sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Por tão poucos terem tanto É que tantos têm tão pouco (Por Eduardo Marinho)



Em cima da palavra 'poucos' há um casal para representá-los, esses que são 1% da população, ou menos. Chamei-os messiê Deboche e madame Arrogância. Donos das mega-empresas, concentradores das riquezas, controladores dos mercados financeiros, sentam-se no topo da pirâmide social, vivem isolados da maioria, estão sempre dentro de algum lugar isolado do mundo, sentem-se donos. À direita da palavra há uma porta com um segurança, há sempre seguranças entre eles e a realidade. O garçom está num ambiente de pronto serviço, eficiência exigida por esses tipos e seus subalternos graúdos - as cadeiras se assemelham a tronos para simbolizar o sentimento de 'natural' superioridade que eles emanam, enquanto o morcego denuncia sua atuação vampiresca dentro da sociedade humana. Eles se sustentam no poder do mundo apoiados pela força das armas - inclusive da segurança pública -, por isso o chão é um fuzil, que divide a sociedade entre poucos e tantos, ao mesmo tempo em que serve de ameaça, sobre a cabeça dos tantos que têm tão pouco, representados na forma urbana da favela, na parte inferior direita.

A estrada significa haver caminho de saída para esta situação, mas são tantas as dificuldades - não há garantias do Estado, saneamento, condições de vida digna, escola pública que mereça o nome, alimentação suficiente, higiene, informação, muitas vezes nem estrutura familiar-, tantos impedimentos, que um caminhão carregado simboliza ser barra pesada, muito difícil sair por esse caminho. Vêem-se exceções, apontadas como exemplo da possibilidade pra todos, reduzindo a maioria à sensação de incapacidade, impotência e subalternidade. À esquerda inferior há um ambiente de cinema, são as pessoas que assistem à vida, olham o mundo como se fosse um filme do qual eles não participam. Seu pensamento é "sempre foi assim, não tenho nada com isso, cuido é de mim e dos meus", geralmente são pessoas em condições de se qualificar em escolas particulares - e universidades 'públicas'- alcançam condições de ocupar cargos importantes na manutenção da sociedade como ela é. São entre 20 e 30% da população, hierarquizados organizadamente de acordo com os interesses dos 1%, e disputam as migalhas variadas da opulência. Como vivem das migalhas (mesmo enormes, para nós outros) do poder, o rato à esquerda os representa com propriedade. São os ricos que o povo vê, ainda que à distância. A escuridão que envolve uma pessoa - nitidamente mestiça - simboliza a ignorância, criada e mantida para envolver a maioria. A vela é um símbolo singelo de luz. Por menor que seja a luz, por maior que seja a ignorância, quando há interesse e vontade, a luz sempre vence a escuridão. É o trabalho da conscientização.

A árvore representa a tendência natural de ir para o alto e buscar a luz. Por isso das suas folhagens mais altas vão surgindo pessoas, subindo pela esquerda, até o alto do desenho, significando a tomada de consciência, quando as maiorias percebem a farsa da "democracia de mercado", com a mídia na linha de frente na formação de opiniões e valores sociais e individuais, as falsidades da hierarquia social, percebendo a igualdade intrínseca de direitos entre todos. E, deixando de se sentirem inferiores, deixando de reconhecer superioridades artificiais, ocupam naturalmente os lugares que lhes pertencem por direito moral de seres humanos, em igualdade conquistada pela consciência da realidade.

O olho representa não só a possibilidade de enxergar a realidade como a necessidade de tomar consciência da realidade, de buscar o porquê e o como de tanta concentração de poder, de tanta perversidade com as maiorias.

Poucos e Tantos.

(Eduardo Marinho é arteiro, penseiro e escrevinhador).

Fonte www.observareabsorver.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

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