados.
“Sem oprimido sem opressor, sem explorado, sem explorador”- (Face da Morte)
No Capitalismo podemos ter vitórias pontuais e ainda que poucos, podemos ter exemplos de vitória, mas somente superando o sistema e substituindo-o por um outro mais avançado libertaremos de fato o povo da periferia. Esse novo sistema que nascerá através de uma revolução Socialista, deverá ser um sistema onde prevaleça a justiça, a igualdade e a solidariedade. Os meios de produção deverão ser coletivizados e se extinguirá a máxima do explorado e do explorador. Os valores individualistas serão substituídos pelos coletivos, a educação de qualidade e a saúde serão universalizadas e todos terão acesso pleno, a ciência e a tecnologia avançarão a serviço do povo. Iremos respirar mais democracia com todo o povo participando das decisões políticas, o Estado que no Capitalismo está a serviço das elites e de seus interesses mesquinhos, estará a serviço dos interesses populares, para que em uma fase mais avançada ainda, ele seja extinto e com isso seja extinta de uma vez a sociedade de classes.
“Se tu lutas, tu conquistas, tipo assim” (SNJ)
Falando assim até parece fácil, mas essa sociedade não nascerá através de um toque de mágica ou através de um resultado eleitoral. Ela é conseqüência de muita luta e só será alcançada se a consciência do povo avançar. O atual estágio de nossa luta é o da resistência ao capitalismo, lutamos por emprego, por moradia, por educação e saúde de qualidade e acessível para todos. Lutamos por saneamento básico, por acesso a cultura e ao lazer. Lutamos pelos direitos que nos são negados, lutamos contra o racismo que é também conseqüência desse sistema, lutamos contra o machismo e pela emancipação das mulheres, lutamos por produção cultural independente e com as raízes brasileiras, lutamos por uma mídia imparcial que não seja um panfleto da burguesia. Lutamos acima de tudo para ganhar consciências, ganhar corações e mentes para nossa luta, lutamos pela união das quebradas contra a fragmentação do cada um por si que o sistema prega. Lutamos para que o Movimento Hip-Hop enxergue seu caráter de classe e seu potencial revolucionário, para que nos juntemos aos revolucionários do Brasil que ao longo de nossa história derramaram seu sangue na resistência contra o sistema e que continuam lutando por uma nova sociedade.

“Revolucionários do Brasil, fogo no pavil, fogo no pavil” (GOG).

André Gomes é da direção nacional e da direção municipal de Marilía/SP do Nação Hip-Hop Brasil.

Fonte: www.nacaohiphopbrasil.com.br

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