terça-feira, 3 de novembro de 2009

AS MUITAS FACES DE FOZ DO IGUAÇU (Por: Danilo George e Eliseu Pirocelli)

SANTIAGO - Hip-Hop, Política e Sociedade

Continuação da Edição 54



O Movimento Hip-Hop é um Movimento Negro que tem as suas origens na Jamaica. Nos Estados Unidos teve forte influencia de líderes negros como Martin Luther King, Malcolm X e dos Panteras Negras. No Brasil em Zumbi dos Palmares, líder negro que lutou até a morte pela libertação dos escravos, criando o Quilombo dos Palmares. Num primeiro momento o movimento teve uma certa resistência com pessoas brancas que queriam fazer parte do Hip-Hop. Alguns militantes do Movimento Hip-Hop no Brasil dizem que não querem ver o branco fazer com o Rap o que fez com o Funk. Mano Santiago é um branco dentro do Movimento Negro, a respeito disso ele pensa: “Primeiro, a questão do Funk, né, eu acho que não foi o branco que fez a cagada que o funk ta hoje, a grande maioria do funk, ainda existe funk de raiz, existe aquele legítimo funk. Mas não foi questão de cor, nada é questão de cor. Dentro desse sentido, né. Não foi o branco ou o negro que estragou, não foi isso que aconteceu, na verdade foi os cara querer ganhar dinheiro com o funk, querendo fazer praticamente um filme pornô com o baile funk. Daí isso dá dinheiro, isso dá audiência. Isso é prejudicial pra caramba pro Movimento Funk lá do Rio e aqui também, poxa”. “Eu me sentia mal por ser um branco dentro do Movimento Negro, mas, acho que hoje em dia se algum negro viesse falar comigo 'ô, sai daqui seu branquelo' eu falaria 'sai daqui por quê? Eu mereço tanto tá nesse movimento quanto você, eu luto pela mesma idéia de igualdade racial' eu iria bater de frente, não ia me acovardar”.

Questionado se a mudança social viria pela luta racial ou pela luta de classes ele diz que: “Cada vez mais os cara só querem dividir, fazer esse apartheid, não deve fazer esse apartheid. Cada um tem sua qualidade, cada um tem sua estrela, cada estrela brilha das melhores intensidades possíveis, nenhuma vai se apagar, nenhuma deve se ofuscar por outra que seja maior, por uma pessoa que seja mais parruda, mais forte, não deve se dividir, não tem que ter essa coisa de cor, de raça, de tamanho, de lugar, sendo do social, sendo o pensamento sem mesquinhagem, sem essa coisa de ter só pra si, né, ser participativo, ser o máximo possível colaborador de uma mudança”.

Há um tempo atrás o Mano estava um pouco desiludido com a luta por não conseguir ver concretizada a mudança que ele tanto sonha. “To tentado mudar o quadro social, dou um passo pra frente e dois pra trás, vai amenizando as coisas, só amenizam e não muda, só vai salvando uma, duas ou três pessoas. Muita gente que a gente conversa, tenta trocar uma idéia, e às vezes eu penso em deixar ao léu mesmo e... daí que o pessoal vai querer mudar alguma coisa, quando ver que ta todo mundo na mesma merda que vai querer sair dessa coisa ruim que ta acontecendo na sociedade, tentar tirar essa corda do pescoço todo mundo ao mesmo tempo. Quando afeta não só você, mas seu amigo e todo mundo, os cara tem um escape. A mudança tem que ser coletiva, e se não for de um levante coletivo não vai haver mudança. Eu to meio desiludido com isso, se não for coletivo essa tentativa de mudança não vai acontecer nada”.

Hip-Hop e Juventude

“O Movimento Hip-Hop é complexo, depende de quem ta direcionando, de quem ta organizando eventos e tal, ou elementos e tal, depende dos pioneiros, né. Se é um professor bom você vai assimilar a bondade dele, né, ele vai te explicar, se ele for um cara político, você vai ter um direcionamento. Mas você precisa ter sua própria opinião, não simplesmente assimilar o que os outros te dizem. Mas basicamente quem ta encabeçando o Movimento Hip-Hop, tem o MH2O, tem o Zulunacion, vários movimentos que tentam direcionar politicamente, tem pessoas que vão direcionar pro crime, tem pessoas que vão direcionar pra igreja. Aí cabe de você escolher o caminho e saber se essas pessoas são realmente boas no sentido de educação”.

Periferia e a arte da sobrevivência

“Não é o que falta aqui, mas é o que tem demais lá. É a exploração, é a gente ter que ser submisso aos grandes ricos, as grandes famílias, ao pessoal que já vem de um histórico de herança de propriedade privada e tudo mais, que foi acumulando bens e a gente tem que se submeter a imposição deles. Tipo, ele cuspiu e você tem que limpar, limpa o chão aí, uma coisa mais ou menos assim. Aqui tem muito mais amor do que lá, tem muito mais coletividade do que em uma casa que seja grande que tenha toda a estrutura necessária até pra você defecar. Aqui eu puxo a descarga e não desce, entendeu, porque ta tudo entupido, porque não tem esgoto. Mas aqui também não é só dificuldade, aqui tem muita gente lutadora e de certa forma é feliz, de certa forma. Aqui tem arte. É onde nasce, da dificuldade. Nasce artesãos, nasce escritores, nasce de tudo, na dificuldade, né, a necessidade faz com que a pessoa se explore, se conheça e também tem a capacidade de resistência. Pô, eu fico tantos dias sem comer, não só porque Jesus ficou, mas eu também consigo ficar porque não tive condições de comer, mas se tivesse eu comeria um banquete regado. Mas se preciso for eu fico, só bebo água durante uma semana”.

Revolução.

“Pro ser humano tudo é possível, desde criar um mundo, criar um outro planeta, até destruir dois, três ao mesmo tempo”. “É, eu já tive muito pensamento assim, de fazer como o Che fez, fazer levante com armas, pegar armas de quem nos mata pra matá-los, só que tudo que é forçado, a gente cai nessa coisa, tudo que é imposto a galera não tem uma aceitação. E qual vai ser a reação depois, eu não quero ser um ditador. Cai nessa coisa, não querer forçar, mas vai chegar um momento que vão forçar a barra, vão querer fazer imposição de sistema, vão querer fazer um levante, né, de mudança e tal, o pessoal vai pegar em armas e se necessário for eu vou pegar em armas também pra salvar minha família, salvar meus amigos, me salvar., pra matar mesmo se for preciso os caras que estão matando muitos só na caneta”.

Sonho

“É de ver tudo isso mudar, de ver essa realidade mudar, de ter uma melhoria social, ver a satisfação de uma mãe com o filho e ter uma família, assim, as pessoas não verem o pai morrer, ou seja com drogas ou com o crime, ou num trabalho como a Itaipu. Morreu porque foi trabalhar na construção. O sonho é basicamente assim, de ver se mudaria alguma coisa, se o pessoal tivesse estrutura social, se estivesse tudo bom. Meu sonho era ver o sistema socialista funcionando”.

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