segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

ENTREVISTA COM RENATO CINCO Sobre a Legalização das Drogas.



(Por: Eliseu Pirocelli e Danilo Georges). Continuação da edição 57

Danilo – Qual a relação do tráfico de drogas com o Neoliberalismo? Porque é importante pro sistema capitalista ter o tráfico de drogas?

Cinco – Eu acho que no ponto de vista do sistema internacional, eu acho que o tráfico de drogas ele cumpre várias funções. Eu não sei qual delas é a mais importante. Eu acho que o mais importante, mas certamente uma função importante é a permissão do que se chamaria acumulação primitiva do capital. Você tem em toda a cadeia das drogas é possível acumular mais do que num mercado regulamentado. Então quando o capitalista explora a produção de coca ele não ta pagando direitos trabalhistas, não ta pagando férias. Na verdade os plantadores eles são verdadeiros escravos. Quando a droga ta sendo comercializada, o comerciante não pega alvará, não paga imposto de circulação de mercadorias, em todos as etapas do processo se paga propina. Mas, eu acredito que a propina seja menos do que os impostos se não nós teríamos todos esses capitalistas todos lutando pela legalização também. Talvez um dos aspectos mais importantes dessa cadeia comercial seja o mercado financeiro, NE, porque são trilhões de dólares que são movimentados anualmente pelo tráfico de drogas internacional e isso evidentemente implica no envolvimento do mercado financeiro no tráfico internacional de drogas. Agora, talvez a principal função internacional do sistema de produção das drogas seja justamente favorecer ao poder, ao exercício do poder. Por exemplo, internacionalmente o tráfico de drogas é utilizado como argumento para você criminalizar países. Os Estados Unidos hoje ameaça o Evo Morales de tirar a Bolívia da lista dos países que colaboram com o combate ao tráfico. “O país traficante”, “o país que colabora com o tráfico”, “o governo, o movimento político que colabora com o tráfico”, são categorias que também aparecem, em menor escala, mas junto com as categorias de terroristas, de Estado terrorista e etc. Inclusive no caso da Colômbia, se nós fomos ver o discurso da direita que nega a negociação com as FARCS, o argumento que ela usa é que as FARCS é um movimento de traficantes e não um movimento ideológico mais, guerrilheiro. E aí se ignora toda a relação dos movimentos insurgentes e contra-insurgentes com a ilegalidade. Não é novidade nenhuma no mundo das revoluções e das contra-revoluções os grupos políticos se financiarem através do crime. No Brasil a guerrilha urbana cometeu seqüestros e fez assaltos a banco pra se financiar, assaltos a casas de pessoas... na Irlanda o IRA traficou drogas também, traficou cocaína pra financiar suas atividades. Daí você escolher um grupo pra dizer: “aquele grupo traficou drogas pra financiar suas atividades”, o primeiro que tinha que ser denunciado é o exército do Estados Unidos, NE, a CIA o Exército dos Estados Unidos que traficou drogas durante a guerra do Vietnã.

Agora internamente nas sociedades, o exercício do poder é favorecido pela ilegalidade das drogas justamente porque a própria dinâmica desse mercado faça com que milhões de pessoas em todo o mundo entre na esfera da punição. Uma boa parte das pessoas hoje no mundo que estão sofrendo algum tipo de sanção penal, sofre essas sanções penais ou por terem traficado ou por terem usado drogas. Até na Holanda que é considerado o país mais anti-proibicionista do mundo, mais liberal do mundo nesse sentido, mais de 10% da massa carcerária é composta de traficantes de drogas, então até ali existe essa questão. Nos Estados Unidos hoje você tem cerca de 0,9% da população branca presa e da população negra tem cerca de 6,9% da população negra presa hoje nos Estados Unidos. É um instrumento racista, a cadeia americana hoje é racista, você tem uma idéia, a África do Sul encarcerou 0,8% da população negra durante o Apartheid e a grande maioria das pessoas que estão presas nos Estados Unidos estão presos pela questão das drogas.

Danilo – Na campanha do Rio de Janeiro chegou a se debater com a candidatura do Gabeira uma certa questão de maconha. Como você viu a relação que o Gabeira tratou a questão da maconha e como que até a imprensa tratou isso?

