terça-feira, 11 de novembro de 2008

NAS, NIGGER E A METAMORFOSE DE KAFKA


O rapper Nas resolveu dar uma chacoalhada na água do Rap norte-americano. Nos últimos anos a galera do hip-hop gringo desencadeou uma grande campanha contra o uso de estereótipos e palavras pejorativas usadas contra negros, mulheres e homossexuais. Algumas gravadoras já não aceitam artistas que trazem em suas letras termos pejorativos. Esse ano, Nas resolveu colocar mais lenha na fogueira e anunciou que o título de seu álbum seria “NIGGER”. O termo Nigger é uma forma pejorativa de se dirigir aos negros. A polêmica se instalou e a discussão correu o país todo: “enquanto a população negra continuar a usar o “N” não podemos ficar irritados quando alguém usá-lo”; “somos a única raça na terra que usa esse xingamento como uma “forma de carinho” um com os outros”.
Após grande pressão da indústria fonográfica norte-americana, Nas retira o Nigger e lança seu álbum sem título. O álbum vem com um forte conteúdo político e um grande discurso em torno da questão racial. Nas afirmou que mesmo o álbum saindo sem título os ouvintes saberão seu verdadeiro nome. E numa jogada de mestre ele lançou uma mixtape (de forma independente) junto com o Dj Lantern. A mixtape recebeu o nome de Nigger Tape e mostra na parte de trás do álbum o rapper com a costa flagelada e uma grande cicatriz em forma de letra N; uma referencia à problemática racial e como os escravos foram torturados.
No livro A Metamorfose, Franz Kafka conta a história de Gregor Samsa, um jovem que transforma-se em uma barata. O rapper Nas atacou de Kafka e gravou no disco Nigger a música Project Roach: “Uma barata é o que eu sou, otário / o gueto é o meu território, otário...”. Ele faz uma comparação do tratamento dado aos insetos - considerados nojentos e desprezíveis - com o tratamento dado aos negros.
Em entrevista à MTV Nas afirmou: “Olhei para a miséria, para as ruas, para os guetos e favelas, nós não somos vistos como algo belo ali. Nós somos vistos como a pior peste, e por causa disso, por causa desse tratamento, alguns de nós acabam acreditando que são uma peste e começam a agir como tal.”

(Lizal, Foz do Iguaçu)




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