quinta-feira, 2 de abril de 2009

ANJOS CAÍDOS (Por: Carol)


A mãozinha delicada remexe o lixo e pega a sacolinha branca de mercado com o lixo do meu banheiro. Papel higiênico, absorvente usado e fralda suja.

- Que merda!

As mãos pequenas agora fedem...

A mão de dedos magros agora vai para o outro lado e remexe o lixo da minha cozinha. Procura nos restos algo que possa aproveitar. Pega o tomate podre, a maçã estragada, sente o feijão azedo, a carne cheia de vermes e um pacote de bolacha fechado.

A mão pequena ainda fede...

No topo da desova dos meus restos, a mão de dedos magros encontra minha roupa suja.

Veste sem se importar com o cheiro e vai pra casa. Esse corpo esguio agora fede. Pelas ruas, na volta para seu castelo, vê carros, brinquedos, restaurantes e roupas limpas. Os narizes torcem, os olhos não vêem, as mãos não tocam e a boca ri.

Esse corpo pequeno e frágil fede.

Aos poucos, a boca pequena fala, seu riso se esvai, o ódio aumenta e você não satiriza, chora.

Quem sente o cheiro agora?


(Carol é estudante de letras em Foz)

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