Cinco – É, o Gabeira, as últimas declarações que ouvi dele desde a campanha eleitoral pra cá são todas dizendo que está arrependido de ter defendido a legalização da maconha, que perdeu anos da vida dele. O argumento dele é que não adianta legalizar ou não legalizar se não tiver uma reforma da polícia. Eu concordo que tem que ter a reforma da polícia, mas não legalizar as drogas é insuficiente para mudar a dinâmica de violência hoje da nossa cidade. E mesmo nos países que não são violentos como o Brasil, a proibição das drogas além de ser ineficaz pra proteger os usuários de drogas, ela também é justificativa pra repressão em massa com as prisões. Não tem genocídio nos Estados Unidos mas tem 2 milhões e meio de presos hoje lá. Não tem genocídio na Europa mas tem centenas de milhares de pessoas encarceradas por crimes de tráfico. Então o Gabeira, ele ta certo quando diz que tem que fazer a reforma da polícia, mas ta errado quando fala que tem que abrir mão dessa bandeira.

Danilo – A respeito da Marcha, alguma figura pública, algum ator, alguma figura política já participou da Marcha, já se mostrou favorável?

Cinco – Olha, o que eu me lembro aqui, o Marcelo Yuca já foi em alguns debates organizados pela gente. O nosso advogado aqui no Rio, é um grande advogado o Nilo Batista, ele já foi até governador do Estado por que ele era vice do Leonel Brizola, quando o Brizola foi candidato a presidente ele assumiu o governo do Estado. Na passeata teve a presença do Carlos Minc, o ministro do meio ambiente, ele participou e inclusive foi chamado a depor na comissão de segurança pública do congresso nacional pra explicar o porquê de estar presente na passeata. Ele foi interrogado pelo deputado federal Laerte Bessa que defende a volta da prisão pros usuários com o benefício da delação premiada, então o usuário que entregar o traficante deixa de ser preso, né. O governador atual já deu duas declarações nesse mandato defendendo a legalização das drogas, nunca falou nada a respeito da passeata, mas defendeu a legalização. Na academia que tem mais apoio, né, mas assim, não são figuras de conhecimento do público, os acadêmicos geralmente não são, né. A não ser quando viram presidente da república.

Eliseu – A gente ouve muito se falar que a maconha detona os neurônios do usuário. Quais os mitos que existem a respeito dos problemas de saúde que o uso da maconha acarreta?

Cinco – Olha, essa questão médica é a mais difícil pra mim porque eu sou sociólogo. Então é muito reproduzindo a opinião dos outros, né, difícil pra mim ter uma avaliação concreta. Existe um livro que eu li recentemente muito interessante chamado: “Maconha Cérebro e Saúde”. Até onde eu entendi do livro, eu até tenho que ler de novo, ele é uma linguagem popular mas é um pouco difícil da gente assimilar. Eu acho que o principal efeito negativo que esse livro aponta do uso de maconha é devido a ingestão de fumaça, porque a maconha ela é consumida principalmente pelo hábito de fumar. Então a combustão do cigarro de maconha provoca a produção de vários elementos cancerígenos. Alguns médicos inclusive, não nesse livro, mas eu já li e já vi alguns médicos afirmando que a maconha é mais cancerígena que o tabaco inclusive. A diferença é que é difícil você encontrar um maconheiro que fume 40 cigarros de maconha por dia, 60 cigarros de maconha, e o tabaco não é difícil, né. Muita gente fuma pelo menos 20 cigarros, o que é um absurdo pro maconheiro, é comum pro usuário de tabaco. Queimar neurônio não queima, isso eu posso te afirmar categoricamente. Inclusive a grande maioria dos conhecimentos sobre maconha estão ultrapassados. Em primeiro lugar os princípios ativos da maconha, especialmente o THC, eles são conhecidos só a partir da década de 60 e as legislações proibicionistas, os tratados médicos que justificaram a proibição são todos anteriores a eles. Então eles não sabiam nem do que se tratava quando estavam proibindo. Existe uma questão que é muito pouco conhecida que é o sistema endocanabinóide, que significa que todos os organismos vertebrados e invertebrados, eles possuem um sistema próprio de produção dos canabinóides. Os princípios ativos que existem na planta maconha são produzidos naturalmente pelo nosso organismo. Agora o sistema endocanabinóide, ele é conhecido só a partir dos anos 90. Então o efeito que a maconha produz no cérebro das pessoas, muito pelo contrário, ela não vai lá destruir os neurônios, os princípios ativos, o TCH, o CBD e etc. eles vão se conectar a terminações nervosas que já estão nos neurônios esperando os canabinóides. Só que estão esperando os canabinóides que são produzidos naturalmente. E a maconha, nesse livro Maconha Cérebro e Saúde, ela é indicada como neuroprotetor, indicada por tratamento inclusive de epilepsia, porque nos ataques epilépticos os neurônios são destruídos. Tinha coisa que eu confesso que eu escutava algumas histórias e achava que era mentira de maconheiro. Mas esse livro me surpreendeu em muita coisa, por exemplo com a capacidade da maconha de reduzir determinados tumores de câncer. Ela tem essa possibilidade de combater tumor, tem questões de analgésico, controle da pressão ocular das pessoas que tem glaucoma, também ajuda a abrir o apetite das pessoas que estão fazendo tratamento de quimioterapia, tanto pra AIDS como pra câncer. Agora, parece que pelo livro, que aquela piada de que “maconha produz muitos problemas de perda de memória e outras coisas, mas eu esqueci o resto”, é temporário, né. O livro ele indica que a abstinência de alguns dias de maconha faz a capacidade da memória se restabelecer. Eu achei muito interessante que nesse livro eles explicam o seguinte, que uma das funções do sistema endocanabinóide é justamente ajudar o cérebro a descartar as memórias desnecessárias. Então por isso que quando a pessoa está sobre o efeito da maconha ela tem dificuldade de por exemplo “Eu quero telefonar”, então o cara pega o caderninho de telefone e olha o número, quando ele vai ligar já esqueceu o número. Isso é comum de acontecer com a pessoa sobre o efeito da maconha, não com o usuário da maconha sem estar sobre o efeito. Porque o sistema canabinóide ele atua nessa função.

