segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CONTOS, CONTAS, CANTOS E CRÔNICAS (Por: Danilo George)

Vida nossa de todos os dias

Terça-Feira dia 25 de agosto de 2009, Leandro está atrasado. Tenta apressar os passos mais não consegue, sua deficiência no quadril o impede de correr. No caminho entre a Cinelândia e a praça XV, passa um filme em sua cabeça. Leandro começa a se lembrar da sua infância. Quando demorava horas para subir as ladeiras da Rocinha, sempre ficara para trás, era o último a chegar no campo de futebol toda vez. Sofrera em sua infância. Não conseguia fazer coisas normais que uma criança daquela idade faria, como subir nas lajes e jogar futebol. Por isso, enquanto os amigos se divertiam, corriam e chutavam a bola, ele ficava cantando e escrevendo sambas, á beira do campo batido de barro. Dessa forma se tornara um cantor na adolescência, influenciado pela batida do Miami Bass que sacudiu os bailes nos morros cariocas, migrou do samba para o Funk. Em meio às dificuldades da favela, se tornara através do Funk, um cronista que narrava aquela realidade.

Em 1995 junto com seu irmão Junior, escreveu um Rap que falava do armamento pesado nos morros, e da troca de tiros entre bandidos e policiais. Através desse Rap, ficara conhecido no Brasil. Pudera assim pagar 13 cirurgias no quadril, dessa forma conseguiu andar com um pouco mais de facilidade. É verdade que a vida ficara mais fácil um pouco; mas não muito. Pois ainda sofria com o preconceito por ser Funkeiro. Sua mãe lhe implorava desesperada, para que ele largasse aquela música; pois A televisão só falava coisas ruins do Funk. Mas Leandro foi persistente. Com a mesma garra que encarou a deficiência no quadril enfrentava o fardo de ser MC e cantar uma música tão discriminada. Tudo pioraria ainda mais quando um deputado fascista lançou uma lei que proíbe os bailes Funks nas comunidades. Leandro sofreu muito nesse processo, sem fazer shows, sua família passaria um perrengue ainda maior.

Mas Leandro viu que não estava sozinho, junto com ele havia mais uma multidão de 10 mil pessoas que fora prejudicada por essa lei. Assim, encorajado por uma amiga historiadora e um amigo do MST, resolveu criar uma associação que defendesse os direitos dos funkeiros. Naquela ocasião juntaram-se mc´s dos quatro cantos da cidade, superando as barreiras impostas pelas guerras entre as facções de favelas. Posteriormente a essa causa, se juntaram estudantes, professores, intelectuais, militantes de diversos movimentos e fora organizado rodas de funk´s, que faria com que os bailes não morressem no RJ. Andando por diversas favelas e os mais diferentes picos da cidade, Leandro observara o quanto é importante encarar as dificuldades, resignificando o sentido da vida.

E compreendeu que quando for impedido de correr, irá caminhar; mesmo que vagarosamente, mas que jamais ficará parado.

“Danilo George Ribeiro – Historiador, é pesquisador das camadas populares da cidade de Foz do Iguaçu, afirma que 99% das histórias narradas no Fanzine serão verídicas, o 1% é fruto da sua imaginação”.

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