terça-feira, 15 de julho de 2008

Poesias e Pensamentos

Crime Imperdoável

Com sua filha de bondade infinda,
Maria Rita, encantadora e bela,
Morava a viúva dona Carolinda,
Junto ao engenho do senhor Favela.

Paciente e boa e cheia de carinho,
Passava os dias sem pensar na dor
Reinava ali, naquele tosco ninho,
Um grande exemplo do mais puro amor.

A linda jovem, flor de simpatia,
De olhos brilhantes e cabelo louro,
Além de arrimo e doce companhia
Era da mãe o virginal tesouro.

Tinha uma voz harmoniosa e grata
Maria Rita, a filha da viúva,
Igual a voz do sabiá da mata,
Quando êle canta na primeira chuva.

Maurício, um filho do senhor do engenho,
Um estudante, bacharel futuro,
Apaixonou-se, com o maior empenho
De saciar o coração impuro.

E com promessas de um porvir brilhante,
Fazendo juras de casar com ela,
Tanto insistiu o traidor pedante
Que conquistou a infeliz donzela.

Tornou-se em pranto da menina o riso,
Anuveou-se o doce amor materno,
Aquêle rancho, que era um paraíso,
Foi transformado em verdadeiro inferno.

Depois, expulsas pelo mundo afora,
Sorvendo a taça de amargo fel,
Soluça a mãe e a triste filha chora,
Horrorizadas do chacal cruel.

Vive o monstro a prosseguir no estudo,
Enquanto o manto da miséria as cobre,
Porque só o rico tem direito a tudo,
Não há justiça para quem é pobre...

(Patativa do Assaré)


De tudo
Compartilharei com meu amor,
desde as mais secretas confidências
até os mais singelos elogios,
desde os mais insistentes pigarros,
até, os mais barulhentos escarros.

(Marcus)



Mesmo que aumente

Mesmo que aumente a dor da ferida,
Remédio haverá que a cure.

Mesmo que perdurem os dias de prisão,
Dia virá em que seremos livres.

(Siddîq Turkistânî)


ROMEU E JULIETA

Romeu era cego,
Mas quando conheceu Julieta
Foi amor à primeira vista.
Julieta enxergava bem,
Mas ficou cega de amor
Quando viu Romeu.
Nos becos e vielas
Não se fala de outra coisa:
A história de Shakespeare
Na versão da favela.
Ah, as famílias que eram contra,
Se mataram com o veneno
Da inveja.


(Sérgio Vaz)


(f) ODE A FOZ

Foz feia / Foz fascinante
Foz fétida / Foz fraterna
Foz fulêra / Foz fiel
Foz falsa / Foz fina
Foz falida / Foz formosa
Foz fiasquenta / Foz faceira
Foz fedorenta / Foz famosa
Foz fajuta / Foz feliz
Foz facínora / Foz favela

(Lizal, Foz)

Poema da morte

Tomem meu sangue.
Tomem meu sudário e
Meus restos mortais.
Tirem fotografias de meu cadáver
na cova, solitário.
Espalhem-nas pelo mundo,
Entre os juízes e
Pessoas de consciência,
Entre os homens de princípios
e os justos.

E que eles arquem com o fardo culposo,
perante o mundo,
Desta alma inocente.
Que arquem com o fardo,
perante seus filhos e a História,
Desta alma desperdiçada, impoluta,
Desta alma que sofreu nas mãos dos
“protetores da paz”.

(Jum'ah Al-Dûssarî)

Desperte!

Do silêncio dormente
Da voz que se cala
Do vazio da mente
E da fome que abala.
Abra a boca que já não fala,
Abra os olhos
Do corpo que rala.

(Carol, Foz)


A SAFRA

Em meu quintal
Na minha horta
Plantei uma semente
Brotou uma planta
Continuei a plantar
Plantei um pé de rosa
Nasceu uma roseira
Com lindas rosas
E também plantei uma casa
E nasceu um lar unido
Plantei a amizade
E nasceu uma amizade e tanto
Semeei a alegria
Germinou a felicidade
Plantei um tijolo
Nasceu uma cidade
Plantei a ignorância
Brotou a violência
Plantei uma desgraça
Nasceu a miséria
Plantei a sabedoria
Nasceram as tecnologias
Na minha horta
Tudo aquilo que plantei
Tanto hoje como amanhã
Vamos colher

(Edson de Carvalho, Foz).

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