quinta-feira, 2 de abril de 2009

A MOÇA NA ESCADA (Por: Luiz Henrique Dias da Silva)

Na porta do meu prédio mora uma moça. Os vizinhos aparentemente não gostam muito da presença dela. Esta moça costuma sair para caminhar durante o dia, mas sempre aparece no final da tarde para descansar na escada. Durante o dia, eu sempre a vejo caminhar pela cidade, em lugares distantes de sua casa (a escadaria do meu prédio). No domingo eu a vejo na feira livre da terceira pista da JK. Sempre com um brinquedo na mão, ou com um celular de mentira, que ela usa para conversar com seus amigos secretos. Mas o que mais me chama atenção nesta triste personagem urbana é a maneira como ela vê a vida. Está sempre sorrindo, cantando, falando, dançando. Nunca vi fazer mal para ninguém. Nunca vi falar com alguém.

Eu costumo passar perto de onde ela dorme, mas ela nunca se dirigiu a mim, a não ser para olhar quem estava passando. Só uma vez, ano passado quando eu ainda não era nem morador do prédio, eu resolvi dar bom dia para ela. Durante uns dois segundos ela só me olhou, depois abaixou a cabeça. Mas não respondeu. Não sei se me reconhece como vizinho. Não imagino se sou do mesmo mundo que ela. Dizem que ela é esquizofrênica. Dizem que ela não é mais humana. Dizem que é apenas uma mendiga.

O fato é que ela não tem casa. Não tem emprego. Não tem amigos (exceto um ursinho de pelúcia). Não tem família. Não tem nada a não ser aquela escada que ela dorme e aquela sacola a tira colo a semana toda. E lá fora de sua retina a vida passa, as pessoas apressadas passam e a vida vai indo. Enquanto isso, ela dança a música que só ela ouve.

(Luiz Henrique Dias da Silva é poeta e escritor em Foz do Iguaçu).

Fonte: www.acasadohomem.blogspot.com

Nenhum comentário: