terça-feira, 9 de dezembro de 2008

SOBRE POLÍTICOS E PORCOS (Por: Ferrez).

Vote bem ou vote mal, agente é obrigado a votar, e só isso já é uma puta sacanagem, sair da sua casa para "exercer a cidadania".
Mas vamos ao fato, passar nos buracos, nos péssimos asfaltos, pelos postos de saúde abandonados, pelas calçadas que obrigam o cadeirante a viver confinado em casa, pegar um ônibus destruído, com um motorista cansado e preocupado com o horário da próxima viagem, descer numa escola, muitas vezes paralela a um córrego cheio de lixo, ver dois policiais despreparados na porta, segurando suas armas, olhando pra população como inimigos, para depois entrar numa escola abandonada pela educação de qualidade, entrar numa sala amarela, chegar na urna e pagar o mico de pensar que está mudando algo nesse país. Políticos são vampiros que saem dos seus castelos de 4 em 4 anos.
Na época da campanha vale tudo, colar em festas na favela, partidas de futebol de várzea, quermesses, aniversários de líder comunitário, lançamento de livro, shows de rap, agora no dia-a-dia da quebrada, estamos sozinhos fazendo algumas mudanças (e num é que eu demorei mas acabei notando isso), que em época de eleição eles tentam achar agente, nós os escritores, rappers, pintores, poetas, tidos como os representantes do povo.
Isso é muito simples de explicar, nenhum deles tem mais contato com o povo, nenhum deles está mais próximo da massa, isso ficou pra gente, os mediadores de conflito.
É triste, ver uma evolução tão lenta, da ponte pra cá, você vê que é tudo a passo de formiguinha, que os meninos vão crescendo sem um caminho a seguir, a não ser reproduzir o mesmo caminho dos pais, uma vida tão limitada que não dá tempo de ser vivida de fato.
Domingo é dia de alimentar os porcos, de dar seus votos. Domingo é dia do mano perder o trampo, o bico que vinha fazendo segurando a bandeira no meio da esquina, dia de tirar o adesivo do carro, voltar pro anonimato, dia de tirar o banner da casa, de jogar o resto do panfleto no lixo, de tirar a camisa do candidato que o alimentou naqueles meses, domingo é dia de ver quem vai continuar roubando, ganhando por mais 4 anos, enquanto a periferia volta pra estaca zero.
Na verdade eles pegam muito boi, porque o certo era agente estimular o enforcamento de vários nas árvores em volta da Assembléia Legislativa, ou mesmo no viaduto próximo a Câmara dos vereadores.
E qual a saída? agente começar a entrar nisso e mostrar a cara? se candidatar? Nessa armadilha nunca caí, só que já acreditei e alguns que se diziam "nossos" mas eu aprendo com os erros rapidamente, e quem leu a "Revolução dos Bichos" sabe o que falo. Rapaz, tem vários que estão lá dizendo que são "povo", mas nenhum está com o terno cheio de poeira da periferia, nenhum está com a sola do pé vermelha da terra que agente vê na quebrada, nenhum deles volta pra abraçar agente no final da coroação, porque agente é povão.
E tem mais, um deles veio na 1dasul, comprou uma camisa e um boné e agora em todo lugar que vai diz que é um dos meus. Meus? Vermes assim, nunca foi um dos meus.
Pior foi o outro que pegou alguns panfletos da loja, sem o meu consentimento e distribuiu num de seus encontros, isso é que é desespero para se filiar ao povo.
Nem a 1dasul, nem eu ou qualquer parceiro do nosso movimento, tem coligação com esses porcos, até porque desde o início agente levava as roupas nas costas, em sacos plásticos dentro do buzão, e não em carros com placa preta.
Meu voto eu dou pra minha mãe, pra meu pai, pra meus amigos da escrita e do rap, pro meu povo que tem andado meio desacreditado. Vou dar meu voto a qualquer menino na rua, no farol, dentro da caçamba de lixo, mas uma coisa é certa, não voto em pilantra, porque prometi não votar mais nem nos menos safados.

Ferréz, a um passo de ir pegar um bom livro pra ocupar o tempo, e tirar a raiva da cabeça. Buk, to chegando aí rapaz, me espera.

(Ferrez é escritor e rapper em São Paulo, criador da marca de roupa 1 da Sul
confeccionadas por moradores da periferia.

Acessem: www.ferrez.blogspot.com)



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