terça-feira, 15 de julho de 2008

ATÉ QUANDO? (Por Lizal)

Ultimamente ando muito distraído. Se eu estou lendo algo, minha mente desconcentra-se do texto e começa a lembrar de outros fatos. Eu estava lendo uma poesia do poeta polonês Zbigniew Herbert e ela me lembrou de uma triste realidade de nossa história que aconteceu aqui em Foz do Iguaçu. A poesia chama-se Cinco Homens e narra em seus versos: “Eles os levam para fora de manhã / para o pátio de pedra / e os botam contra a parede / cinco homens / dois muitos jovens / os outros de meia idade (...) quando o pelotão / ergue as armas / tudo se revela de repente / na luz invasiva do óbvio / a parede amarela / o azul gelado / o fio preto na parede / em vez de um horizonte (...) antes da bala chegar / o olho percebe o vôo do projétil / o ouvido capta um rumor metálico / as narinas se enchem de fumaça amarga / uma pétala de sangue roça o céu da boca / o tato se encolhe e depois afrouxa / agora eles estão caídos na pedra (...)”.
Parei no meio da poesia e comecei a matutar. Já ouvi história parecida. Depois me lembrei da chacina que aconteceu na favela do Monsenhor Guilherme há mais de uma década atrás. O crime aconteceu no dia 10 de outubro de 1997. Oito policiais e um delegado invadiram a favela, capturaram quatro jovens e executaram-nos encostados num muro. Um jovem de18 anos, dois de 17 e um de 16, foram assassinados covardemente.
Me revoltei, fechei a revista e fui dar um rolê. Quando voltei, fui ler outra revista e me deparei com um texto do Ferrez de nome: O Som do Silêncio. O texto dizia: “A ave não voa ao contrário, por isso sem meias palavras, nem frases bonitas. (...) A máquina do tempo não poupa sofrimento. Senta na cadeira, em frente à mesa, onde sua maior arma está. Muita calma nessas horas, é preciso colocar o colete à prova de bala antes de digitar. (...) Nós perdemos o orgulho, enchemos os bares, gritamos pros policiais que somos programados pra morrer. (...) Ouça o som do silêncio filho. É só acordar, lavar o rosto e descer pra favela, os ratos cinzas vão te dar geral, enquanto a Blazer passa batida, cheia de droga pra abastecer, então é nesse dia que o moleque se revolta, tapa na cara faz ele mudar de propósito. Onde tá a paz que a gente está plantando?”.
Nessa hora desconcentro-me do texto e fico pensando, me perguntando. Onde está a paz que eu plantei? Há tempo estou ouvindo o som do silêncio. A chacina do Monsenhor está completando onze anos e nenhum policial foi julgado. Continuam na ativa em Foz do Iguaçu, fazendo vítimas e saindo impune. Quantos protestos feitos pra nada. Quantas poesias, quantos textos? Quantas letras de rap? As leis continuam jogando contra o povo da favela. E nós continuamos perdendo de goleada, levando lé da justiça que é injusta e falha.
O Ferrez fecha o seu texto com a seguinte frase: “Bem aventurados os que atiram primeiro, porque num dá resultado a fala, então fala a bala”.
Eu continuo lutando com outras armas.
Mas, até quando?

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