(Assista no blog do Cartel um vídeo com a entrevista, com a citação de alguns livros pra quem quer saber mais sobre a maconha).

Um comentário:

SOS DIREITOS HUMANOS disse...

DENÚNCIA: SÍTIO CALDEIRÃO, O ARAGUAIA DO CEARÁ – UMA HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONHECE PORQUE JAMAIS FOI CONTADA...



"As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirão
têm direito inalienável à Verdade, Memória,
História e Justiça!" Otoniel Ajala Dourado



O MASSACRE APAGADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA


No município de CRATO, interior do CEARÁ, BRASIL, houve um crime idêntico ao do “Araguaia”, foi o MASSACRE praticado pelo Exército e Polícia Militar do Ceará em 10.05.1937, contra a comunidade de camponeses católicos do SÍTIO DA SANTA CRUZ DO DESERTO ou SÍTIO CALDEIRÃO, cujo líder religioso era o beato "JOSÉ LOURENÇO GOMES DA SILVA", paraibano de Pilões de Dentro, seguidor do padre CÍCERO ROMÃO BATISTA, encarados como “socialistas periculosos”.



O CRIME DE LESA HUMANIDADE


O crime iniciou-se com um bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como metralhadoras, fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram na “MATA CAVALOS”, SERRA DO CRUZEIRO, mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como juízes e algozes. Meses após, JOSÉ GERALDO DA CRUZ, ex-prefeito de Juazeiro do Norte/CE, encontrou num local da Chapada do Araripe, 16 crânios de crianças.


A AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELA SOS DIREITOS HUMANOS


Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará é de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO é considerado IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira e Acordos e Convenções internacionais, por isto a SOS DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - CE, ajuizou em 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo: a) que seja informada a localização da COVA COLETIVA, b) a exumação dos restos mortais, sua identificação através de DNA e enterro digno para as vítimas, c) liberação dos documentos sobre a chacina e sua inclusão na história oficial brasileira, d) indenização aos descendentes das vítimas e sobreviventes no valor de R$500 mil reais, e) outros pedidos



A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO


A Ação Civil Pública foi distribuída para o Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, para a 16ª Vara Federal em Juazeiro do Norte/CE, e lá em 16.09.2009, extinta sem julgamento do mérito, a pedido do MPF.



AS RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5


A SOS DIREITOS HUMANOS apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife/PE, argumentando que: a) não há prescrição porque o massacre do SÍTIO CALDEIRÃO é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do CZAR ROMANOV, que foi morta no ano de 1918 e a ossada encontrada nos anos de 1991 e 2007;



A SOS DIREITOS HUMANOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA


A SOS DIREITOS HUMANOS, igualmente aos familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, pelo DESAPARECIMENTO FORÇADO de 1000 pessoas do SÍTIO CALDEIRÃO.


QUEM PODE ENCONTRAR A COVA COLETIVA


A “URCA” e a “UFC” com seu RADAR DE PENETRAÇÃO NO SOLO (GPR) podem localizar a cova coletiva, e por que não a procuram? Serão os fósseis de peixes do "GEOPARK ARARIPE" mais importantes que os restos mortais das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO?



A COMISSÃO DA VERDADE


A SOS DIREITOS HUMANOS busca apoio técnico para encontrar a COVA COLETIVA, e que o internauta divulgue a notícia em seu blog/site, bem como a envie para seus representantes no Legislativo, solicitando um pronunciamento exigindo do Governo Federal a localização da COVA COLETIVA das vítimas do SÍTIO CALDEIRÃO.


Paz e Solidariedade,



Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
Membro da CDAA da OAB/CE
www.sosdireitoshumanos.org.br