segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O PROERD e o Bandeide Social (Por: Lizal)

O PROERD é um programa importado dos gringos norte-americanos. O “Drug Abuse Resistance Education - DARE”, foi adaptado à nossa realidade e consiste, em sua idéia original, treinar policiais militares para desenvolverem atividades de educação preventiva sobre drogas e violência nas escolas. O Programa é aplicado por policiais militares fardados para crianças e adolescentes na faixa etária entre 9 e 12 anos de idade, atingindo as quartas e sextas séries do ensino fundamental. E conta ainda com um curso para pais ou responsáveis. Hoje esse programa é desenvolvido em 58 países, e já alcançou nos cinco continentes, aproximadamente 55 milhões de crianças até a presente data. No Brasil surgiu no estado do Rio de Janeiro em 1992 e no estado do Paraná no ano de 2000, hoje está presente em 227 municípios do Paraná e já alcançou até a presente data aproximadamente 800 mil alunos.

Me preocupa muito projetos como esse vindo de um governo como o nosso e uma polícia como a nossa. Dentro do programa esses policiais são chamados de “Educadores Sociais” e tem a tarefa de proporcionar aos estudantes a construção de conceitos de prevenção ao não uso de drogas, cultura da paz e de cidadania, para atuarem como protagonistas sociais nas escolas, famílias, comunidade e à Polícia Militar do Paraná na construção de uma sociedade mais segura e na formação de jovens e adultos reflexivos e responsáveis com as questões sociais.

Todo morador de favela como eu sabe que essas mesmas crianças que estão sendo “ensinadas” pelos policiais militares a ficarem longe das drogas e a espalharem uma cultura de paz, serão os jovens que amanhã serão enquadrados na rua por policiais militares que engatilharão as armas e apontarão para suas cabeças. Essas mesmas crianças serão xingadas e humilhadas pelos policiais e poderão até ser levados presos como suspeitos de terem cometido algum crime. Essa mesma polícia que tenta implantar em nossas crianças uma cultura de paz está pelas ruas espalhando a cultura do medo e impondo toques de recolher para jovens que estão reunidos na rua de noite. Isso sem falar que o tráfico de drogas hoje no Brasil corre lado a lado com as milícias, formadas por policiais que usam o distintivo para praticarem suas atividades, vender drogas e gato de TV a Cabo e Internet.

Hoje no Brasil a Educação e a Cultura são casos de polícia. O Projeto Patrulha Escolar traz a Polícia para dentro da escola pública no Paraná. Segundo Cátia Ronsani Castro, funcionária do Colégio Estadual Barão do Rio Branco em Foz do Iguaçu “A saída encontrada pelo Governo do Paraná para a solução dos conflitos existentes e estabelecidos dentro do ambiente escolar e nas suas proximidades é o uso do seu aparelho repressivo, a polícia, que é apresentada à educação com um caráter mais “humanizado”: Patrulha Escolar”. Para se realizar um evento ou qualquer atividade cultural e artística em Foz hoje temos que pedir a permissão no Corpo de Bombeiros e alguns batalhões da polícia e não na Fundação Cultural. A ditadura militar no Brasil passou e hoje vivemos uma falsa democracia, mas o braço armado do Estado continua cuidando muito de perto a educação e a cultura que são instrumentos que podem ser usados para a transformação social e criar uma sociedade mais atenta às armadilhas que lhes são impostas pelo governo.

O Bandeide não cura, só esconde a ferida. É bem mais fácil mandar polícia pra dentro da escola do que se discutir um investimento maior na educação para que todo brasileiro tenha uma educação de qualidade e acesso livre a Universidade. Mandar polícia pra dentro das salas de aula para educarem nossas crianças é um Bandeide para
encobrir as feridas de um Estado doente. É bem mais fácil fazer isso do que discutir a redução da jornada de trabalho por exemplo, para que os pais tenham mais tempo para passar com seus filhos. Porque não se discute o aumento do salário mínimo, a geração de emprego, a democratização dos meios de comunicação, o acesso à cultura e lazer e tudo o mais que o nosso governo está deixando a desejar?

Eu não entregaria um filho meu pra polícia educar.

(Lizal é morador de favela e nunca recebeu um “bom dia” de um policial, sempre é “mão na cabeça vagabundo”).

5 comentários:

Unknown disse...

Saudações!
Permitam-me que me apresente, meu nome é Tania Loos, sou carioca, ex-coordenadora do PROERD no RJ. Sinto-me a vontade para dizer algumas palavras sobre o "bandeide social" mencionado por Lizal: de antemão conheço bem a realidade do PROERD PR e em, especial, do PROERD em Foz, pois estive aí capacitando os Educadores Sociais do Programa.Lizal, não compreendo bem a sua visão, acho que vc está muito desinformado sobre o nosso trabalho em escolas, não estaremos educando seu filho, até porque essa missão é sua.Á educação do filho compete aos pais/responsáveis, nós das polícias militares brasileiras estamos apenas cumprindo nosso papel, ou seja, fazendo prevenção. Se os demais órgãos do sistema não funcionam o problema é de toda sociedade que elegemos e os colocamos lá, então não somos o bandeide social... Bandeide social são também os pais/responsáveis que se omitem na educação de seus filhos e depois tentam empurrar toda sujeira para debaixo do tapete. Importante também deixar claro que não estamos nas escolas com um enlatado americano, em que pese o programa ter sido baseado num dos modelos americanos, hoje, o PROERD é o maior programa de prevenção do Brasil, com profissionais (policiais militares) qualificados. É um erro você prever o futuro já colocando essas crianças na condição de margnalizadas apenas pelo fato de residirem em comunidades, não esqueça muitos de nós (policiais) tb moramos em comunidades, e nosso papel estará perfeitamente cumprido se ao menos 10% dessas crianças puderem optar por uma vida livre das drogas (lícitas e/ou ilícitas). Por toda sua concepção equivocada a nosso respeito espero que vc procure a Coordenação do PROERD aí no Paraná, faça uma visita e verifique se sua postura está adequada. É fácil falar mal de um segmento que pretende dar a essas crianças oportunidades de resolverem seus conflitos pacificamente e decidirem autonamamente.
Quanto à questão cultural, te convido a assistir um vídeo postado no youtube http://www.youtube.com/watch?v=JkuJ772Lk0I
Um forte abraço
Tania Loos

Unknown disse...

concordo com Tânia Loos, quem já passou pelo Proerd e conhece, com certeza pensa diferente de LIZAL, deixe o seu filho estudar o proerd e depois faça uma avaliação.
Outro detalhe, os Policiais são cidadãso comm vc e estão preocupado com uma sociedade masi justa e sadia.

danilogeorges disse...

Bom sou danilo, historiador e colaborador do fanzine.

Primeiramente, fico feliz por esse debate, nunca tive a oportunidade de discutir com policiais militares.
Acho que a visão do lizal retrata a visão de um jovem favelado,pois a policia para um morador de favela representa na maioria dos casos algo muito negativo, isso começa desde a infância quando as crianças vêm a policia arrombando portas, invadindo casas, indo prender gente e etc.
Segundo nunca vi um policial tratar bem alguém que more na favela;por mais que muitos policias também são oriundos muitas vezes de favela, parece que não se vêm naquela gente, que por isnal é muito parecido com eles.
E acho que enquanto esse estado que está ai intervir na favela somente com a policia não havera resultados positivos, pois não se dá educação, emprego, assistencia médica nada,o estado planta o mal e quer colher o bem.

Já conversei no RJ com o daniel gomes que é comissário da polciia civil e com o zaconi que é diretor de presidios em n.v iguaçu, acho que o debate de segurança pública não está descolado da questão de classe e o processo de criminalização dos pobres reforça isso.
Estou ai para debater, uma boa noite a todos.

Unknown disse...

Quem fala mal de um programa como este é pq nao conhece, ou tem magoa com a pm, etc, pois de todos que conheço todos falam de bem, agradacem por ele existir, mas como nem Cristo agradou a todos, vc é o resto. bjs

Tania Loos disse...

Olá Daniel e outros companheiros de debate!
lamentavelmente a visão do Lizal é limitada ao contexto que ele vivencia. Mas são tantos outros anônimos nesse mundo que poderíamos elencar muitos profissionais que sequer recebem um bom dia, boa tarde ou um simples aceno. Nós policiais fazemos parte desse rol de profissionais que as pessoas fazem questão de ignorar. Não importamos policiais de marte nem do japão, nossos policiais saem da mesma sociedade que Lizal, vc e eu!Logo, fazemos nossa leitura de mundo de acordo com as experiências vivenciadas. Tento compreender a lógica dele, mas peço que não façam julgamentos pre-concebidos, pois nós do PROERD estamos buscando fazer a nossa parte para oferecer a jovens estudantes uma formação crítica, emancipatória e com autonomia para que possam decidir sobre quais caminhos seguir para uma vida com mais qualidade. Enfim, fazemos o que outros segmentos sequer pensam fazer, exemplo disso a educação que não define práticas pedagógicas para essa construção de saberes que formará o cidadão crítico sobre as drogas e as violências que permeiam essa relação.
Conheçam o PROERD aí no Paraná, sinto muito que em alguns momentos a Polícia precise usar a força necessária para conter esse fenômeno que, como aqui no Rio, já ultrapassou todas as barreiras do aceitável.
Um forte abraço
Tania Loos (ex-coordenadora do PROERD/RJ e Proerdiana do Brasil com muito orgulho)